LECTIO DIVINA PARA A
VII SEMANA DO TEMPO COMUM
Ir. Mª das Dores Rodrigues, fma
EVANGELHO – Mc
2,1-12
Quando Jesus entrou de novo em Cafarnaum e
se soube que Ele estava em casa, juntaram-se tantas pessoas que já não cabiam
sequer em frente da porta; e Jesus começou a pregar-lhes a palavra.
Trouxeram-Lhe um paralítico, transportado por quatro homens; e, como não podiam
levá-lo até junto d’Ele, devido à multidão, descobriram o teto por cima do
lugar onde Ele Se encontrava e, feita assim uma abertura, desceram a enxerga em
que jazia o paralítico. Ao ver a fé
daquela gente, Jesus disse ao paralítico: «Filho, os teus pecados estão perdoados».
Estavam ali sentados alguns escribas, que assim discorriam em seus corações:
«Porque fala Ele deste modo? Está a blasfemar. Não é só Deus que pode perdoar
os pecados?» Jesus, percebendo o que eles estavam a pensar, perguntou-lhes:
«Porque pensais assim nos vossos corações? Que é mais fácil? Dizer ao
paralítico ‘Os teus pecados estão perdoados’ ou dizer ‘Levanta-te, toma a tua
enxerga e anda’? Pois bem. “Para
saberdes que o Filho do homem tem na terra o poder de perdoar os pecados, ‘Eu
to ordeno – disse Ele ao paralítico – levanta-te, toma a tua enxerga e vai para
casa’». O homem levantou-se, tomou a enxerga e saiu diante de toda a gente, de
modo que todos ficaram maravilhados e glorificavam a Deus, dizendo: «Nunca
vimos coisa assim».
SEGUNDA-FEIRA
Palavra - Quando Jesus entrou de novo em Cafarnaum e
se soube que Ele estava em casa, juntaram-se tantas pessoas que já não cabiam
sequer em frente da porta; e Jesus começou a pregar-lhes a palavra.
Estamos diante de um cenário: uma casa onde
se encontra Jesus, com uma enorme multidão à sua volta a ocupar todo o espaço
disponível. Esta casa situa-se em Cafarnaúm, centro a partir do qual irradia a atividade
de Jesus na Galileia. A casa é uma figura da Sinagoga e da comunidade Judaica a
quem Jesus dirige a sua Palavra de anúncio do Reino. Desta multidão fazem parte
pessoas sedentas da salvação de Jesus, mas também os fariseus e escribas
instalados na segurança e domínio da lei. Jesus enfrenta a controvérsia
farisaica anunciando a Boa Nova do Reino.
Meditação
Jesus
continua a entrar na ‘casa’ do nosso tempo e da nossa história, na Igreja, nas
nossas comunidades, nas famílias, nos grupos… em cada pessoa. Somos parte desta
multidão sedenta de sentido profundo e de salvação que deseja encontrar-se com
Jesus, acolher a Sua Palavra de vida e salvação. Dou-me conta da proximidade
gratuita de Jesus? Acredito e acolho a sua Boa Nova carregada de luz e sentido
para mim? Acredito-A portadora de cura e salvação para as minhas ‘paralisias’,
os meus fracassos? Estou disposto ‘a por os pés ao caminho’ para me encontrar
com Jesus?
Palavra - Trouxeram-Lhe um paralítico, transportado
por quatro homens; e, como não podiam levá-lo até junto d’Ele, devido à
multidão, descobriram o teto por cima do lugar onde Ele Se encontrava e, feita
assim uma abertura, desceram a enxerga em que jazia o paralítico.
À
casa chega um paralítico, personagem anônimo e sem voz, imagem da incapacidade
de caminhar por si mesmo e de quem não tem liberdade de ação. É transportado
por quatro homens, também anônimos e sem fala. Sendo quatro simbolizam os quatro
pontos cardeais que por sua vez indicam a humanidade inteira. Cinco pessoas a
representar as duas facetas da humanidade: a passiva, marcada pelo mal que lhe
rouba a vida e impede de caminhar, e a humanidade ativa que não se conforma e
busca ansiosamente a salvação aproximando-se de Jesus. Não vai só; arrasta
outros consigo, destruindo obstáculos e procurando caminhos novos a fim de
aceder à presença salvadora de Jesus.
Meditação
O que nos diz a ousadia destes quatro
homens que levam o paralítico à presença de Jesus, de uma forma corajosa e
criativa, capaz de ultrapassar tudo e todos? Se somos pessoas de fé, se
acreditamos que Jesus é a resposta última e plena para toda a pessoa de
qualquer idade e condição, também é nossa missão olhar os ‘paralíticos’ que encontramos
a nosso lado, com quem até partilhamos a vida, e ‘transportá-los’ a Jesus!
Dizer-lhes que nele está a salvação. Também nós precisamos de nos armar de
coragem e ousadia capaz de ‘descobrir’ tetos que encerram falsas imagens de
Deus e ‘descer enxergas’ que amarram tantas vidas.
Oração
Senhor, a fé que me concedes impele-me à ação,
ao anúncio. Sei que és o Salvador. Acredito no Teu amor que liberta e regenera
gratuitamente. Não posso fechar-me com este tesouro. Convidas-me a
‘transportar’ paralíticos de fé, de esperança e de amor que jazem nos leitos da
solidão e da indiferença, à espera de uma mão amiga. Dá-me a graça de uma vida
coerente que fale da Tua salvação, a coragem de Te dar a conhecer e a sabedoria
de conduzir outros à tua presença.
Com uma palavra ou um gesto vou
aproximar-me de alguém ‘paralisado’ na falta de fé ou distanciado de Jesus,
falar-lhe do Seu amor e convidá-lo a acolher a Salvação.
Quarta-feira
Palavra - Ao ver a fé daquela gente, Jesus disse ao
paralítico: «Filho, os teus pecados estão perdoados». Estavam ali sentados
alguns escribas, que assim discorriam em seus corações: «Porque fala Ele deste
modo? Está a blasfemar. Não é só Deus que pode perdoar os pecados?»
Como a multidão que procura Jesus, também
aqueles quatro homens que transportam o paralítico são movidos pela fé
decidida, capaz de superar obstáculos. Revelam confiança em Jesus. Este
comove-se com a fé desta gente. Deixa-se vencer. Realiza o milagre e oferece o
perdão. Mas também aí estão os escribas que O observam, censuram e julgam. O
paralítico é expressão de uma humanidade ansiosa de salvação, à espera de ser
conduzida a Jesus. As palavras de perdão significam que Deus acolhe sempre a
vontade de mudança. O passado pecador do paralítico deixa de pesar. Pode
começar uma vida nova.
O dom do amor salvífico de Deus ultrapassa
sempre as nossas expectativas. Deus conhece-nos profundamente e sabe do que
precisamos. Foi assim com este paralítico: obtém o perdão dos pecados, quando
pretendia libertar-se da sua enxerga. Jesus vê para além das aparências com um
olhar de amor que cura profundamente. Como os escribas, também nós, na nossa
pouca fé e com os nossos critérios mesquinhos, não compreendemos, nem aceitamos
a grandeza deste Amor. Julgamos, discorremos, criticamos, segundo as nossas
categorias e raciocínios. Esquecemos que Deus não pode fazer nada senão amar.
Oração
Senhor, não te limitas a vencer o mal, mas
vais até à sua raiz, à origem profunda das minhas ‘paralisias’. Libertas-me do
pecado para que eu reconheça Deus como Pai e procure a Sua vontade. Que eu
saiba acolher-Te como Salvação, como Vida plena a iluminar e a preencher a
minha existência. Move-me, Senhor, a acreditar profundamente na realidade da
salvação, aqui e agora, e a acolhê-la como dom do Teu Amor que me renova
continuamente.
Vou olhar, com coragem e verdade, a minha
existência a fim de tomar consciência daquilo que mais profundamente me
aprisiona; daquilo que verdadeiramente precisa da libertação que só Deus
oferece. Peco-a com humildade e confiança.
Quinta-feira
Jesus apercebe-se do conflito gerado entre
aqueles que não O reconhecem e, por isso, convida-os a medir o alcance da Sua
autoridade. Não recorre a teorias doutrinais, mas ao concreto, aos sinais do
milagre. Jesus está a agir de um modo totalmente novo: perdoar! Esta será uma
prova decisiva da autoridade divina que, não só perdoa, mas dá a vida plena ao
homem que jaz prisioneiro na sua enxerga.
Deus não ama teoricamente, mas no concreto,
tocando a nossa vida. Mostra-o aos escribas, confrontando-os com aquilo que
vêem: um paralítico a receber ordens de caminhar e liberto do seu pecado.
Também nós precisamos olhar à nossa volta, com profundidade, fé e esperança,
para contemplarmos, no concreto de tantas pessoas e situações, a realidade
salvadora de Jesus Cristo. Precisamos discernir e contemplar, em nós e à nossa
volta, o Amor que tudo renova.
Senhor, reveste-me com o dom de uma fé
humilde e confiante, capaz de olhar as pessoas e o mundo com o teu olhar. Dá-me
um coração pobre, capaz de Te reconhecer nos caídos que levantas, nos pobres
que engrandeces, nos ‘escravos’ que libertas. Dá-me a fé daquela multidão capaz
de acorrer à Tua presença, deixar-me tocar pela Tua palavra e conduzir outros à
Tua salvação.
Vou evitar qualquer juízo ou crítica que
alguma pessoa ou situação me suscite, e tentar olhar e contemplar essa
realidade com o coração habitado pelo amor de Deus.
Sexta-feira
Palavra - Pois bem. “Para saberdes que o Filho do
homem tem na terra o poder de perdoar os pecados, ‘Eu to ordeno – disse Ele ao
paralítico – levanta-te, toma a tua enxerga e vai para casa’».
Dada a ordem salvadora, renasce o homem que
acolhe a salvação na fé da comunidade. O instrumento que representava a
escravidão, a enxerga, já não o subjuga mais. Agora é ele que o domina:
‘toma-o’. Purificado e reconciliado com Deus, é agora um homem novo, livre
porque rejeitou a escravidão do comodismo, do egoísmo e do pecado. Deixou-se
transportar até Jesus e aderiu ao Seu Reino. Jesus revela o Amor do Pai e
manifesta-Se portador da Salvação.
O paralítico é o personagem central, porque
é o necessitado da salvação. ‘Paralítico’ sou eu, somos nós, tantas vezes.
Prisioneiros nas nossas ‘enxergas’ do comodismo, da indiferença, da
superficialidade, da vergonha, do egoísmo, da auto-suficiência orgulhosa. Nem
nos damos conta de tantas pessoas que nos tentam ajudar conduzindo-nos a Jesus
e à sua proposta de vida autêntica. Este imperativo é para mim, para ti:
‘levanta-te!’ Recomeça uma vida nova! Confiantes na palavra e na proximidade do
Senhor, ‘tomemos’ a ‘enxerga’ das nossas ‘paralisias’ para que não mais sejam
elas a dominar a nossa vida.
Senhor, eis-me na Tua presença,
‘paralítico’ acomodado à enxerga do meu pecado. Acolho o Teu convite, a tua
ordem. Quero levantar-me. Recomeçar, neste tempo da Quaresma, uma vida
diferente. Quero libertar-me de tudo o que bloqueia a minha dignidade de ‘teu
filho’. Quero ir para a ‘casa’ da relação Contigo, onde sou acolhido com
misericórdia e ternura. Quero voltar à ‘casa’ da comunhão com as outras
pessoas; a casa da comunhão com a Igreja. Obrigado, Senhor, porque me salvas
continuamente.
Ação
Respondendo ao convite de Jesus a
‘levantar-me e voltar para casa’ vou celebrar o sacramento da reconciliação
como experiência do Amor de Deus que me salva.
Sábado
Palavra - O homem levantou-se, tomou a enxerga e saiu
diante de toda a gente, de modo que todos ficaram maravilhados e glorificavam a
Deus, dizendo: «Nunca vimos coisa assim».
O homem transforma-se profundamente no
encontro com Jesus. De passivo, porque paralítico, passa a ativo. Liberto,
levanta-se, toma a sua vida, senhor das suas limitações, enfrenta toda aquela
gente. Homem regenerado, marcado antecipadamente pela força da ressurreição,
portador de vida nova, capaz de maravilhar outros e os mover à glorificação de
Deus. Em Jesus, Deus manifestou a Sua bondade e o Seu Amor pelo homem,
inaugurando o processo de plena libertação.
É Deus quem transforma e salva. Manifestemos-lhe
abertura e docilidade, deixemos-Lhe espaço, acolhamos o Seu Amor, e a
transformação será uma realidade visível. Seremos sinal de salvação para
outros, capaz de maravilhá-los, não por nós, mas por aquilo que o Senhor é
capaz de fazer em nós. Que a nossa vida, com as suas limitações e pobrezas,
seja um anúncio de Deus a dizer a toda a gente a gratuidade do Seu Amor.
Glória a Ti, Senhor, porque és Salvação. Obrigado,
pela grandeza insondável do Teu Amor. Obrigado pela ação regeneradora da Tua
graça. Obrigado porque colocas no meu caminho pessoas que me ‘transportam’ à
Tua presença; pessoas que rezam por mim! Diante dessa fé, o Teu amor não
resiste e eis a maravilha: levantar-me e caminhar. Glória a Ti, Senhor!
Ação
Diante
da gente que vou encontrar hoje, em casa, na escola, no trabalho, no grupo… vou
manifestar a alegria de me sentir tocado e salvo pelo amor de Deus.
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