Papa Francisco
Uma
antiga tradição da Igreja de Roma conta que o Apóstolo Pedro, saindo da cidade
para fugir da perseguição do Imperador Nero, viu que Jesus caminhava na direção
oposta e, admirado, lhe perguntou: «Para onde vais, Senhor?». E a resposta de
Jesus foi: «Vou a Roma para ser crucificado outra vez». Naquele momento, Pedro
entendeu que devia seguir o Senhor com coragem até o fim, mas entendeu
sobretudo que nunca estava sozinho no caminho; com ele, sempre estava aquele Jesus
que o amara até o ponto de morrer na Cruz. Pois bem, Jesus com a sua cruz
atravessa os nossos caminhos para carregar os nossos medos, os nossos
problemas, os nossos sofrimentos, mesmo os mais profundos. Com a Cruz, Jesus se
une ao silêncio das vítimas da violência, que já não podem clamar, sobretudo os
inocentes e indefesos; nela Jesus se une às famílias que passam por
dificuldades, que choram a perda de seus filhos, ou que sofrem vendo-os presas
de paraísos artificiais como a droga; nela Jesus se une a todas as pessoas que
passam fome, num mundo que todos os dias joga fora toneladas de comida; nela
Jesus se une a quem é perseguido pela religião, pelas ideias, ou simplesmente
pela cor da pele; nela Jesus se une a tantos jovens que perderam a confiança nas
instituições políticas, por verem egoísmo e corrupção, ou que perderam a fé na
Igreja, e até mesmo em Deus, pela incoerência de cristãos e de ministros do
Evangelho. Na Cruz de Cristo, está o sofrimento, o pecado do homem, o nosso
também, e Ele acolhe tudo com seus braços abertos, carrega nas suas costas as
nossas cruzes e nos diz: Coragem! Você não está sozinho a levá-la! Eu a levo
com você. Eu venci a morte e vim para lhe dar esperança, dar-lhe vida (cf. Jo
3,16).
O
que deixa em cada um de nós? Deixa um bem que ninguém mais pode nos dar: a
certeza do amor inabalável de Deus por nós. Um amor tão grande que entra no
nosso pecado e o perdoa, entra no nosso sofrimento e nos dá a força para poder
levá-lo, entra também na morte para derrotá-la e nos salvar. Na Cruz de Cristo,
está todo o amor de Deus, a sua imensa misericórdia. E este é um amor em que
podemos confiar, em que podemos crer. Queridos jovens, confiemos em Jesus,
abandonemo-nos totalmente a Ele (cf. Carta enc. Lumen fidei, 16)! Só em Cristo
morto e ressuscitado encontramos salvação e redenção. Com Ele, o mal, o
sofrimento e a morte não têm a última palavra, porque Ele nos dá a esperança e
a vida: transformou a Cruz, de instrumento de ódio, de derrota, de morte, em
sinal de amor, de vitória e de vida. O primeiro nome dado ao Brasil foi
justamente o de «Terra de Santa Cruz». A Cruz de Cristo foi plantada não só na
praia, há mais de cinco séculos, mas também na história, no coração e na vida
do povo brasileiro e não só: o Cristo sofredor, sentimo-lo próximo, como um de
nós que compartilha o nosso caminho até o final. Não há cruz, pequena ou
grande, da nossa vida que o Senhor não venha compartilhar conosco.
Mas
a Cruz de Cristo também nos convida a deixar-nos contagiar por este amor;
ensina-nos, pois, a olhar sempre para o outro com misericórdia e amor,
sobretudo quem sofre, quem tem necessidade de ajuda, quem espera uma palavra,
um gesto; ensina-nos a sair de nós mesmos para ir ao encontro destas pessoas e
lhes estender a mão. Tantos rostos acompanharam Jesus no seu caminho até a
Cruz: Pilatos, o Cireneu, Maria, as mulheres… Também nós diante dos demais
podemos ser como Pilatos que não teve a coragem de ir contra a corrente para
salvar a vida de Jesus, lavando-se as mãos. Queridos amigos, a Cruz de Cristo nos
ensina a ser como o Cireneu, que ajuda Jesus levar aquele madeiro pesado, como
Maria e as outras mulheres, que não tiveram medo de acompanhar Jesus até o
final, com amor, com ternura. E você como é? Como Pilatos, como o Cireneu, como
Maria? Queridos jovens, levamos as nossas alegrias, os nossos sofrimentos, os
nossos fracassos para a Cruz de Cristo; encontraremos um Coração aberto que nos
compreende, perdoa, ama e pede para levar este mesmo amor para a nossa vida,
para amar cada irmão e irmã com este mesmo amor.
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