«Aquele que entre todos
vós for o menor, esse é o maior»
Prof. Dr. Mons. Lluís CLAVELL (Roma, Itália)
Hoje, caminho
de Jerusalém em direção à paixão, «surgiu entre os discípulos uma discussão
sobre qual deles seria o maior» (Lc 9,46). Cada dia os meios de comunicação e
também nossas conversas estão cheias de comentários sobre a importância das
pessoas: dos outros e de nós mesmos. Esta lógica só humana produz, frequentemente,
desejo de vitória, de ser reconhecido, apreciado, correspondido, e a falta de
paz, quando estes reconhecimentos não chegam.
A resposta de
Jesus a estes pensamentos -até mesmo comentários- dos discípulos, lembra o
estilo dos antigos profetas. Antes das palavras estão os gestos. Jesus «pegou
uma criança, colocou-a perto de si» (Lc 9,47). Depois vem o ensinamento:
«aquele que entre todos vós for o menor, esse é o maior» (Lc 9,48). -Jesus, por
que custa tanto aceitar que isto não é uma utopia para as pessoas que não estão
implicadas no tráfico de uma tarefa intensa, na qual não faltam os golpes de
uns contra os outros, e que, com a tua graça, podemos vivê-lo todos? Se o
fizéssemos, teríamos mais paz interior e trabalharíamos com mais serenidade e
alegria.
Esta atitude
é também a fonte da onde brota a alegria, ao ver que outros trabalham bem por
Deus, com um estilo diferente do nosso, mas sempre assumindo o nome de Jesus.
Os discípulos queriam impedi-lo. Em troca, o Mestre defende aquelas outras
pessoas. Novamente, o fato de sentir-nos filhos pequenos de Deus facilita-nos a
ter o coração aberto para todos e crescer na paz, na alegria e na gratidão.
Estes ensinamentos valeram à Santa Teresinha de Lisieux o título de Doutora da
Igreja: em seu livro História de uma alma, ela admira o belo jardim de flores
que é a Igreja, e está contenta de perceber-se uma pequena flor. Ao lado dos
grandes santos -rosas e açucenas- estão as pequenas flores -como as margaridas
ou as violetas- destinadas a dar prazer aos olhos de Deus, quando Ele dirige o
seu olhar à terra.
Reflexão de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* O evangelho de hoje traz um texto tirado do Sermão da
Comunidade (Mt 18,1-35), no qual Mateus reúne frases de Jesus para ajudar as
comunidades do fim do primeiro século a superar os dois problemas que elas
enfrentavam naquele momento, a saber, a saída dos pequenos por causa do escândalo
de alguns (Mt 18,1-14) e a necessidade de diálogo para superar os conflitos
internos (Mt 18,15-35). O Sermão da Comunidade aborda vários assuntos: o
exercício do poder na comunidade (Mt 18,1-4), o escândalo que exclui os
pequenos (Mt 18,5-11), a obrigação de lutar pelo retorno dos pequenos (Mt
18,12-14), a correção fraterna (Mt 18,15-18), a oração (Mt 18,19-20) e o perdão
(Mt 18,21-35). O acento cai na acolhida e na reconciliação, pois o fundamento
da fraternidade é o amor gratuito de Deus que nos acolhe e perdoa. Só assim a
comunidade será um sinal do Reino.
* No Evangelho de hoje vamos meditar aquela parte que fala
do acolhimento a ser dado aos pequenos. A expressão, “os pequenos” não se
refere só às crianças, mas sim às pessoas sem importância na sociedade,
inclusive as crianças. Jesus pede que os pequenos estejam no centro das
preocupações da comunidade, pois "o Pai não quer que um só destes pequenos
se perca" (Mt 18,14).
* Mateus 18,1: A pergunta dos
discípulos que provocou o ensinamento de Jesus
Os discípulos
querem saber quem é o maior no Reino. Só o fato de alguém fazer esta pergunta
mostra que ele não entendeu bem a mensagem de Jesus. A resposta de Jesus, isto
é, o Sermão da Comunidade todo inteiro, é para fazer entender que entre os
seguidores e as seguidoras de Jesus deve vigorar o espírito de serviço, doação,
perdão, reconciliação e amor gratuito, sem buscar o próprio interesse.
* Mateus 18,2-5: O critério básico: o
menor é o maior.
“Jesus chamou
uma criança, colocou-a no meio deles”, Os discípulos querem um critério para
poder medir a importância das pessoas na comunidade. Jesus responde que o
critério é a criança! Criança não tem importância social, não pertence ao mundo
dos grandes. Os discípulos, em vez de crescerem para cima e para o centro,
devem crescer para baixo e para a periferia! Assim serão os maiores no Reino! E
o motivo é este: “Quem recebe a um
destes pequenos, recebe a mim!” O amor de Jesus pelos pequenos não tem
explicação. Criança não tem mérito, é amada pelos pais e por todos por ser
criança. É a pura gratuidade do amor de Deus que aqui se manifesta e pede para
ser imitada na comunidade pelos que acreditam em Jesus.
2. Mateus 18,6-9: Não escandalizar os
pequenos.
O evangelho
de hoje omite estes versículos de 6 a 9 e continua no versículo 10. Damos uma
breve chave de leitura para estes versículos 6 a 9. Escandalizar os pequenos
significa: ser motivo pelo qual os pequenos percam a fé em Deus e abandonem a
comunidade. A insistência demasiada em normas e observâncias, como faziam alguns
fariseus, afastava os pequenos, pois já não encontravam a prática libertadora
trazida por Jesus. Diante disso, Mateus conservou frases bem fortes de Jesus,
como aquela da pedra de moinho amarrada no pescoço e aquela outra: “Ai daquele
ou daquela que for causa de escândalo!” Sinal de que naquele tempo os pequenos
já não se identificavam mais com a comunidade e procuravam outros abrigos. E
hoje? Só no Brasil, por ano, são em torno de um milhão de pessoas que abandonam
as igrejas históricas e migram para as pentecostais. E são os pobres que fazem
esta transição. Se eles saem, é porque os pobres, os pequenos, já não se sentem
em casa na nossa casa! Qual o motivo? Para evitar este escândalo, Jesus manda
cortar mão ou pé e arrancar o olho. Estas afirmações de Jesus não podem ser
tomadas ao pé da letra. Elas significam que se deve ser muito exigente no
combate ao escândalo que afasta os pequenos. Não podemos permitir, de forma
nenhuma, que os pequenos se sintam marginalizados na nossa comunidade. Pois
neste caso a comunidade já não seria um sinal do Reino de Deus. Não seria de
Jesus Cristo. Não seria cristã.
3. Mateus 18,10: Os anjos dos pequenos
na presença do Pai
"Cuidado
para não desprezar nenhum desses pequeninos, pois eu digo a vocês: os anjos
deles no céu estão sempre na presença do meu Pai que está no céu”. Hoje, às
vezes, se ouve alguém perguntar: “Será que os anjos existem? Será que não é um
elemento da cultura persa, onde os judeus viveram tantos séculos atrás durante
o exílio da Babilônia?” É possível que seja. Mas isto não é o X da questão, não
é a questão principal. Na Bíblia, o anjo tem um outro significado. Há textos em
que se fala do Anjo de Javé ou Anjo de Deus e de repente se fala de Deus. Troca
um pelo outro (Gn 18,1-2.9.10.13.16: cf Jz 13,3.18). Na Bíblia, anjo é o rosto
de Javé voltado para nós. Anjo de guarda é o rosto de Deus voltado para mim,
para você! É a expressão personalizada da convicção mais profunda da nossa fé,
a saber, que Deus está conosco, comigo, sempre! É uma maneira de concretizar o
amor e a presença de Deus na nossa vida, até nos mínimos detalhes.
Para um confronto pessoal
1) Os pequenos são acolhidos na nossa comunidade? As
pessoas mais pobres do bairro participam da nossa comunidade?
2) Anjos de Deus, Anjo de Guarda. Muitas vezes, o Anjo de
Deus é a pessoa que ajuda outra pessoa. Existem muitos anjos e anjas na sua
vida?
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