Santa
Beatriz da Silva, virgem
Beato
Ângelo Mazzinghi, presbítero de nossa Ordem
1ª
Leitura (Jer 38,4-6.8-10): Naqueles dias, os ministros disseram ao rei
de Judá: «Esse Jeremias deve morrer, porque semeia o desânimo entre os
combatentes que ficaram na cidade e também todo o povo com as palavras que diz.
Este homem não procura o bem do povo, mas a sua perdição». O rei Sedecias
respondeu: «Ele está nas vossas mãos; o rei não tem poder para vos contrariar».
Apoderaram-se então de Jeremias e, por meio de cordas, fizeram-no descer à
cisterna do príncipe Melquias, situada no pátio da guarda. Na cisterna não
havia água, mas apenas lodo, e Jeremias atolou-se no lodo. Entretanto,
Ebed-Melec, o etíope, saiu do palácio e falou ao rei: «Ó rei, meu senhor, esses
homens procederam muito maltratando assim o profeta Jeremias: meteram-no na
cisterna, onde vai morrer de fome, pois já não há pão na cidade». Então o rei
ordenou a Ebed-Melec, o etíope: «Leva daqui contigo três homens e retira da
cisterna o profeta Jeremias, antes que ele morra».
Salmo
Responsorial: 39
R. Senhor, socorrei-me sem demora.
Esperei no Senhor com toda a
confiança e Ele atendeu-me. Ouviu o meu clamor e retirou-me do abismo e do
lamaçal, assentou os meus pés na rocha e firmou os meus passos.
Pôs em meus lábios um cântico
novo, um hino de louvor ao nosso Deus. Vendo isto, muitos hão de temer e pôr a
sua confiança no Senhor.
Eu sou pobre e infeliz: Senhor,
cuidai de mim. Sois o meu protetor e libertador: ó meu Deus, não tardeis.
2ª
Leitura (Hb): Irmãos: Estando nós rodeados de tão grande número de
testemunhas, ponhamos de parte todo o fardo e pecado que nos cerca e corramos
com perseverança para o combate que se apresenta diante de nós, fixando os
olhos em Jesus, guia da nossa fé e autor da sua perfeição. Renunciando à
alegria que tinha ao seu alcance, Ele suportou a cruz, desprezando a sua
ignomínia, e está sentado à direita do trono de Deus. Pensai n’Aquele que
suportou contra Si tão grande hostilidade da parte dos pecadores, para não vos
deixardes abater pelo desânimo. Vós ainda não resististes até ao sangue, na
luta contra o pecado.
Aleluia. As minhas ovelhas
escutam a minha voz, diz o Senhor; Eu conheço as minhas ovelhas e elas
seguem-Me. Aleluia.
Evangelho
(Lc 12,49-53): Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Eu vim
trazer o fogo à terra e que quero Eu senão que ele se acenda? Tenho de receber
um baptismo e estou ansioso até que ele se realize. Pensais que Eu vim
estabelecer a paz na terra? Não. Eu vos digo que vim trazer a divisão. A partir
de agora, estarão cinco divididos numa casa: três contra dois e dois contra
três. Estarão divididos o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe
contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a
sogra».
«Pensais que Eu vim
estabelecer a paz na terra?»
Rev. D. Isidre SALUDES i Rebull
(Alforja, Tarragona, Espanha)
Hoje ouvimos afirmações
estremecedoras dos lábios de Jesus: «Eu vim trazer o fogo à terra» (Lc 12,49);
«Pensais que Eu vim estabelecer a paz na terra? Não. Eu vos digo que vim trazer
a divisão» (Lc 12,51). E é que a verdade divide diante da mentira; da caridade,
diante do egoísmo, da justiça, diante da injustiça…
No mundo, e no nosso interior, há
mistura de bem e de mal; e devemos de tomar partido, optar, sendo conscientes
de que a fidelidade é “incômoda”. Parece mais fácil contemporizar, mas ao mesmo
tempo é menos evangélico.
Somos tentados a fazer um
"evangelho" e um "Jesus" à nossa medida, segundo nossos
gostos e paixões. Temos que nos convencer de que a vida cristã não pode ser uma
rotina pura, um “vai em frente”, sem um desejo constante de aperfeiçoamento e
perfeição. Bento XVI afirmou que "Jesus Cristo não é uma simples convicção
privada ou uma doutrina abstrata, é uma pessoa real cuja entrada na história é
capaz de renovar a vida de todos".
O modelo supremo é Jesus (devemos
“manter os olhos fixos nele”, especialmente nas dificuldades e perseguições).
Ele aceitou voluntariamente a tortura da Cruz para reparar a nossa liberdade e
recuperar a nossa felicidade: "A liberdade de Deus e a liberdade do homem
encontraram-se definitivamente na sua carne crucificada" (Bento XVI). Se
tivermos Jesus em mente, não nos deixaremos desanimar. Seu sacrifício
representa o oposto do mornidão espiritual em que muitas vezes nos acomodamos.
A fidelidade exige coragem e luta
ascética. O pecado e o mal nos tentam constantemente: é por isso que a luta, o
esforço valoroso, a participação na Paixão de Cristo são necessários. O ódio ao
pecado não é uma coisa pacífica. O reino dos céus exige esforço, luta e
violência contra nós mesmos, e quem faz esse esforço é quem o conquista (cf. Mt
11,12).
Pensamentos para o Evangelho de
hoje
«Sintamos a ilusão de levar o
fogo divino de um extremo ao outro do mundo, de o dar a conhecer aos que nos
rodeiam: para que também eles conheçam a paz de Cristo e, com ela, encontrem a
felicidade» (São Josemaria)
«O fogo de que fala Jesus é o
fogo do Espírito Santo, presença viva e operante em nós desde o dia do nosso
Baptismo. Jesus quer que o Espírito Santo exploda como fogo no nosso coração»
(Francisco)
«Foi na sua Páscoa que Cristo
abriu a todos os homens as fontes do Baptismo. De facto, Ele já tinha falado da
sua paixão, que ia sofrer em Jerusalém, como dum ‘baptismo’ com que devia ser
batizado. O sangue e a água que manaram do lado aberto de Jesus crucificado são
“tipos” do Baptismo e da Eucaristia (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº
1.225)
A fé e a Esperança: fonte de
Perseverança
Do site da Ordem o Carmo em
Portugal
* Jesus era um apaixonado de
Deus, seu Pai, e dos homens, seus irmãos. Como qualquer apaixonado, vem
abrasar os que estão à sua volta com o fogo da sua paixão: as suas palavras
aquecem, os seus gestos queimam, o seu projeto de mundo novo destrói o mundo
antigo. Então, Ele gostaria que tudo se iluminasse, que tudo se abrasasse, que
tudo aquecesse. Porém, Ele encontra o tédio; alguns gostariam de apagar este
fogo mesmo antes de ser aceso. O baptismo de que fala é a sua Passagem, a sua
Páscoa, este momento em que dará a maior prova do seu amor. Alguns gostariam de
O impedir de falar ou de agir, mas Ele prosseguirá o seu caminho, este caminho
que o levará ao calvário. Então, compreendemos quanto lhe custa esperar para
dizer e manifestar até onde pode ir o Amor de Deus pela humanidade.
* Eu vim lançar fogo sobre a
terra; e como gostaria que ele já se tivesse ateado. “A paz terrena,
nascida do amor do próximo, é imagem e efeito da paz de Cristo, vinda do Pai.
Pois o próprio Filho encarnado, Príncipe da Paz, reconciliou com Deus, pela
cruz, todos os homens; restabelecendo a unidade de todos num só povo e num só
corpo, extinguiu o ódio e, exaltado na ressurreição, derramou nos corações o
Espírito de amor” (Concílio Vaticano II).
* “Absolutamente necessárias para
a edificação da paz são ainda a vontade firme de respeitar a dignidade dos
outros homens e povos e a prática assídua da fraternidade. A paz é assim também
fruto do amor, o qual vai além do que a justiça consegue alcançar” (Concílio
Vaticano II).
* Julgais que Eu vim
estabelecer a paz na Terra? Não, Eu vo-lo digo, mas antes a divisão. Porque,
daqui por diante, estarão cinco divididos numa só casa: três contra dois e dois
contra três; vão dividir-se: o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe
contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a
sogra. “Seguir Jesus comporta a
renúncia ao mal, ao egoísmo, e a escolha do bem, da verdade e da justiça, mesmo
quando isto exige sacrifício e renúncia aos próprios interesses. E isto sim,
divide; como sabemos, divide até os vínculos mais estreitos. Mas atenção: não é
Jesus que divide! Ele propõe o critério: viver para si mesmo, ou para Deus e
para o próximo; ser servido, ou servir; obedecer ao próprio eu, ou obedecer a
Deus. Eis em que sentido Jesus é «sinal de contradição” (Lc 2, 34) (Papa
Francisco, 18\08\2013).
* “Quem deseja seguir
Jesus e comprometer-se sem hesitações pela verdade deve saber que encontrará
oposições e se tornará, infelizmente, sinal de divisão entre as pessoas, até no
interior das suas próprias famílias. O amor aos pais é um mandamento sagrado,
mas para ser vivido de modo autêntico nunca pode ser anteposto ao amor de Deus
e de Cristo” (Bento XVI).
* São muitos os cristãos que,
profundamente arraigados numa situação de bem-estar, tendem a considerar o
cristianismo como uma religião que, invariavelmente, deve preocupar-se em
manter a lei e a ordem estabelecida. Por isso, resulta tão estranho escutar da
boca de Jesus expressões que convidam, não ao imobilismo e conservadorismo, mas
à transformação profunda e radical da sociedade: “Eu vim lançar fogo sobre a
terra; e como gostaria que ele já se tivesse ateado… Julgais que Eu vim
estabelecer a paz na Terra? Não, Eu vo-lo digo, mas antes a divisão”.
* Não é fácil para nós ver Jesus
como alguém que traz um fogo destinado a destruir tanta mentira, violência e
injustiça; um Espírito capaz de transformar o mundo, de forma radical, mesmo à
custa de enfrentar e dividir as pessoas.
* O crente em Jesus não é uma
pessoa fatalista que se resigna perante a situação, procurando, sobretudo,
tranquilidade e falsa paz. Não é um imobilista que justifica a ordem atual
das coisas, sem trabalhar com ânimo criador e solidário por um mundo melhor.
Tampouco é um rebelde que, movido pelo ressentimento, deita abaixo tudo para
assumir ele mesmo o lugar daqueles que derrubou.
* O que compreendeu Jesus atua
movido pela paixão e aspiração de colaborar numa mudança total. O
verdadeiro cristão leva a “revolução” no seu coração. Uma revolução que não é
“golpe de estado”, mudança qualquer de governo, insurreição ou relevo político,
mas sim busca de uma sociedade mais justa.
* A ordem que, com frequência,
defendemos, é todavia uma desordem. Porque não conseguimos dar de comer a
todos os esfomeados, nem garantir os seus direitos a todas as pessoas, nem
sequer eliminar as guerras ou destruir as armas nucleares.
* Necessitamos de uma
revolução mais profunda que as revoluções económicas. Uma revolução que
transforme as consciências dos homens e dos povos. H. Marcuse escrevia que
necessitamos de um mundo “em que a competição, a luta dos indivíduos uns contra
os outros, o engano, a crueldade e o massacre já não têm razão de ser”.
* Quem segue Jesus, vive
procurando ardentemente que o fogo acesso por Ele arda cada vez mais neste
mundo. Mas, antes de mais nada, exige-se a si mesmo uma transformação
radical: “só se pede aos cristãos que sejam autênticos. Esta é verdadeiramente
a revolução” (E. Mounier).
* “A Virgem Maria, Rainha da Paz,
partilhou até ao martírio da alma a luta do seu Filho Jesus contra o maligno, e
continua a partilhá-la até ao fim dos tempos. Invoquemos a sua proteção
materna, para que nos ajude a ser sempre testemunhas da paz de Cristo, sem
nunca descer a compromissos com o mal” (Bento XVI).
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