sexta-feira, 15 de agosto de 2025

XX Domingo do Tempo Comum

Santa Beatriz da Silva, virgem
Beato Ângelo Mazzinghi, presbítero de nossa Ordem
 
1ª Leitura (Jer 38,4-6.8-10):
Naqueles dias, os ministros disseram ao rei de Judá: «Esse Jeremias deve morrer, porque semeia o desânimo entre os combatentes que ficaram na cidade e também todo o povo com as palavras que diz. Este homem não procura o bem do povo, mas a sua perdição». O rei Sedecias respondeu: «Ele está nas vossas mãos; o rei não tem poder para vos contrariar». Apoderaram-se então de Jeremias e, por meio de cordas, fizeram-no descer à cisterna do príncipe Melquias, situada no pátio da guarda. Na cisterna não havia água, mas apenas lodo, e Jeremias atolou-se no lodo. Entretanto, Ebed-Melec, o etíope, saiu do palácio e falou ao rei: «Ó rei, meu senhor, esses homens procederam muito maltratando assim o profeta Jeremias: meteram-no na cisterna, onde vai morrer de fome, pois já não há pão na cidade». Então o rei ordenou a Ebed-Melec, o etíope: «Leva daqui contigo três homens e retira da cisterna o profeta Jeremias, antes que ele morra».
 
Salmo Responsorial: 39
R.  Senhor, socorrei-me sem demora.
 
Esperei no Senhor com toda a confiança e Ele atendeu-me. Ouviu o meu clamor e retirou-me do abismo e do lamaçal, assentou os meus pés na rocha e firmou os meus passos.
 
Pôs em meus lábios um cântico novo, um hino de louvor ao nosso Deus. Vendo isto, muitos hão de temer e pôr a sua confiança no Senhor.
 
Eu sou pobre e infeliz: Senhor, cuidai de mim. Sois o meu protetor e libertador: ó meu Deus, não tardeis.
 
2ª Leitura (Hb): Irmãos: Estando nós rodeados de tão grande número de testemunhas, ponhamos de parte todo o fardo e pecado que nos cerca e corramos com perseverança para o combate que se apresenta diante de nós, fixando os olhos em Jesus, guia da nossa fé e autor da sua perfeição. Renunciando à alegria que tinha ao seu alcance, Ele suportou a cruz, desprezando a sua ignomínia, e está sentado à direita do trono de Deus. Pensai n’Aquele que suportou contra Si tão grande hostilidade da parte dos pecadores, para não vos deixardes abater pelo desânimo. Vós ainda não resististes até ao sangue, na luta contra o pecado.
 
Aleluia. As minhas ovelhas escutam a minha voz, diz o Senhor; Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 12,49-53): Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Eu vim trazer o fogo à terra e que quero Eu senão que ele se acenda? Tenho de receber um baptismo e estou ansioso até que ele se realize. Pensais que Eu vim estabelecer a paz na terra? Não. Eu vos digo que vim trazer a divisão. A partir de agora, estarão cinco divididos numa casa: três contra dois e dois contra três. Estarão divididos o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra».
 
«Pensais que Eu vim estabelecer a paz na terra?»
 
Rev. D. Isidre SALUDES i Rebull (Alforja, Tarragona, Espanha)
 
Hoje ouvimos afirmações estremecedoras dos lábios de Jesus: «Eu vim trazer o fogo à terra» (Lc 12,49); «Pensais que Eu vim estabelecer a paz na terra? Não. Eu vos digo que vim trazer a divisão» (Lc 12,51). E é que a verdade divide diante da mentira; da caridade, diante do egoísmo, da justiça, diante da injustiça…
 
No mundo, e no nosso interior, há mistura de bem e de mal; e devemos de tomar partido, optar, sendo conscientes de que a fidelidade é “incômoda”. Parece mais fácil contemporizar, mas ao mesmo tempo é menos evangélico.
 
Somos tentados a fazer um "evangelho" e um "Jesus" à nossa medida, segundo nossos gostos e paixões. Temos que nos convencer de que a vida cristã não pode ser uma rotina pura, um “vai em frente”, sem um desejo constante de aperfeiçoamento e perfeição. Bento XVI afirmou que "Jesus Cristo não é uma simples convicção privada ou uma doutrina abstrata, é uma pessoa real cuja entrada na história é capaz de renovar a vida de todos".
 
O modelo supremo é Jesus (devemos “manter os olhos fixos nele”, especialmente nas dificuldades e perseguições). Ele aceitou voluntariamente a tortura da Cruz para reparar a nossa liberdade e recuperar a nossa felicidade: "A liberdade de Deus e a liberdade do homem encontraram-se definitivamente na sua carne crucificada" (Bento XVI). Se tivermos Jesus em mente, não nos deixaremos desanimar. Seu sacrifício representa o oposto do mornidão espiritual em que muitas vezes nos acomodamos.
 
A fidelidade exige coragem e luta ascética. O pecado e o mal nos tentam constantemente: é por isso que a luta, o esforço valoroso, a participação na Paixão de Cristo são necessários. O ódio ao pecado não é uma coisa pacífica. O reino dos céus exige esforço, luta e violência contra nós mesmos, e quem faz esse esforço é quem o conquista (cf. Mt 11,12).
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Sintamos a ilusão de levar o fogo divino de um extremo ao outro do mundo, de o dar a conhecer aos que nos rodeiam: para que também eles conheçam a paz de Cristo e, com ela, encontrem a felicidade» (São Josemaria)
 
«O fogo de que fala Jesus é o fogo do Espírito Santo, presença viva e operante em nós desde o dia do nosso Baptismo. Jesus quer que o Espírito Santo exploda como fogo no nosso coração» (Francisco)
 
«Foi na sua Páscoa que Cristo abriu a todos os homens as fontes do Baptismo. De facto, Ele já tinha falado da sua paixão, que ia sofrer em Jerusalém, como dum ‘baptismo’ com que devia ser batizado. O sangue e a água que manaram do lado aberto de Jesus crucificado são “tipos” do Baptismo e da Eucaristia (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.225)
 
A fé e a Esperança: fonte de Perseverança
 
Do site da Ordem o Carmo em Portugal
 
* Jesus era um apaixonado de Deus, seu Pai, e dos homens, seus irmãos.
Como qualquer apaixonado, vem abrasar os que estão à sua volta com o fogo da sua paixão: as suas palavras aquecem, os seus gestos queimam, o seu projeto de mundo novo destrói o mundo antigo. Então, Ele gostaria que tudo se iluminasse, que tudo se abrasasse, que tudo aquecesse. Porém, Ele encontra o tédio; alguns gostariam de apagar este fogo mesmo antes de ser aceso. O baptismo de que fala é a sua Passagem, a sua Páscoa, este momento em que dará a maior prova do seu amor. Alguns gostariam de O impedir de falar ou de agir, mas Ele prosseguirá o seu caminho, este caminho que o levará ao calvário. Então, compreendemos quanto lhe custa esperar para dizer e manifestar até onde pode ir o Amor de Deus pela humanidade.
 
* Eu vim lançar fogo sobre a terra; e como gostaria que ele já se tivesse ateado. “A paz terrena, nascida do amor do próximo, é imagem e efeito da paz de Cristo, vinda do Pai. Pois o próprio Filho encarnado, Príncipe da Paz, reconciliou com Deus, pela cruz, todos os homens; restabelecendo a unidade de todos num só povo e num só corpo, extinguiu o ódio e, exaltado na ressurreição, derramou nos corações o Espírito de amor” (Concílio Vaticano II).
 
* “Absolutamente necessárias para a edificação da paz são ainda a vontade firme de respeitar a dignidade dos outros homens e povos e a prática assídua da fraternidade. A paz é assim também fruto do amor, o qual vai além do que a justiça consegue alcançar” (Concílio Vaticano II).
 
* Julgais que Eu vim estabelecer a paz na Terra? Não, Eu vo-lo digo, mas antes a divisão. Porque, daqui por diante, estarão cinco divididos numa só casa: três contra dois e dois contra três; vão dividir-se: o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra.  “Seguir Jesus comporta a renúncia ao mal, ao egoísmo, e a escolha do bem, da verdade e da justiça, mesmo quando isto exige sacrifício e renúncia aos próprios interesses. E isto sim, divide; como sabemos, divide até os vínculos mais estreitos. Mas atenção: não é Jesus que divide! Ele propõe o critério: viver para si mesmo, ou para Deus e para o próximo; ser servido, ou servir; obedecer ao próprio eu, ou obedecer a Deus. Eis em que sentido Jesus é «sinal de contradição” (Lc 2, 34) (Papa Francisco, 18\08\2013).
 
* “Quem deseja seguir Jesus e comprometer-se sem hesitações pela verdade deve saber que encontrará oposições e se tornará, infelizmente, sinal de divisão entre as pessoas, até no interior das suas próprias famílias. O amor aos pais é um mandamento sagrado, mas para ser vivido de modo autêntico nunca pode ser anteposto ao amor de Deus e de Cristo” (Bento XVI).
 
* São muitos os cristãos que, profundamente arraigados numa situação de bem-estar, tendem a considerar o cristianismo como uma religião que, invariavelmente, deve preocupar-se em manter a lei e a ordem estabelecida. Por isso, resulta tão estranho escutar da boca de Jesus expressões que convidam, não ao imobilismo e conservadorismo, mas à transformação profunda e radical da sociedade: “Eu vim lançar fogo sobre a terra; e como gostaria que ele já se tivesse ateado… Julgais que Eu vim estabelecer a paz na Terra? Não, Eu vo-lo digo, mas antes a divisão”.
 
* Não é fácil para nós ver Jesus como alguém que traz um fogo destinado a destruir tanta mentira, violência e injustiça; um Espírito capaz de transformar o mundo, de forma radical, mesmo à custa de enfrentar e dividir as pessoas.
 
* O crente em Jesus não é uma pessoa fatalista que se resigna perante a situação, procurando, sobretudo, tranquilidade e falsa paz. Não é um imobilista que justifica a ordem atual das coisas, sem trabalhar com ânimo criador e solidário por um mundo melhor. Tampouco é um rebelde que, movido pelo ressentimento, deita abaixo tudo para assumir ele mesmo o lugar daqueles que derrubou.
 
* O que compreendeu Jesus atua movido pela paixão e aspiração de colaborar numa mudança total. O verdadeiro cristão leva a “revolução” no seu coração. Uma revolução que não é “golpe de estado”, mudança qualquer de governo, insurreição ou relevo político, mas sim busca de uma sociedade mais justa.
 
* A ordem que, com frequência, defendemos, é todavia uma desordem. Porque não conseguimos dar de comer a todos os esfomeados, nem garantir os seus direitos a todas as pessoas, nem sequer eliminar as guerras ou destruir as armas nucleares.
 
* Necessitamos de uma revolução mais profunda que as revoluções económicas. Uma revolução que transforme as consciências dos homens e dos povos. H. Marcuse escrevia que necessitamos de um mundo “em que a competição, a luta dos indivíduos uns contra os outros, o engano, a crueldade e o massacre já não têm razão de ser”.
 
* Quem segue Jesus, vive procurando ardentemente que o fogo acesso por Ele arda cada vez mais neste mundo. Mas, antes de mais nada, exige-se a si mesmo uma transformação radical: “só se pede aos cristãos que sejam autênticos. Esta é verdadeiramente a revolução” (E. Mounier).
 
* “A Virgem Maria, Rainha da Paz, partilhou até ao martírio da alma a luta do seu Filho Jesus contra o maligno, e continua a partilhá-la até ao fim dos tempos. Invoquemos a sua proteção materna, para que nos ajude a ser sempre testemunhas da paz de Cristo, sem nunca descer a compromissos com o mal” (Bento XVI).

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