Orações
do Mês de São José estão na pasta de Orações e Informações.
A
Santa Sé está vacante. Rezemos pela Igreja e pelo Conclave, para que o Espírito
Santo conduza os cardeais na eleição do novo Papa.
Suplicamos,
ó Deus, com humildade: que vossa imensa piedade conceda à Santa Igreja um
Pontífice que, por seu zelo por nós, possa ser agradável a Vós e que seja
assíduo no Governo da Igreja para a glória e reverência do Vosso Nome. Por
nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que convosco vive e reina na unidade do
Espírito Santo, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 15,1-3.11-32) - Naquele
tempo, os publicanos e os pecadores aproximavam-se todos de Jesus, para O
ouvirem. Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo: «Este
homem acolhe os pecadores e come com eles». Jesus disse-lhes então a seguinte
parábola: «Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a
parte da herança que me toca’. O pai repartiu os bens pelos filhos. Alguns dias
depois, o filho mais novo, juntando todos os seus haveres, partiu para um país
distante e por lá esbanjou quanto possuía, numa vida dissoluta. Tendo gasto
tudo, houve uma grande fome naquela região e ele começou a passar privações.
Entrou então ao serviço de um dos habitantes daquela terra, que o mandou para
os seus campos guardar porcos. Bem desejava ele matar a fome com a lavagem que
os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. Então, caindo em si, disse: ‘Quantos
trabalhadores de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome!
Vou-me embora, vou ter com meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e
contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho, mas trata-me como um dos teus
trabalhadores’. Pôs-se a caminho e foi ter com o pai. Ainda ele estava longe,
quando o pai o viu: encheu-se de compaixão e correu a lançar-se-lhe ao pescoço,
cobrindo-o de beijos. Disse-lhe o filho: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti.
Já não mereço ser chamado teu filho’. Mas o pai disse aos servos: ‘Trazei
depressa a melhor túnica e vesti-lha. Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos
pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o. Comamos e festejemos, porque este meu
filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’. E
começou a festa. Ora o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao
aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos servos e
perguntou-lhe o que era aquilo. O servo respondeu-lhe: ‘O teu irmão voltou e
teu pai mandou matar o vitelo gordo, porque ele chegou são e salvo’. Ele ficou
ressentido e não queria entrar. Então o pai veio cá fora instar com ele. Mas
ele respondeu ao pai: ‘Há tantos anos que eu te sirvo, sem nunca transgredir
uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus
amigos. E agora, quando chegou esse teu filho, que consumiu os teus bens com
mulheres de má vida, mataste-lhe o vitelo gordo’. Disse-lhe o pai: ‘Filho, tu
estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e
alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido
e foi reencontrado’».
Chave
de leitura
Dante
denominou Lucas como o “escriba da mansidão de Cristo”. Na verdade, este
evangelista é o que mais realça a misericórdia do Mestre em relação aos pecadores
e mais narra relatos acerca do perdão (Lc 7, 36-50; 23, 39-43). No evangelho de
Lucas, a misericórdia de Deus manifesta-se em Jesus Cristo. Pode-se dizer que o
Jesus lucano é a encarnação da presença misericordiosa de Deus entre nós. “Sede
misericordiosos como é misericordioso o vosso Pai” (Lc 6, 36). Lucas põe em
relevo uma imagem de Deus, já revelada no Antigo Testamento (Ex 34, 6), mas
infelizmente foi esquecida pelos escribas e fariseus que realçavam uma imagem
de um Deus “que castiga a culpa dos pais nos filhos” (Ex 34, 7). Os fariseus e
os escribas consideravam-se justos diante de Deus, porque não transgrediam a
lei de Deus. Jesus critica esta conduta com o seu ensinamento e com o seu modo
de agir. Ele, o “justo” de Deus (1Pe 3, 18), “acolhe os pecadores e come com
eles” (Lc 15, 2). Pense-se na parábola do publicano que volta do templo para
casa justificado, contrariamente ao fariseu que se exaltou diante de Deus
julgando o seu próximo (Lc 18, 9-14). Jesus faz-nos ver que o pensar e o agir
de Deus são muito diferentes do pensar e do agir humanos. Deus é diferente, e a
sua transcendência manifesta-se na misericórdia que perdoa as culpas. “O meu
coração comove-se dentro de mim e as minhas entranhas comoveram-se. Não levarei
a efeito o ardor da minha cólera... porque sou Deus e não um homem; sou o Santo
no meio de ti e não me deixo levar pela ira” (Os 11, 8-9).
A
parábola do “filho pródigo” ilumina o rosto misericordioso de Deus Pai. Alguns
referem-se a esta parábola como sendo “a parábola do Pai pródigo na
misericórdia e o perdão”. Esta passagem evangélica faz parte de uma série de
três parábolas acerca da misericórdia, com um preâmbulo que nos faz contemplar
“todos os publicanos e pecadores” que se aproximam de Jesus para o escutar (Lc
15, 1). Estes estão representados no filho mais novo, que entra em si mesmo e
põe-se a pensar acerca da sua condição e do que perdeu quando se afastou da
casa do pai (Lc 15, 17-20). É interessante ter em conta o verbo “escutar”, que
nos conduz a Maria, a irmã de Marta, “que sentada, aos pés de Jesus, escutava a
sua palavra” (Lc 10, 39); ou também uma grande multidão “que veio para escutá-lo
e ser curada das suas enfermidades” (Lc 6, 18). Jesus reconhece os seus
parentes, não pelos laços de sangue, mas por este comportamento: “Minha mãe e
meus irmãos são aqueles que escutam a palavra de Deus e a põem em prática” (Lc
8, 21). Maria, a Mãe de Jesus, foi
louvada pela atitude de escuta contemplativa, ela que “guardava todas estas
coisas meditando-as no seu coração” (Lc 2, 19,51). Isabel considera-a feliz
porque “acreditaste, porque se vai cumprir o que te foi dito da parte do
Senhor” (Lc 1, 45), revelado na cena da
Anunciação (Lc 1, 26-38).
À
misericórdia do pai que se comove (Lc 15, 20), contrapõe-se a conduta severa do
filho mais velho, que não aceita o seu irmão como tal, e que no diálogo com o
pai diz do irmão: “este teu filho que desbaratou todos os bens com prostitutas”
(Lc 15, 30). Nota-se aqui a conduta dos escribas e dos fariseus que
“murmuravam”: “Este acolhe os pecadores e come com eles...”. Eles não se
misturam com os “pecadores” a quem consideram imundos, e afastam-se deles. O
comportamento de Jesus é totalmente diferente e escandaloso aos seus olhos.
Jesus aprecia conviver com os pecadores e algumas vezes fez-se convidado a
visitar as suas casas e comer com eles (Lc 19, 1-10). A murmuração dos escribas
e fariseus impede a escuta da Palavra.
É
muito sugestivo o contraste entre os dois irmãos. O mais novo reconhece a sua
miséria e a sua culpa, e volta para casa dizendo: “Pai, pequei contra o céu e
contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho” (Lc 15, 18-19,21). O mais
velho mostra uma atitude de arrogância, não só em relação ao irmão mas também
para com o pai! As suas críticas contrastam com a doçura do pai que saindo de
casa, vai ao seu encontro “rogando-lhe” que venha para casa. O pai comporta-se
da mesma forma com os dois filhos e vai ao encontro deles para que voltem para
casa (Lc 15, 20,28). É a imagem de Deus Pai que nos convida à conversão, a
voltar para Ele: “Volta, rebelde Israel, não mais te mostrarei um semblante
aborrecido, oráculo do Senhor; porque sou misericordioso, a minha ira não é
eterna, oráculo do Senhor. Reconhece somente a tua falta, pois foste infiel ao
Senhor, teu Deus, e te prostituíste com deuses estrangeiros, debaixo de toda a
árvore verdejante e não escutaste a minha voz, oráculo do Senhor. Voltai,
filhos rebeldes, porque Eu sou vosso dono, oráculo do Senhor” (Jer 3, 12-14).
Algumas
perguntas para orientar a meditação e a atualização
• Lucas realça uma imagem de Deus
misericordioso, já revelada no Antigo Testamento (Ex 34, 6) mas infelizmente esquecida
pelos escribas e pelos fariseus que realçavam a imagem de um Deus “que castiga
a culpa dos pais nos filhos” (Ex 34, 7). Que imagem tenho eu de Deus?
•
Os escribas e os fariseus presumiam ser justos diante dos olhos de Deus porque
não transgrediam a sua lei. Jesus critica esta conduta com o seu ensinamento e
também com o seu modo de agir. Ele, o “justo” de Deus (1Pe 3, 18), “acolhe os
pecadores e come com eles” (Lc 15, 2). Considero-me mais justo do que os
outros, talvez porque observo os mandamentos de Deus? Quais são as motivações
que me levam a viver como “justo”: o amor de Deus ou o meu gosto pessoal?
•
“Todos os publicanos e pecadores” aproximavam-se de Jesus para o escutar (Lc
15, 1). Lucas dá muita importância a esta atitude de escuta, reflexão, entrar
em si mesmo, meditar e guardar a Palavra no próprio coração. Que lugar ocupa a
escuta contemplativa da Palavra de Deus na minha vida diária?
•
Os escribas e os fariseus não se “misturavam” com os pecadores que consideravam
imundos, afastando-se deles. A conduta de Jesus é diferente e escandalosa aos
seus olhos. Ele aprecia tratar com os pecadores e algumas vezes convida-se a si
próprio para ir às suas casas e comer com eles (Lc 19, 1-10). Julgo os outros
ou procuro transmitir sentimentos de misericórdia e perdão, que refletem a
ternura de Deus Pai-Mãe?
•
“Trazei o novilho mais gordo, matai-o e comamos; celebremos uma festa porque
este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi encontrado. E
começaram a festa”. Na imagem do pai que manda fazer um banquete de festa pelo
filho que retornou à vida, reconheçamos Deus Pai que tanto nos amou “até nos
dar o seu Filho, para que todo o que acredita nele não morra mas tenha a vida
eterna” (Jo 3, 16). No “novilho gordo” e imolado, podemos reconhecer Cristo, o
Cordeiro de Deus que sofre como vítima de expiação para resgatar-nos do pecado.
Participo no banquete eucarístico com sentimentos de gratidão pelo amor
infinito de Deus que se nos dá no seu amado Filho, crucificado e ressuscitado?
«Um homem tinha dois filhos…»
Diante das mil imagens que temos
de Deus é bom entendermos como e quem é o Deus em que Jesus acreditou. Mais:
como e quem é o Deus que Jesus nos revelou! Neste contexto da Quaresma, Jesus
conta-nos uma parábola, uma parábola que nos fala de Deus: Deus Pai, Deus Amor,
Deus Perdão, Deus Misericórdia. Aquele que sistematicamente procura os filhos
perdidos para os redimir e salvar. Aquele que espera sempre o regresso. Aquele que
de braços abertos acolhe, com o perdão do seu amor, as nossas misérias e
pecados, as nossas distâncias e infidelidades, o nosso interior pobre e mendigo
de compaixão. Mesmo que não nos identifiquemos com o filho pródigo, também o
filho que fica em casa precisa deste abraço de misericórdia e compreensão… mas,
sinceramente, pródigos, em maior ou menor medida, todos somos… e nenhum de nós
quer faltar ao banquete da sua festa de eternidade!
Naquele tempo, os publicanos e os
pecadores aproximavam-se de Jesus, para O ouvirem. Mas os fariseus e os escribas
murmuravam entre si, dizendo: «Este homem acolhe os pecadores e come com
eles.» Jesus disse-lhes então então a seguinte parábola: «Um homem tinha dois
filhos. O mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me toca.’ E
o pai repartiu os bens pelos filhos.
A atitude de Jesus desperta entre
os fariseus e escribas que se consideram justos uma crítica mordaz: “acolhe os
pecadores e come com eles”. Esta atitude faz Jesus contar uma parábola
(parábola de três sucessivas em Lc) onde se manifesta a alegria que causa o
encontro daquilo que se perdeu. Aqui começa a “parábola dos dois filhos” ou
como muitos intitulam, “a parábola do filho pródigo” ou, melhor ainda, a
parábola do “pai misericoridioso”.
Publicanos e pecadores. Gente do
povo. Todos escutavam a Jesus. A todos Jesus anunciava a misericórdia e o
perdão de um Deus que se aproxima quem está disponível para o escutar, sem
pudor, disposto a perdoar e a acolher quem anda mais distante. E a parábola que
conta, insera-a no contexto de uma família, onde um pai, com dois filhos, é
confrontado pelo pedido do mais novo de que lhe seja dada a sua parte na
herança. Poderia dizer que não. Poderia prolongar no tempo este desejo. Mas
porque se trata de um desejo de seu filho, reparte pelos filhos os seus bens.
Também nós estamos disponíveis para escutar a Jesus e a sua mensagem? Também
nós nos incomodamos com os elementos de radicalidade e de diferença que o
Senhor Jesus nos pede? Também nós estamos aptos a partir, para o mundo, para a
vida, deixando para trás o lado melhor da nossa herança, o amor de Deus?
Alguns dias depois, o filho mais
novo, juntando todos os seus haveres, partiu para um país distante e por lá
esbanjou quanto possuía, numa vida dissoluta. Tendo gasto tudo, houve uma grande
fome naquela região e ele começou a passar privações. Entrou então ao serviço de
um dos habitantes daquela terra, que o mandou para os seus campos guardar
porcos. Bem desejava ele matar a fome com a lavagem que os porcos comiam,
mas ninguém lhas dava.
O filho mais novo abandona a casa
de seu pai. Na sociedade do tempo, emancipar-se desta forma era um atentado à
autoridade paterna e motivo para uma péssima reputação. Espera-o uma vida de
desorientação, dissoluta, sem referentes. Como consequência, não bastava o mal
psico-anímico, mas este é acompanhado pela fome e a carência de dignidade,
representada na vontade de se alimentar com o mesmo alimento dos porcos
(animais impuros para os judeus).
Penúria extrema. Abandono de si.
Distância. Ausência de Deus. Nada disto queremos para nós, nem para ninguém. O
de profundis de si em que cai o filho mais novo é uma chamada de atenção para
nós hoje, que em tantas situações e tão facilmente pomos a Deus de lado. A sua
palavra, a sua voz, o seu afeto, confrontam-se com a nossa falta de fé. Porque
é mais fácil perambular pelo mundo do nosso egoísmo, das nossas inseguras
seguranças, do nosso pecado. “Bem desejava…” Bem desejamos um outro mundo de
ser e de certeza. Um mundo onde Deus seja plenitude, ternura, misericórdia. Num
tempo em que também para nós é tão urgente voltar “à casa do Pai”…
Então, caindo em si, disse:
‘Quantos trabalhadores de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de
fome! Vou-me embora, vou ter com meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e
contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho, mas trata-me como um dos teus
trabalhadores.’ Pôs-se a caminho e foi ter com o pai.
A memória das coisas na casa do
pai desperta-o. Toma consciência da sua situação e decide-se a regressar.
Descobrindo a sua miséria, o filho parte “para ir ter com o pai”, ensaiando a
forma de com ele falar. É uma passagem da morte à vida. A partir do momento que
diz dentro de si “pequei” já é uma pessoa nova. Resta-lhe partir. Regressar ao
abraço do Pai.
Pára! Basta! Nos ciclos de
existência que percorrem a nossa vida é também agora um tempo de parar.
Encontrar rotas de encontro. Procurar a resposta da fé. Caminhar para Deus.
Superar o pecado. Converter-se em vida nova. Rupturas necessárias para que o
amor de novo aconteça. Na harmonia do ser. Na vitória da ternura de Deus em
nós. Apesar do limite, do pecado, da nossa morte, do nosso “homem velho”, é
preciso deixar vencer o “homem novo” que é Cristo. E pôr-se a caminho no regresso
ao abraço do Pai.
Palavra
Ainda ele estava longe, quando o
pai o viu: encheu-se de compaixão e correu a lançar-se-lhe ao pescoço,
cobrindo-o de beijos. Disse-lhe o filho: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti.
Já não mereço ser chamado teu filho.’ Mas o pai disse aos servos: ‘Trazei
depressa a melhor túnica e vesti-lha. Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos
pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o. Comamos e festejemos,porque este meu
filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado.’ E
começou a festa.
A reação do pai supera todas as
expectativas. Quando o filho ainda está longe o pai adianta-se. É o pai quem
agora toma a iniciativa, profundamente comovido, feliz pelo regresso do filho.
Com a túnica, o anel, as sandálias, o vitelo gordo reconhece-o como filho. Já
não importa o desprestígio da acção do filho mais novo. Sem recriminação ou
reprimenda, é tempo de fazer a festa, porque o perdão conduz sempre à alegria.
Quem estava perdido, reencontrou-se.
O centro da parábola está no
encontro entre o filho mais novo e o pai que aguarda o regresso. O pai corre
movido pela emoção. Nunca o filho lhe tinha saído do coração… Poucas vezes o
amor compassivo de Deus foi expresso de forma tão comevedora como nesta
parábola. Um amor incondicional. O pecado e o perdão abraçam-se, o divino e o
humano tornam-se um. Reconhecendo-se pecador por abandonar a sua casa,
esquece-se que pior abandono foi não querer ser filho, recusar-se a ser filho.
Mas Deus ama dilectamente os menos amados, a cada um de nós. Que resposta tens
para lhe dar? É tempo de deixares que Deus seja teu abraço…
Ora o filho mais velho estava no
campo. Quando regressou, ao aproximar-se de casa ouviu a música e as
danças. Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo. Disse-lhe ele: ‘O
teu irmão voltou e teu pai mandou matar o vitelo gordo, porque chegou são e
salvo.’ Ele ficou ressentido e não queria entrar. Então o pai veio cá fora
instar com ele.
Faltava ainda a voz do filho mais
velho. O filho que não saiu de casa, mas que vive, apesar disso, também ele
afastado do pai. Na dureza do seu coração, na incapacidade de perdoar e acolher
o seu irmão descobrimos as vozes dos fariseus e mestres da lei (jamais
desobedeceram a uma ordem de Deus, mas nunca experimentaram o perdão do Pai).
Não compreende a alegria e a festa da reconciliação.
O regresso do filho não é alegria
para todos. Causa estranheza esta forma de atuar do filho mais velho. Distante
também ele, perde-se na exterioridade da situação, perde o profundo sentido de
tudo o que o Pai oferece. Onde está a comunhão? Onde está a unidade? Onde está
a identificação com a vontade do Pai? Assim acontece também conosco:
convencidos do melhor caminhar, perdemo-nos na superficialidade dos gestos sem
sentido, das palavras amargas, dos sentimentos perdidos. Ressentidos, perdemos
o mais importante e o fundamental. O dom do amor de Deus sem limite.
Mas ele respondeu ao pai: ‘Há
tantos anos que eu te sirvo, sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me
deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos. E agora, quando
chegou esse teu filho, que consumiu os teus bens com mulheres de má vida,
mataste-lhe o vitelo gordo.’ Disse-lhe o pai: ‘Filho, tu estás
sempre comigo e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e
alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido
e foi reencontrado.’»
Diante da comovente misericórdia
do pai, contrapõe-se a severidade do filho mais velho que não aceita o seu
irmão como tal: “esse teu filho”. É a mesma atitude dos escribas e fariseus que
murmuram “este recebe os pecadores e come com eles”. E num ambiente de festa,
porque se encontrou quem andava perdido, porque voltou à vida quem estava
morto.
Bem pouco tinha ainda percebido o
filho mais velho. “Tudo o que é meu, é teu” – diz-lhe o Pai. A maior riqueza, a
que nunca há que perder e sempre há que procurar é esta do coração
misericordioso do Pai, que eleva a nossa vida até à máxima dignidade e sentido.
Fazendo festa com os pecadores porque os quer recuperar pelo seu amor. Nesta
Quaresma, Jesus volta a repetir-nos este desejo do Pai: entregar-nos a sua
riqueza, que é a nossa herança. Como o filho mais novo, aprenderemos a
recebê-la; como o filho mais velho aprenderemos a partilhá-la. Para que a
alegria do Pai seja a nossa festa. E a Páscoa que se aproxima, na entrega de
Jesus seja a realização desta festa.
Leia, abaixo a carta de Santo Afonso Maria de Ligório sobre o Conclave.
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