sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

VI Domingo do Tempo Comum

 Beato Miguel Sopoćko, presbítero
21 mártires da Líbia (2024)
 
1ª Leitura (Jer 17,5-8):
Eis o que diz o Senhor: «Maldito quem confia no homem e põe na carne toda a sua esperança, afastando o seu coração do Senhor. Será como o cardo na estepe, que nem percebe quando chega a felicidade: habitará na aridez do deserto, terra salobre, onde ninguém habita. Bendito quem confia no Senhor e põe no Senhor a sua esperança. É como a árvore plantada à beira da água, que estende as suas raízes para a corrente: nada tem a temer quando vem o calor e a sua folhagem mantém-se sempre verde; em ano de estiagem não se inquieta e não deixa de produzir os seus frutos».
 
Salmo Responsorial: 1
R. Feliz o homem que pôs a sua esperança no Senhor.
 
Feliz o homem que não segue o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, mas antes se compraz na lei do Senhor, e nela medita dia e noite.
 
É como árvore plantada à beira das águas: dá fruto a seu tempo e sua folhagem não murcha. Tudo quanto fizer será bem-sucedido.
 
Bem diferente é a sorte dos ímpios: são como palha que o vento leva. O Senhor vela pelo caminho dos justos, mas o caminho dos pecadores leva à perdição.
 
2ª Leitura (1Cor 15,12.16-20): Irmãos: Se pregamos que Cristo ressuscitou dos mortos, por que dizem alguns no meio de vós que não há ressurreição dos mortos? Se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, ainda estais nos vossos pecados; e assim, os que morreram em Cristo pereceram também. Se é só para a vida presente que temos posta em Cristo a nossa esperança, somos os mais miseráveis de todos os homens. Mas não. Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram.
 
Alegrai-vos e exultai, diz o Senhor, porque é grande no Céu a vossa recompensa.
 
Evangelho (Lc 6,17.20-26): E, descendo com eles, parou num lugar plano, e também um grande número de seus discípulos, e grande multidão de povo de toda a Judéia, e de Jerusalém, e da costa marítima de Tiro e de Sidom; os quais tinham vindo para o ouvir, e serem curados das suas enfermidades. E, levantando ele os olhos para os seus discípulos, dizia: «Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus. Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir. Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem e quando vos separarem, e vos injuriarem, e rejeitarem o vosso nome como mau, por causa do Filho do Homem. Folgai nesse dia, exultai; porque eis que é grande o vosso galardão no céu, pois assim faziam os seus pais aos profetas. Mas ai de vós, ricos! porque já tendes a vossa consolação. - Ai de vós, os que estais fartos, porque tereis fome. Ai de vós, os que agora rides, porque vos lamentareis e chorareis. Ai de vós quando todos os homens de vós disserem bem, porque assim faziam seus pais aos falsos profetas».
 
«Folgai nesse dia, exultai»
 
Rev. D. Enric RIBAS i Baciana (Barcelona, Espanha)
 
Hoje voltamos a viver as bem-aventuranças e as “mal-aventuranças”: «Bem-aventurados sóis vós...», sim agora sofres em meu nome; «Ai de vós...», se agora ris. A fidelidade a Cristo e ao seu Evangelho faz com que sejamos rejeitados, escarnecidos nos medos de comunicação, odiados, como Cristo foi odiado e crucificado. Há quem pensa que isso se deve à falta de fé de alguns, mas talvez — bem-visto — é devido à falta de razão. O mundo não quer pensar nem ser livre; vive imerso desejando a riqueza, do consumo, do doutrinamento libertário que se enche de palavras vãs, vazias onde se escurece o valor da pessoa e se burla dos ensinamentos de Cristo e da Igreja, uma vez que —hoje por hoje— é o único pensamento que certamente vai contra a correnteza. Apesar de tudo, o Senhor Jesus nos infunde coragem: «Felizes de vocês se os homens os odeiam, se os expulsam, os insultam e amaldiçoam o nome de vocês, por causa do Filho do Homem. ( )... Alegrem-se nesse dia, pulem de alegria, pois será grande a recompensa de vocês no céu, porque era assim que os antepassados deles tratavam os profetas» (Lc 6, 22.23).
 
João Paulo II, na encíclica Fides et Ratio, disse: «A fé move a razão ao sair de seu isolamento e ao apostar, de bom agrado, por aquilo que é belo, bom e verdadeiro». A experiência cristã em seus santos nos mostra a verdade do Evangelho e destas palavras do Santo Padre. Ante um mundo que se satisfaz no vicio e no egoísmo como fonte de felicidade, Jesus mostra outro caminho: a felicidade do Reino do Deus, que o mundo não pode entender, e que odeia e rejeita. O cristão, entre as tentações que lhe oferece a “vida fácil”, sabe que o caminho é o do amor que Cristo nos mostrou na cruz, o caminho da fidelidade ao Pai. Sabemos que entre as dificuldades não podemos desanimar-nos. Se procuramos de verdade o Senhor, alegrem-se nesse dia, pulem de alegria, pois será grande a recompensa de vocês no céu, porque era assim que os antepassados deles tratavam os profetas (cf. Lc 6,23).
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«A Misericórdia quer que sejas misericordioso, a Justiça deseja que sejas justo, pois o Criador quer verse refletido na sua criação, e Deus quer ver reproduzida à sua imagem no espelho do coração humano» (São Leão Magno)
 
«O Sermão da montanha está dirigido a todo o mundo, no presente e no futuro, e só se pode entender e viver seguindo Jesus, caminhando com Ele» (Bento XVI)
 
«A bem-aventurança prometida coloca-nos perante as opções morais decisivas. Convida-nos a purificar o nosso coração dos seus maus instintos e a procurar o amor de Deus acima de tudo (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.723)

"Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem e quando vos separarem, e vos injuriarem, e rejeitarem o vosso nome como mau, por causa do Filho do Homem. "

do site da Ordem do Carmo em Portugal

* O texto de hoje insere-se na primeira parte deste Evangelho, a atividade de Jesus na Galileia (4,14–9,50), onde Lucas apresenta o primeiro anúncio sobre Jesus e o programa libertador que o Messias, ungido pelo Espírito Santo, vai cumprir em favor dos pobres e dos oprimidos.
 
* v. 17: Mc 3,7s; Mt 4,25. Ao invés de Mateus, que apresenta Jesus a subir a um monte, para pronunciar o “Sermão da montanha” (Mt 5,1), Lucas diz que Jesus desceu do “monte” (v. 12), onde subira para orar (v. 13), para um sítio plano. Por isso se chama a este discurso “o Sermão da planície” (vv. 20-49). Os termos “plano” (Dt 11,11) e “bem-aventurados” evocam Is 32,19-20 LXX, aludindo à era messiânica da efusão do Espírito Santo (cf. Is 32,15): Jesus anuncia a nova lei, “a lei do Espírito da vida” (Rm 8,2).
 
* Com Jesus estão os doze apóstolos, que Ele acabara de escolher (v. 13), e também “numerosos discípulos”. Entre os Sinópticos, só Lucas refere que, além dos Doze, acompanhavam Jesus muitos discípulos (10,1; 19,37; At 1,15.21s; Jo 6,60.66). “E uma grande multidão de povo de toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e de Sídon” (cf. 5,17), ou seja, judeus e estrangeiros: Jesus não faz acepção de pessoas, acolhe todos os que o procuram, um tema muito querido a Lucas.
 
* Os vv. 18-19 são omitidos na leitura de hoje.
* v 20 (vv. 20-26: Mt 5,2-12). Até aqui Lucas só referiu que a multidão acorria a Jesus para escutar a palavra de Deus (v. 18; 5,1. 15; Am 8,11). Agora apresenta o “ensino” de Jesus (4,32) neste seu primeiro discurso, dirigido sobretudo aos seus discípulos (e não a toda a multidão, como Mt 5,1) e ao povo (7,1), apontando-lhes o caminho do Reino que há que seguir.
 
* Tal como em Mateus, Jesus começa o seu ensino com as bem-aventuranças. As “bem-aventuranças” são um género literário já usado no AT que aparece a) em fórmulas de ação de graças (Sl 32,1s; 33,12; 84,5.6. 13); b) em exortações a uma vida sábia e prudente (Pv 3,13; 8,32.34; Sl 1,1); c) e como anúncio profético da alegria messiânica do Reino (Is 30,18; 32,20).
 
* A versão das bem-aventuranças de Lucas é mais curta e radical que a de Mateus: são apenas quatro, sem nenhuma alusão ao AT, seguidas de outras tantas imprecações, segundo a doutrina dos dois caminhos (Dt 30,1.15.26; Sl 1; Jr 17,5-8; Pv 4,18s; Sr 15,16s; 33,14). A cada bem-aventurança está conexa uma promessa e a cada imprecação uma advertência profética, apresentada como inversão de uma situação por parte de Deus (1,51ss), em evidente contraste com as categorias humanas e religiosas deste mundo (o “século presente”: 16,8; 20,34; Rm 12,2; 1Cor 1,20; 2,6ss; 3,18). Tal como Jesus, os seus discípulos também serão sinal de contradição (2,34).
 
* “Bem-aventurados vós, os pobres” (Mt 5,3). Trata-se de uma saudação completamente inédita. Jesus começa por identificar a condição social da maior parte dos seus discípulos, que era também a condição da esmagadora maioria da humanidade: eles são pobres (Rm 15,26; 2Cor 6,10; Gl 2,10; Hb 10,34). O termo “pobre” (gr. ptôcos: Sl 40,18), traduz certos termos hebraicos do AT (‘anawim, dallim, ebionim) que definem uma classe de pessoas privadas de bens e à mercê da prepotência dos ricos e da violência dos poderosos. São os pequenos, os desprotegidos, as vítimas da injustiça, os sem voz, tantas vezes privados dos seus direitos e dignidade pelos grandes deste mundo. Jesus diz-lhes: “vosso é o Reino de Deus”. A promessa não é para o futuro, é para o presente: o Reino é deles (Dn 7,18.22; Tg 2,5; 1Cor 1,26s; 2Cor 9,9); por isso são “bem-aventurados” (Is 29,19). Jesus retoma aqui o que já tinha dito por outras palavras na sinagoga de Nazaré: Ele é o Ungido pelo Espírito, enviado pelo Pai para evangelizar os pobres e libertar os oprimidos (4,18; Is 61,1).
 
* v. 21. Estes pobres “agora” (gr. nûn) no tempo presente, têm fome, mas “no século futuro” (o Reino de Deus) serão saciados (passivo divino, por Deus: 1,53; Mt 5,6; Sl 34,11; 37,19; 107,9; 132,15; Is 25,6; 49,10.13; Jr 31,12.25; Ez 34,29; 36,29 1Cor 4,11; Ap 7,16); “agora” choram, mas hão de rir (cf. Sl 126,5s; Is 25,8-9; 61,2s; 65,18s; Mt 5,4; 2Cor 1,3-7; Ap 7,16s).
 
* v. 22. O mundo não os aceita e opõe-se-lhes de forma cada vez mais violenta: odeia-os (Mc 13,13p; Mt 10,22; 24,9; Jo 15,18s; 1Jo 3,13), expulsa-os, por considerar que gozam de má reputação (1Cor 4,10), insulta-os (Hb 10,33) e rejeita-os como malfeitores (1Cor 4,12; 1Pd 4,14), não por terem praticado algum crime, mas “por causa” da sua fé em Jesus, o “Filho no homem” (2Cor 4,8s; 2Tm 3,12; Dn 7,14). Embora, ao invés de Mt 5,11, Lucas não refira aqui as perseguições, pressupõem-nas (11,49; 21,12) no quadro destas quatro bem-aventuranças que refletem de forma clara as tribulações do ministério apostólico (cf. 1Cor 4,9-13).
 
* v. 23. A estes pobres, simples e humildes, Jesus diz-lhes que Deus os ama de uma forma especial e lhes dá o seu Reino, a sua vida, alegria e liberdade, plenas e verdadeiras. Por isso os convida a alegrar-se e “exultar” (1,41.44) no meio das suas tribulações (Mt 5,12; At 5,41; Tg 1,2; 1Pd 4,13; cf. Ha 3,18; Dn 3,24.51). Estas atestam que eles são os sucessores dos profetas, que também foram rejeitados pelos seus conterrâneos (cf. 11,47-51; 13,33s; 1Rs 19,10; Jr 26,20-24; 38,6-13; 2Cr 36,16; Mt 23,30s; At 7,52; Hb 11,35b-38). Com estas palavras de Jesus, Lucas anima as comunidades do seu tempo, que estavam a ser duramente provadas em Israel e no Império Romano, mostrando que o seu sofrimento não era um estertor de morte, mas dor de parto, e que a sua rejeição não era uma maldição, mas fonte de esperança, sinal que o Reino de Deus chegou a elas e que estão no caminho certo, sendo autênticas discípulas de Jesus Cristo (At 9,16; 14,22; Fl 1,28s; 1Ts 3,3; 2Ts 1,4ss; cf. Dn 7,21s.25ss; 12,10.12)!
 
* Com isto, Jesus não pretende declarar bem-aventurada uma determinada classe social ou situação (p. ex., os pobres porque são pobres): Ele chama todos (8,3; 19,9), mas convida cada um a examinar a sua situação à luz da salvação e a esforçar-se por entrar no Reino (13,24), não se regendo pelos critérios humanos de felicidade, mas pelo caminho que lhes aponta.
 
* v. 24. Num rigoroso paralelismo antitético, bem ao estilo do AT, Jesus contrapõe às bem-aventuranças quatro imprecações proféticas: “Ai” (10,13; 11,42-52; 17,1; 21,23; 22,22; Is 3,10-11; Jr 17,5-8). Elas não se acham em Mateus: são próprias de Lucas, sempre incisivo na denúncia da injustiça social, que tem presente as comunidades cristãs da época em que escreve o Evangelho, então já formadas por pobres e ricos (cf. Tg 2,2s; 5,1; Ap 3,17).
 
* Jesus adverte os ricos da instabilidade deste mundo (cf. 1Cor 7,29-31; Tg 1,10s; 1Pd 4,7; 1Jo 2,17): a segurança que pensam ter construído aqui é ilusória e passageira (cf. 12,15-21; 16,25; 18,24p;Tg 5,1; Is 5,8; ; Hb 94,9-17).
 
* v. 25. Jesus avisa também os que agora estão saciados, que irão passar fome (1,53; Is 5,22ss; 65,13); os que agora riem, que irão chorar (Is 65,14; Tg 4,9).
v. 26. Ele diz ainda que aqueles de quem todos falam bem, que vão acabar por serem rejeitados como falsos profetas que não seguem o verdadeiro caminho de Deus (Mq 2,11; Jr 5,31; 6,14; 23,16s; Is 30,10s).
 
* Estas advertências não significam que Deus não tenha para os ricos e bem estantes a mesma proposta de salvação que oferece aos pobres e débeis (cf. 19,1-10); mas significam que se eles pensam ter a sua segurança nos bens temporais ou se deixam seduzir pelo egoísmo, ganância, prepotência, injustiça, autossuficiência, violência e opressão, não há lugar para eles lugar no Reino de Deus. Elas são, por isso, um forte apelo à mudança, um chamamento à partilha e à conversão.
 
MEDITAÇÃO
1. Vejo a vida e as pessoas como Jesus? Acho realmente que uma pessoa pobre e faminta é feliz? Que faço para a ajudar?
2. Ao dizer “bem-aventurados os pobres”, Jesus pretende afirmar que os pobres devem continuar na pobreza?
3. Vinte séculos depois de Jesus ter pronunciado estas palavras, que é feito da sua proposta? Mudou alguma coisa neste mundo? E em mim?

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