Textos: Sb 2, 17-20; Sl 3, 16- 4, 3; Mc 9,
29-36
Evangelho
(Mc 9,30-37): Partindo dali, Jesus e
seus discípulos atravessavam a Galileia, mas ele não queria que ninguém o
soubesse. Ele ensinava seus discípulos e dizia-lhes: «O Filho do Homem vai ser
entregue às mãos dos homens, e eles o matarão. Morto, porém, três dias depois
ressuscitará». Mas eles não compreendiam o que lhes dizia e tinham medo de
perguntar. Chegaram a Cafarnaum. Estando em casa, Jesus perguntou-lhes: «Que
discutíeis pelo caminho? ». Eles, no entanto, ficaram calados, porque pelo
caminho tinham discutido quem era o maior. Jesus sentou-se, chamou os Doze e
lhes disse: «Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último de todos, aquele
que serve a todos! ». Em seguida, pegou uma criança, colocou-a no meio deles e,
abraçando-a, disse: «Quem acolher em meu nome uma destas crianças, estará
acolhendo a mim mesmo. E quem me acolher, estará acolhendo, não a mim, mas
Àquele que me enviou».
«O Filho do Homem vai
ser entregue (...). Morto, porém, três dias depois ressuscitará»
Rev. D. Pedro-José YNARAJA, i Díaz (El Montana,
Barcelona, Espanha)
Hoje,
o Evangelho conta-nos que Jesus caminhava com os seus discípulos, evitando
povoados, por uma grande planície. Para se conhecerem, não há nada melhor que
caminhar e viajar em companhia. Surge então com facilidade a confidência. E a
confidência é confiança. E a confiança é comunicar amor. O amor deslumbra e
impressiona ao descobrirmos o mistério que se alberga no mais íntimo do coração
humano. Com emoção, o Maestro fala aos seus discípulos do mistério que rói o
seu interior. Umas vezes é ilusão, outras, ao pensá-lo, sente medo; a maioria
das vezes sabe que não o entenderão. Mas eles são seus amigos, deve
comunicar-lhes tudo o que recebeu do Pai e até agora assim o vem fazendo. Não o
entendem, mas estão em sintonia com a emoção com que lhes fala, que é estima,
prova de que eles contam com Ele, mesmo que seja pouca coisa, para conseguir
que os seus projetos tenham êxito. Será entregue, o matarão, mas ressuscitará
ao terceiro dia (cf. Mc 9,31).
Morte
e ressurreição. Para uns serão conceitos enigmáticos; para outros axiomas
inaceitáveis. Ele veio revela-lo, a gritar que chegou a sorte gozosa para o
gênero humano, apesar que para que assim seja terá Ele, o amigo, o irmão mais
velho, o Filho do Pai, que passar por cruéis sofrimentos. Mas, oh triste
paradoxo! enquanto vive essa tragédia interior, eles discutem sobre quem subirá
mais alto no pódio dos campeões, quando chegue o final da corrida para o seu
Reino. Agimos nós de maneira diferente? Quem está livre de ambição que atire a
primeira pedra.
Jesus
proclama novos valores. O importante não é triunfar, mas sim servir; assim o
demonstrará no dia culminante do seu quefazer evangelizador, lavando-lhes os
pés. A grandeza não está na erudição do sábio, mas sim na ingenuidade da
criança. «Ainda que soubesses de memória toda a Bíblia e as sentenças de todos
os filósofos, de que te serviria tudo isso sem caridade e sem graça de Deus? »
(Tomás de Kempis). Saudando o sábio satisfazemos a nossa vaidade, abraçando o
menino abraçamos a Deus e dele nos contagiamos e nos divinizamos.
Tornar-nos como
crianças.
Reconquistemos a infância espiritual.
Pe. Antonio Rivero, L.C.
V Centenário do Nascimento (1515-2015) |
Em
primeiro lugar, protagonistas à primeira vista no evangelho de hoje: as
crianças. Os japoneses têm a criança na vitrina, os alemães no colégio, os
espanhóis nos altares. Os judeus, pelo contrário, aguentavam-na porque algum
dia seria um adulto. A sua presencia não significava nada nas sinagogas, nem em
nenhuma parte. Parecia que chegar a ser velho era o topo dos méritos. Conversar
com uma criança era jogar fora as próprias palavras. Quando vemos os apóstolos
afastando do seu Mestre os pequeninos, entendemos que não faziam senão o que
teriam feito qualquer judeu da época. Mas Jesus quebraria com a sua época. Onde
prevalecia a astúcia, entronizaria a simplicidade; onde mandava a força,
levantaria a debilidade; num mundo de velhos, pediria aos seus apóstolos que se
tornassem a ser como crianças.
Em
segundo lugar, a criança ordinariamente não tende a fazer trapaça, não é
maliciosa (1ª leitura). A criança nem se deixa levar da cobiça até o ponto de
ambicionar o indesejável (2ª leitura). A criança é transparente, sincera. Quem
melhor entendeu esta infância espiritual que Santa Teresinha do Menino Jesus.
Eis aqui as suas palavras: “posso, pois, apesar da minha pequenez, aspirar à
santidade. Engrandecer-me, é impossível! Tenho que me suportar assim como sou,
com as minhas inumeráveis imperfeições; mas quero buscar o jeito de ir para o
céu, por um caminhozinho muito reto, muito curto, por um caminhozinho
inteiramente novo... Quero também encontrar um elevador para chegar até Jesus,
já que sou pequena demais para subir pela rude escada da perfeição... Pedi,
então, aos Livros Santos que me indiquem o elevador desejado, e encontrei estas
palavras pronunciadas pela boca da mesma Sabedoria eterna: Se alguém for
pequeno que venha a mim. Aproximei-me, pois, a Deus, adivinhando que tinha
encontrado o que procurava, e, ao querer saber o que fará Deus com o
pequeninho, continuei buscando, e eis aqui o que encontrei: Como uma mãe
acaricia o seu filhinho, assim eu os consolarei; sereis levados ao meu peito, e
eu os acariciarei sobre o meu colo... Ah, nunca tinham vindo para alegrar a
minha alma umas palavras tão ternas e tão melodiosas. O elevador, que vai me
levar para o céu, são os vossos braços, ó Jesus! Para isto, não tenho nenhuma
necessidade de crescer, antes, pelo contrário, convém que continue sendo
pequena e, cada dia, seja mais e mais”.
Finalmente,
Jesus nos convida hoje a reconquista da infância espiritual. Deixo-lhes aqui
uns parágrafos do meu livro sobre Jesus Cristo: “a infância que Jesus propõe não
é o infantilismo, que é sinônimo de imaturidade, egoísmo, capricho. É, pelo
contrário, a reconquista da inocência, da limpeza interior, do olhar limpo das
coisas e das pessoas, desse sorriso sincero e cristalino, desse compartilhar
generosamente as minhas coisas e o meu tempo. Infância significa simplicidade
espiritual, esse não me complicar, não ser retorcido, não buscar segundas
intenções. Infância espiritual significa confiança ilimitada em Deus, o meu
Pai, fé serena e amor sem limites. Infância espiritual é não deixar envelhecer
o coração, conservá-lo sempre jovem, terno, doce e amável. Infância espiritual
é não pedir contar nem garantias a Deus. Agora bem, a infância espiritual não
significa ignorância das coisas, mas o saber essas coisas, olhá-las, pensá-las,
julgá-las como Deus faria. A tergiversação das coisas, a manipulação das
coisas, os preconceitos e as reservas, já traz consigo a malícia de quem se
acha inteligente e esperto. E esta malícia dá morte à infância espiritual. A
infância espiritual não significa viver sem cruz, de costas para a cruz; não
significa escolher o lado doce da vida, nem sequer nos esconder e vendar os
nossos próprios olhos para não vermos o mal que pulula no nosso mundo. Não. A
infância espiritual, compreendida muito bem por Santa Teresinha do Menino
Jesus, supõe ver muito mais profundo os males e tratar de solucioná-los com a
oração e o sacrifício. E diante da cruz, colocar um rosto sereno, confiante e
inclusive sorridente. Quase ninguém das suas irmãs do Carmelo se dava conta do
muito que sofria Santa Teresinha. Ela vivia abandonada nas mãos do seu Pai
Deus. E isso era suficiente”.
Para
refletir:
Grande tarefa: tornar-nos
crianças. Requer muita dose de humildade, de simplicidade. Deus nos diz que
devemos passar pela porta estreita, se quisermos entrar no céu. No Reino de
Deus só terá crianças, crianças de corpo e de alma, porém crianças, unicamente
crianças. Deus, quando se fez homem, começou por fazer-se o melhor dos homens:
uma criança como todos. Podia, naturalmente, ter se encarnado sendo já um
adulto, não ter “perdido o tempo” sendo só um menino. Porém quis começar sendo
um bebê. A melhor coisa deste mundo- e Deus já sabia disso- são as crianças.
Elas são o nosso tesouro, a pérola que ainda pode nos salvar, o sal que faz com
que o universo resulte suportável. Por isso diz Martin Descalzo que se Deus
tivesse feito a humanidade somente de adultos, faz séculos que a humanidade
estaria apodrecida. Por isso Deus vai renovando a humanidade com ondas enormes
de crianças, gerações de infantes que fazem que ainda pareça fresca e
recém-feita. As crianças ainda têm um cheirinho das mãos de Deus criador. Por
isso têm cheiro de pureza, de limpeza, de esperança, de alegria. Não manietemos
essa criança que levamos dentro com as nossas importâncias, não o envenenemos
com as nossas ambições! Através da pequena porta da infância se chega até o
mesmo coração do grande Deus.
Para
rezar: Senhor, fazei-me como uma criança. Só
assim poderei entrar no vosso Reino.
Qualquer
sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:
arivero@legionaries.org
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