Salmo Responsorial:
127
R. Felizes os que esperam no Senhor.
Feliz de ti, que temes o Senhor e andas nos seus caminhos. Comerás do trabalho das tuas mãos, serás feliz e tudo te correrá bem.
Assim será abençoado o homem que teme o Senhor. De Sião te abençoe o Senhor; e vejas a prosperidade de Jerusalém todos os dias da tua vida.
Aleluia. Quem observa a palavra de Cristo, nesse o amor de Deus é perfeito. Aleluia.
Evangelho (Mc 6,17-29): Naquele tempo, Herodes tinha mandado prender João e acorrentá-lo na prisão, por causa de Herodíades, mulher de seu irmão Filipe, com a qual ele se tinha casado. Pois João vivia dizendo a Herodes: «Não te é permitido ter a mulher do teu irmão». Por isso, Herodíades lhe tinha ódio e queria matá-lo, mas não conseguia, pois Herodes temia João, sabendo que era um homem justo e santo, e até lhe dava proteção. Ele gostava muito de ouvi-lo, mas ficava desconcertado. Finalmente, chegou o dia oportuno. Por ocasião de seu aniversário, Herodes ofereceu uma festa para os proeminentes da corte, os chefes militares e os grandes da Galileia. A filha de Herodíades entrou e dançou, agradando a Herodes e a seus convidados. O rei, então, disse à moça: «Pede-me o que quiseres, e eu te darei». E fez até um juramento: «Eu te darei qualquer coisa que me pedires, ainda que seja a metade do meu reino». Ela saiu e perguntou à mãe: «Que devo pedir?». A mãe respondeu: «A cabeça de João Batista». Voltando depressa para junto do rei, a moça pediu: «Quero que me dês agora, num prato, a cabeça de João Batista». O rei ficou muito triste, mas, por causa do juramento e dos convidados, não quis faltar com a palavra. Imediatamente, mandou um carrasco cortar e trazer a cabeça de João. O carrasco foi e, lá na prisão, cortou-lhe a cabeça, trouxe-a num prato e deu à moça. E ela a entregou à sua mãe. Quando os discípulos de João ficaram sabendo, vieram e pegaram o corpo dele e o puseram numa sepultura.
«João vivia dizendo a Herodes: Não te é permitido ter a mulher do teu irmão?»
Fray Josep Mª MASSANA i Mola OFM (Barcelona, Espanha
E, desde as entranhas da sua mãe, sente a proximidade do Salvador. O abraço de Maria e de Isabel, duas futuras mães, abriu o dialogo dos dois meninos: o Salvador santificava a João e, este pulava de entusiasmo dentro do ventre da sua mãe.
Na sua missão de Precursor manteve esse entusiasmo que etimologicamente significa estar cheio de Deus, preparou-lhe os caminhos, nivelou-lhe as rotas, rebaixou-lhe as cimas, o anunciou já presente e, o assinalou com o dedo como o Messias: «Eis aqui o Cordeiro de Deus» (Jo 1,36).
No ocaso de sua existência, João, ao predicar a liberdade messiânica a aqueles que estavam cativos dos seus vícios, é encarcerado: «João dizia a Herodes: Não te é permitido ter a mulher do teu irmão?» (Mc 6,18). A morte do Batista é a testemunha martirizante centrada na pessoa de Jesus. Foi seu Precursor na vida e, também lhe precede agora na morte cruenta.
São Beda nos diz que «está encerrado, na escuridão de um cárcere, aquele que tinha vindo dar testemunho da Luz e, havia merecido da boca do mesmo Cristo (...) ser denominado lâmpada ardente e luminosa. Foi batizado com seu próprio sangue, aquele a quem antes lhe foi concedido batizar ao Redentor do mundo».
Queira Deus que a festa do Martírio de São João Batista entusiasme-nos, no sentido etimológico do término e, assim cheios de Deus, também demos testemunho de nossa fé em Jesus com coragem. Que nossa vida cristã também gire em torno à Pessoa de Jesus, o que lhe dará seu pleno sentido.
Reflexão de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
* Marcos 6,17-20. A causa da prisão
e do assassinato de João.
Herodes era um empregado do império romano.
Quem mandava mesmo na Palestina, desde 63 antes de Cristo, era César, o
imperador de Roma. Herodes, para não ser deposto, procurava agradar a Roma em
tudo. Insistia sobretudo numa administração eficiente que desse lucro ao Império
e a ele mesmo. A preocupação de Herodes era a sua própria promoção e segurança.
Por isso, reprimia qualquer tipo de subversão. Ele gostava de ser chamado de
benfeitor do povo, mas na realidade era um tirano (cf. Lc 22,25). Flávio José,
um escritor daquela época, informa que o motivo da prisão de João Batista era o
medo que Herodes tinha de um levante popular. A denúncia de João Batista contra
a moral depravada de Herodes (Mc 6,18), foi a gota que fez transbordar o copo,
e João foi preso.
* Marcos 6,21-29: A trama do
assassinato.
Aniversário
e banquete de festa, com danças e orgias! Era o ambiente em que os poderosos do
reino se reuniam e no qual se costuravam as alianças. A festa contava com a
presença “dos grandes da corte, dos oficiais e das pessoas importantes da Galileia”.
É nesse ambiente que se trama o assassinato de João Batista. João, o profeta,
era uma denúncia viva desse sistema corrupto. Por isso, ele foi eliminado sob
pretexto de um problema de vingança pessoal. Tudo isto revela a fraqueza moral
de Herodes. Tanto poder acumulado na mão de um homem sem controle de si! No
entusiasmo da festa e do vinho, Herodes fez um juramento leviano a uma jovem
dançarina. Supersticioso como era, pensava que devia manter esse juramento.
Para Herodes, a vida dos súditos não valia nada. Dispunha deles como dispunha
da posição das cadeiras na sala. Marcos conta o fato tal qual e deixa às
comunidades e a nós a tarefa de tirarmos as conclusões.
* Nas entrelinhas, o evangelho de hoje traz muitas
informações sobre o tempo em que Jesus vivia e sobre a maneira como era
exercido o poder pelos poderosos da época. Galileia, terra de Jesus, era
governada por Herodes Antipas, filho do rei Herodes, o Grande, desde 4 antes de
Cristo até 39 depois de Cristo. Ao todo, 43 anos! Durante todo o tempo que
Jesus viveu, não houve mudança de governo na Galileia! Herodes era dono
absoluto de tudo, não prestava conta a ninguém, fazia o que bem entendia.
Prepotência, falta de ética, poder absoluto, sem controle por parte do povo!
* Herodes construiu uma nova capital, chamada
Tiberíades. Sefforis, a antiga capital, tinha sido destruída pelos romanos em
represália contra um levante popular. Isto aconteceu quando Jesus tinha em
torno de sete anos de idade. Tiberíades, a nova capital, foi inaugurada treze
anos mais tarde, quando Jesus tinha seus 20 anos. Era chamada assim para
agradar a Tibério, o imperador de Roma. Tiberíades era um quisto estranho na Galileia.
Era lá que viviam o rei, “os magnatas, os generais e os grandes da Galileia”
(Mc 6,21). Era lá que moravam os donos das terras, os soldados, a polícia, os juízes
muitas vezes insensíveis (Lc 18,1-4). Para lá eram levados os impostos e o
produto do povo. Era lá que Herodes fazia suas orgias de morte (Mc 6,21-29).
Não consta nos evangelhos que Jesus tenha entrado nessa cidade.
Ao longo
daqueles 43 anos do governo de Herodes, criou-se toda uma classe de
funcionários fieis ao projeto do rei: escribas, comerciantes, donos de terras,
fiscais do mercado, publicanos ou coletores de impostos, militares, policiais, juízes,
promotores, chefes locais. A maior parte deste pessoal morava na capital,
gozando dos privilégios que Herodes oferecia, por exemplo, isenção de impostos.
Outra parte vivia nas aldeias. Em cada aldeia ou cidade havia um grupo de pessoas
que apoiavam o governo. Vários escribas e fariseus estavam ligados ao sistema e
à política do governo. Nos evangelhos, os fariseus aparecem junto com os
herodianos (Mc 3,6; 8,15; 12,13), o que reflete a aliança que existia entre o
poder religioso e poder civil. A vida do povo nas aldeias da Galileia era muito
controlada, tanto pelo governo como pela religião. Era necessário ter muita
coragem para começar algo novo, como fizeram João e Jesus! Era o mesmo que
atrair sobre si a raiva dos privilegiados, tanto do poder religioso como do
poder civil, tanto em nível local como estadual.
Para um confronto pessoal
1. Conhece casos de pessoas que morreram vítimas da
corrupção e da dominação dos poderosos? E aqui entre nós, na nossa comunidade e
na igreja, há vítimas de desmando e de autoritarismo? Dê um exemplo.
2. Superstição, covardia e corrupção marcavam o exercício
do poder de Herodes. Compare com o exercício do poder religioso e civil hoje
nos vários níveis tanto da sociedade como da Igreja.
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