sexta-feira, 24 de maio de 2019

Domingo VI da Páscoa


Textos: Atos 15, 1-2.22-29; Ap 21, 10-14.22-23; Jo 14, 23-29

Evangelho (Jo 14,23-29): Jesus respondeu-lhe: «Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada. Quem não me ama, não guarda as minhas palavras. E a palavra que ouvis não é minha, mas do Pai que me enviou. Eu vos tenho dito estas coisas enquanto estou convosco. Mas o Defensor, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito. Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não é à maneira do mundo que eu a dou. Não se perturbe, nem se atemorize o vosso coração. Ouvistes o que eu vos disse: ‘Eu vou, mas voltarei a vós’. Se me amásseis, ficaríeis alegres porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu. Disse-vos isso agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, creiais».

«Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada»

Rev. D. Francesc CATARINEU i Vilageliu (Sabadell, Barcelona, Espanha)

São Felipe Neri, Presbítero
Hoje, antes de celebrar a Ascensão e Pentecostes, voltemos a ler as palavras do chamado sermão da Última Ceia, na que devemos ver diversas maneiras de apresentar uma única mensagem, já que tudo brota da união de Cristo com o Pai e da vontade de Deus de associar-nos a este mistério de amor.

A Santa Teresa do Menino Jesus um dia lhe ofereceram diversos presentes para que ela escolhesse, e ela — com uma grande decisão mesmo apesar de sua pouca idade — disse: «Escolho tudo». Já depois entendeu que este escolher tudo deveria se de concretizar em querer ser o amor na Igreja, pois um corpo sem amor não teria sentido. Deus é este mistério de amor, um amor concreto, pessoal, feito carne no Filho Jesus que chega a dar tudo: Ele mesmo, sua vida e seus atos são a máxima e mais clara mensagem de Deus.

É deste amor que abrange tudo de onde nasce a “paz”. Esta é hoje uma palavra desejada: queremos paz e tudo são alarmes e violências. Só conseguiremos a paz se nos voltamos a Jesus, já que é Ele quem nos dá a paz como fruto de seu amor total. Mas não nos dá como o mundo faz. «Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não é à maneira do mundo que eu a dou» (cf. Jo 14,27), pois a paz de Jesus não é a tranquilidade e a despreocupação, pelo contrário: a solidariedade que se transforma em fraternidade, a capacidade de ver-nos e de ver aos outros com olhos novos como faz o Senhor, e assim perdoar-nos. Dai nasce uma grande serenidade que nos faz ver as coisas tal e como são, e não como parecem. Seguindo por este caminho chegaremos a ser felizes.

«Mas o Defensor, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito» (Jo 14,26). Nestes últimos dias de Páscoa peçamos abrir-nos ao Espírito: O recebemos ao sermos batizados e crismados, mas é necessário que — como dom ulterior — volte a brotar em nós e nos faça chegar lá onde não ousaríamos.

Quem é o Espírito Santo? O que produz na nossa alma?

Pe. Antonio Rivero, L.C.

Cristo, no longo discurso de despedida aos Apóstolos, está preparando-os, eles e também nós, para a vinda do Espírito Santo. Mestre divino interior, Luz para as mentes, Doce Hóspede e Consolador das nossas almas, Arquiteto da nossa santidade, Escultor da imagem de Cristo no nosso interior, Estratego nas nossas lutas, Bálsamo para as nossas feridas.

Em primeiro lugar, quem é o Espírito Santo? A teologia nos ensina que o Espírito Santo é visto na vida íntima da Trindade como o que procede do Pai e do Filho, e constitui a comunhão inefável entre o Pai e o Filho. Na vida do que crê o Espírito Santo instalará a sua morada, transformando-se em luz, consolo e mestre interior. Na vida da Igreja, o Espírito Santo será a testemunha vivente de Jesus, a guia interior para o descobrimento de toda a verdade e força para se opor ao mundo malvado, convencendo-o do pecado. O Espirito Santo guia a Igreja nas suas máximas decisões e a ajuda a se manter unida (1 leitura). E ao longo dos séculos, com os hinos dedicados ao Espírito Santo, a Ele tem sido dado atributos profundos: Mestre interior que nos ensina e nos explica as verdades de Cristo; doce Hóspede da alma que nos consola nos momentos de aflição; Escultor da santidade; Estratego nas batalhas que devemos travar com os grandes inimigos da nossa santidade; ei-lo aí animando-nos e fortalecendo-nos na luta.

Em segundo lugar, o efeito que este divino Espírito deixa na alma é a paz (evangelho). Os romanos desejavam a saúde (“salus”), os gregos a alegria da vida (“Xaire”), os judeus a paz “schalom alechem” (paz para nós), que era a prosperidade material e religiosa, pessoal, tribal e nacional. Por isso nos seus livros sagrados é a palavra que mais aparece: 239 no Antigo Testamento, e 89 no Novo. Esta paz que nos dá o Espírito Santo é a paz de Cristo. Não é a paz dos cemitérios. Nem a paz que deixa as armas que se calam. Nem a paz que as nações assinam com concordados com canetas de ouro e nas poltronas de luxo. A paz do Espírito Santo é a paz pessoal, íntima, insubornável. A serenidade do lago da consciência e a sua honradez de vida; o gozo do coração e as bondades humanas; a alma de Deus com as suas vivências divinas, que é tanto como dizer a vida de cara ao sol e as estrelas. Esta paz ninguém pode tirar de nós; nem uma doença nem a vizinha do lado, nem o negócio, nem o meu chefe de trabalho. Ninguém pode tirá-la de nós, simplesmente porque nenhum de todos eles nos deu essa paz, e porque é divina. Perguntemos, se não, a Edith Stein, judia conversa ao cristianismo e depois freira carmelita, e hoje santa Benedita da Cruz, detida pela polícia alemã no dia 2 de agosto de 1942, e que terminou no campo de Auschwitz, morrendo na câmara de gás. Nunca perdeu esta paz divina. Ou a paz de Teresa de Jesus, que nunca perdeu nem sequer entre as panelas sujas da cozinho do seu convento nem no carroças das fundações pelas terras da Espanha e quando teve que estar cara a cara com o rei mais poderoso do mundo, Felipe II. A paz de João da Cruz nas noites toledanas jogado na sua cela de 3X4, com os piolhos por todos lados e as migalhas de pão duro com uma sardinha; e assim, nove meses até o dia da sua fuga!

Finalmente, e com a paz o Espírito Santo nos proporciona também o gosto pelas coisas espirituais. O homem natural preza as coisas e as vantagens materiais: saúde, dinheiro e amor… mas não é capaz de prezar as coisas espirituais: a fé em Cristo, a vida de união com Ele, inclusive através dos sofrimentos da vida, o amor autêntico. Ajuda-nos a compreender a relatividade e a fugacidade das coisas, comparadas com as coisas divinas. Ele nos ensina a docilidade interior à vontade divina, como manifestação concreta do nosso amor real a Deus. Não fechemos a porta a este Doce Hóspede interior com a nossa surdez. Não tapemos a boca deste maravilhoso Mestre interior com as nossas rebeldias. Não machuquemos este maravilhoso Escultor divino com as nossas resistências. Escutemos os seus gemidos inenarráveis, quando o ofendemos, e procuremos estar sempre à sua escuta, na hora de discernir na nossa vida pessoal e comunitária (1 leitura). Deixemos que seja o Espírito Santo quem eleve o nosso pensamento e afeto continuamente à cidade santa, o céu, para deixar-nos envolver pelo fulgor divino e o transmitamos ao nosso redor (2 leitura).

Para refletir: Como trato o Espírito Santo na minha alma? Escuto-o? sou dócil ao que Ele me pede? Deixo-me modelar por Ele? O que estou fazendo com a paz que Cristo me deixou, como fruto do Espírito Santo: sei saboreá-la, defendê-la ou a pisoteio?

Para rezar: Rezemos as estrofes do famoso hino ao Espírito Santo:

Vinde, Espírito Santo
Mandai a vossa luz desde o céu.
Pai amoroso do pobre;
Dom, nos vossos dons esplêndido;

Luz que penetra as almas;
Fonte do maior consolo.
Vinde, doce hóspede da alma,
Descanso do nosso esforço,

Trégua no duro trabalho,
Brisa nas horas de fogo,
Gozo que enxuga as lágrimas
E reconforta nos duelos.

Entra até no fundo da alma,
Divina luz e enriquecei-nos.
Olhai o vazio do homem,
Se Vós não estais dentro dele;

Olhai o poder do pecado,
Quando não enviardes o vosso sopro.
Regai a terra seca,
Sanai o coração enfermo,
Lavai as manchas, infunde

Calor de vida no gelo,
Domai o espírito indômito,
Guia o que está fora do caminho.
Reparti os vossos sete dons,

Segundo a fé dos vossos servos;
Pela vossa bondade e graça,
Dai-lhe ao esforço o seu mérito;
Salvai o que busca se salvar
E dai-nos o vosso gozo eterno. Amém.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org

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