«O
Espírito Santo vos ensinará tudo»
No
Domingo de Pentecostes celebramos o grande dom da Páscoa, o dom do Espírito
Santo. O que celebramos e vivemos nas últimas sete semanas tem, agora, o seu
ponto culminante. O anúncio da ressurreição de Cristo continua a ser aquilo que
é mais importante que deve ser recebido por cada um como dom. A Igreja foi
constituída com a vinda do Espírito Santo; cada um de nós pode acolhê-lo pela
fé; os cristãos estão no mundo, fortalecidos pelo Paráclito: tudo isto é dom. A
Liturgia da Palavra desta Solenidade deixa à escolha dois textos do Evangelho segundo
São João (Jo 20, 19-23 ou Jo 14, 15-16. 23a-26). Faremos a “leitura orante” do
segundo texto, que nos apresenta três motivos de consolação muito fortes: a
promessa da vinda do Consolador; a vinda do Pai e do Filho na alma do discípulo
que acredita; a presença de um mestre, que é o Espírito Santo, mediante o qual
o ensinamento de Jesus não cessará.
Pe. Sílvio Faraia sdb
Evangelho
segundo S. João (Jo 14, 15-16. 23a-26) - «Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos: «Se Me amardes, guardareis os meus mandamentos. E Eu pedirei ao
Pai, que vos dará outro Paráclito, para estar sempre convosco. Quem Me ama
guardará a minha palavra e meu Pai o amará; Nós viremos a ele e faremos nele a
nossa morada. Quem Me não ama não guarda a minha palavra. Ora a palavra que
ouvis não é minha, mas do Pai, que Me enviou. Disse-vos estas coisas, estando
ainda convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu
nome, vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que Eu vos disse».
Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Se Me amardes, guardareis os meus
mandamentos.
Jesus,
no contexto de uma religiosidade cada vez mais associada com o cumprimento
(frio e formal) de um conjunto de preceitos, revela que a observância dos mandamentos
não é tanto uma questão de esforço humano, mas fruto suave, que brota do amor
do discípulo para com Ele.
A
minha relação com o Senhor Jesus é uma relação de amor, ou nem por isso? Há no
meu coração espaço para Ele? Onde está o amor na minha vida? Considero a minha
rede de relações e de amizades deixo-me questionar: o que é que me está a
impedir de viver como autêntico discípulo de Jesus? Jesus deixou-nos a sua
Palavra de vida. Que significa para mim “guardar” os mandamentos de Jesus?
E
Eu pedirei ao Pai, que vos dará outro Paráclito, para estar sempre convosco.
O
Espírito é o sinal de que Jesus não nos deixa sozinhos, mas fica conosco
através do dom do “outro Paráclito”. Jesus, o primeiro Paráclito, o
companheiro-consolador da nossa vida, sumo e eterno sacerdote, pede ao Pai para
cada um de nós o dom do Espírito Santo.
O
nome de Paráclito (vocábulo grego que a tradição cristã preferiu não traduzir)
implica o fato de que o Espírito não seja apenas uma força divina, mas tenha um
caráter pessoal: somente uma pessoa pode consolar, assistir, defender. Sou
capaz de reconhecer que enquanto estou no mundo, sou confortado pela presença
do Espírito Santo, que não é apenas (mais) uma consolação mas é uma Pessoa
viva? Acredito que o Espírito Santo permance para sempre e vive comigo?
Quem
Me ama guardará a minha palavra e meu Pai o amará;
Jesus
recorda novamente que o amor e o cumprimento dos mandamentos são duas
realidades vitais essencialmente conexas entre elas, que têm o poder de introduzir
o discípulo na vida mística, isto é, na experiência de comunhão imediata e
pessoal com Jesus e com o Pai.
Só
aquele que ama será capaz de viver a Palavra de Jesus e de acolher a sua manifestação
espiritual e interior. E quem cumpre esta Palavra (=os mandamentos) será amado
por ele e pelo Pai: ele habitará no seu coração juntamente com o Pai e o
Espírito. Sou consciente de que em mim (deseja) habita(r) a Santíssima
Trindade? Para que tal aconteça, estou disposto a amar Jesus e cumprir a sua
Palavra?
Nós
viremos a ele e faremos nele a nossa morada.
Jesus
com o Pai constrói a sua casa em nós; faz de nós, da nossa existência, de todo
o nosso ser, a sua morada.
O
Senhor está à porta e chama… Ele propõe-me passar a ser a sua casa, o lugar da
sua intimidade. Jesus é feliz de unir-se a mim numa amizade assim tão especial.
Mas eu, estou mesmo disponível? Espero a sua visita, a sua entrada na minha
existência mais intima, mais pessoal? Já o sentes chamar à porta do teu
coração?
Jesus
afirma uma coisa muito importante: há uma diferença substancial entre as coisas
que Ele disse enquanto estava junto dos seus discípulos e as coisas que dirá
depois quando, graças ao Espírito, Ele estará dentro deles. Antes, a
compreensão era unicamente limitada, porque a relação com Ele era externa: a
Palavra vinha de fora e chegava aos ouvidos, mas não era pronunciada desde
dentro. Depois a compreensão será total.
Quem
Me não ama não guarda a minha palavra. Ora a palavra que ouvis não é minha, mas
do Pai, que Me enviou.
O
amor por Jesus não é um simples sentimento, mas uma vida fiel à sua palavra,
que é em definitiva a palavra do Pai.
A
Palavra de Deus é um tesouro muito precioso; é uma semente de vida, que vem
semeada no meu coração; mas eu que atenção dou a essa semente? Empenho-me a
defendê-la dos mil inimigos e perigos que a assaltam: os pássaros, o calor, os
espinhos, o maligno? Sei levar comigo, cada manhã, uma Palavra do Senhor para
recordá-la durante todo o dia e fazer dela a minha luz secreta, a minha força,
o meu alimento?
Disse-vos
estas coisas, estando ainda convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o
Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o
que Eu vos disse».
Jesus
afirma que existe uma diferença substancial entre as coisas que disse enquanto
estava com junto dos seus discípulos e as coisas que dirá depois, por
intermédio do Espírito. Jesus revela-nos o Espírito Santo qual mestre, que
ensina não a partir do externo, mas a partir de dentro de nós. Ele reavivará as
Palavras de Jesus e as fará compreender em toda a sua profundidade.
O
Espírito Santo, dom pascal por excelência, é o Mestre, aquele que abre o
caminho ao verdadeiro conhecimento de Deus e da sua vontade. Na sua escola
vai-se não para obter um diploma de sabedoria humana (e muito menos
científica), mas para deixar-se guiar para a Verdade completa. Como posso
entrar e crescer na relação com o Espírito Santo?
Algumas perguntas
Se
me amais. A minha
relação com o Senhor é ou não uma relação de amor? Há no meu coração espaço
para Ele? Olho para dentro de mim e pergunto: “Onde está o amor da minha vida?
Existe?”. Se me dou conta de que dentro de mim não existe o amor, ou há pouco,
tento perguntar a mim mesmo: “O que é que me bloqueia, o que é que faz com que
o meu coração esteja fechado, prisioneiro, com tanta tristeza e solidão?”.
Observareis
os meus mandamentos.
Sai-me ao encontro o verbo observar, com toda a carga dos seus muitos
significados: olhar bem, proteger, prestar atenção, não atirar fora, reservar e
preservar, manter com cuidado, com amor, etc. Vivo iluminado por estas atitudes
a minha relação de discípulo, de cristão, com a Palavra e os mandamentos que
Jesus nos deixou para a nossa felicidade?
Ele
vos dará outro Consolador.
Quantas vezes fui à procura de alguém que me consolasse, se preocupasse comigo,
que me mostrasse afeto ou prestasse atenção. Estou convencido que a verdadeira
consolação vem do Senhor? Ou confio mais nas consolações que vou encontrando, que
mendigo aqui e ali, que recolho como migalhas, sem que fique verdadeiramente
saciado?
Faremos
nele a nossa morada.
O Senhor está à porta, chama e espera; não força e não constrange. Ele diz “Se
queres...”. Convida-me a ser sua casa, o lugar do seu repouso, da sua
intimidade; Jesus está pronto, é feliz por me encontrar, por unir-se a mim numa
amizade de todo especial. Mas estou pronto? Espero a visita, a vinda, a entrada
de Jesus na minha existência mais íntima e pessoal? Há lugar para Ele na minha
casa?
Ele
vos recordará tudo o que vos disse.
O verbo “recordar” leva em si outra realidade muito importante, essencial,
diria. Sou provocado, examinado pela Escritura. Onde aplico a minha memória? O
que procuro reter na mente, fazer viver no meu mundo interior? A Palavra do
Senhor é um tesouro muito precioso, uma semente de vida semeada no meu coração.
Presto atenção a esta semente? Sei defendê-la dos inúmeros inimigos e perigos
que a assaltam: os pássaros, o calor, as pedras, os espinhos, o maligno? Em
cada manhã levo comigo uma Palavra do Senhor para recordá-la durante o dia e
fazer dela uma luz secreta, a minha força e o meu alimento?
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