segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

A Natividade do Senhor (Missa da Meia Noite)


1ª Leitura (Is 9,1-6): O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começou a brilhar. Multiplicastes a sua alegria, aumentastes o seu contentamento. Rejubilam na vossa presença, como os que se alegram no tempo da colheita, como exultam os que repartem despojos. Vós quebrastes, como no dia de Madiã, o jugo que pesava sobre o povo, o madeiro que ele tinha sobre os ombros e o bastão do opressor. Todo o calçado ruidoso da guerra e toda a veste manchada de sangue serão lançados ao fogo e tornar-se-ão pasto das chamas. Porque um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado. Tem o poder sobre os ombros e será chamado «Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz». O seu poder será engrandecido numa paz sem fim, sobre o trono de David e sobre o seu reino, para o estabelecer e consolidar por meio do direito e da justiça, agora e para sempre. Assim o fará o Senhor do Universo.

Salmo Responsorial: 95
R. Hoje nasceu o nosso salvador, Jesus Cristo, Senhor.

Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, terra inteira, cantai ao Senhor, bendizei o seu nome.

Anunciai dia a dia a sua salvação, publicai entre as nações a sua glória, em todos os povos as suas maravilhas.

Alegrem-se os céus, exulte a terra, ressoe o mar e tudo o que ele contém, exultem os campos e quanto neles existe, alegrem-se as árvores das florestas.

Diante do Senhor que vem, que vem para julgar a terra: julgará o mundo com justiça e os povos com fidelidade.

2ª Leitura (Tit 2,11-14): Caríssimo: Manifestou-se a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos, para vivermos, no tempo presente, com temperança, justiça e piedade, aguardando a ditosa esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo, que Se entregou por nós, para nos resgatar de toda a iniquidade e preparar para Si mesmo um povo purificado, zeloso das boas obras.

Aleluia. Anuncio-vos uma grande alegria: Hoje nasceu o nosso salvador, Jesus Cristo, Senhor. Aleluia.

Evangelho (Lc 2,1-14): Naqueles dias, saiu um decreto do imperador Augusto mandando fazer o recenseamento de toda a terra — o primeiro recenseamento, feito quando Quirino era governador da Síria. Todos iam registrar-se, cada um na sua cidade. Também José, que era da família e da descendência de Davi, subiu da cidade de Nazaré, na Galileia, à cidade de Davi, chamada Belém, na Judéia, para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Quando estavam ali, chegou o tempo do parto. Ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o em faixas e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria. Havia naquela região pastores que passavam a noite nos campos, tomando conta do rebanho. Um anjo do Senhor lhes apareceu, e a glória do Senhor os envolveu de luz. Os pastores ficaram com muito medo. O anjo então lhes disse: «Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor! E isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido, envolto em faixas e deitado numa manjedoura» De repente, juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste cantando a Deus: «Glória a Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz aos que são do seu agrado!».

«Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor»

Rev. D. Ramon Octavi SÁNCHEZ i Valero (Viladecans, Barcelona, Espanha)

Hoje, nasceu-nos o Salvador. Esta é a boa nova desta noite de Natal. Como em cada Natal, Jesus volta a nascer no mundo, em cada casa, no nosso coração.

Porém, contrariamente ao que a nossa sociedade consumista celebra, Jesus não nasce num ambiente de abastança, de compras, de conforto, de caprichos e de grandes refeições. Jesus nasce com a humildade de um portal e de um presépio.

E fá-lo deste modo porque é rejeitado pelos homens: ninguém quis dar-lhes guarida, nem nas casas nem nas estalagens. Maria e José, e o próprio Jesus recém-nascido, sentiram o que significa a rejeição, a falta de generosidade e de solidariedade.

Depois, as coisas mudaram, e com o anúncio do Anjo — «Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo o povo» (Lc 2,10) —todos correram para o presépio para adorar o Filho de Deus. Foi um pouco como a nossa sociedade, que marginaliza e rejeita muitas pessoas porque são pobres, estrangeiras ou simplesmente diferentes, e depois celebra o Natal falando de paz, solidariedade e amor.

Hoje, nós os cristãos estamos cheios de alegria, e com razão. Como afirma São Leão Magno: «Hoje não está certo que haja lugar para a tristeza, no momento em que nasceu a vida». Mas não podemos esquecer que este nascimento nos exige um compromisso: viver o Natal do modo mais parecido possível com o que viveu a Sagrada Família. Quer dizer, sem ostentações, sem gastos desnecessários, sem pôr a casa de pernas para o ar. Celebrar e fazer festa são compatíveis com austeridade e até com a pobreza.

Por outro lado, se durante estes dias não temos verdadeiros sentimentos de solidariedade para com os rejeitados, forasteiros, sem teto, é porque no fundo somos como os habitantes de Belém: não acolhemos o nosso Menino Jesus.

Missa da Aurora 


Evangelho (Lc 2,15-20): «Encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura»

Rev. D. Bernat GIMENO i Capín (Barcelona, Espanha)

Hoje resplandece uma luz para nós: nasceu o Senhor! Do mesmo modo que o sol sai cada manhã para iluminar e dar vida ao mundo, esta missa da aurora, celebrada ainda com pouca luz, invoca a figura do Menino nascido em Belém como o sol nascente, que vem para iluminar a família humana.

Depois de Maria e José, foram estes pastores do Evangelho os primeiros que foram iluminados pela presença de Jesus Menino. Os pastores, que eram considerados como os últimos na sociedade. Temos de ser pastores para acolher o Menino e ser conscientes do nosso nada.

Que Jesus seja luz, não nos pode deixar indiferentes. Contemplemos os pastores: era tão grande o gozo que sentiam pelo que haviam visto que não deixavam de falar disso: «Todos os que ouviram os pastores ficavam admirados com aquilo que contavam» (Lc 2,19).

«Teu Salvador já está aqui», também nos diz o profeta e isso nos enche de alegria e de paz. Queridos irmãos, isto nos falta a muitos cristãos no dia de hoje: falar Dele com alegria, paz e convencimento; cada um desde a sua vocação, quer dizer, desde o desígnio eterno que Deus tem “para mim”. E isto será possível se antes estamos convencidos da nossa identidade: os laicos, religiosos e sacerdotes. Todos formamos “o povo santo” do qual nos fala o profeta Isaías.

Foi desígnio de Deus que fossem pastores a adorar ao Menino Jesus. Todos somos pastores. Todos têm de ser pobres e humildes, os últimos... Contemplando o presépio de nossa casa, com os pastores de plástico ou de barro, vemos uma imagem da Igreja, que o profeta na primeira leitura descreve como uma “cidade-não-abandonada” e como “a querida” (Is 62,12). Neste Natal façamos o propósito de amar mais a nossa Igreja... que não é nossa, senão Dele e nós a recebemos e entramos a participar nela como indignos servos, e a recebemos como um dom, como um presente imerecido. De aí que a nossa aclamação da alegria neste Natal tem de ser uma profunda e sincera ação de graças.

Os paradoxos de Deus na noite de Natal.

Pe. Antonio Rivero, L.C.

Deus feito homem. O Eterno desceu no tempo. O não abarcável e Infinito cabe nos braços de Maria. A Palavra do Pai no silêncio. O Imensamente Rico deitado num presépio e envolvido em faixas. O Alimentador do gênero humano necessitado do peito de Maria para não morrer. O Fogo ardente da caridade tremendo de frio nessa noite gelada de inverno. O Desejado das nações rejeitado; e como não tinha lugar para Ele nas hospedagens deste mundo humano, teve que nascer num curral de animais.

Em primeiro lugar, qual o porquê e o para quê destes paradoxos? Porque se cumpriu o tempo, o “Kairòs” pensado por Deus desde toda a eternidade para reconquistar o homem caído e fazê-lo entrar na luz (primeira leitura). E tudo por pura benignidade de Deus, para nos converter em povo seu (segunda leitura), para devolver-lhe a sua glória e trazer a paz tão desejada para toda a humanidade (evangelho). Paz com essa densidade bíblica: bem-estar, prosperidade, desenvolvimento, alegria, justiça. Paz que é harmonia entre homem e homem; entre homem e cosmos; entre homem e Deus. A paz é a definição mesma de Cristo, “Príncipe da paz”. Paz que é vida, amor, salvação, doação. “Não apaguemos a chama ardente desta paz acesa por Cristo” (François Mauriac).

Em segundo lugar, como aconteceram estes paradoxos? Na simplicidade dos personagens: uma donzela humilde e pura, um casto varão, justo e sem dinheiro, e um menino indefeso que é puro candor e ternura; uns pastores pobres sem poder, sem influencias nem títulos, que viviam na intempérie e na vida seminômade. Na simplicidade do lugar: não na Jerusalém prestigiosa e religiosa, mas na pequena cidade de Belém, lugar do pão; esse pão terno de Jesus que necessitará ser cozinhado durante esses anos de vida oculta e pública, até chegar no forno do Cenáculo e do Calvário; e chegará a nós misteriosamente em cada missa. Na simplicidade da cova miserável de animais porque os humanos não lhe deram hospedagem. Na simplicidade da noite, sem barulhos de foguetes, bengalas e fogos artificiais.

Finalmente, em troca de quê estes paradoxos? De que nossos olhos olhem para Ele com ternura e lhe deem um sorriso, e assim dos nossos olhos caiam as escamas das nossas miopias. De que nossos lábios o beijem e fiquem assim purificados, livres já de mentiras e de palavras indignas. De que nossos braços o acolham, e fiquem bem fortalecidos para ajudar ao irmão que está prostrado no chão da depressão ou da tristeza. De que nossas mãos o acariciem e se abram à generosidade com os que sofrem e estão necessitados. De que nossos joelhos se dobrem e o adorem na oração como Deus e Senhor. De que nosso coração seja uma doce hospedagem, para onde convidar Jesus.

Para refletir: Com são Leão Magno refletimos: “Não pode existir lugar para a tristeza, quando nasce aquela vida que vem para destruir o temor da morte e para dar-nos a esperança de uma eternidade gozosa. Que ninguém se considere excluído desta alegria, pois o motivo deste gozo é comum para todos; nosso Senhor, de fato, vencedor do pecado e da morte, assim como não encontrou ninguém livre de culpabilidade, assim veio para salvar todos. Alegre-se, pois, o justo, porque se aproxima da recompensa; regozija-se o pecador, porque será condecorado com o perdão; anime-se o pagão, porque está chamado à vida” (Sermão I sobre o Natal, 1-3).

Para rezar: Terminemos com esta oração: “Menino do presépio, pequeno Deus Menino, irmão dos homens. A minha alma se enche de ternura e o coração de alegria, quando vos vejo assim, pequeno, pobre e humilde, débil e indefeso, deitado nas palhas do presépio. Ensinai-me, Jesus, a apreciar o que vale vossa doce Encarnação. Ajudai-me a compreender o profundo sentido da vossa presença entre nós. Fazei que o meu coração sinta a grandeza da vossa generosidade, a profundidade da vossa humildade, a maravilha da vossa bondade e do vosso amor salvador. Não vos peço entender os paradoxos de Belém, porém peço-vos saborear esses paradoxos com o coração extasiado na fé e na gratidão”.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:  arivero@legionaries.org

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