S.
Pedro Tomás, Patriarca Latino de Constantinopla e Bispo de nossa Ordem.
1ª
Leitura (1Jo 4,11-18): Caríssimos: Se Deus nos amou tanto, também nós
devemos amar-nos uns aos outros. A Deus ninguém jamais O viu. Se nos amarmos
uns aos outros, Deus permanece em nós e em nós o seu amor é perfeito. Nisto
conhecemos que estamos n’Ele e Ele em nós: porque nos deu o seu Espírito. E nós
vimos e damos testemunho de que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do
mundo. Se alguém confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele e
ele em Deus. Nós conhecemos o amor de Deus por nós e acreditamos no seu amor. Deus
é amor: quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele. Nisto se realiza
a perfeição do amor de Deus em nós, porque somos neste mundo como é Jesus e
assim temos plena confiança no dia do juízo. No amor não há temor; o amor que é
perfeito expulsa o temor, porque o temor supõe um castigo. Quem teme não é
perfeito no amor.
Salmo
Responsorial: 71
R. Virão adorar-Vos, Senhor,
todos os povos da terra.
Deus, concedei ao rei o poder de
julgar e a vossa justiça ao filho do rei. Ele governará o vosso povo com
justiça e os vossos pobres com equidade.
Os reis de Társis e das ilhas
virão com presentes, os reis da Arábia e de Sabá trarão suas ofertas.
Prostrar-se-ão diante dele todos os reis, todos os povos o hão de servir.
Socorrerá o pobre que pede
auxílio e o miserável que não tem amparo. Terá compaixão dos fracos e dos
pobres e defenderá a vida dos oprimidos.
Aleluia. Glória a Vós, Jesus
Cristo, anunciado aos gentios; glória a Vós, Jesus Cristo, acreditado no mundo.
Aleluia.
Evangelho
(Mc 6,45-52): Logo em seguida, Jesus mandou que os discípulos entrassem
no barco e fossem na frente para Betsaida, na outra margem, enquanto ele mesmo
despediria a multidão. Depois de os despedir, subiu a montanha para orar. Já
era noite, o barco estava no meio do mar e Jesus, sozinho, em terra. Vendo-os
com dificuldade no remar, porque o vento era contrário, nas últimas horas da
noite, foi até eles, andando sobre as águas; e queria passar adiante. Quando os
discípulos o viram andar sobre o mar, acharam que fosse um fantasma e começaram
a gritar. Todos o tinham visto e ficaram apavorados. Mas ele logo falou:
«Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!» Ele subiu no barco, juntando-se a eles, e
o vento cessou. Mas os discípulos ficaram ainda mais espantados. De fato, não
tinham compreendido nada a respeito dos pães. O coração deles continuava sem
entender.
«Depois de os despedir, subiu
a montanha para orar»
Rev. D. Melcior QUEROL i Solà (Ribes
de Freser, Girona, Espanha)
Hoje, contemplamos como Jesus,
depois de se despedir dos Apóstolos e das pessoas, retira-se sozinho a rezar.
Toda sua vida é um diálogo constante com o Pai e, não obstante, vai-se à
montanha a rezar. E nós? Como rezamos? Frequentemente levamos um ritmo de vida
atarefado, que termina sendo um obstáculo para o cultivo da vida espiritual e
não damo-nos conta que é tão necessário “alimentar” a alma quanto alimentar o
corpo. O problema é que, com muita frequência, Deus ocupa um lugar pouco
relevante em nossa ordem de prioridades. Nessa circunstância é muito difícil
rezar de verdade. Não podemos dizer que se tenha um espírito de oração quando
somente imploramos ajuda nos momentos difíceis.
Achar tempo e espaço para a
oração pede um requisito prévio: o desejo de encontro com Deus com a
consciência clara de que nada nem ninguém o pode substituir. Se não há sede de
comunicação com Deus, facilmente transformaremos a oração num monólogo, porque
a utilizamos para tentar solucionar os problemas que nos incomodam. Também é
fácil que, nos momentos de oração, nos distraiamos porque nosso coração e nossa
mente estão invadidos constantemente por pensamentos e sentimentos de todo
tipo. A oração não é charlatanice, senão um simples e sublime encontro com o
Amor; é relação com Deus: comunicação silenciosa do “Eu necessitado” com o
“Você rico e transcendente”. O prazer da oração é se saber criatura amada
diante do Criador.
Oração e vida cristã vão unidas,
são inseparáveis. Nesse sentido, Orígenes diz que «reza sem parar aquele que
une a oração às obras e as obras à oração. Somente assim podemos considerar
realizável o princípio de rezar sem parar». Sim, é necessário rezar sem parar
porque as obras que realizamos são fruto da contemplação e, feitas para sua
glória. Devemos agir sempre desde o diálogo contínuo que Jesus oferece-nos, no
sossego do espírito. A partir dessa certa passividade contemplativa veremos que
a oração é o respirar do amor. Se não respiramos morremos, se não rezamos
expiramos espiritualmente.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Não quero (…) desconfiar da
bondade de Deus, por mais fraco e frágil me sinta. Além disso, se por causa do
medo e do espanto visse que estou prestes a ceder, lembrar-me-ei de São Pedro,
quando, devido à sua pouca fé, começou a afundarse por causa de uma única
rajada de vento, e farei o que ele fez. Clamarei a Cristo: Senhor, salva-me»
(Santo Tomás More)
«[Hoje em dia] Deus pode agir na
esfera espiritual, mas não na matéria. Isto atrapalha-nos! Se Deus não tem
poder também sobre a matéria, então ele não é Deus» (Bento XVI)
«Nada existe que não deva a sua
existência a Deus Criador: O mundo começou quando foi tirado do nada pela
Palavra de Deus: todos os seres existentes, toda a Natureza, toda a história
humana radicam neste acontecimento primordial: é a própria génese, pela qual o
mundo foi constituído e o tempo começado» (Catecismo da Igreja Católica, nº
338)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm
* Depois da multiplicação dos
pães (evangelho de ontem), Jesus obriga os discípulos a entrar no barco.
Por que? Marcos não explica. O evangelho de João informa o seguinte. De acordo
com a esperança da época, o Messias iria repetir o gesto de Moisés de alimentar
o povo no deserto. Por isso, diante da multiplicação dos pães, o povo concluiu
que Jesus devia ser o messias esperado, anunciado por Moisés (cf. Dt 18,15-18)
e quis fazer dele um rei (cf. Jo 6,14-15). Este apelo do povo era uma tentação
tanto para Jesus como para os discípulos. Por isso, Jesus obrigou-os a
embarcar. Queria evitar que eles se contaminassem com a ideologia dominante,
pois o “fermento de Herodes e dos fariseus”, era muito forte (Mc 8,15). Jesus,
ele mesmo, enfrenta a tentação por meio da oração.
* Marcos descreve com arte os
acontecimentos. De um lado, Jesus sobe o monte para rezar. De outro lado,
os discípulos descem para o mar e entram no barco. Parece até um quadro
simbólico que prefigura o futuro: é como se Jesus já subisse para o céu,
deixando os discípulos sozinhos em meio às contradições da vida, no barquinho
frágil da comunidade. Era noite. Eles estavam em alto mar, todos juntos num
pequeno barco, querendo avançar remando, mas o vento era contrário. Estavam
cansados. Já era a quarta vigília, isto é, entre 3 e 6 da madrugada. As comunidades
do tempo de Marcos eram como os discípulos. Noite! Vento contrário! Não
conseguiam nada, apesar de todo o esforço que faziam! Jesus parecia ausente!
Mas ele estava presente e vinha até elas, mas elas, como os discípulos de
Emaús, não o reconheciam (Lc 24,16).
* No tempo de Marcos, em
torno do ano 70, o barquinho das comunidades enfrentava o vento contrário tanto
de alguns judeus convertidos que queriam reduzir o mistério de Jesus ao tamanho
das profecias e figuras do Antigo Testamento, como de alguns pagãos convertidos
que pensavam ser possível uma certa aliança da fé em Jesus com o império.
Marcos procura ajudar os cristãos a respeitar o mistério de Jesus e a não
querer reduzir Jesus ao tamanho dos próprios desejos e ideias.
* Jesus chega andando sobre as
águas do mar da vida. Eles gritam de medo, porque pensam que se trata de um
fantasma. Como na história dos discípulos de Emaús, Jesus faz de conta que quer
seguir adiante (Lc 24,28). Mas o grito deles faz com que ele mude de rumo, se
aproxime deles e diga: “Calma, gente! Sou eu! Não tenham medo!” Aqui, de novo,
quem conhece a história do Antigo Testamento, lembra alguns fatos muito
importantes: (1) Lembra como o povo, protegido por Deus, atravessou sem medo o
Mar Vermelho. (2) Lembra como Deus, ao chamar Moisés, declarou várias vezes o
seu nome dizendo: “Sou eu!” (cf. Ex 3,15). (3) Lembra ainda o livro de Isaías
que apresenta o retorno do exílio como um novo êxodo, onde Deus aparece
repetindo inúmeras vezes: “Sou eu!” (cf. Is 42,8; 43,5.11-13; 44,6.25; 45,5-7).
Esta maneira de evocar o Antigo Testamento, de usar a Bíblia, ajudava as
comunidades a perceber melhor a presença de Deus em Jesus e nos fatos da vida.
Não tenham medo!
*Jesus sobe no barco e o vento
pára. Mas o espanto dos discípulos, em vez de terminar, aumenta. O próprio
evangelista Marcos faz um comentário crítico e diz: “Eles não tinham entendido
nada a respeito dos pães. O coração deles estava endurecido” (6,52). A
afirmação coração endurecido evoca o coração endurecido do faraó (Ex 7,3.13.22)
e do povo no deserto (Sl 95,8) que não queria ouvir Moisés e só pensava em
voltar para o Egito (Nm 20,2-10), onde havia pão e carne com fartura (Ex 16,3).
Para um confronto pessoal
1. Noite, mar agitado,
vento contrário! Você já se sentiu assim alguma vez? Como fez para vencer?
2. Você já se espantou
alguma vez porque não reconheceu Jesus presente e atuante em sua vida?