sábado, 23 de setembro de 2017

XXV Domingo do Tempo Comum

Textos: Isaias 55, 6-9; Filipenses 1, 20-24.27; Mateus 20, 1-16

Nossa Senhora das Mercês
Evangelho (Mt 20,1-16): Pois o Reino dos Céus é como o proprietário que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha. Combinou com os trabalhadores a diária e os mandou para a vinha. Em plena manhã, saiu de novo, viu outros que estavam na praça, desocupados, e lhes disse: ‘Ide também vós para a minha vinha! Eu pagarei o que for justo’. E eles foram. Ao meio-dia e em pleno tarde, ele saiu novamente e fez a mesma coisa. Saindo outra vez pelo fim da tarde, encontrou outros que estavam na praça e lhes disse: ‘Por que estais aí o dia inteiro desocupados? Eles responderam: ‘Porque ninguém nos contratou’. E ele lhes disse: ‘Ide vós também para a minha vinha’.  Ao anoitecer, o dono da vinha disse ao administrador: ‘Chama os trabalhadores e faze o pagamento, começando pelos últimos até os primeiros! ’ Vieram os que tinham sido contratados no final da tarde, cada qual recebendo a diária. Em seguida vieram os que foram contratados primeiro, pensando que iam receber mais. Porém, cada um deles também recebeu apenas a diária. Ao receberem o pagamento, começaram a murmurar contra o proprietário: ‘Estes últimos trabalharam uma hora só, e tu os igualaste a nós, que suportamos o peso do dia e o calor ardente’. Então, ele respondeu a um deles: ‘Companheiro, não estou sendo injusto contigo. Não combinamos a diária? Toma o que é teu e vai! Eu quero dar a este último o mesmo que dei a ti. Acaso não tenho o direito de fazer o que quero com aquilo que me pertence? Ou estás com inveja porque estou sendo bom?’ Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos».

«Ou estás com inveja porque estou sendo bom?»

Rev. D. Jaume GONZÁLEZ i Padrós (Barcelona, Espanha)

Hoje o evangelista continua fazendo a descrição do Reino de Deus conforme ao que Jesus ensina, tal como tem sido proclamado durante estes domingos de verão nas nossas assembleias eucarísticas.

No fundo o relato de hoje, a vinha, imagem profética do povo de Israel no Antigo Testamento, e agora o novo povo de Deus que nasce do lado aberto do Senhor na cruz. A questão: a filiação a este povo, que vem dada por uma chamada pessoal feita a cada um: «Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi» (Jo 15,16), e pela vontade do Pai do céu, de fazer extensiva esta chamada a todos os homens, movido por sua vontade generosa de salvação.

Ressalta, nesta parábola a protesta dos trabalhadores da primeira hora. É a imagem paralela do irmão grande da parábola do filho pródigo. Os que vivem o seu trabalho pelo Reino de Deus (o trabalho na vinha) como uma carga pesada «suportamos o peso do dia e o calor ardente» (Mt 20,12) e não como um privilégio que Deus lhes dispensa; não trabalham desde a alegria filial, senão com o mau humor dos serventes.

Para eles a fé é coisa que ata e escraviza e, caladamente, têm inveja dos que “vivem a vida”, já que concebem a consciência cristã como um freio e não como umas asas que dão voo divino à vida humana. Pensam que é melhor permanecer desocupados espiritualmente, antes que viver à luz da palavra de Deus. Sentem que a salvação lhe é devida e, são zelosos de ela. Contrasta notavelmente seu espírito mesquinho com a generosidade do Pai, que «o qual deseja que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade» (1Tim 2,4), e por isso chama à sua vinha, «O Senhor é bom para com todos, e sua misericórdia se estende a todas as suas obras» (Sal 144,9).

A lógica de Deus não é a nossa lógica. A lógica de Deus é a misericórdia. A lógica humana é “à tanto a hora”.

Pe. Antonio Rivero L.C.

A salvação não será dada ao homem em conceito de contrato bilateral, de justiça legal, mas de misericórdia e amor de Deus. Que, para méritos, pois aí estão os de Jesus Cristo. É claro, o homem tem que colaborar.

Em primeiro lugar, os legalistas e fariseus hoje gritam a Deus: “é injusto! Nós merecemos mais do que os que trabalharam menos horas… com gente como tu somos incitados à luta de classes, à expansão universal do marxismo socialista e comunista e a arrebentar o odre que, como o odre do mítico Éolo no Tirreno, contem os ventos de todas as tempestades sociais e políticas”. Jogam na sua cara que foi justo na justiça comutativa e legal, mas não na distributiva nem na social. “Proceder assim, Deus, é o melhor para provocar o pior”. A parábola era para os judeus, que como o povo eleito de Deus pareciam os “titulares” da promessa, enquanto que outros não judeus, os pagãos, que podemos considerar como os “suplentes”, não deveriam ter direito a receber a mesma recompensa que eles. Mas também a nós se pode aplicar a mesma lição. Os sacerdotes, religiosos e gente comprometida com a pastoral diocesana ou paroquial podemos ter a tentação de pensar que somos mais acreditados do premio que os leigos a pé.

Em segundo lugar, Cristo também grita hoje aos legalistas e fariseus: “Por que tendes inveja porque eu sou bom, inclusive com aqueles que vós pensais que não merecem?”. Jesus nos dá, não uma lição de justiça salarial- o dono da vinha paga todos os justos- mas uma lição da generosidade que Deus tem, que admite como jornaleiros que se apresentam somente na última hora, sem dar uma excessiva importância a este atraso, e logo paga os últimos mais do que lhes competiria de acordo o rigor. Deus não premia só conforme aos nossos méritos, senhores legalistas, mas segundo a sua bondade. A salvação de Deus é sempre gratuita. Este evangelho não é um evangelho social, porque nem a é a notícia de um conflito laboral nem a negativa a uma reivindicação salarial nem a denuncia ou a defesa de uma arbitrariedade patronal, mas um tratado de soteriologia, ou economia da salvação, em forma de parábola: “Deus salva os homens não tanto pela justiça (você fez tanto, merece tanto), mas da misericórdia (que é amor)”. Que tenta se salvar é o homem, mas quem efetivamente salva é Deus. Se não fosse assim, as relações do homem com Deus seriam mercantis: se salva só quem cumpre.

Finalmente, e nós, o que gritamos hoje a Cristo? “Senhor, dai-nos um coração como o vosso para que aprendamos a ser bondosos de coração na nossa relação com os demais”. A questão é se temos bom coração ou não. Somos às vezes “mão de vaca”, de coração mesquinho, calculadores na nossa relação com Deus e com os irmãos. Acostumamos levar uma contabilidade das horas que trabalhamos para Deus, como seguindo as pautas do contrato laboral, e depois pedimos contas a Deus e pensamos que temos o direito ao prêmio ou ao pagamento. Não projetemos sobre Deus os nossos cálculos e as nossas medidas. Ao contrario, aprendamos Dele a ser misericordiosos e generosos com aqueles que não merecem, segundo a nossa opinião. Ah, se Deus levasse a contabilidade das nossas faltas, não pensaríamos assim como esses legalistas do evangelho.

Para refletir: Somos propensos aos ciúmes e à inveja? Estamos dispostos a louvar os bons resultados dos outros, a alegrar-nos com as qualidades que outros têm? Somos cristãos de salário, ou trabalhamos só tratando de alegrar a Deus? Consideramos a salvação como um contrato bilateral, de justiça legal, ou como graça?

Para rezar: Senhor, que compreenda a vossa lógica divina, que é a da misericórdia. Tira de meu peito o coração de pedra e justiceiro, e dai-me um coração aberto a vossa lógica para que possa me alegrar pelo bem que concedes a meus irmãos, inclusive a aqueles que segundo eu não o merecem. E ajudai-me a trabalhar na vossa vinha com amor e por amor, e não por interesse mercantil, só para Vos alegrar, e isso me basta.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org

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