“Os cinquenta dias que
mediam o domingo de Ressurreição até o domingo de Pentecoste hão de ser
celebrados com alegria e júbilo, como se se trata de um só e único dia festivo,
como um grande domingo” (Normas Universais sobre o Calendário, de 1969, n.22).
Pe Antonio Rivero L,C.
Na Páscoa
não lemos o Antigo Testamento que é promessa e figura, e na Páscoa estamos
celebrando a plenitude de Cristo e do seu Espírito. Como primeira leitura,
lemos os Atos dos Apóstolos. A segunda leitura, neste ano ou ciclo C, é pega do
livro do Apocalipse, em que de um modo muito dinâmico se descrevem as
perseguições sofridas pelas primeiras gerações e a força que lhes deu a sua fé
no triunfo de Cristo, representado pelo “Cordeiro”. Os evangelhos destes
domingos pascais não vão ser tanto de Lucas, o evangelista do ciclo C, mas de
João.
Podemos
resumir em três aspectos a que nos compromete a páscoa: primeiro, à fé em
Cristo Ressuscitado; segundo, essa fé tem que ser vivida em comunidade que se
reúne cada domingo para celebrar essa páscoa mediante a Eucaristia e cria laços
profundos de caridade e ajuda aos necessitados; e terceiro, essa fé nos
impulsiona à missão evangelizadora.
Inspirados
nas famosas perguntas do famoso filósofo alemão do século XVIII, Kant, na sua
obra Crítica da Razão Pura, responderemos estas três perguntas: o que posso
saber da ressurreição de Cristo, o que devo fazer pela ressurreição de Cristo e
o que posso esperar da ressurreição de Cristo.
Hoje é o
domingo mais importante do ano. Domingo do que recebem sentido todos os outros
domingos do ano. Daremos respostas a essas perguntas
Em primeiro
lugar, o que podemos saber da ressurreição de Cristo? Tenhamos em consideração
às testemunhas que viram Cristo ressuscitado. Eles terão tido as suas vivencias
religiosas, as suas dúvidas, os seus convencimentos e discrepâncias. Mas todos
coincidem nisto: três dias depois de ir ao enterro de Jesus, como 35 horas
depois de fechar a sua tumba, encontraram-na aberta, com os sentinelas à porta
e atordoados. O cadáver…? Sabotagem? Sequestro? Truque? Resulta que as três
mulheres madrugadoras, ao chegar no sepulcro e se encontrar com a tumba vazia e
dentro a notícia: “ressuscitou”, saíram correndo para levar a notícia aos
discípulos. Lendas, mas de um fato. Logo resultou que Jesus apareceu como se
nada dizendo que era o jardineiro, caminhante, comensal, animador. Ausências
misteriosas e presencias repentinas que os colocavam em xeque. Vivencias
místicas, mas de um acontecimento. Sabemos que os Evangelhos, que isso dizem,
são livros históricos porque pertencem à época e autores que se diz. Autores
que viveram com Jesus, viram-no, conversaram com Ele, conviveram… E até
apostaram a própria cabeça pela ressurreição. E a perderam. Ninguém morre por
um mito, um bulo, um truque. Isso é assim. A ressurreição é verdade.
Em segundo
lugar, o que devemos fazer pela ressurreição de Cristo? Se realmente
acreditamos na ressurreição de Cristo e na sua força transformadora, então
temos que fazer algo aqui na terra para levar esta boa notícia por todos os
cantos do mundo, a todas as famílias e amigos, e também inimigos. O que posso
fazer por essas favelas de São Paulo ou do Rio no Brasil, ou pelas ruas do
Bronx negro em Nova York? Não chamam a minha atenção as favelas de canhas e
barro de Calcutá, fome em tantas regiões do mundo, guerras loucas, injustiça,
pobreza, pecado? Deixam-me dormir tranquilo o analfabetismo, a enfermidade, a
exploração, a amargura, a desesperança, o sangue de Abel e da terra que põem o
grito no céu? E a situação sanitária, escolar, laboral, humana do mundo é um
pecado social, solidário e atroz. E famílias destruídas. E jovens nos paraísos
perdidos da droga. Políticos sem escrúpulos que pisoteiam a lei de Deus, a lei
natural e a justiça comutativa, social e distributiva. Isto é o que devemos
fazer pelos bem dos homens e mulheres do mundo, pelos quais o Filho de Deus tal
dia como na sexta-feira santa morreu para a sua libertação e tal dia como hoje
ressuscitou para a sua glória imortal.
Finalmente,
o que podemos nós esperar da ressurreição de Cristo? Se formos esses Tomé
incrédulos, podemos esperar que Cristo ressuscitado nesta Páscoa nos ressuscite
a fé Nele e na sua Igreja, e nos deixe colocar os nossos dedos nas suas chagas
abertas. Se formos esses discípulos de Emaús desencantados e sem ilusão,
podemos esperar que se cruze pelo nosso caminho e nos renove a esperança Nele,
embora tenha que nos chamar de lerdos e sem memória por não crer ou não ler com
detenção as Sagradas Escrituras. Se formos essa Madalena triste e compungida,
porque caiu para nós o nosso amor, a nossa família, podemos esperar que Cristo
ressuscitado nos olhe de novo e nos chame pelo nosso nome como fez com Maria
nessa primeira Páscoa, e assim recobrar a alegria da presença de Cristo na
nossa vida que se faz presente nos sacramentos, sobretudo da Eucaristia e da
Penitência. Se nos parecermos com esses discípulos fechados no cenáculo dos
seus medos, contagiando-se de tristeza e dos remorsos por ter falhado o Mestre,
deixemos alguma greta do nosso ser aberta para que Cristo ressuscitado entre e
nos traga a paz, a sua paz. Se nos sentirmos como Pedro que negou Cristo,
esperamos que Cristo ressuscitado se faça presente para nós e possamos renovar
o nosso amor: “Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo”.
Para refletir: Creio em Cristo ressuscitado? Onde
encontro Cristo ressuscitado na minha vida de cada dia? Tenho rosto de
ressuscitado ou vivo numa perpétua Sexta-feira Santa: triste, pesaroso e cheio
de pesar?
Para rezar: rezemos com Santo Agostinho: “Tarde
te amei, meu Deus, formosura sempre antiga e sempre nova, tarde te amei. Tu
estavas dentro de mim e eu fora de ti e assim por fora te buscava e, deforme
como era, lançava-me sobre estas coisas formosas que Tu criaste. Tu estavas
comigo, mas eu não estava contigo. Chamaste-me e clamaste e quebrantaste a
minha surdez; brilhaste e resplandeceste e curaste a minha cegueira; exalaste o
teu perfume e o aspirei, agora te almejo; provei-te e agora sinto fome e sede
de Ti” (Confissões, livro 10, cap.27).
Qualquer sugestão ou dúvida podem se
comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org
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