Stos Marta, Maria e Lázaro Amigos e hospedeiros do Senhor. |
«Tu te preocupas e
andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária»
Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès,
Barcelona, Espanha)
Hoje,
também nós que estamos ocupados com muitas coisas devemos ouvir o que o Senhor
nos recorda: «No entanto, uma só é necessária» (Lc 10,42): o amor, a santidade.
Este é o objetivo, o horizonte que não podemos perder nunca de vista no meio de
nossas ocupações cotidianas.
Porque
ocupados estaremos sempre se obedecermos à indicação do Criador: «Sede fecundos
e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a!» (Gn 1,28). A Terra! O mundo: é
aqui o nosso lugar de encontro com o Senhor. «Eu não rogo que os tires do
mundo, mas que os guardes do maligno» (Jo 17,15). Sim, o mundo é o altar para
nós e para nossa entrega a Deus e aos outros.
Somos do
mundo, mas não podemos ser mundanos. Muito pelo contrário, somos chamados a ser
como a bela expressão de João Paulo II sacerdotes da criação, sacerdotes do
nosso mundo, de um mundo que amamos apaixonadamente.
Eis aqui a
questão: o mundo e a santidade, o trabalho diário e a única coisa necessária.
Não são duas realidades opostas: temos que procurar a confluência de ambas. E
essa confluência se produz em primeiro lugar e sobre tudo em nosso coração, que
é onde se pode unir o céu e a terra. Porque no coração humano é onde pode
nascer o diálogo entre o Criador e a criatura.
É
necessário, portanto, a oração. «O nosso tempo é um tempo em constante
movimento, que frequentemente desemboca no ativismo, com o risco fácil de
acabar fazendo por fazer. Temos que resistir a essa tentação, procurando ser
antes de fazer. Recordamos a este respeito a reprovação de Jesus a Marta: «Tu
te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária
(Lc 10,41-42)» (João Paulo II).
Não há
oposição entre o ser e o fazer, mas sim há uma ordem de prioridade, de
precedência: «Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada» (Lc
10,42).
COMENTÁRIO
Mais uma
vez, o Evangelho de Lucas destaca o fato que Jesus e os seus discípulos
“caminhavam”. É caminhando que se faz caminho, e é no caminho que se aprende o
que é ser discípulo de Jesus. Todos nós estamos “no caminho”, como Jesus e os
outros, só que a nossa caminhada não se mede em quilômetros, mas em anos!
O Evangelho
de hoje frisa muito o lado afetivo de Jesus e dos seus discípulos e discípulas.
Jesus se dirige à casa de uma família em Betânia, perto de Jerusalém. Era o
lugar predileto onde Jesus procurava - e recebia - aconchego humano, carinho,
afeto, amizade, acolhimento; onde podia refazer as suas forças nas suas
caminhadas evangelizadoras. Do Evangelho do Discípulo Amado aprendemos que:
“Jesus amava Marta, a irmã dela e Lázaro” (Jo 11, 5). Este tipo de relacionamento
humano é necessário para que formemos verdadeiras comunidades cristãs - e
quantas vezes dispensamos esse elemento fundamental!
É gritante
a diferença de gênio das duas irmãs! Marta, provavelmente a mais velha,
preocupada com os seus afazeres - afinal tinham chegado hóspedes para uma
refeição, e tinham que ser bem tratados; Maria, calma, senta-se aos pés do
Senhor, para escutar a Palavra. De repente, ressoa o desabafo de Marta:
“Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda
que ela venha ajudar-me!” (v. 40). Instintivamente, a nossa simpatia fica com a
Marta. Qual é a mãe da família, a dona de casa ou o anfitrião de visita que não
sentiria o que Marta sentia? Por isso mesmo, chama a atenção a resposta do
Senhor: “Marta, Marta! Você se preocupa e anda agitada com muitas coisas;
porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe
será tirada.” (v. 41s).
Uma coisa é
óbvia - Jesus não está defendendo a preguiça, a omissão, a exploração do
trabalho dos outros! Num mundo agitado como é o nosso, que não nos deixa tempo
para cultivar o relacionamento humano, a amizade, a oração, o nosso próprio
ser, esta resposta nos faz lembrar a importância de viver de uma maneira que
prioriza as coisas. É óbvio que nós temos que preocuparmo-nos com os afazeres,
os trabalhos, - mas na verdade, quantas vezes nós enchemos os nossos dias com
ativismo, atividades fúteis, agitação, - e assim não conseguimos escutar nem
nós mesmos, nem os irmãos, nem o próprio Deus!
Jesus aqui
questiona a agitação e o ativismo - que não se mede pelo número de atividades.
O ativismo é uma fuga, uma fuga de um encontro com os anseios mais profundos do
nosso ser, dos apelos de Deus, refugiando-nos em um número sem fim de
atividades sem objetivos claros, sem organização, sem rumo. A atitude de Maria
é a de uma discípula, que aprende viver de maneira nova, ouvindo e ruminando a
Palavra de Deus, uma palavra que pode levar à muita atividade, mas nunca ao
ativismo.
Jesus de
forma alguma quer menosprezar a Marta. Aliás, diversas vezes os evangelhos põem
Marta em mais relevo do que Maria. O próprio Lucas diz que foi Marta que
recebeu Jesus na sua casa (v. 38). Em João, é Marta que faz a profissão de fé
em Jesus, que nos Sinóticos é feita por Pedro: “Sim, Senhor. Eu acredito que tu
és o Messias, o Filho de Deus que devia vir a este mundo” (Jo 11, 27). Na
realidade, todos nós temos que ser “Marta e Maria”. Temos necessidade de
dedicarmo-nos aos nossos afazeres, mas também é preciso achar tempo para ficarmos
aos pés do Senhor. O desafio é de conseguir o equilíbrio entre os dois aspectos
de vida, entre “lançar as redes” e “consertar as redes” (Mc 1, 16-20), entre
“atividade” e “oração”, entre “missão” e “interiorização”. Pois, os dois lados
são tão intimamente ligados que o desequilíbrio, do lado que for, trará
consequências negativas para a nossa vida de discípulos e discípulas. Também
aqui nos traz um alerta – com certa frequência: corremos o risco de
sobrecarregar as pessoas leigas tão dedicadas às comunidades! Devemos sempre
lembrar que elas também precisam de tempo para cultivar os seus laços
familiares, de aprofundar a sua própria experiência de Deus, de descanso. Não é
a vontade de Deus que alguém “se queime” de tanto serviço, mesmo na
evangelização. Precisamos ser sempre “Marta e Maria”.
Salmo 14/15
Senhor, quem morará em
vossa casa?
É aquele
que caminha sem pecado
e pratica a
justiça fielmente;
que pensa a
verdade no seu íntimo
e não solta
em calúnias sua língua.
Senhor, quem morará em
vossa casa?
Que em nada
prejudica o seu irmão
nem cobre
de insultos seu vizinho;
que não dá
valor algum ao homem ímpio,
mas honra
os que respeitam o Senhor.
Senhor, quem morará em
vossa casa?
Não
empresta o seu dinheiro com usura
nem se
deixa subornar contra o inocente.
Jamais
vacilará quem vive assim!
Senhor, quem morará em
vossa casa?
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