Textos:
Prov 8, 22-31; Rom
5, 1-5; Jo 16, 12-15
Evangelho (Jo
16,12-15): «Tenho ainda muitas coisas a vos
dizer, mas não sois capazes de compreender agora. Quando ele vier, o Espírito
da Verdade, vos guiará em toda a verdade. Ele não falará por si mesmo, mas dirá
tudo quanto tiver ouvido e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará,
porque receberá do que é meu para vos anunciar. Tudo que o Pai tem é meu. Por
isso, eu vos disse que ele receberá do que é meu para vos anunciar».
«Quando ele vier, o
Espírito da Verdade, vos guiará em toda a verdade»
+ Cardenal Jorge MEJÍA Arquivista e Bibliotecário de la
S.R.I. (Città del Vaticano, Vaticano)
Hoje, celebramos
a solenidade do mistério central da nossa fé, do qual tudo procede e para o
qual tudo se dirige. O mistério da unidade de Deus e, simultaneamente, a sua
subsistência em três Pessoas iguais e distintas. Pai, Filho e Espírito Santo: a
unidade na comunhão e a comunhão na unidade. É muito conveniente que nós, os
cristãos estejamos conscientes, neste grande dia, de que este mistério está
presente nas nossas vidas: desde o Batismo —que recebemos em nome da
Santíssima Trindade — até à nossa participação na Eucaristia, que se realiza
para glória do Pai, pelo Seu Filho Jesus Cristo, graças ao Espírito Santo. E é
o sinal pelo qual nos reconhecemos como cristãos: o Sinal da Cruz, em nome do
Pai, do Filho e do Espírito Santo.
A missão do
Filho, Jesus Cristo, consiste na revelação do Pai, do qual é imagem perfeita, e
no dom do Espírito, também revelado pelo Filho. A leitura do Evangelho, hoje
proclamada, no-lo mostra: o Filho tudo recebe do Pai em perfeita unidade: «Tudo
que o Pai tem é meu», e o Espirito recebe do Pai e do Filho o que Ele é. «Por
isso, eu vos disse — disse Jesus — ‘que ele receberá do que é meu para vos
anunciar’» (Jo 16,15). E noutra passagem deste mesmo discurso (15,26): «Quando
vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que
procede do Pai, ele dará testemunho de mim».
Aprendamos
esta grande e consoladora verdade: A Santíssima Trindade, longe de se colocar à
parte, distante e inacessível, vem até nós, habita em nós e transforma-nos em
seus interlocutores. E isto por meio do Espirito, que assim nos guia até à
verdade total (cf. Jo 16,13). A incomparável “dignidade do cristão”, da qual S.
Leão Magno fala várias vezes, é esta: possuir em si mesmo o mistério de Deus e,
então, ter já na terra a própria “cidadania” no céu, quer dizer, no seio da
Santíssima Trindade.
Quem é Deus?
Pe. Antonio Rivero, L.C.
Toda a
nossa vida cristã gira- ou deveria girar- ao redor da Santíssima Trindade.
Levantamo-nos e deitamos no nome da Trindade. Trabalhamos e sofremos no nome da
Trindade. Celebramos e participamos nos sacramentos e fazemos oração no nome da
Trindade. Comemos e compartilhamos o nosso pão no nome da Trindade Santa. Toda
a nossa vida deveria ser um diálogo entre nós e o Pai, feito por meio de Jesus
Cristo, à luz e com o sustento do Espírito Santo.
Em primeiro
lugar, um pouco de história. Conta São Gregório de Nisa, que nos seus tempos do
século IV era impossível ir à praça do mercado para comprar pão, às termas para
tomar uma sauna, aos cambistas para falar de dinheiro, etc., sem agarrar-se uns
e outros pelos cabelos ao tocar o tema do mistério da Trindade. Informam os
historiados que Constantino tinha o seu império em dois partidos mal trilhados:
os arianos, cujo chefe Arrio, clérigo sem mitra nem báculo, dizia que o Pai é
Deus, mas o Filho não; e os atanásios, cujo chefe, Atanásio, clérigo também sem
mitra nem báculo, dizia que o Filho é tão Deus como o Pai. E aquilo era “guerra
civil” à vista. Conta a história da Igreja que o imperador Constantino, já
suspeitoso e com um império desse jeito na boca da amargura, convocou o
primeiro concílio ecumênico para que os bispos da Igreja se batessem o cobre
pela Trindade e, para aproveitar, salvassem para ele o império. 20 de maio do
ano 325 na cidade de Niceia, na Turquia asiática: o imperador Constantino-
coroa imperial na cabeça, manto de rabo arrastando, como um paquete oriental-
entrou na sala conciliar por entre as 318 mitras e báculos dos padres sinodais,
subiu no estrado e parabenizou o legado do Papa Silvestre I, que era espanhol:
o grande Ósio, bispo de Córdoba. Ali, por conta da Trindade, o Papa estava
jogando a unidade da Igreja e Constantino a unidade do império. Niceia, 19 de
junho de 325: o grande Ósio saiu com essa palavra mágica, luminosa e clave, e
solucionou o problema: “homoúsious” (=consubstancial). O Filho, pois, e
consubstancial ao Pai e vice-versa, isto é, o Filho é Deus igual que o Pai. Fim
do Concílio. E diz que o historiador eclesiástico, Eusébio de Cesareia, que
Constantino deu aos bispos um banquete imperial e aos seus súditos uma ordem
imperial: ou aceitação do concilio ou desterro para a vida inteira.
Em segundo
lugar, como se aproximam os teólogos deste mistério da Trindade? Observam pelas
miragens que o Pai, em efeito, exerce autoridade sobre o Filho e sobre os
homens. Autoridade que não é autoritarismo. Paternidade que não é paternalismo
que mima, chateia e não faz crescer os filhos. E lhe diz ao Filho: essa é a
situação dos homens e este é o meu plano de redenção, e o redentor és Tu. E nos
diz: eu sou o Pai que os amo e quero a felicidade de todos vocês: mas cumpram
os meus mandados para sejam felizes e assim me façam feliz. Continuam os
teólogos e observam o Filho e a sua obediência, que è uma, grande e livre (mas
sem jugo nem flechas, como no escudo espanhol). E escutam o Filho dizer: “Eu
faço sempre a vontade do meu Pai” (Jo 8,29), “o Pai e eu somos um” (Jo 10,30),
“… levo a tua lei no meu coração” (Heb 10,7 e Salmo 39,9). E não cansados de
refletir e meditar, os teólogos ouvem o barulho das asas em movimento do
Espírito, que no voo rasante sobrevoou o caos prévio à criação do mundo, que
falou a mesma coisa aos patriarcas nas grandes teofanias e aos profetas e
dirigentes de Israel, que desceu sobre Jesus e às águas do Jordão, que chegou
aos apóstolos no borde do furacão. O Espírito é energia, vitalidade, atividade.
É luz que nos guiará à verdade completa (evangelho).
Finalmente,
nós, por sermos batizados, somos portadores da Trindade. Rápido se percebe
quando uma pessoa está cheia desse Deus e valoriza o espiritual mais do que o
material, a alma mais do que o corpo, o céu mais do que a terra, o próximo como
a Deus e a Deus mais do que ninguém e sobre todas as coisas. Esse Deus Uno e
Trino devemos adorar com toda a alma; amar com todo o coração; agradecer com
todo o nosso ser e corresponder levando uma vida segundo o Espírito. Por ser
portadores da Trindade até nos gloriamos dos sofrimentos, pois sabemos que o
sofrimento gera a paciência, a paciência gera a virtude sólida, a virtude
sólida gera a esperança, pois Deus nos infundiu o amor nos nossos corações por
meio do Espírito (2ª leitura). E vivemos felizes, pois as delícias desse Deus
Uno e Trino são estar com os filhos dos homens (1ª leitura).
Para refletir: Aceito Deus como mistério? Rezo a
Deus em termos vagos, ou me relaciono de pessoa a pessoa com o Pai, ou com
Jesus, ou com o Espírito Santo? Fasso tudo em nome da Santíssima Trindade:
trabalho, estudo, descanso, sofrimento, êxito e fracasso?
Para rezar: Hino das primeiras Vésperas da
Solenidade da Santíssima Trindade:
Meu Deus,
Trindade a quem adoro!
A Igreja
nos submerge no vosso mistério;
Confessamos-vos
e vos bendizemos,
Senhor Deus
nosso.
Como um rio
no mar da vossa grandeza,
O tempo
desemboca no hoje eterno,
O pequeno
se anega no infinito,
Senhor,
Deus nosso.
Ó, Palavra
do Pai, vos escutamos;
Ó, Pai,
olhai o rosto do vosso Verbo;
Ó, Espírito
de amor, vinde a nós;
Senhor,
Deus nosso.
Meu Deus,
Trindade a quem adoro!
Fazei das
nossas almas vosso céu,
Levai-nos
ao lar onde Vós habitais,
Senhor,
Deus nosso.
Glória ao
Pai, e ao Filho, e ao Espírito:
Fonte de
gozo pleno e verdadeiro,
Ao Criador
do céu e da terra,
Senhor,
Deus nosso. Amém.
Qualquer
sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:
arivero@legionaries.org
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