“TODOS
NÓS SOMOS CHAMADOS A SER SANTOS”.
Bento XVI
Sede Santos!
O que significa ser santo?
Quem é chamado a ser
santo?
As pessoas geralmente
pensam que a santidade é uma meta reservada a uns poucos escolhidos. São Paulo,
no entanto, fala do grande projeto de Deus e diz: "Nele (Cristo), Deus nos
escolheu, antes da fundação do mundo, para sermos santos e íntegros diante
dele, no amor" (Ef 1,4). E fala de todos nós. No centro do desígnio divino
está Cristo, em quem Deus mostra seu Rosto: o Mistério escondido nos séculos se
revelou na plenitude do Verbo feito carne. E Paulo diz depois: "Pois Deus
quis fazer habitar nele toda a plenitude" (Cl 1,19). Em Cristo, o Deus
vivo se tornou próximo, visível, audível, tangível, de maneira que todos
pudessem receber a plenitude de graça e de verdade (cf. Jo 1,14-16). Portanto,
toda a existência cristã conhece uma única lei suprema, que São Paulo expressa
em uma fórmula que aparece em todos os seus escritos: em Cristo Jesus. A
santidade, a plenitude da vida cristã, não consiste em realizar empresas
extraordinárias, mas na união com Cristo, na vivência dos seus mistérios,
fazendo nossas as suas atitudes, pensamentos, comportamentos.
A medida da santidade é
dada pela altura da santidade que Cristo alcança em nós, daquilo que, com o
poder do Espírito Santo, modelamos da nossa vida segundo a sua. É
configurar-nos segundo Jesus, como diz São Paulo: "Pois aos que ele
conheceu desde sempre, também os predestinou a se configurarem com a imagem de
seu Filho" (Rm 8,29).
E Santo Agostinho exclama:
"Viva será minha vida repleta de ti" (Confissões, 10,28). O Concílio
Vaticano II, na constituição sobre a Igreja, fala com clareza do chamado
universal à santidade, afirmando que ninguém está excluído: "Nos vários
gêneros e ocupações da vida, é sempre a mesma a santidade que é cultivada por
aqueles que são conduzidos pelo Espírito de Deus (...). Seguem a Cristo pobre,
humilde, e levando a cruz, a fim de merecerem ser participantes da sua
glória" (n. 41).
Resta a pergunta: Como
podemos trilhar o caminho da santidade, responder a este chamado? Posso fazer
isso com as minhas forças? A resposta é clara: uma vida santa não é
primariamente o resultado dos nossos esforços, das nossas ações, porque é Deus,
três vezes Santo (cf. Is 6, 3), que nos torna santos, e a ação do Espírito
Santo, que nos anima a partir do nosso inteiro, é a própria vida de Cristo
Ressuscitado, que se comunicou a nós e que nos transforma.
Para dizê-lo novamente,
segundo o Concílio Vaticano II: "Os seguidores de Cristo, chamados por
Deus e justificados no Senhor Jesus, não por merecimento próprio, mas pela
vontade e graça de Deus, são feitos, pelo Batismo da fé, verdadeiramente filhos
e participantes da natureza divina e, por conseguinte, realmente santos. É
necessário, portanto, que, com o auxílio divino, conservem e aperfeiçoem,
vivendo-a, esta santidade que receberam" (ibid., 40).
A santidade, portanto, tem
sua raiz principal da graça batismal, no ser introduzidos no mistério pascal de
Cristo, com o qual Ele nos dá seu Espírito, sua vida de Ressuscitado. São Paulo
destaca a transformação que a graça batismal realiza no homem e chega a cunhar
uma expressão nova, construída com a preposição "com": ‘mortos com',
‘sepultados com', ‘ressuscitados com', ‘vivificados com' Cristo; nosso destino
está indissoluvelmente ligado ao seu. "Pelo batismo fomos sepultados com
ele em sua morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dos mortos pela ação
gloriosa do Pai, assim também nós vivamos uma vida nova" (Rm 6,4).
Mas Deus sempre respeita a
nossa liberdade e pede que aceitemos este dom e vivamos as exigências que ele
comporta; pede que nos deixemos transformar pela ação do Espírito Santo,
conformando a nossa vontade com a vontade de Deus.
Como pode acontecer que a
nossa maneira de pensar e as nossas ações se convertam no pensar e agir com
Cristo e de Cristo? Qual é a alma da santidade? Novamente, o Concílio Vaticano
II nos diz que a santidade não é outra coisa senão a caridade vivida
plenamente. "E nós, que cremos, reconhecemos o amor que Deus tem para conosco.
Deus é amor: quem permanece no amor, permanece em Deus, e Deus permanece
nele" (1 Jo 4,16).
Agora, "o amor de
Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi
dado" (Rm 5,5); por isso, o primeiro dom e o mais necessário é a caridade,
com a qual amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo por amor a Ele.
Para que a caridade, como uma boa semente, cresça na alma e nos frutifique,
todo fiel deve ouvir a Palavra de Deus voluntariamente e, com a ajuda da sua
graça, realizar as obras de sua vontade, participar frequentemente dos
sacramentos, especialmente da Eucaristia e da liturgia sagrada, aproximar-se
constantemente da oração, da abnegação, do serviço ativo aos irmãos e do
exercício de todas as virtudes.
A caridade, de fato, é o
vínculo da perfeição e cumprimento da lei (cf. Cl 3.14; Rm 13, 10); dirige
todos os meios de santificação, dá forma a ela e a conduz ao seu fim.
Talvez também essa
linguagem do Concílio Vaticano II seja um pouco solene para nós, talvez
devêssemos dizer as coisas de uma maneira ainda mais simples. O que é o mais
essencial? Essencial é não deixar jamais um domingo sem um encontro com Cristo
Ressuscitado na Eucaristia; isso não é um fardo, mas a luz para toda a semana.
Não começar nem terminar jamais um dia sem pelo menos um breve contato com
Deus. E, no caminho da nossa vida, seguir os "sinais do caminho" que
Deus nos comunicou no Decálogo lido com Cristo, que é simplesmente a definição
da caridade em determinadas situações. Penso que esta é a verdadeira simplicidade
e grandeza da vida de santidade: o encontro com o Ressuscitado no domingo; o
contato com Deus no começo e no final do dia; seguir, nas decisões, os
"sinais do caminho" que Deus nos comunicou, que são apenas formas da
caridade. Daí que a caridade para com Deus e para com o próximo sejam o sinal
distintivo de um verdadeiro discípulo de Cristo. (‘Lumen gentium', 42). Esta é
a verdadeira simplicidade, grandeza e profundidade da vida cristã, do ser
santos.
Eis a razão pela qual
Santo Agostinho, comentando o quarto capítulo da 1ª Carta de São João, pode
afirmar algo surpreendente: "Dilige et fac quod vis", "ama e
faze o que quiseres". E continua: "Se calares, calarás com amor; se
gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares,
perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o
amor serão os teus frutos" (7,8: PL 35).
Quem se deixa conduzir
pelo amor, quem vive a caridade plenamente é guiado por Deus, porque Deus é
amor. Esta palavra significa algo grande: "Dilige et fac quod vis",
"Ama e faze o que quiseres".
Talvez pudéssemos
perguntar: Podemos nós, com as nossas limitações, nossas fraquezas, chegar tão
alto? A Igreja, durante o ano litúrgico, convida-nos a recordar uma fila de
santos que viveram plenamente a caridade, que souberam amar e seguir a Cristo
em suas vidas diárias. Eles nos dizem que percorrer esse caminho é possível
para todos. Em todas as épocas da história da Igreja, em todas as latitudes da
geografia no mundo, os santos pertencem a todas as idades e condições de vida,
são rostos verdadeiros de todos os povos, línguas e nações. E eles são muito
diferentes uns dos outros. Na verdade, devo dizer que, também segundo a minha
fé pessoal, muitos santos, nem todos, são verdadeiras estrelas no firmamento da
história. E eu gostaria de acrescentar que, para mim, não só os grandes santos
que eu amo e conheço bem são "sinais no caminho", mas também os
santos simples, ou seja, as pessoas boas que vejo na minha vida, que nunca
serão canonizadas. São pessoas normais, por assim dizer, sem um heroísmo
visível, mas, na sua bondade de cada dia, vejo a verdade da fé. Essa bondade,
que amadureceram na fé da Igreja, é a apologia segura do cristianismo e o sinal
de onde está a verdade.
Na comunhão com os santos
canonizados e não canonizados, que a Igreja vive em Cristo em todos os seus
membros, podemos desfrutar da sua presença e da sua companhia, e cultivamos a
firme esperança de poder imitar o seu caminho e compartilhar, um dia, a mesma
vida beata, a vida eterna.
"És nosso Bom
Pastor"
Caros amigos, quão grande,
bela e também simples é a vocação cristã vista a partir desta luz! Todos nós
somos chamados à santidade: é a própria medida da vida cristã. Novamente, São
Paulo expressa isso com grande intensidade, quando escreve: "No entanto, a
cada um de nós foi dada a graça conforme a medida do dom de Cristo. (...) A
alguns ele concedeu serem apóstolos; a outros, profetas; a outros,
evangelistas; a outros, pastores e mestres. Assim, ele capacitou os santos para
a obra do ministério, para a edificação do Corpo de Cristo, até chegarmos,
todos juntos, à unidade na fé e no conhecimento do Filho de Deus, ao estado de
adultos, à estatura do Cristo em sua plenitude" (Ef 4,7.11-13).
Eu gostaria de convidar
todos vós a abrir-vos à ação do Espírito Santo, que transforma as nossas vidas,
para ser, também nós, como peças do grande mosaico de santidade que Deus vai
criando na história, de modo que o rosto de Cristo brilhe na plenitude do seu
fulgor. Não tenhamos medo de dirigir o olhar para o alto, em direção às alturas
de Deus; não tenhamos medo de que Deus nos peça muito, mas deixemo-nos guiar,
em todas as atividades da vida diária, pela sua Palavra, ainda que nos sintamos
pobres, inadequados, pecadores: será Ele quem nos transformará segundo o seu
amor.
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