Textos: Isaias 55, 6-9; Filipenses 1,
20-24.27; Mateus 20, 1-16
Nossa Senhora das Mercês |
Evangelho (Mt
20,1-16): Pois o Reino dos Céus é como o
proprietário que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua
vinha. Combinou com os trabalhadores a diária e os mandou para a vinha. Em
plena manhã, saiu de novo, viu outros que estavam na praça, desocupados, e lhes
disse: ‘Ide também vós para a minha vinha! Eu pagarei o que for justo’. E eles
foram. Ao meio-dia e em pleno tarde, ele saiu novamente e fez a mesma coisa.
Saindo outra vez pelo fim da tarde, encontrou outros que estavam na praça e
lhes disse: ‘Por que estais aí o dia inteiro desocupados? Eles responderam:
‘Porque ninguém nos contratou’. E ele lhes disse: ‘Ide vós também para a minha
vinha’. Ao anoitecer, o dono da vinha
disse ao administrador: ‘Chama os trabalhadores e faze o pagamento, começando
pelos últimos até os primeiros! ’ Vieram os que tinham sido contratados no
final da tarde, cada qual recebendo a diária. Em seguida vieram os que foram
contratados primeiro, pensando que iam receber mais. Porém, cada um deles
também recebeu apenas a diária. Ao receberem o pagamento, começaram a murmurar
contra o proprietário: ‘Estes últimos trabalharam uma hora só, e tu os
igualaste a nós, que suportamos o peso do dia e o calor ardente’. Então, ele
respondeu a um deles: ‘Companheiro, não estou sendo injusto contigo. Não
combinamos a diária? Toma o que é teu e vai! Eu quero dar a este último o mesmo
que dei a ti. Acaso não tenho o direito de fazer o que quero com aquilo que me
pertence? Ou estás com inveja porque estou sendo bom?’ Assim, os últimos serão
os primeiros, e os primeiros serão os últimos».
«Ou estás com inveja
porque estou sendo bom?»
Rev. D. Jaume GONZÁLEZ i Padrós (Barcelona, Espanha)
Hoje o
evangelista continua fazendo a descrição do Reino de Deus conforme ao que Jesus
ensina, tal como tem sido proclamado durante estes domingos de verão nas nossas
assembleias eucarísticas.
No fundo o
relato de hoje, a vinha, imagem profética do povo de Israel no Antigo
Testamento, e agora o novo povo de Deus que nasce do lado aberto do Senhor na
cruz. A questão: a filiação a este povo, que vem dada por uma chamada pessoal
feita a cada um: «Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi» (Jo
15,16), e pela vontade do Pai do céu, de fazer extensiva esta chamada a todos
os homens, movido por sua vontade generosa de salvação.
Ressalta,
nesta parábola a protesta dos trabalhadores da primeira hora. É a imagem
paralela do irmão grande da parábola do filho pródigo. Os que vivem o seu
trabalho pelo Reino de Deus (o trabalho na vinha) como uma carga pesada
«suportamos o peso do dia e o calor ardente» (Mt 20,12) e não como um
privilégio que Deus lhes dispensa; não trabalham desde a alegria filial, senão
com o mau humor dos serventes.
Para eles a
fé é coisa que ata e escraviza e, caladamente, têm inveja dos que “vivem a
vida”, já que concebem a consciência cristã como um freio e não como umas asas
que dão voo divino à vida humana. Pensam que é melhor permanecer desocupados
espiritualmente, antes que viver à luz da palavra de Deus. Sentem que a
salvação lhe é devida e, são zelosos de ela. Contrasta notavelmente seu
espírito mesquinho com a generosidade do Pai, que «o qual deseja que todos os
homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade» (1Tim 2,4), e por isso
chama à sua vinha, «O Senhor é bom para com todos, e sua misericórdia se
estende a todas as suas obras» (Sal 144,9).
A lógica de Deus não é a
nossa lógica. A lógica de Deus é a misericórdia. A lógica humana é “à tanto a
hora”.
Pe. Antonio Rivero L.C.
A salvação
não será dada ao homem em conceito de contrato bilateral, de justiça legal, mas
de misericórdia e amor de Deus. Que, para méritos, pois aí estão os de Jesus
Cristo. É claro, o homem tem que colaborar.
Em primeiro
lugar, os legalistas e fariseus hoje gritam a Deus: “é injusto! Nós merecemos
mais do que os que trabalharam menos horas… com gente como tu somos incitados à
luta de classes, à expansão universal do marxismo socialista e comunista e a
arrebentar o odre que, como o odre do mítico Éolo no Tirreno, contem os ventos
de todas as tempestades sociais e políticas”. Jogam na sua cara que foi justo
na justiça comutativa e legal, mas não na distributiva nem na social. “Proceder
assim, Deus, é o melhor para provocar o pior”. A parábola era para os judeus,
que como o povo eleito de Deus pareciam os “titulares” da promessa, enquanto
que outros não judeus, os pagãos, que podemos considerar como os “suplentes”,
não deveriam ter direito a receber a mesma recompensa que eles. Mas também a
nós se pode aplicar a mesma lição. Os sacerdotes, religiosos e gente
comprometida com a pastoral diocesana ou paroquial podemos ter a tentação de
pensar que somos mais acreditados do premio que os leigos a pé.
Em segundo
lugar, Cristo também grita hoje aos legalistas e fariseus: “Por que tendes
inveja porque eu sou bom, inclusive com aqueles que vós pensais que não
merecem?”. Jesus nos dá, não uma lição de justiça salarial- o dono da vinha
paga todos os justos- mas uma lição da generosidade que Deus tem, que admite
como jornaleiros que se apresentam somente na última hora, sem dar uma
excessiva importância a este atraso, e logo paga os últimos mais do que lhes
competiria de acordo o rigor. Deus não premia só conforme aos nossos méritos,
senhores legalistas, mas segundo a sua bondade. A salvação de Deus é sempre
gratuita. Este evangelho não é um evangelho social, porque nem a é a notícia de
um conflito laboral nem a negativa a uma reivindicação salarial nem a denuncia
ou a defesa de uma arbitrariedade patronal, mas um tratado de soteriologia, ou
economia da salvação, em forma de parábola: “Deus salva os homens não tanto
pela justiça (você fez tanto, merece tanto), mas da misericórdia (que é amor)”.
Que tenta se salvar é o homem, mas quem efetivamente salva é Deus. Se não fosse
assim, as relações do homem com Deus seriam mercantis: se salva só quem cumpre.
Finalmente, e
nós, o que gritamos hoje a Cristo? “Senhor, dai-nos um coração como o vosso
para que aprendamos a ser bondosos de coração na nossa relação com os demais”.
A questão é se temos bom coração ou não. Somos às vezes “mão de vaca”, de
coração mesquinho, calculadores na nossa relação com Deus e com os irmãos.
Acostumamos levar uma contabilidade das horas que trabalhamos para Deus, como
seguindo as pautas do contrato laboral, e depois pedimos contas a Deus e
pensamos que temos o direito ao prêmio ou ao pagamento. Não projetemos sobre
Deus os nossos cálculos e as nossas medidas. Ao contrario, aprendamos Dele a
ser misericordiosos e generosos com aqueles que não merecem, segundo a nossa
opinião. Ah, se Deus levasse a contabilidade das nossas faltas, não pensaríamos
assim como esses legalistas do evangelho.
Para refletir: Somos propensos aos ciúmes e à
inveja? Estamos dispostos a louvar os bons resultados dos outros, a alegrar-nos
com as qualidades que outros têm? Somos cristãos de salário, ou trabalhamos só
tratando de alegrar a Deus? Consideramos a salvação como um contrato bilateral,
de justiça legal, ou como graça?
Para rezar: Senhor, que compreenda a vossa lógica
divina, que é a da misericórdia. Tira de meu peito o coração de pedra e
justiceiro, e dai-me um coração aberto a vossa lógica para que possa me alegrar
pelo bem que concedes a meus irmãos, inclusive a aqueles que segundo eu não o
merecem. E ajudai-me a trabalhar na vossa vinha com amor e por amor, e não por
interesse mercantil, só para Vos alegrar, e isso me basta.
Qualquer sugestão ou
dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:
arivero@legionaries.org
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