SÉTIMO DIA - ORAÇÃO PESSOAL
Toda a oração é
«pessoal»; por ser um ato ou uma atividade tipicamente humana, realizada pela
pessoa do orante; e por colocar o orante em comunhão/comunicação com a Pessoa
divina. É impossível, por isso, uma oração mecânica ou despersonalizada,
realizada por técnicas ou mecanismos alheios à pessoa. Na oração, a pessoa é
insubstituível, tanto nas formas humildes (ritos, devoções...), como nas
profundas manifestações da oração mística.
Se aqui falamos
de oração pessoal é para a distinguirmos, por razões práticas, da oração
comunitária e litúrgica.
1. O ACONTECIMENTO EVANGÉLICO
No Evangelho não
se trata de um episódio esporádico mas de um fato reiterado e constante,
concretizado num encontro ou diálogo a sós de um homem ou de uma mulher com Jesus,
para implorar o misterioso poder divino que reside na pessoa do Senhor. Por
exemplo: «Senhor, se quiseres podes curar-me» (súplica do leproso). «Jesus,
Filho de David, tem piedade de mim» (grito de cego). «Senhor, dá-me dessa água»
(mulher da Samaria). «Senhor, se estivesses aqui, Lázaro não teria morrido»
(lamento de Marta). Ou o gesto secreto e os desejos da hemorroíssa; ou o caso
mais exemplar de todos, o da Mãe de Jesus em Caná: «Não têm vinho!».
Em qualquer destes
casos, uma mulher ou um homem, separa-se de certo modo do grupo que rodeia
Jesus, para lhe dirigir uma suplica «a sós». Casos similares abundam no Antigo
Testamento, dirigindo-se a Javé: Moisés no Monte, Elias no deserto, Judite,
Ester... São simples paradigmas da oração pessoal cristã.
2. O QUE É: EM QUE CONSISTE A ORAÇÃO PESSOAL?
É, acima de tudo,
a expressão própria e inconfundível do cristão enquanto filho singular e
inconfundível de Deus, dotado de voz e sentimentos próprios quando se abre ao
diálogo com Deus Pai, o mesmo que tem voz e modulações próprias e
inconfundíveis quando se coloca em diálogo com os homens, seus irmãos. Segundo
S. Paulo, «nas entranhas de cada renascido se derramou o Espírito, para que
digamos Abbá, Pai (Rom 5,5).
Não é uma oração
sem dimensão eclesial, desligada da comunidade. A oração pessoal do cristão
acontece na Igreja – corpo místico de Cristo -, ou melhor, na comunidade
materialmente reunida, mas sem assumir forma comunitária. Responde à dupla
condição privilegiada do «renascido em Cristo»: ser membro do corpo místico de
Jesus e não poder orar fora Dele; mas ao mesmo tempo ser pessoa, filho do Pai,
responsável insubstituível perante Deus.
A nossa oração
acontece a partir de dois impulsos fundamentais: atua desde o profundo sentido
de transcendência e indigência que domina o mais profundo do espírito criado
(«criastes-nos, para vós, Senhor...»), e simultaneamente atua o sacerdócio
universal do cristão; a oração é o seu ato sacerdotal por excelência, em união
com Cristo, único e sumo sacerdote.
3. COMO É: CARACTERÍSTICAS DA ORAÇÃO PESSOAL
É livre. Não
condicionada por ritos, formulas, gestos ou ambientes preestabelecidos. Aberta
à criatividade ou às opções de cada orante. Sob a ação do Espírito.
Está fortemente
identificada com o orante. Possui as características psicológicas do orante, e
é reflexo da sua pessoa, da sua história de salvação, da conjuntura presente,
assim como da sua sensibilidade fraterna, humanitária, eclesial...
Constitui indício
da vida espiritual do orante, do seu crescimento em Cristo, assim como também
do seu crescimento e experiência humana: é diferente a oração pessoal da
criança e a do adulto; diferentes a oração do principiante e do contemplativo,
amadurecido pela experiência de Deus.
É sumamente
variada e mutante. Está exposta aos altos e baixos e riscos em que incorre a
pessoa do orante; a sua pobreza ou a sua riqueza interior; a sua maior ou menor
abertura e disponibilidade à ação do Espírito.
4. AS SUAS POSSIBILIDADES
Tem espaço e modulações
ilimitadas. Pode florescer em todo o tempo e lugar; pode expressar-se
simultânea ou sucessivamente em todas as tonalidades da oração cristã, e
assumir algum dos seus típicos conteúdos: louvor, súplica, ação de graças,
expiação, oferecimento, intercessão...; realiza a dupla advertência evangélica
de «orar sempre», e não necessariamente «no templo ou no monte, mas em espírito
e verdade». É possível no trabalho e na rua, de acordo com as duas formulas
clássicas: o «orat et labora», e a prática da «presença de Deus».
É susceptível de
um desenvolvimento ilimitado, desde as formas mais rudimentares (terço,
jaculatórias...) até á imersão na mais perfeita contemplação.
É não só
compatível com as outras formas de oração (de grupo, litúrgica...), mas também
se nutre delas – especialmente da oração litúrgica – e enriquece-as.
5. SEM ELA...
Sem oração pessoal
esvaziam-se de conteúdo todas as outras formas de oração: tanto a litúrgica
como qualquer outra oração comunitária redundariam em puro formalismo
ritualista, carente de sentido religioso. Também a vida do cristão, o seu
trabalho, a sua missão pessoal, ficariam sumamente privados de sentido
religioso ou de autêntica vida cristã, sem o alento da oração pessoal.
Oração: Deus onipotente que, com o fogo do vosso amor
abrasastes, de modo admirável, Santa Teresa, fortalecendo-a para assumir árduas
tarefas em prol do vosso nome, concedei-nos, por sua intercessão, sentir
intimamente a força do vosso amor a fim de sermos levados a trabalhar por vós,
com generosidade. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do
Espírito Santo. Amém.
LEIA, ABAIXO, O TEXTO DA LECTIO DIVINA DA SOLENIDADE DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO APARECIDA
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