SEGUNDO DIA - O QUE É ORAR
1. ORAR É A
CONSEQUÊNCIA LÓGICA DO ACREDITAR
O crente
é-o na medida em que um dia se encontrou com Deus: Abraão, Moisés, Profetas,
Apóstolos, Madalena, Zaqueu, Paulo, Agostinho, Teresa, Carlos Foucauld...
Todo o
encontro pessoal com Deus dar-se-á após uma atitude de abertura por parte do
Homem, numa dinâmica de conhecimento e de necessidade mutua: como na amizade.
Esta
relação de amizade pode ser implícita ou explicita: entre dois esposos que se
amam de verdade, todas as ações estarão imbuídas desse amor de um para com o
outro. Este ser e estar de um para com o outro equivaleria à FÉ. Mas toda a
gente tende a manifestar aquilo que leva dentro de si. Esses mesmos esposos
estarão à espera do momento de poderem dedicar algum tempo para expressarem
diretamente um ao outro o seu amor. Este ato de explicitar o amor, a fé mútua
equivaleria à ORAÇÃO: diálogo amoroso estando simplesmente a contemplar-se um
ao outro.
Por
isso, não podemos dizer que acreditamos e oramos, mas que oramos porque
acreditamos.
2. ORAR É
EXPERIMENTAR DEUS DENTRO DE UMA RELAÇÃO AMOROSA
Se nos
colocássemos a procurar definições do que é oração descobriríamos muitas. Umas
de raiz mais intelectual, que falam em elevar a mente para Deus; outras de raiz
mais popular, falam em pedir a Deus o que mais precisamos...
Longe de
qualquer uma destas definições, Teresa de Jesus diz-nos que «em minha opinião,
oração mental não é mais do que um tratar de amizade, estando muitas vezes a
sós com Quem sabemos que nos ama» (Vida 8,7). Por isso, daqui deduzimos que...
• orar só é possível dois: um Deus que sabemos que
nos procura e um orante que se converte em procurador de Deus;
• na oração, o importante já não será o que (faço,
digo...) mas com Quem estou ou, simplesmente, quero estar;
• é algo que já não consiste em pensar muito mas em
amar muito;
• a oração passa a ser não um tratar de negócios,
mas um encontro amoroso entre pessoas. Assim, só aquilo que colaborar para
incrementar esse trato amistoso entre ambos os interlocutores será válido no
momento de orar.
Esta
relação de amizade será lógico:
• que parta de um saber-se querido e de uma atitude
de atenção para com os interesses do outro;
• que se alimente, como em todas as histórias de
amizade, de encontros repetidos;
• e que encontre o seu melhor «habitat» num clima
de silêncio e solidão.
3.
CONSEQUÊNCIAS PRÁTICAS
• Deus procura-te e bate à tua porta para criar
amizade: abre-a!
• Qualquer encontro e acolhimento requer um
ambiente próprio. Procura o melhor tempo, lugar, etc.
• Orar é dialogar. Acaba com os teus intermináveis
monólogos orantes. Cultiva a capacidade de escuta.
• Aprende a estar diante Dele. Escuta... Deixa-te
interpelar e não tenhas medo de Lhe responder.
4. EXERCÍCIO
PRÁTICO - APRENDER A ORAR
Ø
Começa por saber escutar. O céu tem muito que
comunicar dia e noite.
Ø
Não ores para que Deus realize os teus planos,
mas para que tu interpretes os planos de Deus.
Ø
Mas não esqueças que a força da tua fraqueza é a
oração. Cristo disse: «Pedi e recebereis».
Ø
O pedir tem a sua técnica. Faça-o atento,
humilde, confiado, insistente e unido a Cristo.
Ø
Não sabes o que dizer a Deus? Fala-lhe dos
vossos interesses mútuos. Muitas vezes. E a sós.
Ø
Não convertas a tua oração num monólogo, pois
converterias a Deus em autor dos teus próprios pensamentos.
Ø
Quando ores não sejas nem orgulhoso nem humilde
em demasia. Com Deus os truques não resultam. Sê tu mesmo, tal como és.
Ø
E as distrações involuntárias? Não te preocupes.
O sol bronzeia desde que te ponhas diante dele, assim se passa com Deus.
Ø
Se alguma vez pensas que quando falas a Deus Ele
não te responde... lê a Bíblia.
Ø
Nunca fales de momentos ou espaços de oração mas
antes em VIDA DE ORAÇÃO.
5. PAUTAS
PARA CADA DIA DA SEMANA
1. Jesus chamou-nos amigos: Jo 15, 15
ss. Orai tendo como ponto de partida este texto e questionai-vos: Que entendo
eu por amizade? Tenho falta de amigos? Sinto a sua Falta? Por quê? Sinto
necessidade desse Amigo com letra maiúscula? Como anda a vida de Deus em mim?
Como poderei aumentar em mim a sede de Deus?
2. “Que mais poderia eu fazer pela
minha vinha que não tenha feito?”, disse um dia o Senhor: Is. 5, 1 – 7. Relê
este texto e interpela-te: Sentes-te, não só querido mas verdadeiramente
“mimado” por Deus? Ou acreditas que tudo quanto tens o conseguiste apenas com o
teu imenso esforço? Ou facilmente te lamentas diante d’Ele acerca de tudo o que
os outros tem e tu não? Procura recordar todas as maravilhas que Ele fez por
ti. Deixa que do teu coração brote uma oração de louvor e ação de graças ao teu
Amigo.
3.
“Fala Senhor, que o teu servo escuta”: Sam 3, 10. Lê e medita este texto. Não
esqueças que oramos, não para que Deus realize os “nossos planos”, mas para que
conheçamos e tenhamos força para dar pleno cumprimento aos “planos de Deus”.
Isto exige capacidade de escuta e de diálogo. Tenho esta capacidade ao menos a
nível puramente humano? Ou considero-me sempre do lado certo, do lado da
verdade? Recorda que Deus nos fala através das Escrituras, do Magistério da
Igreja, dos acontecimentos da vida, etc. procura cultivar esta atitude de
escuta.
4. “Muito grande misericórdia faz Ele a
quem dá graça e ânimo para se determinar a procurar este bem com todas as
forças, porque, quando se persevera, não se nega Deus a ninguém. Pouco a pouco
vai habilitando o ânimo para que se saia com esta vitória. Digo ânimo, porque
são tantas as dificuldades que o demônio apresenta a princípio para que não
comecem de fato este caminho... que não se precisa de pouco ânimo para não o
abandonar.” (Teresa de Jesus, V 11, 4). Examina-te: como está a tua vontade
para começar a orar? Que mais é que te anima a fazê-lo? Quais são, em concreto,
as tuas principais dificuldades? Recorda tudo serenamente, revivendo-o diante
do Senhor. Coragem!
5. Propomos dois textos:
· O primeiro é de Lucas 11, 1: “Senhor, ensina-nos
a rezar.”
· O segundo é de Teresa de Jesus: Meu pai era
amigo de ler bons livros... Isto, com o cuidado que minha mãe tinha em
fazer-nos rezar...” (V 1, 1)
Assim
começou o caminho de oração dos discípulos do Senhor e de Santa Teresa. Pára um
momento e, tal como outros escrevem as suas memórias, medita sobre o teu
caminho de oração até ao momento presente. Até onde chegou o teu grau de
intimidade com o Senhor? Já sabes o que é orar; bem, se na oração o importante
é refletir sobre QUEM se relaciona COM QUEM... desfruta de um longo momento
contemplando ambas as partes: quem és tu..., e quem é Ele.
Oração: O
Pai, que pelo Espírito Santo fizestes surgir Santa Teresa, mística doutora,
para recordar à Igreja o caminho da perfeição, dai-nos encontrar constante
alimento em sua doutrina celestial e fazei que sintamos sempre o desejo da
verdadeira santidade. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do
Espírito Santo. Amém.
LEI, ABAIXO, O TEXTO DA LECTIO DIVINA PARA O XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM.
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