Evangelho
segundo S. João (Jo 14, 15-16.23a-26) «Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos: «Se Me amardes, guardareis os meus mandamentos. E Eu pedirei ao
Pai, que vos dará outro Paráclito, para estar sempre convosco. Quem Me ama
guardará a minha palavra e meu Pai o amará; Nós viremos a ele e faremos nele a
nossa morada. Quem Me não ama não guarda a minha palavra. Ora a palavra que
ouvis não é minha, mas do Pai, que Me enviou. Disse-vos estas coisas, estando
ainda convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu
nome, vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que Eu vos disse».
Jesus
diz: “Eu
pedirei ao Pai” (v. 16) e levanta um pouco o véu da oração: ela é o
caminho que conduz ao Pai. Para chegar ao Pai foi-nos dada a oração. Como Jesus
vive a sua relação com o Pai através da oração, assim nós também. Percorro as
páginas do Evangelho e procuro com atenção qualquer indício relativamente a
este segredo de amor entre Jesus e o seu Pai, visto que entrando nessa relação,
também eu posso conhecer mais a Deus, meu Pai.
“Ele
vos dará outro Consolador”.
O Pai é quem nos dá o Consolador. Este ato está precedido do ato de amor do
Pai, que sabe que temos necessidade da consolação: Ele viu a minha miséria no Egito
e ouviu o meu grito, conhece os meus sofrimentos e vê a opressão que me
atormenta (cf. Ex 3, 7-9). Nada escapa ao amor infinito que tem por mim. Por
tudo isto Ele nos dá o Consolador. O Pai é o Doador: tudo vem d'Ele e de mais
ninguém.
“Meu
Pai o amará”
(v. 24). O Pai é o Amante que ama com amor eterno, absoluto, inviolável,
incansável. Como diz Isaías, Jeremias e todos os profetas (cf. Jer 31, 3; Is
43, 4; 54, 8; Os 2, 21; 11, 1).
“Viremos
a ele”. O Pai
está unido ao seu Filho Jesus, é uma só coisa com Ele e com Ele vem a cada
homem, está dentro de cada homem. Muda-se, sai, inclina-se e caminha até nós.
Levado por um amor delirante e inexplicável, aproxima-se de nós.
“E
faremos nele a nossa morada”.
O Pai constrói a sua casa em nós. Faz de nós, da minha existência, de todo o
meu ser, a sua morada. Ele vem e não vai, permanece fielmente.
O ROSTO DO FILHO
“Se
me amais...”
(v. 15); “Se alguém me ama...” (v. 23). Jesus entra em relação comigo de
um modo único e pessoal, face-a-face, coração a coração, alma a alma. Propõe-me
uma ligação intensa, única, irrepetível e une-me a si através do amor, se eu
quero. Sempre põe o “se” e diz, chamando-me pelo meu nome: “Se queres...”. O
único caminho que ele percorre para chegar até mim é o do amor. Percebo que os
pronomes “vós” e “alguém” estão unidos com o “me” do verbo “amar”, e a mais
nenhum outro verbo.
“Eu
pedirei ao Pai”
(v. 16). Jesus é o orante que vive da oração e para a oração; toda a sua vida é
cheia de oração, era oração. Ele é o sumo e eterno sacerdote que intercede por
nós e oferece orações e súplicas, acompanhadas de lágrimas (cf. Hb 5, 7), pela
nossa salvação: “Daí que possa também salvar perfeitamente aos que por ele se
aproximam de Deus, já que está sempre vivo a interceder em seu favor” (Hb 7,
25).
“Se
alguém me ama guardará a minha palavra” (v. 23); “O que me não ama não guarda a minha palavra”
(v. 24). Jesus oferece-me a sua Palavra, entrega-a a mim, para que eu cuide
dela e a guarde, a coloque no tesouro do meu coração e aí me dê calor, vele por
ela, a contemple, a escute e, fazendo assim, a faça frutificar. A sua Palavra é
uma semente; é a pérola mais preciosa de todas, pela qual vale a pena vender
todas as riquezas; é o tesouro escondido no campo, que para obtê-lo se escava,
sem ter medo do cansaço; é o fogo que nos faz arder o coração no peito; é a
lâmpada que nos permite ter luz para os nossos passos, mesmo que a noite seja
escura. O amor à palavra de Jesus identifica-se com o meu amor pelo próprio
Jesus, por toda a sua pessoa, já que Ele, em definitivo, é a Palavra, o Verbo.
É por isso, que nestas palavras, Jesus me grita ao coração que é a Ele que devo
guardar!
O ROSTO DO ESPÍRITO
“O
Pai vos dará outro Consolador” (v. 16). O Pai dá-nos o Espírito Santo. Ele é a
“boa dádiva e o dom perfeito que vem do alto” (Tg 1, 17). Ele é “outro
Consolador” como Jesus, que vai e vem para não nos deixar sozinhos,
abandonados. Enquanto estou no mundo, eu não estou desconsolado, mas confortado
pela presença do Espírito Santo, que não é somente um consolo, mas muito mais:
é uma pessoa viva que está sempre junto de mim. Esta presença, esta companhia,
é capaz de me dar alegria, a verdadeira alegria. Diz São Paulo: “O fruto do
Espírito é amor, alegria, paz...” (Gal 5, 22; cf. também Rm 14, 17).
“Para
que esteja sempre convosco”.
O Espírito está no nosso meio, está comigo, como Jesus estava com os
discípulos. A sua vinda é uma física e pessoal presença. Eu não o vejo mas sei
que está comigo e não me abandona. O Espírito permanece para sempre e vive
comigo, em mim, sem limitação de tempo ou de espaço. Deste modo Ele é o
Consolador.
“Ele
vos ensinará tudo”
(v. 26). O Espírito Santo é o Mestre, o que abre o caminho ao conhecimento, à
experiência. Ninguém fora d'Ele pode guiar-me, plasmar-me, dar-me uma forma
nova. A sua escola não se destina a alcançar uma ciência humana, que incha e
não liberta. Os seus ensinamentos, as suas sugestões, as suas indicações
concretas vêm de Deus e para Deus voltam. O Espírito Santo ensina a verdadeira
sabedoria e o conhecimento (Sal 118, 16), ensina a vontade do Pai (Sal 118,
26.64), os seus caminhos (Sal 24, 4), os seus mandamentos (Sal 118, 124.135)
que fazem viver. Ele é o Mestre capaz de me guiar para a verdade plena (Jo 16,
13), que me faz livre no mais fundo de mim mesmo, até onde se divide a alma e o
espírito, onde somente Ele, que é Deus, pode levar a vida e a ressurreição. É
humilde, como Deus, e abaixa-se, desce da sua cátedra e vem para dentro de mim
(cf. At 1, 8; 10, 44), entrega-se a mim, de modo pleno; Ele não tem ciúmes do
seu dom, da sua luz, mas oferece-a sem medida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
DEIXE AQUI SEU SUA SUGESTÃO