«Este é o meu filho muito amado»
O
Evangelho deste domingo, que inicia o tempo comum, está dividido em duas
partes: a narração do encontro de Jesus com João Batista (vs. 13-15) e a
teofania (manifestação divina) que se lhe segue (vs 16-17). O batismo de João
preparava para a vinda do Messias, no intuito de predispor o coração do homem
para a salvação próxima. Jesus que pede o batismo a João, não está, de todo,
necessitado dessa “conversão”. João vê o Filho, o Verbo encarnado de Deus, e
indica-O como Salvador. Jesus é, de fato, o “Filho muito amado” de Deus a quem
seguimos na simplicidade da nossa vida. Para tornar verdade a sua mensagem de
amor. Para tornar vida o seu Evangelho. Para tornar novidade, em cada dia do
nosso existir, a vida de Jesus nas nossas vidas, porque Filho de Deus. Porque
Filho de Deus muito amado. Porque nosso Salvador.
Pe.
Tarcízio Morais, sdb
Evangelho
(Mt 3, 13- 17) – “Naquele tempo, Jesus
chegou da Galileia e veio ter com João Batista ao Jordão, para ser batizado por
ele. Mas João opunha-se, dizendo: «Eu é que preciso ser batizado por Ti, e Tu
vens ter comigo?». Jesus respondeu-lhe: «Deixa por agora; convém que assim
cumpramos toda a justiça». João deixou então que Ele Se aproximasse. Logo que
Jesus foi batizado, saiu da água. Então, abriram-se os céus e Jesus viu o
Espírito de Deus descer como uma pomba e pousar sobre Ele. E uma voz vinda do
Céu dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha
complacência».
Naquele tempo, Jesus chegou da
Galileia e veio ter com João Batista ao Jordão, para ser batizado por ele.
Depois
do aparecimento de João Batista em cena, Jesus, provindo de Nazaré, onde tinha
vivido a infância e juventude, aproxima-se do rio Jordão. Ali se encontra com
João, o último dos grandes profetas, Batista de um batismo de conversão, de
arrependimento, preparação para uma vida nova.
João
anunciava a conversão a Deus apoiando-se no anúncio de um juízo eminente.
Exigia uma conversão que transformasse o próprio existir. Quem se batizava
reconhecia-se necessitado de conversão e comprometia-se publicamente a mudar de
conduta e de vida. O tempo da nossa vida é um tempo de contínua conversão a Jesus
Cristo e à sua vontade. Que temos ainda de mudar nas nossas vidas para acolher
a Jesus e os seus projetos em nós? Não será mais fácil fugir do encontro com
Ele? Pensar que anda demasiado longe do nosso existir?
Mas João opunha-se, dizendo: «Eu é
que preciso ser batizado por Ti, e Tu vens ter comigo?».
A
tentativa de João Batista de impedir o batismo de Jesus é o reconhecimento da
diversidade entre os dois e a consciência de que a novidade de Jesus, o Reino
Novo, a Nova Aliança, começou uma nova era, uma nova realidade na humanidade.
João não é o Messias esperado: é apenas o seu predecessor. Depois dele virá
quem batizará no Espírito Santo e no fogo (cfr. 11-12). É mais do que lógico
que João, reconhecendo a Jesus, se resistisse a batizá-lo…
O
Batismo de Jesus marca precisamente o inicio da sua vida pública. Teve que ser
uma decisão importante: passou do anonimato em que vivia, a uma presença ativa
do nome de Deus no meio da humanidade. João Baptista via na instauração do
Reino a chegada do Juízo de Deus. O ser humano pecador devia entrar numa
dinâmica de purificação. Com a chegada de Jesus, tudo se transforma. Como é que
chega até nós o Reino de Deus? Que espaço ofereces a Jesus para que Ele possa
tomar a iniciativa da tua vida?
Jesus respondeu-lhe: «Deixa por
agora; convém que assim cumpramos toda a justiça».
A
resposta de Jesus confirma a necessidade de ser cumprido o projeto de salvação
da humanidade, submetendo-se ao plano salvífico de Deus. Jesus pede a João para
ser batizado, não por necessidade, mas para que se manifeste a presença de Deus
Trindade que Ele veio revelar. Por isso, é necessário que se cumpra a
“justiça”, que aqui significa corresponder à vontade de Deus
incondicionalmente.
A
vontade de Deus é para cada um de nós um mistério que muitas vezes não
compreendemos nem aceitamos. Mas na vontade de Deus encontramos o sentido da
nossa realização plena, o cumprimento do projeto de Deus para cada um de nós.
Como vivemos a “justiça da vontade de Deus”? Não andaremos nós necessitados de
um batismo de conversão à vontade de Deus em nós? Porque resistimos tanto a
esse Deus amor, criador, pai, plenitude da nossa vida?
João deixou então que Ele Se
aproximasse. Logo que Jesus foi batizado, saiu da água. Então, abriram-se os
céus e Jesus viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e pousar sobre Ele.
É
preciso que João diminua para que Jesus possa aparecer como principal centro do
anúncio. Está aqui em preparação a manifestação da divindade de Jesus. Como diz
Cirilo de Alexandria, Jesus confere à água do batismo a “cor da sua divindade”
(IIIª Catequese mistagógica,1). Abrem-se os céus, e desce, como uma pomba, o
Espírito de Deus. Como nas origens, o Espírito “movia-se sobre as águas” (Gn1).
A
presença do Espírito de Deus transforma a realidade e confere um novo
significado ao Batismo que se realizará pela ação de Deus Trindade (em nome do
Pai, do Filho e do Espírito Santo). Restabelecerá um novo tempo de salvação.
Obterá a vida eterna em sentido pleno, incorporando o nosso existir a Cristo.
Será nova vida! Como vivo o meu batismo? Como testemunho a força do Espírito de
Deus no meu existir? Não será que o meu batismo é uma data esquecida do meu
calendário de celebrações, e uma memória, demasiado passada, do meu viver em
Deus?
E uma voz vinda do Céu dizia: «Este
é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência».
O
encontro de Jesus com João Batista tem também este lado de “teofania”
(manifestação de Deus). Jesus, de natureza divina, é Filho de Deus, novo Adão,
início de uma humanidade nova reconciliada com Deus. O “Tu és (este é) meu
Filho” (Sal 2,7), é simultaneamente “muito amado”, “a quem eu amo, meu
predileto” (Is 42,1). Filho, em quem é depositada toda a complacência, toda a
esperança, toda a novidade de um novo mundo e uma nova história, que se inicia,
na nova missão e anúncio de Jesus e da Boa Nova do Reino de Deus para a
salvação de todos.
O
encontro entre estas duas personagens (João Batista e Jesus de Nazaré)
possibilita a manifestação do amor de Deus para com o Seu Filho, e nesse Amor,
o seu amor por toda a humanidade. Deus está, de fato, no meio de nós, através
da presença de Jesus, seu Filho amado. A nossa fé, tantas vezes feita de
tibiezas e limitações, tarda em reconhecer a plenitude do significado deste seu
“estar”, deste seu “permanecer”, desta sua missão. E tudo isto… em mim… até
quando?
«Vós sabeis o que aconteceu em toda
a Judeia, a começar pela Galileia, depois do batismo que João pregou: Deus
ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem
e curando todos os que eram oprimidos pelo Demônio, porque Deus estava com
Ele». (IIª Leitura)
Neste
texto vemos uma espécie de resumo da fé primitiva: Jesus, centro da vida da
primeira comunidade, foi ungido por Deus no Espírito, para uma missão: fazer o
bem, curar os oprimidos, por uma razão especial – porque Deus estava com Ele.
Este reconhecimento, manifesta a força do “kerigma” de Jesus: a profundidade da
dimensão salvífica da vida de Jesus.
Também
nós reconhecemos como Jesus passa pela nossa vida semeando bondade, semeando
esperança, fazendo nascer uma nova realidade: a presença de Deus no meio de
nós. Nos seus gestos de bondade, de misericórdia, de perdão, de solidariedade,
de amor, os homens encontraram o projeto libertador de Deus em ação… Esse projeto
continua, hoje, em ação no mundo, através da nossa ação, do nosso testemunho,
da nossa capacidade de O anunciarmos. Estaremos a responder coerentemente à
missão que o Senhor Jesus hoje nos confia? Cada um responderá….
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