sábado, 19 de setembro de 2015

XXV Domingo do Tempo Ordinário

Textos: Sb 2, 17-20; Sl 3, 16- 4, 3; Mc 9, 29-36

Evangelho (Mc 9,30-37): Partindo dali, Jesus e seus discípulos atravessavam a Galileia, mas ele não queria que ninguém o soubesse. Ele ensinava seus discípulos e dizia-lhes: «O Filho do Homem vai ser entregue às mãos dos homens, e eles o matarão. Morto, porém, três dias depois ressuscitará». Mas eles não compreendiam o que lhes dizia e tinham medo de perguntar. Chegaram a Cafarnaum. Estando em casa, Jesus perguntou-lhes: «Que discutíeis pelo caminho? ». Eles, no entanto, ficaram calados, porque pelo caminho tinham discutido quem era o maior. Jesus sentou-se, chamou os Doze e lhes disse: «Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último de todos, aquele que serve a todos! ». Em seguida, pegou uma criança, colocou-a no meio deles e, abraçando-a, disse: «Quem acolher em meu nome uma destas crianças, estará acolhendo a mim mesmo. E quem me acolher, estará acolhendo, não a mim, mas Àquele que me enviou».

«O Filho do Homem vai ser entregue (...). Morto, porém, três dias depois ressuscitará»

Rev. D. Pedro-José YNARAJA, i Díaz (El Montana, Barcelona, Espanha)

Hoje, o Evangelho conta-nos que Jesus caminhava com os seus discípulos, evitando povoados, por uma grande planície. Para se conhecerem, não há nada melhor que caminhar e viajar em companhia. Surge então com facilidade a confidência. E a confidência é confiança. E a confiança é comunicar amor. O amor deslumbra e impressiona ao descobrirmos o mistério que se alberga no mais íntimo do coração humano. Com emoção, o Maestro fala aos seus discípulos do mistério que rói o seu interior. Umas vezes é ilusão, outras, ao pensá-lo, sente medo; a maioria das vezes sabe que não o entenderão. Mas eles são seus amigos, deve comunicar-lhes tudo o que recebeu do Pai e até agora assim o vem fazendo. Não o entendem, mas estão em sintonia com a emoção com que lhes fala, que é estima, prova de que eles contam com Ele, mesmo que seja pouca coisa, para conseguir que os seus projetos tenham êxito. Será entregue, o matarão, mas ressuscitará ao terceiro dia (cf. Mc 9,31).

Morte e ressurreição. Para uns serão conceitos enigmáticos; para outros axiomas inaceitáveis. Ele veio revela-lo, a gritar que chegou a sorte gozosa para o gênero humano, apesar que para que assim seja terá Ele, o amigo, o irmão mais velho, o Filho do Pai, que passar por cruéis sofrimentos. Mas, oh triste paradoxo! enquanto vive essa tragédia interior, eles discutem sobre quem subirá mais alto no pódio dos campeões, quando chegue o final da corrida para o seu Reino. Agimos nós de maneira diferente? Quem está livre de ambição que atire a primeira pedra.

Jesus proclama novos valores. O importante não é triunfar, mas sim servir; assim o demonstrará no dia culminante do seu quefazer evangelizador, lavando-lhes os pés. A grandeza não está na erudição do sábio, mas sim na ingenuidade da criança. «Ainda que soubesses de memória toda a Bíblia e as sentenças de todos os filósofos, de que te serviria tudo isso sem caridade e sem graça de Deus? » (Tomás de Kempis). Saudando o sábio satisfazemos a nossa vaidade, abraçando o menino abraçamos a Deus e dele nos contagiamos e nos divinizamos.

Tornar-nos como crianças. 
Reconquistemos a infância espiritual.

Pe. Antonio Rivero, L.C.

V Centenário do Nascimento (1515-2015)
Em primeiro lugar, protagonistas à primeira vista no evangelho de hoje: as crianças. Os japoneses têm a criança na vitrina, os alemães no colégio, os espanhóis nos altares. Os judeus, pelo contrário, aguentavam-na porque algum dia seria um adulto. A sua presencia não significava nada nas sinagogas, nem em nenhuma parte. Parecia que chegar a ser velho era o topo dos méritos. Conversar com uma criança era jogar fora as próprias palavras. Quando vemos os apóstolos afastando do seu Mestre os pequeninos, entendemos que não faziam senão o que teriam feito qualquer judeu da época. Mas Jesus quebraria com a sua época. Onde prevalecia a astúcia, entronizaria a simplicidade; onde mandava a força, levantaria a debilidade; num mundo de velhos, pediria aos seus apóstolos que se tornassem a ser como crianças.

Em segundo lugar, a criança ordinariamente não tende a fazer trapaça, não é maliciosa (1ª leitura). A criança nem se deixa levar da cobiça até o ponto de ambicionar o indesejável (2ª leitura). A criança é transparente, sincera. Quem melhor entendeu esta infância espiritual que Santa Teresinha do Menino Jesus. Eis aqui as suas palavras: “posso, pois, apesar da minha pequenez, aspirar à santidade. Engrandecer-me, é impossível! Tenho que me suportar assim como sou, com as minhas inumeráveis imperfeições; mas quero buscar o jeito de ir para o céu, por um caminhozinho muito reto, muito curto, por um caminhozinho inteiramente novo... Quero também encontrar um elevador para chegar até Jesus, já que sou pequena demais para subir pela rude escada da perfeição... Pedi, então, aos Livros Santos que me indiquem o elevador desejado, e encontrei estas palavras pronunciadas pela boca da mesma Sabedoria eterna: Se alguém for pequeno que venha a mim. Aproximei-me, pois, a Deus, adivinhando que tinha encontrado o que procurava, e, ao querer saber o que fará Deus com o pequeninho, continuei buscando, e eis aqui o que encontrei: Como uma mãe acaricia o seu filhinho, assim eu os consolarei; sereis levados ao meu peito, e eu os acariciarei sobre o meu colo... Ah, nunca tinham vindo para alegrar a minha alma umas palavras tão ternas e tão melodiosas. O elevador, que vai me levar para o céu, são os vossos braços, ó Jesus! Para isto, não tenho nenhuma necessidade de crescer, antes, pelo contrário, convém que continue sendo pequena e, cada dia, seja mais e mais”.

Finalmente, Jesus nos convida hoje a reconquista da infância espiritual. Deixo-lhes aqui uns parágrafos do meu livro sobre Jesus Cristo: “a infância que Jesus propõe não é o infantilismo, que é sinônimo de imaturidade, egoísmo, capricho. É, pelo contrário, a reconquista da inocência, da limpeza interior, do olhar limpo das coisas e das pessoas, desse sorriso sincero e cristalino, desse compartilhar generosamente as minhas coisas e o meu tempo. Infância significa simplicidade espiritual, esse não me complicar, não ser retorcido, não buscar segundas intenções. Infância espiritual significa confiança ilimitada em Deus, o meu Pai, fé serena e amor sem limites. Infância espiritual é não deixar envelhecer o coração, conservá-lo sempre jovem, terno, doce e amável. Infância espiritual é não pedir contar nem garantias a Deus. Agora bem, a infância espiritual não significa ignorância das coisas, mas o saber essas coisas, olhá-las, pensá-las, julgá-las como Deus faria. A tergiversação das coisas, a manipulação das coisas, os preconceitos e as reservas, já traz consigo a malícia de quem se acha inteligente e esperto. E esta malícia dá morte à infância espiritual. A infância espiritual não significa viver sem cruz, de costas para a cruz; não significa escolher o lado doce da vida, nem sequer nos esconder e vendar os nossos próprios olhos para não vermos o mal que pulula no nosso mundo. Não. A infância espiritual, compreendida muito bem por Santa Teresinha do Menino Jesus, supõe ver muito mais profundo os males e tratar de solucioná-los com a oração e o sacrifício. E diante da cruz, colocar um rosto sereno, confiante e inclusive sorridente. Quase ninguém das suas irmãs do Carmelo se dava conta do muito que sofria Santa Teresinha. Ela vivia abandonada nas mãos do seu Pai Deus. E isso era suficiente”.

Para refletir: Grande tarefa: tornar-nos crianças. Requer muita dose de humildade, de simplicidade. Deus nos diz que devemos passar pela porta estreita, se quisermos entrar no céu. No Reino de Deus só terá crianças, crianças de corpo e de alma, porém crianças, unicamente crianças. Deus, quando se fez homem, começou por fazer-se o melhor dos homens: uma criança como todos. Podia, naturalmente, ter se encarnado sendo já um adulto, não ter “perdido o tempo” sendo só um menino. Porém quis começar sendo um bebê. A melhor coisa deste mundo- e Deus já sabia disso- são as crianças. Elas são o nosso tesouro, a pérola que ainda pode nos salvar, o sal que faz com que o universo resulte suportável. Por isso diz Martin Descalzo que se Deus tivesse feito a humanidade somente de adultos, faz séculos que a humanidade estaria apodrecida. Por isso Deus vai renovando a humanidade com ondas enormes de crianças, gerações de infantes que fazem que ainda pareça fresca e recém-feita. As crianças ainda têm um cheirinho das mãos de Deus criador. Por isso têm cheiro de pureza, de limpeza, de esperança, de alegria. Não manietemos essa criança que levamos dentro com as nossas importâncias, não o envenenemos com as nossas ambições! Através da pequena porta da infância se chega até o mesmo coração do grande Deus.

Para rezar: Senhor, fazei-me como uma criança. Só assim poderei entrar no vosso Reino.     

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org

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