domingo, 5 de janeiro de 2020

Sábado depois da Epifania


Evangelho (Jo 3,22-30): Depois disso, Jesus e seus discípulos foram para a região da Judéia. Ele ficava lá com eles e batizava. João também estava batizando, em Enon, perto de Salim, onde havia muita água. As pessoas iam lá para serem batizadas. João ainda não tinha sido lançado na prisão. Surgiu então, da parte dos discípulos de João, uma discussão com um judeu, a respeito da purificação. Eles foram falar com João: «Mestre, aquele que estava contigo do outro lado do Jordão, e de quem tu deste testemunho, está batizando, e todos vão a ele». João respondeu: «Ninguém pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu. Vós mesmos sois testemunhas daquilo que eu disse: ‘Eu não sou o Cristo, mas fui enviado à sua frente’. Quem recebe a noiva é o noivo, mas o amigo do noivo, que está presente e o escuta, enche-se de alegria, quando ouve a voz do noivo. Esta é a minha alegria, e ela ficou completa. É necessário que ele cresça, e eu diminua».

«É necessário que ele cresça, e eu diminua»

Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)

Hoje ficamos surpresos vendo Jesus e o Batista batizando “em paralelo”. Dizemos, sim, “em paralelo”, mas, isso só acontece aparentemente, porque João o Batista remite a Jesus, que é o Messias, o "novo Moises", o Profeta tão esperado, aquele que vem para nos dar a Deus. «Que trouxe [Jesus]? A resposta é muito simples: A Deus. Trouxe a Deus» (Bento XVI).

Em consequência e imediatamente João aclara o sentido do batismo: Realmente, trata-se de uma purificação, mas «diferença-se das acostumadas abluções religiosas» daquele tempo e, —como afirmou o papa Bento— «Deve-se a consumação concreta de uma mudança que determina de modo novo e para sempre toda a vida». Assim, o batismo cristão comporta uma mudança tão radical como um novo nascimento, até o ponto de nos converter em um novo ser.

Purificação, certamente, mas, para despojar-se do "homem velho", morrer a si mesmo e —pela graça— nascer a uma nova vida: A vida divina, algo que «ninguém pode receber (…) se não lhe for dada do céu» (Jo 3,28). O Concílio II de Orange ensinou que «amar a Deus é exclusivamente um dom de Deus. Ele mesmo que, sem ser amado, ama, concedeu-nos que lhe amássemos. Fomos amados quando ainda lhe éramos desagradáveis, para que nos concedera algo com que agradar-lhe».

Hei aqui, então, nossa tarefa pela santidade: Aprofundar na humildade para abrir espaço à ação de Deus e deixá-lo fazer. O importante não é tanto o que eu faça, mas que Ele atue em mim: «É necessário que ele cresça, e eu diminua» (Jo 3,30). E nossa alegria será tanto mais completa quanto mais desapareça o próprio eu e, mais presente se faça o Esposo em nosso coração e nas nossas obras.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm

* Tanto João Batista como Jesus, ambos apontavam um rumo novo para o povo. Mas Jesus, depois de ter aderido ao movimento de João Batista e de ter sido batizado por ele, deu um passo a mais e criou o seu próprio movimento. Ele chegou a batizar pessoas no rio Jordão ao mesmo tempo que João Batista. Ambos atraíam o povo pobre e abandonado da Palestina, anunciando a chegada da Boa Nova do Reino de Deus.

* Jesus, o novo pregador, estava levando uma certa vantagem sobre João Batista. Ele batizava mais gente e atraía mais discípulos. Surgiu então uma tensão entre os discípulos de João e os de Jesus a respeito da "purificação", isto é, a respeito do valor do batismo. Os discípulos de João Batista sentiam uma certa inveja e foram falar com João para informá-lo a respeito do movimento de Jesus.

* A resposta de João aos seus discípulos é uma resposta bonita, que revela a grandeza de alma. João ajudou seus discípulos a verem as coisas com mais objetividade. Ele usou três argumentos: 1) Ninguém recebe nada a não ser aquilo que lhe foi dado por Deus. Se Jesus faz coisas tão bonitas, é porque as recebeu de Deus (Jo 3,27). Em vez de inveja, os discípulos deveriam sentir alegria. 2) João reafirma, novamente, que ele, João, não é o Messias mas apenas o precursor (Jo 3,28). 3) No fim, ele usa uma comparação, tirada das festas de casamento. Naquele tempo, lá na Palestina, no dia da festa do casamento, na casa da noiva, os assim chamados "amigos do noivo" aguardavam a chegada do noivo para poder apresentá-lo à noiva. No caso, Jesus é o noivo, o povo é a noiva e ele, João, é o amigo do noivo. João Batista diz que, na voz de Jesus, reconheceu a voz do noivo e ele pôde apresentá-lo à noiva, ao povo. Neste momento, a noiva, o povo, deixa de lado o amigo do noivo e vai atrás de Jesus, porque reconheceu nele a voz do seu noivo! Por isso, é grande a alegria de João, "alegria completa". João não quer nada para si! Sua missão é apresentar o noivo à noiva! A frase final resume tudo: "É necessário que ele cresça e eu diminua!" Esta frase é também o programa de toda pessoa seguidora de Jesus.

* Naquele fim do primeiro século, tanto na Palestina como na Ásia Menor, onde quer que houvesse alguma comunidade de judeus, havia também gente que tinha estado em contato com João Batista ou que tinha sido batizada por ele (At 19,3). Vistos do lado de fora, o movimento de João Batista e o de Jesus eram muito semelhantes entre si. Os dois anunciavam a chegada do Reino (cf. Mt 3,1-2; 4,17). Deve ter havido uma certa confusão e tensão entre os seguidores de João e os de Jesus. Por isso era tão importante o testemunho de João sobre Jesus. Todos os quatro evangelhos se preocupam em relatar as palavras de João Batista dizendo que ele não é o messias. Para as comunidades cristãs, a resposta de João "Ele deve crescer e eu devo diminuir" valia não só para os discípulos de João da época de Jesus, mas também para os discípulos das comunidades batistas do fim do primeiro século.

Para um confronto pessoal
1. “Ele deve crescer e eu diminuir”. É o programa de João. É também o meu programa?
2. O que importa é que a noiva encontre o noivo. Somos porta-vozes, nada mais. Será que eu sou?

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