São
Gonçalo de Amarante, presbítero
São
Gregório de Nissa, bispo
1ª
Leitura (1Jo 5,5-13): Caríssimos: Quem é o vencedor do mundo senão
aquele que acredita que Jesus é o Filho de Deus? Este é O que veio pela água e
pelo sangue: Jesus Cristo; não só com a água, mas com a água e o sangue. É o
Espírito que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade. São três que dão
testemunho: o Espírito, a água e o sangue; e os três estão de acordo. Se
aceitamos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior, porque o
testemunho de Deus consiste naquele que Ele deu de seu Filho. Quem acredita no
Filho de Deus tem em si mesmo este testemunho. Quem não acredita em Deus
considera-O um mentiroso, porque não acredita no testemunho dado por Deus
acerca de seu Filho. E o testemunho é este: Deus deu-nos a vida eterna e esta
vida está em seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida, quem não tem o Filho de
Deus não tem a vida. Escrevo-vos estas coisas, para saberdes que tendes a vida
eterna, vós que acreditais no nome do Filho de Deus.
Salmo
Responsorial: 147
R. Jerusalém, louva o teu
Senhor.
Glorifica, Jerusalém, o Senhor,
louva, Sião, o teu Deus. Ele reforçou as tuas portas e abençoou os teus filhos.
Estabeleceu a paz nas tuas
fronteiras e saciou-te com a flor da farinha. Envia à terra a sua palavra,
corre veloz a sua mensagem.
Revelou a sua palavra a Jacob,
suas leis e preceitos a Israel. Não fez assim com nenhum outro povo, a nenhum
outro manifestou os seus juízos.
Aleluia. Jesus proclamava o
Evangelho do reino e curava todas as doenças entre o povo. Aleluia.
Evangelho
(Lc 5,12-16): Estando Jesus numa das cidades, apareceu um homem coberto
de lepra. Ao ver Jesus, ele caiu com o rosto em terra e suplicou-lhe: «Senhor,
se queres, tens o poder de purificar-me». Estendendo a mão, Jesus tocou nele e
disse: «Quero, fica purificado». E imediatamente a lepra desapareceu. E
ordenou-lhe que não o contasse a ninguém. «Mas», disse, «vai mostrar-te ao
sacerdote e apresenta por tua purificação a oferenda prescrita por Moisés. Isso
lhes servirá de testemunho». Cada vez mais, sua fama se espalhava, e as
multidões acorriam para ouvi-lo e para serem curadas de suas doenças. Ele,
porém, se retirava para lugares desertos, onde se entregava à oração.
«Cada vez mais, sua fama se
espalhava»
Rev. D. Santi COLLELL i Aguirre (La
Garriga, Barcelona, Espanha)
Hoje temos uma grande
responsabilidade em fazer que «sua fama» (Lc 5,15) continue se estendendo, sobretudo,
a todos aqueles que não lhe conhecem ou que, por diversas razões e
circunstâncias, se afastaram Dele.
Mas, este contágio não será
possível se antes nós não temos sido capazes de reconhecer nossas próprias
“lepras” particulares e de nos acercar a Cristo tendo consciência de que
somente Ele nos pode liberar de maneira eficaz de todos nossos egoísmos, invejas,
orgulhos e rancores...
Que a fama de Cristo se estenda a
todos os cantos de nossa sociedade depende, em grande medida, dos ”encontros
particulares” que tivemos com Ele. Quanto mais e mais intensamente nos
impregnemos de seu Evangelho, de seu amor, de sua capacidade de escutar, de
acolher, de perdoar, de aceitar o outro (por diferente que seja), mais capazes
seremos nós de dá-lo a conhecer a nosso entorno.
O leproso do Evangelho que hoje
se lê na Eucaristia é alguém que tem feito um duplo exercício de humildade. O
de reconhecer qual é seu mal e, o de aceitar a Jesus como seu Salvador. Cristo
é quem nos dá a oportunidade de fazer uma mudança radical e profunda na nossa
vida. Diante de tudo aquilo que é impedimento para o amor e que tem se
enquistado nos nossos corações e em nossas vidas, Cristo, com seu testemunho de
vida e de Vida Nova, propõem-nos uma alternativa totalmente real e possível. A
alternativa do amor, da ternura da misericórdia. Jesus, diante de quem é
diferente a Ele (o leproso) não escapa, não o ignora, não o “despacha” à
administração, nem às instituições ou às “ongs”. Cristo aceita o reto do
encontro e, ao “enfermo” lhe oferece aquilo que necessita, a cura/purificação.
Nós temos que ser capazes de
oferecer aos que se aproximam a nossas vidas aquilo que recebemos do Senhor.
Mas, antes será necessário encontrar-nos com Ele e renovar nosso compromisso de
viver seu Evangelho nos pequenos detalhes de cada dia.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Aquele homem se ajoelha
prostrando-se no chão —o que é um sinal de humildade e de vergonha— para que
cada um se envergonhe das nódoas da sua vida. A sua confissão está cheia de
piedade y de fé: isto é, reconheceu que curar-se estava nas mãos do Senhor»
(Santo Beda o Venerável)
«Através da sua Mãe é sempre
Jesus quem sai ao nosso encontro para liberar-nos de toda doença do corpo e da
alma. ¡Deixemo-nos tocar e purificar por Ele!» (Bento XVI)
«Jesus acompanha as suas palavras
com numerosos ‘milagres, prodígios e sinais, (At 2,22), os quais manifestam que
o Reino está presente n'Ele. Comprovam que Ele é o Messias anunciado (289)»
(Catecismo da Igreja Católica, nº 547)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm
* Um leproso chega perto de
Jesus. Era um excluído. Devia viver afastado. Quem tocasse nele ficava
impuro! Mas aquele leproso teve muita coragem. Transgrediu as normas da
religião para poder chegar perto de Jesus. Ele diz: Se queres, podes curar-me!
Ou seja: “Não precisa tocar-me! Basta o senhor querer para eu ficar curado!” A
frase revela duas doenças: 1) a
doença da lepra que o tornava impuro; 2)
a doença da solidão a que era condenado pela sociedade e pela religião. Revela
também a grande fé do homem no poder de Jesus. Profundamente compadecido, Jesus
cura as duas doenças. Primeiro, para curar a solidão, toca no leproso. É como
se dissesse: “Para mim, você não é um excluído. Eu te acolho como irmão!” Em
seguida, cura a lepra dizendo: Quero! Seja curado!
* O leproso, para poder entrar
em contato com Jesus, tinha transgredido as normas da lei. Da mesma forma,
Jesus, para poder ajudar aquele excluído e, assim, revelar um rosto novo de
Deus, transgrede as normas da sua religião e toca no leproso. Naquele tempo,
quem tocava num leproso tornava-se um impuro perante as autoridades religiosas
e perante a lei da época.
* Jesus não só cura, mas
também quer que a pessoa curada possa conviver. Ele reintegra a pessoa na
convivência. Naquele tempo, para um leproso ser novamente acolhido na
comunidade, ele precisava ter um atestado de cura assinado por um sacerdote. É
como hoje. O doente só sai do hospital com o documento assinado pelo médico de
plantão. Jesus obrigou o fulano a buscar o documento, para que ele pudesse
conviver normalmente. Obrigou as autoridades a reconhecer que o homem tinha
sido curado.
* Jesus tinha proibido o
leproso de falar sobre a cura. O Evangelho de Marcos informa que esta
proibição não adiantou nada. O leproso, assim que partiu, começou a divulgar a
notícia, de modo que Jesus já não podia entrar publicamente numa cidade.
Permanecia fora, em lugares desertos (Mc 1,45). Por que? É que Jesus tinha
tocado no leproso. Por isso, na opinião da religião daquele tempo, agora ele
mesmo era um impuro e devia viver afastado de todos. Já não podia entrar nas
cidades. E Marcos mostra ainda que o povo pouco se importava com estas normas
oficiais, pois de toda a parte vinham a ele (Mc 1,45). Subversão total!
* O duplo recado que Lucas e
Marcos dão às comunidades do seu tempo e a todos nós é este: 1) anunciar a Boa Nova é dar testemunho da
experiência concreta que se tem de Jesus. O leproso, o que ele anuncia? Ele
conta aos outros o bem que Jesus lhe fez. Só isso! Tudo isso! E é este
testemunho que leva os outros a aceitar a Boa Nova de Deus que Jesus nos
trouxe. 2) Para levar a Boa Nova de
Deus ao povo, não se deve ter medo de transgredir normas religiosas que são
contrárias ao projeto de Deus e que dificultam a comunicação, o diálogo e a
vivência do amor. Mesmo que isto traga dificuldades para a gente, como trouxe
para Jesus.
Para um confronto pessoal
1. Para ajudar o próximo,
Jesus transgrediu a lei da pureza. Existem hoje leis na igreja que dificultam
ou impedem a prática do amor ao próximo?
2. O leproso para poder
ser curado teve coragem a opinião pública do seu tempo. E eu?
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