São Nicolau de Tolentino, OSA - Presbítero |
1ª
Leitura (Col 2,6-15): Irmãos: Uma vez que recebestes o
Senhor Jesus Cristo, procedei em união com Ele, enraizados e edificados n’Ele,
firmemente seguros na fé que vos foi ensinada, procurando progredir nela com ações
de graças. Acautelai-vos para que ninguém venha perturbar-vos com filosofias e
sofismas enganadores, inspirados na tradição dos homens ou nos elementos do
mundo e não em Cristo. Porque n’Ele habita corporalmente toda a plenitude da
divindade e n’Ele, que é a cabeça de todos os Principados e Potestades,
alcançastes a vossa plenitude. Foi n’Ele que recebestes uma circuncisão que não
é feita por mão humana e que vos despojou do corpo de carne: tal é a
circuncisão de Cristo. Sepultados com Ele no baptismo, também com Ele fostes
ressuscitados pela fé que tivestes no poder de Deus que O ressuscitou dos
mortos. Quando estáveis mortos nos vossos pecados e na incircuncisão da vossa
carne, Deus fez que voltásseis à vida com Cristo e perdoou-nos todas as nossas
faltas. Anulou o documento da nossa dívida, com as suas disposições contra nós;
suprimiu-o, cravando-o na cruz. Ao despojar os Principados e as Potestades,
expô-los publicamente à irrisão, arrastando-os no cortejo triunfal da cruz.
Salmo
Responsorial: 144
R. O Senhor é bom para
com todas as criaturas.
Quero
exaltar-Vos, meu Deus e meu Rei, e bendizer o vosso nome para sempre. Quero
bendizer-Vos, dia após dia, e louvar o vosso nome para sempre.
O
Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade. O Senhor é bom
para com todos e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas.
Graças
Vos deem, Senhor, todas as criaturas e bendigam-Vos os vossos fiéis. Proclamem
a glória do vosso reino e anunciem os vossos feitos gloriosos.
Aleluia. Eu vos
escolhi do mundo, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça, diz o
Senhor. Aleluia.
Evangelho
(Lc 6,12-19): Naqueles dias, Jesus foi à montanha
para orar. Passou a noite toda em oração a Deus. Ao amanhecer, chamou os
discípulos e escolheu doze entre eles, aos quais deu o nome de apóstolos:
Simão, a quem chamou Pedro, e seu irmão André; Tiago e João; Filipe e
Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado zelote;
Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que se tornou o traidor. Jesus
desceu com eles da montanha e parou num lugar plano. Ali estavam muitos dos
seus discípulos e uma grande multidão de gente de toda a Judéia e de Jerusalém,
e do litoral de Tiro e Sidônia. Vieram para ouvi-lo e serem curados de suas
doenças. Também os atormentados por espíritos impuros eram curados. A multidão
toda tentava tocar nele, porque dele saía uma força que curava a todos.
«Jesus foi à montanha
para orar e passou a noite toda em oração a Deus»
Frei Lluc TORCAL Monge do Monastério de Sta. Mª de
Poblet (Santa Maria de Poblet, Tarragona, Espanha)
Hoje
gostaria de centrar a nossa reflexão nas primeiras palavras deste Evangelho:
«Naqueles dias, Jesus foi à montanha para orar. Passou a noite toda em oração a
Deus» (Lc 6,12). Introduções como esta podem passar despercebidas na nossa
leitura quotidiana do Evangelho mas, —de fato— são da máxima importância.
Concretamente, hoje nos dizem que a eleição dos doze apóstolos —decisão central
para a vida futura da Igreja— foi precedida por toda uma noite de oração de
Jesus, sozinho, perante Deus, seu Pai.
Como
era essa oração do Senhor? Do que se infere da sua vida, deveria ser uma prece
cheia de confiança no Pai, de total abandono à sua vontade —«não procuro fazer
a minha própria vontade, mas a vontade do que me enviou» (Jo 5,30) —, de
manifesta união à sua obra de salvação. Apenas desde esta profunda, longa e
constante oração, sempre sustentada pela ação do Espírito Santo que, já
presente no momento da sua Encarnação, tinha descido sobre Jesus no seu
Batismo; apenas assim, dizíamos, o Senhor podia obter a força e a luz
necessárias para continuar a sua missão de obediência ao Pai para cumprir a sua
obra vicária de salvação dos homens. A eleição subsequente dos Apóstolos, que como
nos recorda São Cirilo de Alexandria, «O próprio Cristo afirma ter-lhes dado a
mesma missão que recebera do Pai», mostra-nos como a Igreja nascente foi fruto
desta oração de Jesus ao Pai no Espírito e que, portanto, é obra da Santíssima
Trindade. «Ao amanhecer, chamou os discípulos e escolheu doze entre eles, aos
quais deu o nome de apóstolos» (Lc 6,13).
Oxalá
toda a nossa vida de cristãos de — discípulos de Cristo— esteja sempre submersa
na oração e continuada por ela.
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
* O evangelho de hoje traz dois
assuntos: a escolha dos doze apóstolos (Lc 6,12-16) e a multidão enorme de
gente querendo encontrar-se com Jesus (Lc 6,17-19). O evangelho de hoje nos
convida a refletir sobre os Doze que foram escolhidos para conviver com Jesus
como apóstolos. Os primeiros cristãos lembraram e registraram os nomes destes
Doze e de alguns outros homens e mulheres que seguiram a Jesus e que, depois da
ressurreição, foram criando as comunidades pelo mundo afora. Hoje também, todo
mundo lembra o nome de alguma catequista ou professora que foi significativa
para a sua formação cristã.
* Lucas 6,12-13: A
escolha dos 12 apóstolos
Antes
de fazer a escolha definitiva dos doze apóstolos, Jesus passou uma noite
inteira em oração. Rezou para saber a quem escolher e escolheu os Doze, cujos
nomes estão nos evangelhos e que receberam o nome de apóstolo. Apóstolo
significa enviado, missionário. Eles foram chamados para realizar uma missão, a
mesma que Jesus recebeu do Pai (Jo 20,21). Marcos concretiza mais e diz que
Deus os chamou para estar com ele e enviá-los em missão (Mc 3,14).
* Lucas 6,14-16: Os
nomes dos 12 apóstolos
Com
pequenas diferenças os nomes dos Doze são iguais nos evangelhos de Mateus (Mt
10,2-4), Marcos (Mc 3,16-19) e Lucas (Lc 6,14-16). Grande parte destes nomes
vem do AT. Por exemplo, Simeão é o nome de um dos filhos do patriarca Jacó (Gn
29,33). Tiago é o mesmo que o nome de Jacó (Gn 25,26). Judas é o nome de outro
filho de Jacó (Gn 35,23). Mateus também tinha o nome de Levi (Mc 2,14), que foi
outro filho de Jacó (Gn 35,23). Dos doze apóstolos sete tem nome que vem do
tempo dos patriarcas: duas vezes Simão, duas vezes Tiago, duas vezes Judas, e
uma vez Levi! Isto revela a sabedoria e a pedagogia do povo. Através dos nomes
dos patriarcas e das matriarcas, dados aos filhos e filhas, eles mantinham viva
a tradição dos antigos e ajudavam seus filhos a não perder a identidade. Quais
os nomes que nós damos hoje para os nossos filhos e filhas?
* Lucas 6,17-19: Jesus
desce da montanha e a multidão o procura
Ao
descer da montanha com os doze, Jesus encontrou uma multidão imensa de gente
que o procurava para ouvir sua palavra e tocá-lo, porque dele saía uma força de
vida. Nesta multidão havia judeus e estrangeiros, gente da Judéia e também de
Tiro e Sidônia. É o povo abandonado, desorientado. Jesus acolhe a todos que o
procuram. Judeus e pagãos! Este é um dos temas preferidos de Lucas!
* Estas doze pessoas, chamadas por
Jesus para formar a primeira comunidade, não eram santas. Eram pessoas comuns,
como todos nós. Tinham suas virtudes e seus defeitos. Os evangelhos informam
muito pouco sobre o jeito e o caráter de cada uma delas. Mas o pouco que
informam é motivo de consolo para nós.
* Pedro era uma pessoa generosa e
entusiasta (Mc 14,29.31; Mt 14,28-29), mas na hora do perigo e da decisão, o
coração dele encolhia e ele voltava atrás (Mt 14,30; Mc 14,66-72). Chegou a ser
satanás para Jesus (Mc 8,33). Jesus deu a ele o apelido de Pedra (Pedro).
Pedro, ele por si mesmo, não era Pedra. Tornou-se pedra (rocha), porque Jesus
rezou por ele (Lc 22,31-32).
* Tiago e João estavam dispostos a sofrer com e
por Jesus (Mc 10,39), mas eram muito violentos (Lc 9,54). Jesus os chamou
“filhos do trovão” (Mc 3,17). João parecia ter um certo ciúme. Queria Jesus só
para o grupo dele (Mc 9,38).
* Filipe tinha um jeito acolhedor. Sabia
colocar os outros em contato com Jesus (Jo 1,45-46), mas não era muito prático
em resolver os problemas (Jo 12,20-22; 6,7). Às vezes, era meio ingênuo. Teve
hora em que Jesus perdeu a paciência com ele: “Mas Filipe, tanto tempo que
estou com vocês, e ainda não me conhece?” (Jo 14,8-9)
* André, irmão de Pedro e amigo de Filipe,
era mais prático. Filipe recorre a ele para resolver os problemas (Jo
12,21-22). Foi André que chamou Pedro (Jo 1,40-41), e foi André que encontrou o
menino com cinco pãezinhos e dois peixes (Jo 6,8-9).
* Bartolomeu parece ter sido o mesmo que
Natanael. Este era bairrista e não podia admitir que algo de bom pudesse vir de
Nazaré (Jo 1,46).
* Tomé foi capaz de sustentar sua opinião,
uma semana inteira, contra o testemunho de todos os outros (Jo 20,24-25). Mas
quando viu que estava equivocado, não teve medo de reconhecer seu erro (Jo
20,26-28). Era generoso, disposto a morrer com Jesus (Jo 11,16).
* Mateus ou Levi era publicano, cobrador de
impostos, como Zaqueu (Mt 9,9; Lc 19,2). Eram pessoas comprometidas com o
sistema opressor da época.
* Simão, ao contrário, parece ter sido do
movimento que se opunha radicalmente ao sistema que o império romano impunha ao
povo judeu. Por isso tinha o apelido de Zelote (Lc 6,15). O grupo dos Zelotas
chegou a provocar uma revolta armada contra os romanos.
* Judas Tadeu, durante a última ceia, foi quem
perguntou a Jesus: "Senhor, por que razão hás de manifestante a nós e não
ao mundo?" (Jo 14,22). Dois os evangelhos nada informam a não
* Judas Iscariotes era o que tomava conta do dinheiro
do grupo (Jo 13,29). Ele chegou a trair Jesus.
* Tiago de Alfeu, deste os evangelhos nada informam
a não ser o nome.
Para um confronto
pessoal
1) Jesus passou a noite inteira em
oração para saber a quem escolher, e escolheu estes doze! Qual a lição que você
tira daí?
2) Você lembra dos nomes das pessoas
que estão na origem da comunidade a que você pertence? O que mais lembra delas:
o conteúdo que lhe ensinaram ou o testemunho que deram?
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