V Centenário do Nascimento (1515-2015) |
Evangelho
(Mt 6,7-15): «E, orando, não useis de
vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão
ouvidos. Não vos assemelheis, pois, a eles; porque vosso Pai sabe o que vos é
necessário, antes de vós lho pedirdes. Portanto,
vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome;
Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; O pão
nosso de cada dia nos dá hoje; E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós
perdoamos aos nossos devedores; E não nos induzas à tentação; mas livra-nos do
mal; porque teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém. Porque, se
perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará
a vós; Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai
vos não perdoará as vossas ofensas».
Comentário: Rev. D. Joaquim FAINÉ i Miralpech
(Tarragona, Espanha)
E, orando, não useis
de vãs repetições, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário.
Hoje,
Jesus –que é o Filho de Deus- me ensina a me comportar como um filho de Deus. O
primeiro ponto é a confiança quando falo com Ele. Mas o Senhor adverte: «Quando
orardes, não useis de muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que
serão ouvidos por força das muitas palavras» (Mt 6,7). Porque os filhos, quando
falam com os pais, não usam raciocínios complicados, nem muitas palavras, mas
com simplicidade pedem tudo aquilo que precisam. Sempre tenho a confiança de
ser ouvido porque Deus –que é Pai- me ama e escuta. De fato, orar não é
informar a Deus, mas pedir-lhe tudo o que preciso, já que «vosso Pai sabe o que
vos é necessário, antes de vós lho pedirdes» (Mt 6,8). Não seria um bom cristão
se não oro, como não pode ser bom filho quem não fala habitualmente com seus
pais.
O
Pai Nosso é a oração que Jesus mesmo nos ensinou, e é um resumo da vida cristã.
Cada vez que rezo ao Pai, nosso, deixo-me levar de sua mão e lhe peço aquilo
que preciso cada dia para ser melhor filho de Deus. Preciso, não somente o pão
material, mas —sobretudo— o Pão do Céu. «Peçamos que nunca nos falte o Pão da
Eucaristia» Também aprender a perdoar e a ser perdoados: «Para poder receber o
perdão que Deus nos oferece, dirijamo-nos ao Pai que nos ama», dizem as
formulas introdutórias ao Pai Nosso da Missa.
Durante
a Quaresma, a Igreja me pede para aprofundar na oração. «A oração é conversar
com Deus, é o bem maior, porque constitui (...) uma união como Ele» (São João
Crisóstomo). Senhor, preciso aprender a rezar e obter consequências concretas
na minha vida. Sobretudo, para viver a virtude da caridade: a oração me da
força para viver cada dia melhor. Por isso, peço diariamente que me ajude a
desculpar tanto as pequenas chatices dos outros, como perdoar as palavras e
atitudes ofensivas e, sobretudo, a não ter rancores, e assim poder dizer-lhe
sinceramente que perdoo de todo coração a quem me tem ofendido. Conseguirei,
porque em todo momento me ajudará a Mãe de Deus.
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm
* Há duas redações do
Pai Nosso: Lucas
(Lc 11,1-4) e Mateus (Mt 6,7-13). Em Lucas, o Pai Nosso é mais curto. Lucas
escreve para comunidades que vieram do paganismo. Ele busca ajudar pessoas que
estão se iniciando no caminho da oração. Em Mateus, o Pai Nosso está situado no
Sermão da Montanha, naquela parte onde Jesus orienta os discípulos na prática
das três obras de piedade: esmola (Mt 6,1-4), oração (Mt 6,5-15) e jejum (Mt
6,16-18). O Pai Nosso faz parte de uma catequese para judeus convertidos. Eles
já estavam habituados a rezar, mas tinham certos vícios que Mateus tenta
corrigir.
* Mateus 6,7-8: Os vícios a serem corrigidos. Jesus
critica as pessoas para as quais a oração era uma repetição de fórmulas
mágicas, de palavras fortes, dirigidas a Deus para obrigá-lo a atender às
nossas necessidades. A acolhida da oração por parte de Deus não depende da
repetição de palavras, mas sim da bondade de Deus que é Amor e Misericórdia.
Ele quer o nosso bem e conhece as nossas necessidades antes mesmo das nossas
preces.
* Mateus 6,9a: As primeiras palavras: “Pai Nosso” Abbá,
Pai, é o nome que Jesus usa para dirigir-se a Deus. Revela a nova relação com
Deus que deve caracterizar a vida das comunidades (Gl 4,6; Rm 8,15). Dizemos
“Pai nosso” e não “Pai meu”. O adjetivo “nosso” acentua a consciência de
pertencermos todos à grande família humana de todas as raças e credos. Rezar ao
Pai e entrar na intimidade com ele, é também colocar-se em sintonia com os
gritos de todos os irmãos e irmãs pelo pão de cada dia. É buscar o Reino de
Deus em primeiro lugar. A experiência de Deus como nosso Pai é o fundamento da
fraternidade universal.
* Mateus 6,9b-10: Três pedidos pela causa de Deus: o
Nome, o Reino, a Vontade. Na primeira
parte do Pai-nosso, pedimos para que seja restaurado o nosso relacionamento com
Deus. Santificar o Nome: O nome JAVÉ significa Estou com você! Deus conosco.
Neste NOME Deus se deu a conhecer (Ex 3,11-15). O Nome de Deus é santificado
quando é usado com fé e não com magia; quando é usado conforme o seu verdadeiro
objetivo, i.é, não para a opressão, mas sim para a libertação do povo e para a
construção do Reino. A Vinda do Reino: O único Dono e Rei da vida humana é Deus
(Is 45,21; 46,9). A vinda do Reino é a realização de todas as esperanças e
promessas. É a vida plena, a superação das frustrações sofridas com os reis e
os governos humanos. Este Reino acontecerá, quando a vontade de Deus for
plenamente realizada. Fazer a Vontade: A vontade de Deus se expressa na sua
Lei. Que a sua vontade se faça assim na terra como no céu. No céu, o sol e as
estrelas obedecem às leis de suas órbitas e criam a ordem do universo (Is
48,12-13). A observância da lei Deus será fonte de ordem e de bem-estar para a
vida humana.
* Mateus 6,11-13: Quatro pedidos pela causa dos
irmãos: Pão, Perdão, Vitória, Liberdade.
Na segunda parte do Pai-nosso pedimos para que seja restaurado o
relacionamento entre as pessoas. Os quatro pedidos mostram como devem ser
transformadas as estruturas da comunidade e da sociedade para que todos os
filhos e filhas de Deus vivam com igual dignidade. Pão de cada dia: No êxodo,
cada dia, o povo recebia o maná no deserto (Ex 16,35). A Providência Divina
passava pela organização fraterna, pela partilha. Jesus nos convida para
realizar um novo êxodo, uma nova maneira de convivência fraterna que garante o
pão para todos (Mt 6,34-44; Jo 6,48-51). Perdão das dívidas: Cada 50 anos, o
Ano Jubilar obrigava todos a perdoar as dívidas. Era um novo começo (Lv
25,8-55). Jesus anuncia um novo Ano Jubilar, "um ano da graça da parte do
Senhor" (Lc 4,19). O Evangelho quer recomeçar tudo de novo! Não cair na
Tentação: No êxodo, o povo foi tentado e caiu (Dt 9,6-12). Murmurou e quis
voltar atrás (Ex 16,3; 17,3). No novo êxodo, a tentação será superada pela
força que o povo recebe de Deus (1Cor 10,12-13). Libertação do Maligno: O
Maligno é o Satanás, que afasta de Deus e é motivo de escândalo. Ele chegou a
entrar em Pedro (Mt 16,23) e tentou Jesus no deserto. Jesus o venceu (Mt
4,1-11). Ele nos diz: "Coragem! Eu venci o mundo!" (Jo 16,33).
* Mateus 6,14-15: Quem não perdoa não será perdoado.
Rezando o Pai-nosso, pronunciamos a sentença que nos condena ou absolve.
Rezamos: “Perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos
devedores” (Mt 6,12). Oferecemos a Deus a medida do perdão que queremos. Se
perdoamos muito, Ele perdoará muito. Se perdoamos pouco, ele perdoará pouco. Se
não perdoamos, ele também não poderá perdoar.
Para um confronto
pessoal
1. Jesus falou "perdoai as nossas
dívidas". Em alguns países se traduz "perdoai as nossas
ofensas". O que é mais fácil: perdoar ofensas ou perdoar dívidas?
2. As nações cristãs do hemisfério
norte (Europa e USA) rezam todos os dias: “Perdoai as nossas dívidas assim como
também nós perdoamos aos nossos devedores”. Mas elas não perdoam a dívida
externa dos países pobres do Terceiro Mundo. Como explicar esta terrível
contradição, fonte de empobrecimento de milhões de pessoas?
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