São
Raimundo de Penaforte, presbítero
1ª
Leitura (1Jo 4,7-10): Caríssimos: Amemo-nos uns aos outros, porque o
amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem
não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. Assim se manifestou o amor de
Deus para conosco: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que vivamos
por Ele. Nisto consiste o seu amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi
Ele que nos amou e nos enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos
pecados.
Salmo
Responsorial: 71
R. Virão adorar-Vos, Senhor,
todos os povos da terra.
Deus, concedei ao rei o poder de
julgar e a vossa justiça ao filho do rei. Ele governará o vosso povo com
justiça e os vossos pobres com equidade.
Os montes trarão a paz ao povo e
as colinas a justiça. Ele fará justiça aos humildes e salvará os indigentes.
Florescerá a justiça nos seus
dias e uma grande paz até ao fim dos tempos. Ele dominará de um ao outro mar,
do grande rio até aos confins da terra.
Aleluia. O Senhor enviou-me a
anunciar aos pobres a boa nova, a proclamar aos cativos a redenção. Aleluia.
Evangelho
(Mc 6, 34-44): Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão e
encheu-se de compaixão por eles, porque eram como ovelhas que não têm pastor. E
começou, então, a ensinar-lhes muitas coisas. Já estava ficando tarde, quando
os discípulos se aproximaram de Jesus e disseram: «Este lugar é deserto e já é
tarde. Despede-os, para que possam ir aos sítios e povoados vizinhos e comprar
algo para comer» Mas ele respondeu: «Vós mesmos, dai-lhes de comer»! Os
discípulos perguntaram: «Queres que gastemos duzentos denários para comprar pão
e dar de comer a toda essa gente?» Jesus perguntou: «Quantos pães tendes? Ide
ver». Eles foram ver e disseram: «Cinco pães e dois peixes». Então, Jesus
mandou que todos se sentassem, na relva verde, em grupos para a refeição. Todos
se sentaram, em grupos de cem e de cinquenta. Em seguida, Jesus tomou os cinco
pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao céu, pronunciou a bênção, partiu os
pães e ia dando-os aos discípulos, para que os distribuíssem. Dividiu, também,
entre todos, os dois peixes. Todos comeram e ficaram saciados, e ainda encheram
doze cestos de pedaços dos pães e dos peixes. Os que comeram dos pães foram
cinco mil homens».
«Porque eram como ovelhas que
não têm pastor»
Rev. D. Xavier SOBREVÍA i Vidal (Sant
Just Desvern, Barcelona, Espanha)
Hoje, Jesus mostra-nos como Ele é
sensível às necessidades das pessoas que saem ao seu encontro. Não pode
encontrar-se com pessoas e passar indiferente perante as necessidades delas. O
coração de Jesus se compadece ao ver a grande quantidade de gente que lhe
seguia «como ovelhas que não têm pastor» (Mc 6,34). O Mestre deixa atrás os
projetos prévios e começa a ensinar. Quantas vezes nós deixamos que a urgência
ou a impaciência mandem sobre nossa conduta? Quantas vezes não queremos mudar
de planos para atender necessidades imediatas e imprevistas? Jesus dá-nos
exemplo de flexibilidade, de modificar a programação prévia e de estar
disponível para pessoas que o seguem.
O tempo passa depressa. Quando
você ama é fácil que o tempo passe muito depressa. E Jesus, que ama muito, está
explicando a doutrina de uma maneira prolongada. Estava ficando tarde, os
discípulos lhe avisaram ao Mestre, lhes preocupa que a multidão possa comer.
Então Jesus faz uma proposta incrível: «Vós mesmos, dai-lhes de comer» (Mc
6,37). Não somente lhe preocupa dar o alimento espiritual com seus ensinos,
senão também o alimento do corpo. Os discípulos põem dificuldades, que são
reais, muito reais: Os pães custam muito dinheiro (cf. Mc 6,37). Veem as
dificuldades materiais, mas seus olhos ainda não reconhecem que quem lhes fala
o pode tudo; lhes falta fé.
Jesus não manda fazer uma fila;
faz sentar às pessoas em grupos. Comunitariamente descansarão e compartilharão.
Pediu aos discípulos a comida que levavam: somente são cinco pães e dois
peixes. Jesus os pega, invoca a benza de Deus e os reparte. Uma comida tão
escassa que servirá para alimentar milhares de homens e ainda restarão doze
cestas. Milagre que prefigura o alimento espiritual da Eucaristia, Pão de vida
que se estende gratuitamente a todos os povos da Terra para dar vida e vida
eterna.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Pedimos-te, Senhor, que sejas a
nossa ajuda e amparo. Que todos os povos da terra saibam que Tu és Deus e que
não há outro, e que Jesus Cristo é Teu servo e que nós somos o Teu povo, o
rebanho que Tu guias» (São Clemente Romano)
«Apenas a misericórdia de Deus
pode libertar a humanidade de tantas formas do mal, por vezes monstruosas, que
o egoísmo nela gera. El traz a esperança: onde Deus nasce, nasce a paz, não há
lugar nem para o ódio nem para a guerra» (Francisco)
«A compaixão de Cristo para com
os doentes e as suas numerosas curas de enfermos de toda a espécie são um sinal
claro de que «Deus visitou o seu povo» (Lc 7,16) e de que o Reino de Deus está
próximo» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.503)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm
* Sempre é bom olhar o
contexto em que se encontra o texto do evangelho, pois ele traz luz para
descobrir melhor o sentido. Pouco antes, em Mc 6,17-29, Marcos narrou o
banquete de morte, promovido por Herodes com os grandes da Galileia, no palácio
da Capital, durante o qual foi morto João Batista. Aqui, em Mc 6,30-44,
descreve o banquete de vida, promovido por Jesus com o povo faminto da Galileia
lá no deserto. O contraste deste contexto é grande e ilumina o texto.
* No evangelho de Marcos a
multiplicação dos pães é muito importante. Ela aparece duas vezes: aqui em
Mc 6,35-44 e em Mc 8,1-9. E o próprio Jesus faz questão de interrogar o
discípulos a respeito da multiplicação dos pães (Mc 8,14-21). Por isso, vale a
pena você pesquisar e refletir até descobrir em que consiste exatamente esta
importância da multiplicação dos pães.
* Jesus tinha convidado os
discípulos para descansar um pouco num lugar deserto (Mc 6,31). O povo
percebeu que Jesus tinha ido para o outro lado do lago, foi atrás dele e chegou
antes (Mc 6,33). Quando Jesus, ao descer do barco, viu aquela multidão
esperando por ele, ficou com dó, “pois eles estavam como ovelhas sem pastor”.
Esta frase evoca o salmo do bom pastor (Sl 23). Diante do povo sem pastor,
Jesus esquece o descanso e começa a ensinar, começa a ser pastor. Com suas
palavras ele orienta e guia o povo no deserto da vida, e o povo podia cantar:
“O Senhor é meu pastor! Nada me falta!” (Sl 23,1).
* O tempo foi passando e
começava a escurecer. Os discípulos estavam preocupados e pedem a Jesus
para despedir o povo. Acham que lá no deserto não é possível conseguir comida
para tanta gente. Jesus diz: “Deem vocês de comer ao povo!” Eles levam susto:
“Então quer que vamos comprar pão por 200 denários?” (i.é, salário de 200
dias!) Os discípulos procuram a solução fora do povo e para o povo. Jesus não
busca solução fora, mas dentro do povo e a partir do povo, pois pergunta:
“Quantos pães vocês têm? Vão verificar!” A resposta é: “Cinco pães e dois
peixes!” É pouco para tanta gente! Jesus manda o povo se acomodar em grupos e
pede aos discípulos para distribuir os pães e os peixes. Todos comeram à
vontade!
* É importante notar como
Marcos descreve o fato. Ele diz: “Jesus tomou os cinco pães e os dois
peixes, olhou para o céu, abençoou os pães e os partiu e deu aos seus
discípulos, para que os distribuíssem”. Esta maneira de falar faz as
comunidades pensar em que? Sem dúvida nenhuma, fazia pensar na eucaristia. Pois
estas mesmas palavras eram usadas (até hoje) na celebração da Ceia do Senhor.
Assim, Marcos sugere que a eucaristia deve levar à partilha. Ela é o pão da
vida que dá coragem e leva a enfrentar os problemas do povo de maneira
diferente, não a partir de fora, mas a partir de dentro do povo.
* Na maneira de descrever os
fatos, Marcos evoca a Bíblia para iluminar o sentido dos fatos. Dar de
comer ao povo faminto no deserto, foi Moisés quem o fez por primeiro (cf. Ex
16,1-36). E pedir para o povo se organizar em grupos de 50 e 100 lembra o
recenseamento do povo no deserto depois da saída do Egito (cf. Nm, cap. 1 a 4).
Marcos sugere assim que Jesus é o novo Moisés. O povo das comunidades conhecia
o Antigo Testamento, e para o bom entendedor meia palavra já bastava. Assim,
eles iam descobrindo, aos poucos, o mistério que envolvia a pessoa de Jesus.
Para um confronto pessoal
1. Jesus esqueceu o descanso para
poder servir ao povo. Que mensagem eu encontro aqui para mim?
2. Se houvesse partilha hoje, não
haveria fome no mundo. Que posso fazer eu?
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