SANTA
MARIA MAGDALENA DE PAZZI,
virgem
de nossa Ordem
FESTA
Tudo
do Comum das Virgens , exceto
Antífona
do Cântico Evangélico de Laudes:
- O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo
que nos foi concedido. Aleluia.
Oração:
Ó Deus, que amais a virgindade e cumulastes de graças santa Maria
Madalena de Pazzi, abraçada de amor por vós, fazei que, celebrando hoje sua
festa, imitemos seus exemplos de caridade e pureza. Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Antífona
do Cântico Evangélico das Vésperas:
- Conuzir-te-ei ao deserto e falar-te-ei ao coração. Desposar-te-ei para sempre na misericórdia e
no amor, e conhecerás o Senhor. Aleluia.
P. Alberto Yubero Perdices, O.Carm.
I. DATOS HISTÓRICOS
Nasce em Florença aos dois de abril de 1566. É
curioso notar que no dia seguinte, teria lugar o providencial encontro, em
Medina del Campo, entre Teresa de Jesus e João da Cruz.
A monja Maria Pacífica Tovaglia, escrevendo sobre
ela em 1598 dirá que a infância de Catarina repetete os relatos com os quais as
biografias religiosas descrevem comumente esta idade da vida dos santos, tais
como: a seriedade, a prudência, inclinação à solidão e ausência de atos o
gestos pueris.
Magdalena teria em comum com sua mãe os gostos
pela vida espiritual. Mas a mãe, mesmo vendo que sua filha era muito dada às
abstinências e vigílias, não favorecia, em absoluto, a tendência que via nela
para a vida religiosa.
Seu pai, em razão de seu cargo [foi nomeado de comissário
em Cortona] teve que mudar-se de Florença, mas antes recomenda os cuidados da filha
pequena ao mosteiro de São João dos Cavaleiros da Ordem de Malta. Ali se observava
estritamente a obediência e a pobreza, e uma característica importante era a prática
assídua da Eucaristia, por influência dos Jesuítas.
Embora Catarina fosse convidada a permanecer
neste mosteiro, seu diretor espiritual [o jesuíta Pe. Blanca] lhe sugeriu que
ingressasse em outro mosteiro mais observante, como era o convento carmelita de
Santa Maria dos Anjos.
Estas eram as características deste mosteiro:
leitura devota, exame de consciência, comunhão freqüente, ofício em coro e
meditação em comum.
Assim, aos dezesseis anos, foi viver na
hospederia do mosteiro, para conhecer mais de perto o estilo de vida das
Carmelitas. O fato das monjas tinham o privilégio de comungar diariamente seria
o que lhe moveria, de maneira especial, a ingressar no Carmelo, no início do
Advento de 1582. Em 8 de dezembro desse mesmo ano, foi aceita pelas monjas na
comunidade. Mais adiante exclamaria: “não há tempo mais favorável para inflamar-se
no amor que o que se segue à comunhão”.
Na ocasião da tomada de hábito, 30 de janeiro de
1583, mudaria o nome para o de Maria Magdalena. O ano de noviciado havia de
concluir-se, portanto, nos fins de janeiro de 1584. Como no mosteiro acostumavam
fazer as profissões por grupos, ela pediu que lhe deixassem professar com o
grupo que havia começado um pouco antes dela. Como ela não tinha ainda um ano
de noviciado, não lhe permitiram. Porém não se veria obrigada a esperar o grupo
seguinte já que, no início de março, caiu gravemente doente e a priora e o
confessor decidiram que faria a profissão, uma vez que pensavam que não ia sair
desta enfermidade.
A partir do dia da profissão começaram os êxtases
de uma maneira mais ou menos continuada a tal ponto que a chamariam “a Santa
dos Êxtases”. Em alguns destes êxtases, entre soluços e lágrimas exclamava: “Oh
Amor! Não és conhecido nem amado! Quão ofendido estás!”. Nota-se, em
seus escritos, a influencia de São Paulo, pois nos diz no livro “Quarenta dias”:
“Não
sabia se estava morta ou viva, se no corpo ou em alma, se na terra ou no céu.
Só via a Deus, todo glorioso, amar a si mesmo, ser Trindade indivisa na Unidade...”
Os êxtases começariam cada dia, após receber a
comunhão. Seu rosto se iluminava e só podia exclamar: “Oh meu Jesus! Dá-me uma voz
potente que seja ouvida no mundo inteiro. O pérfido amor próprio nos impede
conhecer-te, Senhor. Amor faz com que tuas criaturas não amem outra coisa além
de Ti!”.
Normalmente as visões duravam até o meio da
tarde. Depois lhe voltava o mal-estar e a febre. Em um de seus delírios místicos
manifestou o valor purificador do sofrimento: “Entendi que todas as almas que
padecem neste mundo e deixam fluir o Sangue de Jesus sobre elas, ficam, ante sua
Divina Majestade, puras e belas. Se uma alma pudesse compreender a grandeza do
amor que Deus demonstra ao permitir o sofrimento, permaneceria em inefável doçura”.
Daí seu lema: “PATI, NON MORI” - padecer, não morrer.
Sofreria ao longo de sua vida, fortes tentações,
quando ela estava no que chamava “a cova dos leões”. Todas estas graças, porém,
lhe traziam pesares, torturas, lutas, assaltos do diabo, cansaço e fastio: “Deus
não existe, os santos não se lembram de ti, és louca se buscas a Jesus na
Eucaristia”. Porém ela conhecia o texto da carta aos Hebreus: “Jesus, Pontífice
misericordioso, tendo sido tentado, pode ajudar os que são tentados” [Heb 2,
17-18].
Também lhe ajudaria o texto de seu “padre” Santo
Agostinho: “Cristo sacerdote ora por nós e em nós”.
Longo foi o tempo da prova. Como lhe havia
anunciado o Verbo se viu privada durante cinco anos “do sentimento e gosto da
graça”.
Apesar de sua juventude, ela teve que ocupar
cargos de responsabilidade com as noviças. Como mestra ensinava às “plantas noveles”, como costumava
chamá-las, os caminhos para chegar à união com Deus, tendo em conta, o que lhe
dizia o Senhor: “Muitas almas querem meu Amor, mas o querem conforme lhes agrada e, portanto,
se tornam incapazes de consegui-lo”.
Vem a ser o mesmo que dizia São Bernardo: “Vês
uma pessoa perturbada? A causa é que nesse momento não pode fazer o que lhe
apetece a sua vontade”. Para não cair nisto Magdalena diz que “devemos
endereçar nossas súplicas a pedir a Deus luz e força para fazer sua vontade”.
Assim transmite às suas noviças a mensagem sobre a
humildade: “A humildade é alegrar-se no próprio desprezo”; “Humildade é a contínua
persuasão de não ser nada e o contínuo alegrar-se em ser desprezado”.
Costumava dizer que “no inferno pode haver apóstolos ou virgens, porém não poderá haver
nunca almas humildes”.
Tinha também um claro conceito da obediência.
Dizia: “prefiro obedecer a fazer oração, pois obedecendo estou segura de fazer
a vontade de Deus. Mas não estou tão segura se me meto em outro exercício”.
E chegava ao extremo de afirmar que “a perfeita obediência pede uma alma sem
juízo”. Pouco amor mostrariam a
Deus as noviças se não fossem capazes de renunciar a si mesmas por amor,
estimando muito mais as obras feitas por obediência e amor, ainda que fossem
baixas e humildes em si mesmas, do que outras de grande perfeição.
II. SITUAÇÃO DA IGREJA
Para compreender o conteúdo das “Cartas da
Renovação” e o espírito que as anima, é preciso situar-se no contexto eclesial
do século XVI.
Quando nasce Magdalena em 1566, a reforma do
Concílio de Trento apenas havia começado. Era o pontificado de Pio V que passou
para a história tanto por sua santidade, como por seus dotes especiais de
governo num momento crítico em todas as frentes.
A França está vivendo suas guerras de religião,
com o triste massacre dos huguenotes na tristemente famosa “noite de São
Bartolomeu”. Na Inglaterra os conflitos religiosos culminam com a solene
excomunhão da Rainha Isabel, por Pio V, o último passo para a ruptura
definitiva com Roma.
O Império Otomano ameaça cada vez mais a Europa
cristã. Carlos V, na Paz de Augsburgo, se vê obrigado a fazer concessões aos
protestantes para assegurar sua ajuda contra os muçulmanos que dominam os Bálcãs
e o Mediterrâneo.
Tem lugar também neste tempo a famosa batalha de
Lepanto com o triunfo sobre os turcos. E isto como se diz, sucedeu graças à
intercessão da Virgem e aos méritos de um pontífice santo: um homem que parece
querer esquecer as implicações políticas para deixar seu nome unido à reforma
litúrgica e ao novo catecismo do Concílio de Trento: o Catecismo de São Pio V
[1566].
Depois de Pio V, veio Gregório XIII, que seguiu a
linha de seu predecessor, com a colaboração de São Carlos Borromeu.
Porém, o Papa sob quem Magdalena vive a plenitude
de sua vida espiritual é Xisto V. Ela o vê durante um êxtase, poucos dias
depois de ser eleito, e mostra ter confiança em seu zelo: “Levava na mão uma grande cruz.
Andando, indicava com ela o caminho, pelo qual as pessoas para poderiam caminhar
com segurança”.
III. A IGREJA FLORENTINA DO SÉCULO XVI
Vamos a dar uma olhadela na Igreja florentina,
que Maria Magdalena encontrou ao vir ao mundo e na qual viveu, dentro dos muros
de seu mosteiro.
No século XV havia-se concluído com a condenação
à fogueira [23 de maio de 1498] de Jerônimo Savonarola, uma personagem marcada
para sempre pelo difícil equilíbrio entre valores humanos e valores da fé.
Porém, a força de seu espírito seguiu influenciando lugares e pessoas do século
XVI florentino.
Entre estas é emblemática a venerável Domingas do
Paradiso (1473-1553), uma mística muito próxima, à linguagem, de Magdalena. É
uma espécie de monja laica, dividida entre impulsos místicos de vida eremítica
e dotes concretos de líder que a levam a construir a seu redor um cenáculo,
centro de vida espiritual e política, radicada na realidade em que vive. Funda
também o mosteiro de “la Crocetta”, para onde Maria Magdalena se havia dirigido
antes de escolher definitivamente o de Santa Maria dos Anjos.
Domingas é uma mulher inquieta que anda sempre
“em busca de não fáceis equilíbrios entre ação e contemplação, renovação da
Igreja e reforma interior, o amor do mundo e sua relativização, importância da
razão e proeminência do amor”.
As ânsias de reforma correm o risco de levar a
sentir saudades de Savonarola, e a aplaudir Lutero. Porém a vigilância contra a
heterodoxia é férrea. Sabe-se que em janeiro de 1552 “foram encarceradas em Florença
muitas pessoas acusadas de heresia luterana”. Fez-se um auto de fé contra vinte
e duas pessoas, que foram obrigas a atravessar a cidade vestidas com capas
pintadas com cruzes e figuras demoníacas.
Chegadas a Santa Maria dei Fiore, tiveram que
benzer-se publicamente após o ato de contrição. Ao mesmo tempo, na praça se queimavam
os escritos heréticos que pertenciam a elas.
São cenas que parecem servir de fundo às imagens
e à linguajem de Maria Magdalena quando, durante os êxtases, falava dos hereges
que tanto sofrimento causam à “esposa Igreja”.
IV. UMA VIDA RELIGIOSA EM DECADÊNCIA
Em Florença havia, em 1552, diversos mosteiros,
15 masculinos e 45 femininos com 2.786 monjas, para uma população de 60.000
habitantes.
Impunha-se uma reforma porque “hábitos
de vida fácil haviam apagado a vitalidade do carisma original”.
A situação é grave quando se trata de mosteiros
femininos que não estão unidos a nenhuma congregação ou Ordem religiosa: a
indisciplina, a interferência de famílias senhoriais, a entrada forçada na vida
religiosa, a inobservância da clausura e do retiro por causa da permanência no
convento de mulheres nobres com seu séquito, tornam irreconhecíveis estes
mosteiros, enquanto a má fama que os rodeia induz em muitos casos a intervenção
judicial das autoridades civis e eclesiásticas.
Denunciava-se, naquela época que com o pretexto
de visitá-las para celebrar os ofícios divinos, não poucos sacerdotes e frades
vão fazer banquetes e consumir o pouco que têm os mosteiros, passando o resto
do dia em vãs conversas nos locutórios. Nas
celas de alguns frades da Santa Cruz, os enviados do vigário arquiespicopal
relataram terem encontrado “certos sonetos mui lascivos”.
Diante deste panorama Irmã Maria Magdalena podia
sentir-se bastante satisfeita de seu mosteiro de Santa Maria dos Anjos. A
documentação histórica dá fé que ali a vida era sóbria e exemplar. E, sobretudo
havia um sincero desejo de melhorar, sem o qual toda a vida cristã desmorona.
Maria Magdalena é consciente de que o impulso
interior que agora a impele para uma ação externa nasceu nela da contemplação do
“conselho [desígnio] de salvação” escondido durante séculos e revelado em
Cristo, como diz São Paulo. E agora sente que Deus quer servir-se dela para que,
aquilo ela recebeu do seu Senhor, seja expresso no “exterior”.
“Chegou o tempo determinado e predestinado ‘ab
aeterno’ na mente de Deus, desejado por seus servos passados e presentes: o
tempo de renovar sua esposa Igreja”.
“Impelida e obrigada pela doce Verdade” é Deus quem a sustenta no anúncio do desígnio de
renovação que outras pessoas esperaram no passado. Talvez, aqui, Maria
Magdalena ouça algum eco da renovação pregada por Savonarola. Porém agora é o de
Catarina de Siena, de quem toma forma e modos, para a obra que vai começar.
Agora toca a ela dar a conhecer a renovação
universal querida por Deus: “Não anuncia nem busca a doce Verdade que se
realize tal renovação em uma só cidade ou em um castelo, mas em todo o
universo”.
É uma obra que exige especial dedicação por parte
daqueles aos quais Maria Magdalena dirige suas cartas: o Papa, os cardeais da
Cúria, o Arcebispo Alexandre de Médicis, o reitor dos jesuítas, o guardião dos
Mínimos de São Francisco de Paola, as monjas Verônica de Cortona e Catarina de Ricci.
Não se trata de um vago projeto, mas de uma
verdadeira reforma. Maria Magdalena tinha consciência de que devia realizar uma
obra concreta, levada a cabo através de sua intervenção e, esta, não puramente
mística. Sente como um “peso”, uma força que interiormente a impulsiona: o
“doce querer” de Deus.
Porém a renovação pretendida por ela ainda não se
realizou totalmente. Assim, o grito de Magdalena chega até nossos dias, até nós.
V. RENOVAÇÃO DA IGREJA
Maria Magdalena de Pazzi era uma grande admiradora
de Santa Catarina de Siena e tinha em comum com ela, entre outras coisas, o
zelo pela reforma da Igreja.
Quem ia pensar que Deus encomendaria uma missão
tão importante a uma monja contemplativa? Pareceria-nos normal que um Concílio
ou um Papa levasse adiante tal missão, mas não uma monja de clausura, sem
contato algum com a sociedade.
O pensamento de levar adiante essa tarefa de conscientizar
a Hierarquia da necessidade de reformar a Igreja era algo que lhe oprimia, até
o ponto de desejar morrer mil vezes a enviar sua mensagem às altas Hierarquias.
Em algum momento também lhe passou pela cabeça que seria obra do demônio. Daí consultar-se
com autoridades competentes que lhe assegurariam o caráter sobrenatural desta
missão. Ela consultaria tanto os dominicanos como os jesuítas e todos lhe
afirmariam o mesmo: que as revelações não eram produto de uma mente enferma. Só
então se entregou a ela superando a natureza, as forças e a vontade.
Para a obra da renovação da Igreja, Deus escolhe uma
monja sem formação e que permanecerá fechada entre os muros do mosteiro.
Na introdução às doze cartas que escreveu, Maria
Madalena diz que “este livro foi escrito por revelação do Senhor, sobre a obra da
renovação da Igreja”. Com esta finalidade escreveu algumas cartas em
êxtase ao sumo Pontífice e a outros prelados e servos de Deus.
Em todas as cartas vibra sua paixão pela Igreja e
são dirigidas a pessoas que estão em pontos chave e devem pôr em marcha sua
obra de renovação.
CARTA A XISTO V.
Lamenta, com humildade o fato de ser ela a chamada a impulsar a reforma da
Igreja, pois vê que esta tarefa seria mais bem realizada pela Hierarquia e pelos
que a representam. Os religiosos e sacerdotes hão de ser meros colaboradores.
Por isso não exorta a estes, em primeiro lugar, a renovar a Igreja, mas a renovarem-se
a si mesmos para que possam ser dignos colaboradores do Papa e dos Bispos.
Cinco são as características dos que se pusessem a trabalhar na restauração da
Igreja: pobreza, caridade, pureza, paciência e perseverança. A renovação da
Igreja será precedida da renovação de cada um, começando pelo Papa.
Apesar de o Papa ter um bom programa de renovação
nem sempre foi capaz de colocá-lo em prática, sobretudo no que se referia à
atenuação das penas que se impunham, ou ao combate às riquezas, o nepotismo e o
deixar-se aconselhar pelos outros. Por isso, a renovação da Igreja não passou,
em muitos aspectos, de um simples desejo. E termina a carta ao Papa: “Vos
peço perdão por tudo o que possa ir além da inspiração e da vontade de Deus;
se, além do mais, parecer que não se trata da vontade de Deus, peço penitência
por isso... Como serva inútil vos peço vossa santa bênção”.
CARTA AOS CARDEAIS DA CÚRIA. Uma semana depois de escrever ao Papa envia outra
carta aos Cardeais da Cúria. Utiliza uma linguagem bastante diplomática para
ver se, assim, consegue chegar mais a eles e convencê-los. Uma vez que os
chamou “ministros e membros principais da Igreja”, talvez para satisfazer sua
vaidade, pede-lhes que sejam obedientes ao Papa e que se despojem de toda comodidade
terrena e do respeito humano. A exemplo de Pedro os exorta a buscarem em tudo,
principalmente, a salvação dos homens.
Recorda-lhes que a renovação da Igreja há de
começar, e só será eficiente, se iniciada pela renovação de seus filhos mais
ilustres, além disso, lhes propõe como exemplo “esse que, em nossos dias, deixou um
grande exemplo de santidade, como sabeis melhor que eu, porque que devem ter
falado e conversado com ele: o beatíssimo cardeal Borromeu”.
Pede-lhes que sejam membros sadios porque “devem
saber que, às vezes a cabeça não pode cumprir seu dever porque os membros estão
enfermos”. Anima-os a trabalhar para o maior bem da Igreja e termina oferecendo-lhes
suas orações para que possam cumprir sua nobre missão.
AO CARDEAL DE FLORENÇA. Ao seu
Arcebispo, o Cardeal de Florença chegou a escrever três cartas. Seu costume era
começar pedindo perdão pelo atrevimento de sua parte por dirigir-se aos mandatários
da Igreja ou aos que representavam a autoridade nas Ordens religiosas. No caso
de seu Cardeal, descupa-se por convidá-lo a vir ao mosteiro. Ela quer comunicar-lhe
algumas verdades, que não serão exortações ou conselhos humanos, pois melhor
lhe poderiam dar outros, mas verdades que vêm de Deus. Ele, em um claro
discernimento poderá “esclarecê-la e ver se tal coisa procede de
Deus ou de seu inimigo”. Ela está disposta, a todo o momento, a aceitar
tudo.
Não recebeu resposta alguma a esta carta e ela
insiste enviando-lhe outra na qual lhe roga que, “como amante de Deus e ansioso
zelador da salvação das almas” venha ao mosteiro para esclarecer-lhe a
verdade e que, como se trata de algo muito importante que “não interponha mais tempo”
para “fazer o que Deus quer em sua santa Igreja, dada a vós, em especial
custódia”. Sem “oportunar-lo” nem “provocar-lo” mais se despede pedindo
humildemente sua benção.
Esta carta teria a mesma sorte da anterior. Sem
dar-se por vencida, dispõe-se a enviar-lhe uma terceira. Ela está disposta a “repetir
as muitas notícias já dadas, apesar de não conhecidas por vós... Impele-me o
amor que O levou a permanecer no Santíssimo Sacramento”. Termina a
carta dizendo-lhe que “não repare nem em bens, nem em honra, nem
no corpo, nem na vida, para cumprir a doce vontade de Deus”.
O mais provável é que as cartas não foram lidas
pelo Arcebispo, porque não chegaram às suas mãos. Magdalena, porém teve ocasião
de falar com o cardeal, não como conseqüência de alguma das três cartas, mas
porque ele teve que ir ao mosteiro para presidir a eleição da Priora. Todos os
esforços para evitar o encontro, por parte da comunidade e do confessor, foram
inúteis. Caiu em êxtase desde a manhã e apesar das tentativas de retirá-la da
sala capitular não conseguiram o intento. Nem as religiosas mais fortes puderam
fazer nada. Magdalena teve a oportunidade de falar ao Cardeal, por meia hora,
da reforma dos religiosos. O Cardeal ficou assombrado com o que ela dizia e
comentou ao seu séquito: “Nesta filha, na verdade, falou a Pessoa do
Espírito Santo”.
Como São Felipe Neri, nossa Santa revelou ao
Arcebispo que ocuparia a sede de Pedro, porém que só permaneceria nela uns poucos
dias. Efetivamente a profecia se cumpriu. Ele foi eleito em 1º de abril de 1605
e tomou o nome de Leão XI. No dia 26 do mesmo mês, faleceu.
CARTAS AOS RELIGIOSOS. Santa Maria Magdalena dizia que, renovação
espiritual sem preocupar-se primeiramente em transformar os religiosos, era
começar a construção do teto, esquecendo-se de pôr os alicerces e levantar as
paredes. “São eles que traem, açoitam, crucificam” o Verbo humanado, “rompendo
o voto de obediência... o de pobreza... o de castidade”. Mas há também aqueles
que observam a castidade embora, “com seu orgulho, crucificam” o seu Senhor,
e os que observam os três votos, mas O ofendem “com o amor próprio”.
Magdalena sabia que os religiosos tinham um posto
de primeiro plano na Igreja, pois o povo os seguia com maior docilidade que a seus
próprios pastores. Em Florença haviam tido o exemplo de um religioso
[Savonarola] capaz de arrastar com sua pregação a multidões. Ela era consciente
disto como o era também da repugnância
de muitos religiosos em aceitar as reformas tridentinas, especialmente em
matéria dos votos.
Confiava nos Dominicanos, Jesuítas e Mínimos e
a eles les escreveu também.
CARTA AO PADRE ANGEL, dominicano. Com veementes palavras se dirige a
ele e lhe diz que “chegou o momento de seus servos porem em execução o que Ele quer”
e denuncia a “as esposas desunidas [as religiosas] com todos os demais religiosos
que hoje vivem nos mosteiros de modo tão contrario à vocação para a qual Deus
os chamou, não observando os votos que haviam prometido.” Convida-o a que proceda “com a sabedoria e a prudência
que Deus lhe deu”.
CARTA AO PADRE FABRINI, jesuíta. Exorta a que faça conhecer ao Cardeal “a
situação na qual se acham suas ovelhas, especialmente as consagradas a Deus
mediante os três votos emitidos na profissão, prometidos por muitos e
observados por poucos”. Como se vê insiste una vez mais no cumprimento
dos votos. Ao Padre Blanca, também jesuíta diz claramente que a renovação da
Igreja “há de começar pelos que administram o mesmo Sangue que ministrais vós
e pelas suas desunidas esposas que prometeram os mesmos votos que vós e eu”.
AO PADRE GUARDIÃO DOS MÍNIMOS, faz ver que chegou o tempo da renovação da
Igreja, e, portanto, se deve “ajudar a preparar as criaturas para a
renovação da santa Igreja... agora é
chegado o momento determinado. E se deve começar pelos religiosos e religiosas consagrados a Deus, fazendo que se
observem os votos principais que prometeram em sua profissão... trate de
fazê-los saber e compreender o quanto possível, que os religiosos e religiosas
devem observar seus três votos... e dêem exemplo menos com suas palavras e mais
com o seu exemplo”.
Sendo ela monja de clausura também dirigiu às
contemplativas três cartas: uma a Verônica de Cortona e duas a Catarina
de Ricci. A situação nos mosteiros
de clausura era bastante parecida com aquela vivida nos tempos de Santa Teresa
de Jesus e que a levaria à Reforma do Carmelo. Isso se fazia notar de maneira
especial naqueles mosteiros que não estavam unidos a Ordem alguma.
“A indisciplina, a interferência de famílias
senhoriais, a entrada forçada na vida religiosa, a inobservância da clausura e
do retiro por causa da permanência no convento de mulheres nobres com seu
séquito fazem irreconhecíveis a estes mosteiros”.
Foi isso que disse a Verônica de Cortona: “Ah,
se os religiosos que se afastaram dele [o Verbo] esquecendo os votos prometidos compreendessem isto, observariam a
pobreza, a obediência e as
demais promessas que fizeram. Mas, ao contrário, contradizem a Palavra da Verdade
e fazem ver que é impossível
observar os mandamentos, porque
não conhecem a doçura e a suavidade que
nela se acha. Se chegassem a conhecer quão leve é a carga de Deus, a levariam com uma imensa alegria. A carga que Deus nos dá não é senão a
observância de seus mandamentos, que consistem, todos, em amar”.
A SANTA CATARINA DE RICCI, diz: “não
nos deixemos vencer pelas esposas do mundo, que tratam de assemelhar-se em tudo
a seus esposos e se esforçam por compreender sua vontade. Assim nós temos de
fazer: parecer-nos cada vez mais com nosso esposo, Jesus Cristo crucificado, e
tratar de fazer sua vontade”. Ela vê claramente como também as
monjas de clausura podem fazer apostolado por meio da oração, mediante
seus sacrifícios e com sua imolação dentro do mosteiro, porque “se Deus é comunicativo, também nós
temos de ser comunicativas para comunicar as iluminações que recebemos de Deus,
especialmente as que podem ajudar a levar até Ele as suas criaturas. Temos de
recordar e ter na mente o que disse o enamorado Paulo: “chorai com os que
choram, alegrai-vos com os que estão alegres e tornai-vos fracos com os fracos”
[Rom 12, 15].
VI. CONCLUSÃO
Maria Magdalena de Pazzi se sentiu “estimulada
pelo Espírito Santo, forçada e impelida pelo Verbo humanado” a
trabalhar pela renovação da Igreja. Era consciente de que, para levar a cabo essa
renovação, haveria que começar pela renovação de sua mente e do seu coração. Havia
de esquecer-se da própria comodidade, do orgulho e da superficialidade, para
poder dedicar-se plenamente às coisas espirituais e atender devidamente às
almas. Ela, enclausurada em seu mosteiro, “sofreu em seu corpo martirizado e em sua
alma apaixonada, as dores de Cristo crucificado”. Imolou-se no silêncio
do mosteiro como vítima voluntária e grata a Deus.
Maria Magdalena, embora sendo uma perfeita contemplativa
(que inclusive beijava os muros de seu
mosteiro pela alegria espiritual que eles lhe proporciovavam), sentia também o atrativo
apostólico e missionário em alto grau. Como o amor a Deus é, por sua natureza,
contagiosa, não se pode, disse ela “ser sozinhos” em amar a Jesus, porque “o verdadeiro
amante, não se contenta com ser o único a amar o seu amado, mas deseja dá-lo a conhecer
e amar por todas as criaturas”. Ela mesma estava disposta a deixar o
mosteiro para ir às missões e trabalhar mais diretamente na conversão da
humanidade.
Sendo membros de um pós-concílio como ela foi, sua
doutrina é muito atual. E é atual porque sua mensagem não é outra que esta: a Igreja
há de estar sempre em estado e atitude de renovação. Toda renovação, para que seja
autêntica, há de começar sempre pela conversão individual de todos e da cada um
dos membros do Povo de Deus.
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“Quando lemos a descrição sobre o modo como a Santa
cuidava de das novicias e se relacionava com as outras irmãs do mosteiro, suas
“obras” a presentam como mensageira da “caridade fraterna”.
Era constante e continuo o chamado que faz ao amor
mútuo entre as irmãs. Em uma época como a sua, na qual se insistia em uma orientação
puramente vertical na relação pessoal com Deus, ela abre caminho e afirma que se
há que contemplar a “Deus em as criaturas”. Dar-se ao próximo como prova autêntica
de seu verdadeiro amor a Deus. Daqui suas contínuas chamadas à caridade fraterna:
“Vivamos unidas, façamos profissão de
unidade, conversemos em unidade”.
Durante sua vida, a santa interrompia os momentos
extáticos para fazer obras de caridade. Desta maneira põe em relevo que, sem fraternidade,
de nada serve a experiência cristã. Compreende-se, pois, porque a santa afirme
que “o beijo místico se deve
dar com dois lábios: com o do amor a Deus e com o do próximo, com a contemplação
e com a ação”. Deste modo nos descobre a síntese harmoniosa entre
o amor a Deus e amor ao próximo”. P. Joseph Chalmers, O.Carm., El amor de
Cristo excede a todo conocimiento (Edizioni Carmelitane; Roma 14 de
noviembre de 2006).
PARA A REFLEXÃO, ALGUNS PENSAMENTOS DE STA. MARIA MADALENA DE PAZZI
“Ó Deus Amor, Amor não amado nem conhecido, Amor,
Amor, não me saciarei de chamar-te Amor. O meu coração e meu corpo exultem em
Ti, meu Amor. Ó Amor, dá-me uma voz tal que, chamando Amor, eu seja ouvida do
Oriente ao Ocidente, e em todos os lugares do mundo, a fim de que por todos Tu
sejas conhecido e amado, Amor.
Amor, Amor, Tu és forte e poderoso. Ó Amor, Tu és
Deus e homem. Ó Amor, faze com que todas as criaturas te amem, Amor; mas, meu
amor, apressa-te, pois como és tão pouco amado!
Ó Amor, por que desejaste fazer aquela tua última
Ceia? Ah! Amor, por que querias mostrar o amor que tinhas pela tua criatura!
Ó Amor, Amor, é possível que Tu não tenhas outro
nome além de Amor? Entretanto, és tão pobre de nome, ó Amor! Na verdade, tens
nomes, e quantos, Amor, mas te agrada mais ser chamado com este de Amor, pois
neste Tu mais te deste a conhecer à criatura. Também os santos no céu te chamam
por este nome: Amor; dizem sempre Amor, Amor. Jamais cessam de dizer Sanctus,
Sanctus, e acrescentam, Amor.
Ó Amor, Amor, feliz e bem-aventurada a alma que
tem a ti, Amor, Amor, Amor por tão poucos amado e conhecido.
Quem, Amor, tem amor bastante para louvar-te,
Amor?
Se todas as línguas dos homens juntamente com os
Anjos, e todas as estrelas do céu, a areia do mar, as plantas da terra, as
gotas de água, os pássaros do céu se tornassem línguas para louvar-te, Amor,
não seriam suficientes para louvar-te, Amor.
Amor, Amor, concede-o a todas as criaturas e faz,
Amor, que todas, todas, todas te amem, Amor, te desejem, Amor, procurem somente
a ti, Amor.
Nada mais sei que pedir senão o amor, pois se
tenho o amor tenho tudo, e se não o tenho, tudo me falta. Amor, Amor!”
LEIA, ABAIXO, A MEDITAÇÃO DO 25º DIA DO MÊS DE MARIA E A NOVENA DE PENTECOSTES.
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