Evangelho
(Jo 6,60-69): Naquele tempo, Muitos
discípulos que o ouviram disseram então: “Esta palavra é dura. Quem consegue
escutá-la?” Percebendo que seus discípulos estavam murmurando por causa disso,
Jesus perguntou: “Isso vos escandaliza? Que será, então, quando virdes o Filho
do Homem subir para onde estava antes? O Espírito é que dá a vida. A carne para
nada serve. As palavras que vos falei são Espírito e é vida. Mas há alguns
entre vós que não creem”. Jesus sabia desde o início quem eram os que
acreditavam e quem havia de entregá-lo. E acrescentou: “É por isso que eu vos
disse: ‘Ninguém pode vir a mim, a não ser que lhe seja concedido pelo Pai’”. A
partir daquele momento, muitos discípulos o abandonaram e não mais andavam com
ele. Jesus disse aos Doze: “Vós também quereis ir embora?” Simão Pedro
respondeu: “A quem iremos Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos
firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus”.
“João seis: a
Eucaristia nos “transforma” em espírito”
Com base nos textos de Bento XVI
Hoje contemplamos
à Eucaristia como o grande encontro permanente de Deus com os homens, onde o
Senhor entrega-se como "carne" para que —Nele— nos transformemos em
"espírito". Ele, através da Cruz, se transformou em uma nova forma de
humanidade que se compenetra com a natureza de Deus; paralelamente, a
Eucaristia deve ser para nós um passo através da Cruz e, uma antecipação da
nova vida em Deus e, com Deus.
No fim do
discurso, onde se anuncia a encarnação de Jesus e, o comer e beber a Carne e o
Sangue do Senhor, Jesus Cristo conclui dizendo que «o Espírito é que dá a
vida». Isso nos lembra das palavras de são Paulo: «O primeiro homem, Adão, foi
“um ser natural, dotado de vida”; o último Adão é um ser espiritual e que dá
vida» (1 Cor15,45)
—Somente
através da Cruz e da transformação que esta produz nos faz acessível essa
“Carne”, arrastando-nos também a nós no processo de dita transformação.
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm
* O evangelho de hoje traz a parte
final do Discurso do Pão da Vida.
Trata-se da discussão dos discípulos entre si e com Jesus (Jo 6,60-66) e da
conversa de Jesus com Simão Pedro (Jo 6,67-69). O objetivo é mostrar as
exigências da fé e a necessidade de um compromisso firme com Jesus e com a sua
proposta. Até aqui tudo se passava na sinagoga de Cafarnaum. Não se indica o
lugar para esta parte final.
* João 6,60-63: Sem a luz do
Espírito não se entendem estas palavras. Muitos discípulos achavam que Jesus estava indo longe
demais! Estava acabando com a celebração da Páscoa e estava se colocando a si
mesmo no lugar mais central da Páscoa. Por isso, muita gente se desligou da
comunidade e não ia mais com Jesus. Jesus reage dizendo: "É o espírito que
dá vida, a carne para nada serve. As palavras que vos disse são espírito e
vida". Não devem tomar ao pé da letra as coisas que ele diz. Só mesmo com
a ajuda da luz do Espírito Santo é possível entender o sentido pleno de tudo
que Jesus falou (Jo 14,25-26; 16,12-13). Paulo dirá na carta aos coríntios: “A
letra mata, é o Espírito que dá vida à letra!” (2Cor 3,6).
* João 6,64-66: Alguns de vocês não
acreditam. Em seu
discurso Jesus tinha se apresentado como o alimento que sacia a fome e a sede
de todos aqueles e aquelas que buscam a Deus. No primeiro Êxodo, aconteceu a
prova de Meriba. Diante da fome e da sede no deserto, muitos duvidavam de que
Deus estivesse com eles: “Javé está ou não está no meio de nós?” (Ex 17,7) e
murmuravam contra Moisés (cf. Ex 17,2-3; 16,7-8). Queriam romper e voltar para
o Egito. Nesta mesma tentação caem os discípulos, duvidando da presença de
Jesus na partilha do pão. Diante das palavras de Jesus sobre “comer minha carne
e beber o meu sangue”, muitos murmuravam igual ao povo no deserto (Jo 6,60) e
tomam a decisão de romper com Jesus e com a comunidade. “voltavam atrás e já
não andavam mais com ele” (Jo 6,66).
* João 6,67-71: Confissão de Pedro.
No fim sobram só os doze. Diante da crise provocada por suas palavras e
seus gestos, Jesus se volta para seus amigos e amigas mais íntimos, aqui
representados pelos Doze, e diz para eles: "Se quiserem, podem ir
embora!" Jesus não faz questão de ter muita gente. Nem muda o discurso
quando a mensagem não agrada. Ele fala para revelar o Pai e não para agradar a
quem quer que seja. Prefere permanecer só, a estar acompanhado por pessoas que
não se comprometem com o projeto do Pai. A resposta de Pedro é bonita: "A
quem iremos! Tu tens palavras de vida eterna e nós cremos e reconhecemos que tu
és o Santo de Deus!” Mesmo sem entender tudo, Pedro aceita Jesus como Messias e
crê nele. Em nome do grupo ele professa sua fé no pão partilhado e na palavra.
Jesus é a palavra e o pão que saciam o novo povo de Deus. (Dt 8,3). Apesar de
todos os seus limites, Pedro não é como Nicodemos que queria ver tudo bem claro
de acordo com as suas próprias ideias. Mesmo assim, entre os doze havia quem
não aceitava a proposta de Jesus. Neste círculo mais íntimo existia um adversário
(diabo) (Jo 6,70-71) “que come do meu pão, mas levanta o calcanhar contra mim”
(Sl 41,10; Jo 13,18).
Para um confronto pessoal
1) Coloco-me na posição de Pedro diante de Jesus. Que
resposta dou a Jesus que me pergunta: “Você também quer ir embora?”
2) Coloco-me na posição de Jesus. Hoje, muita gente está
deixando de andar com Jesus. Culpa de quem?
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