quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Batismo do Senhor

«Este é o meu filho muito amado»

O Evangelho deste domingo, que inicia o tempo comum, está dividido em duas partes: a narração do encontro de Jesus com João Batista (vs. 13-15) e a teofania (manifestação divina) que se lhe segue (vs 16-17). O batismo de João preparava para a vinda do Messias, no intuito de predispor o coração do homem para a salvação próxima. Jesus que pede o batismo a João, não está, de todo, necessitado dessa “conversão”. João vê o Filho, o Verbo encarnado de Deus, e indica-O como Salvador. Jesus é, de fato, o “Filho muito amado” de Deus a quem seguimos na simplicidade da nossa vida. Para tornar verdade a sua mensagem de amor. Para tornar vida o seu Evangelho. Para tornar novidade, em cada dia do nosso existir, a vida de Jesus nas nossas vidas, porque Filho de Deus. Porque Filho de Deus muito amado. Porque nosso Salvador.
Pe. Tarcízio Morais, sdb

Evangelho (Mt 3, 13- 17) – “Naquele tempo, Jesus chegou da Galileia e veio ter com João Batista ao Jordão, para ser batizado por ele. Mas João opunha-se, dizendo: «Eu é que preciso ser batizado por Ti, e Tu vens ter comigo?». Jesus respondeu-lhe: «Deixa por agora; convém que assim cumpramos toda a justiça». João deixou então que Ele Se aproximasse. Logo que Jesus foi batizado, saiu da água. Então, abriram-se os céus e Jesus viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e pousar sobre Ele. E uma voz vinda do Céu dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência».

Naquele tempo, Jesus chegou da Galileia e veio ter com João Batista ao Jordão, para ser batizado por ele.
Depois do aparecimento de João Batista em cena, Jesus, provindo de Nazaré, onde tinha vivido a infância e juventude, aproxima-se do rio Jordão. Ali se encontra com João, o último dos grandes profetas, Batista de um batismo de conversão, de arrependimento, preparação para uma vida nova.
João anunciava a conversão a Deus apoiando-se no anúncio de um juízo eminente. Exigia uma conversão que transformasse o próprio existir. Quem se batizava reconhecia-se necessitado de conversão e comprometia-se publicamente a mudar de conduta e de vida. O tempo da nossa vida é um tempo de contínua conversão a Jesus Cristo e à sua vontade. Que temos ainda de mudar nas nossas vidas para acolher a Jesus e os seus projetos em nós? Não será mais fácil fugir do encontro com Ele? Pensar que anda demasiado longe do nosso existir?

Mas João opunha-se, dizendo: «Eu é que preciso ser batizado por Ti, e Tu vens ter comigo?».
A tentativa de João Batista de impedir o batismo de Jesus é o reconhecimento da diversidade entre os dois e a consciência de que a novidade de Jesus, o Reino Novo, a Nova Aliança, começou uma nova era, uma nova realidade na humanidade. João não é o Messias esperado: é apenas o seu predecessor. Depois dele virá quem batizará no Espírito Santo e no fogo (cfr. 11-12). É mais do que lógico que João, reconhecendo a Jesus, se resistisse a batizá-lo…
O Batismo de Jesus marca precisamente o inicio da sua vida pública. Teve que ser uma decisão importante: passou do anonimato em que vivia, a uma presença ativa do nome de Deus no meio da humanidade. João Baptista via na instauração do Reino a chegada do Juízo de Deus. O ser humano pecador devia entrar numa dinâmica de purificação. Com a chegada de Jesus, tudo se transforma. Como é que chega até nós o Reino de Deus? Que espaço ofereces a Jesus para que Ele possa tomar a iniciativa da tua vida?

Jesus respondeu-lhe: «Deixa por agora; convém que assim cumpramos toda a justiça».
A resposta de Jesus confirma a necessidade de ser cumprido o projeto de salvação da humanidade, submetendo-se ao plano salvífico de Deus. Jesus pede a João para ser batizado, não por necessidade, mas para que se manifeste a presença de Deus Trindade que Ele veio revelar. Por isso, é necessário que se cumpra a “justiça”, que aqui significa corresponder à vontade de Deus incondicionalmente.
A vontade de Deus é para cada um de nós um mistério que muitas vezes não compreendemos nem aceitamos. Mas na vontade de Deus encontramos o sentido da nossa realização plena, o cumprimento do projeto de Deus para cada um de nós. Como vivemos a “justiça da vontade de Deus”? Não andaremos nós necessitados de um batismo de conversão à vontade de Deus em nós? Porque resistimos tanto a esse Deus amor, criador, pai, plenitude da nossa vida?

João deixou então que Ele Se aproximasse. Logo que Jesus foi batizado, saiu da água. Então, abriram-se os céus e Jesus viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e pousar sobre Ele.
É preciso que João diminua para que Jesus possa aparecer como principal centro do anúncio. Está aqui em preparação a manifestação da divindade de Jesus. Como diz Cirilo de Alexandria, Jesus confere à água do batismo a “cor da sua divindade” (IIIª Catequese mistagógica,1). Abrem-se os céus, e desce, como uma pomba, o Espírito de Deus. Como nas origens, o Espírito “movia-se sobre as águas” (Gn1).
A presença do Espírito de Deus transforma a realidade e confere um novo significado ao Batismo que se realizará pela ação de Deus Trindade (em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo). Restabelecerá um novo tempo de salvação. Obterá a vida eterna em sentido pleno, incorporando o nosso existir a Cristo. Será nova vida! Como vivo o meu batismo? Como testemunho a força do Espírito de Deus no meu existir? Não será que o meu batismo é uma data esquecida do meu calendário de celebrações, e uma memória, demasiado passada, do meu viver em Deus?

E uma voz vinda do Céu dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência».
O encontro de Jesus com João Batista tem também este lado de “teofania” (manifestação de Deus). Jesus, de natureza divina, é Filho de Deus, novo Adão, início de uma humanidade nova reconciliada com Deus. O “Tu és (este é) meu Filho” (Sal 2,7), é simultaneamente “muito amado”, “a quem eu amo, meu predileto” (Is 42,1). Filho, em quem é depositada toda a complacência, toda a esperança, toda a novidade de um novo mundo e uma nova história, que se inicia, na nova missão e anúncio de Jesus e da Boa Nova do Reino de Deus para a salvação de todos.
O encontro entre estas duas personagens (João Batista e Jesus de Nazaré) possibilita a manifestação do amor de Deus para com o Seu Filho, e nesse Amor, o seu amor por toda a humanidade. Deus está, de fato, no meio de nós, através da presença de Jesus, seu Filho amado. A nossa fé, tantas vezes feita de tibiezas e limitações, tarda em reconhecer a plenitude do significado deste seu “estar”, deste seu “permanecer”, desta sua missão. E tudo isto… em mim… até quando?

«Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do batismo que João pregou: Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo Demônio, porque Deus estava com Ele». (IIª Leitura)
Neste texto vemos uma espécie de resumo da fé primitiva: Jesus, centro da vida da primeira comunidade, foi ungido por Deus no Espírito, para uma missão: fazer o bem, curar os oprimidos, por uma razão especial – porque Deus estava com Ele. Este reconhecimento, manifesta a força do “kerigma” de Jesus: a profundidade da dimensão salvífica da vida de Jesus.
Também nós reconhecemos como Jesus passa pela nossa vida semeando bondade, semeando esperança, fazendo nascer uma nova realidade: a presença de Deus no meio de nós. Nos seus gestos de bondade, de misericórdia, de perdão, de solidariedade, de amor, os homens encontraram o projeto libertador de Deus em ação… Esse projeto continua, hoje, em ação no mundo, através da nossa ação, do nosso testemunho, da nossa capacidade de O anunciarmos. Estaremos a responder coerentemente à missão que o Senhor Jesus hoje nos confia? Cada um responderá….

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