sábado, 13 de setembro de 2014

14 de setembro: Exaltação da Santa Cruz

Evangelho (Jo 3,13-17): Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu: o Filho do Homem. Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também será levantado o Filho do Homem, a fim de que todo o que nele crer tenha vida eterna. De fato, Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele».

Comentário: Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)

A fim de que todo o que nele crer tenha vida eterna

Hoje, o Evangelho é uma profecia, isto é, uma olhada no espelho da realidade que nos introduz em sua verdade, mais além do que nos dizem nossos sentidos: a Cruz, a Santa Cruz de Jesus Cristo, é o Trono do Salvador. Por isso, Jesus afirma que «deve que ser levantado o Filho do homem» (Jo 3,14).

Bem sabemos que a cruz era o suplício mais atroz e vergonhoso de seu tempo. Exaltar a Santa Cruz não deixaria de ser um cinismo se não fosse porque ai está o Crucificado. A cruz, sem o Redentor, é simples cinismo; com o Filho do Homem é a nova árvore da sabedoria. Jesus Cristo, «oferecendo-se livremente à paixão» da Cruz abriu o sentido e o destino de nosso viver: subir com Ele à Santa Cruz para abrir os braços e o coração ao Dom de Deus, num intercâmbio admirável. Também aqui nos convém escutar a voz do Pai desde o céu: «Este é meu Filho (...), em quem me comprazo» (Mc 1,11). Encontrarmos crucificados com Jesus e ressuscitar com Ele: Eis aqui o porquê de tudo! Há esperança, há sentido, há eternidade, há vida! Nós os cristãos não estamos loucos quando na Vigília Pascal, de maneira solene, quer dizer, no Pregão Pascal, cantamos, louvando o pecado original: «Ó Culpa tão feliz, que tem merecido a graça de tão grande Redentor», que com sua dor tem imprimido sentido à mesma dor.

«Olhai a árvore da cruz, foi sacrificado o Salvador do mundo: vem e adoremos» (Liturgia da sexta-feira Santa). Se conseguirmos superar o escândalo e a loucura de Cristo crucificado, não há nada mais que adorá-lo e agradecer-lhe seu Dom. E procurar decididamente a Santa Cruz em nossa vida, para termos a certeza de que, «por Ele, com Ele e Nele», nossa doação será transformada, nas mãos do Pai, pelo Espírito Santo, em vida eterna: «Derramada por vós e por todos os homens para o perdão dos pecados».

O texto que a liturgia nos propõe para a Festa da Exaltação da Santa Cruz é tirado do Evangelho de São João. Não nos deve surpreender que a passagem escolhida faça parte do quarto Evangelho, porque é justamente este Evangelho o que apresenta o mistério da Cruz do Senhor como exaltação. E isto é claro desde o começo do Evangelho: “Assim como Moisés elevou a serpente no deserto, assim tem que ser elevado o Filho do Homem” (Jo 3, 14; Dn 7, 13). João explica-nos o mistério do Verbo Encarnado no movimento paradoxal da descida-subida (Jo 1, 14.18; 3, 13). Este é o mistério que dá a chave de leitura para compreender a identidade e a missão de Jesus Cristo. E isto não vale unicamente para o texto de João. Também a Carta aos Efésios, por exemplo, serve-se deste mesmo movimento paradoxal para explicar o mistério de Cristo: “Subiu. Que quer dizer senão que também baixou às regiões inferiores da terra?” (Ef 4, 9).

Jesus é o Filho de Deus que ao fazer-se Filho do Homem (Jo 3, 13) faz-nos conhecer os mistérios de Deus (Jo 1, 18). Pode fazê-lo visto que só ele viu o Pai (Jo 6, 46). Podemos dizer que o mistério do Verbo que desce do céu responde ao desejo dos profetas: “quem subirá ao céu para nos revelar este mistério?” (cf. Dn 30, 12; Prov 30, 4). O quarto Evangelho está cheio de referências ao mistério daquele que “desceu do céu” (1Cor 15, 47). Eis algumas citações: Jo 6, 33.38.51.62; 16, 28-30; 17, 5.

A exaltação de Jesus está justamente neste abaixamento até nós, até à morte, e morte de cruz, da qual será levantado como a serpente no deserto e “todo aquele que o olhe... não morrerá” (Num 21, 7-9; Zc 12, 10). Olhar Jesus exaltado é recordado por João na cena da morte: “Olharão para aquele que trespassaram (Jo 19, 37). No contexto do quarto Evangelho, dirigir o olhar significa “conhecer”, “compreender”, “ver”.

Frequentemente no Evangelho de João, Jesus refere-se ao fato de ser levantado: “Quando levantarem o Filho do Homem, então conhecerão que eu sou” (Jo 8, 28); “'quando for levantado da terra, atrairei todos a mim'. Jesus dava a entender deste modo de que morte ia morrer” (Jo 12, 32-33). Também nos Evangelhos sinópticos Jesus anuncia aos seus discípulos o mistério da sua condenação à morte (cf. Mt 20, 17-19; Mc 10, 32-34; Lc 18, 31-33). Com efeito, Cristo tinha que “sofrer tudo isto e entrar na glória” (Lc 24, 26).

Este mistério revela o grande amor que Deus nos tem. Ele é o filho que nos foi dado, “para que quem acredite nele não pereça mas tenha a vida eterna”, este filho a quem nós rejeitamos e crucificamos. Precisamente nesta rejeição feita por nós, Deus manifestou-nos a sua fidelidade e o seu amor que não se detém perante a dureza do nosso coração. Ele realiza a salvação, apesar da nossa rejeição e desprezo (At 4, 27-28), permanecendo sempre firme na realização do seu plano de misericórdia: “Porque Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele”.

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