Textos: Atos
15, 1-2.22-29; Ap 21, 10-14.22-23; Jo 14, 23-29
Evangelho (Jo
14,23-29): Jesus respondeu-lhe: «Se alguém me
ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a
nossa morada. Quem não me ama, não guarda as minhas palavras. E a palavra que
ouvis não é minha, mas do Pai que me enviou. Eu vos tenho dito estas coisas
enquanto estou convosco. Mas o Defensor, o Espírito Santo que o Pai enviará em
meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito.
Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não é à maneira do mundo que eu a dou.
Não se perturbe, nem se atemorize o vosso coração. Ouvistes o que eu vos disse:
‘Eu vou, mas voltarei a vós’. Se me amásseis, ficaríeis alegres porque vou para
o Pai, pois o Pai é maior do que eu. Disse-vos isso agora, antes que aconteça,
para que, quando acontecer, creiais».
«Se alguém me ama,
guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa
morada»
Rev. D. Francesc CATARINEU i Vilageliu (Sabadell,
Barcelona, Espanha)
São Felipe Neri, Presbítero |
Hoje, antes
de celebrar a Ascensão e Pentecostes, voltemos a ler as palavras do chamado
sermão da Última Ceia, na que devemos ver diversas maneiras de apresentar uma
única mensagem, já que tudo brota da união de Cristo com o Pai e da vontade de
Deus de associar-nos a este mistério de amor.
A Santa
Teresa do Menino Jesus um dia lhe ofereceram diversos presentes para que ela
escolhesse, e ela — com uma grande decisão mesmo apesar de sua pouca idade —
disse: «Escolho tudo». Já depois entendeu que este escolher tudo deveria se de
concretizar em querer ser o amor na Igreja, pois um corpo sem amor não teria
sentido. Deus é este mistério de amor, um amor concreto, pessoal, feito carne
no Filho Jesus que chega a dar tudo: Ele mesmo, sua vida e seus atos são a
máxima e mais clara mensagem de Deus.
É deste
amor que abrange tudo de onde nasce a “paz”. Esta é hoje uma palavra desejada:
queremos paz e tudo são alarmes e violências. Só conseguiremos a paz se nos
voltamos a Jesus, já que é Ele quem nos dá a paz como fruto de seu amor total.
Mas não nos dá como o mundo faz. «Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não é à
maneira do mundo que eu a dou» (cf. Jo 14,27), pois a paz de Jesus não é a
tranquilidade e a despreocupação, pelo contrário: a solidariedade que se
transforma em fraternidade, a capacidade de ver-nos e de ver aos outros com
olhos novos como faz o Senhor, e assim perdoar-nos. Dai nasce uma grande
serenidade que nos faz ver as coisas tal e como são, e não como parecem.
Seguindo por este caminho chegaremos a ser felizes.
«Mas o
Defensor, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo
e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito» (Jo 14,26). Nestes últimos dias
de Páscoa peçamos abrir-nos ao Espírito: O recebemos ao sermos batizados e
crismados, mas é necessário que — como dom ulterior — volte a brotar em nós e
nos faça chegar lá onde não ousaríamos.
Quem é o Espírito
Santo? O que produz na nossa alma?
Pe. Antonio Rivero, L.C.
Cristo, no
longo discurso de despedida aos Apóstolos, está preparando-os, eles e também
nós, para a vinda do Espírito Santo. Mestre divino interior, Luz para as
mentes, Doce Hóspede e Consolador das nossas almas, Arquiteto da nossa
santidade, Escultor da imagem de Cristo no nosso interior, Estratego nas nossas
lutas, Bálsamo para as nossas feridas.
Em primeiro
lugar, quem é o Espírito Santo? A teologia nos ensina que o Espírito Santo é
visto na vida íntima da Trindade como o que procede do Pai e do Filho, e
constitui a comunhão inefável entre o Pai e o Filho. Na vida do que crê o
Espírito Santo instalará a sua morada, transformando-se em luz, consolo e
mestre interior. Na vida da Igreja, o Espírito Santo será a testemunha vivente
de Jesus, a guia interior para o descobrimento de toda a verdade e força para
se opor ao mundo malvado, convencendo-o do pecado. O Espirito Santo guia a
Igreja nas suas máximas decisões e a ajuda a se manter unida (1 leitura). E ao
longo dos séculos, com os hinos dedicados ao Espírito Santo, a Ele tem sido
dado atributos profundos: Mestre interior que nos ensina e nos explica as
verdades de Cristo; doce Hóspede da alma que nos consola nos momentos de
aflição; Escultor da santidade; Estratego nas batalhas que devemos travar com
os grandes inimigos da nossa santidade; ei-lo aí animando-nos e
fortalecendo-nos na luta.
Em segundo
lugar, o efeito que este divino Espírito deixa na alma é a paz (evangelho). Os
romanos desejavam a saúde (“salus”), os gregos a alegria da vida (“Xaire”), os
judeus a paz “schalom alechem” (paz para nós), que era a prosperidade material
e religiosa, pessoal, tribal e nacional. Por isso nos seus livros sagrados é a
palavra que mais aparece: 239 no Antigo Testamento, e 89 no Novo. Esta paz que
nos dá o Espírito Santo é a paz de Cristo. Não é a paz dos cemitérios. Nem a
paz que deixa as armas que se calam. Nem a paz que as nações assinam com
concordados com canetas de ouro e nas poltronas de luxo. A paz do Espírito
Santo é a paz pessoal, íntima, insubornável. A serenidade do lago da
consciência e a sua honradez de vida; o gozo do coração e as bondades humanas;
a alma de Deus com as suas vivências divinas, que é tanto como dizer a vida de
cara ao sol e as estrelas. Esta paz ninguém pode tirar de nós; nem uma doença
nem a vizinha do lado, nem o negócio, nem o meu chefe de trabalho. Ninguém pode
tirá-la de nós, simplesmente porque nenhum de todos eles nos deu essa paz, e
porque é divina. Perguntemos, se não, a Edith Stein, judia conversa ao
cristianismo e depois freira carmelita, e hoje santa Benedita da Cruz, detida pela
polícia alemã no dia 2 de agosto de 1942, e que terminou no campo de Auschwitz,
morrendo na câmara de gás. Nunca perdeu esta paz divina. Ou a paz de Teresa de
Jesus, que nunca perdeu nem sequer entre as panelas sujas da cozinho do seu
convento nem no carroças das fundações pelas terras da Espanha e quando teve
que estar cara a cara com o rei mais poderoso do mundo, Felipe II. A paz de
João da Cruz nas noites toledanas jogado na sua cela de 3X4, com os piolhos por
todos lados e as migalhas de pão duro com uma sardinha; e assim, nove meses até
o dia da sua fuga!
Finalmente,
e com a paz o Espírito Santo nos proporciona também o gosto pelas coisas
espirituais. O homem natural preza as coisas e as vantagens materiais: saúde,
dinheiro e amor… mas não é capaz de prezar as coisas espirituais: a fé em
Cristo, a vida de união com Ele, inclusive através dos sofrimentos da vida, o
amor autêntico. Ajuda-nos a compreender a relatividade e a fugacidade das
coisas, comparadas com as coisas divinas. Ele nos ensina a docilidade interior
à vontade divina, como manifestação concreta do nosso amor real a Deus. Não
fechemos a porta a este Doce Hóspede interior com a nossa surdez. Não tapemos a
boca deste maravilhoso Mestre interior com as nossas rebeldias. Não machuquemos
este maravilhoso Escultor divino com as nossas resistências. Escutemos os seus
gemidos inenarráveis, quando o ofendemos, e procuremos estar sempre à sua
escuta, na hora de discernir na nossa vida pessoal e comunitária (1 leitura).
Deixemos que seja o Espírito Santo quem eleve o nosso pensamento e afeto
continuamente à cidade santa, o céu, para deixar-nos envolver pelo fulgor
divino e o transmitamos ao nosso redor (2 leitura).
Para refletir: Como trato o Espírito Santo na minha
alma? Escuto-o? sou dócil ao que Ele me pede? Deixo-me modelar por Ele? O que
estou fazendo com a paz que Cristo me deixou, como fruto do Espírito Santo: sei
saboreá-la, defendê-la ou a pisoteio?
Para rezar: Rezemos as estrofes do famoso hino
ao Espírito Santo:
Vinde,
Espírito Santo
Mandai a
vossa luz desde o céu.
Pai amoroso
do pobre;
Dom, nos
vossos dons esplêndido;
Luz que
penetra as almas;
Fonte do
maior consolo.
Vinde, doce
hóspede da alma,
Descanso do
nosso esforço,
Trégua no
duro trabalho,
Brisa nas
horas de fogo,
Gozo que
enxuga as lágrimas
E
reconforta nos duelos.
Entra até
no fundo da alma,
Divina luz
e enriquecei-nos.
Olhai o
vazio do homem,
Se Vós não
estais dentro dele;
Olhai o
poder do pecado,
Quando não
enviardes o vosso sopro.
Regai a
terra seca,
Sanai o
coração enfermo,
Lavai as
manchas, infunde
Calor de
vida no gelo,
Domai o
espírito indômito,
Guia o que
está fora do caminho.
Reparti os
vossos sete dons,
Segundo a
fé dos vossos servos;
Pela vossa
bondade e graça,
Dai-lhe ao
esforço o seu mérito;
Salvai o
que busca se salvar
E dai-nos o
vosso gozo eterno. Amém.
Qualquer sugestão ou
dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:
arivero@legionaries.org
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