sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

A Sagrada Família

São David, rei e profeta
São Tomás Becket, bispo e mártir
 
1ª Leitura (1Sam 1,24-28):
Naqueles dias, Ana tomou Samuel consigo e, levando um novilho de três anos, três medidas de farinha e um odre de vinho, conduziu-o à casa do Senhor, em Silo. O menino era muito pequeno. Imolaram o novilho e apresentaram o menino a Heli. Ana disse-lhe: «Ouve, meu senhor. Por tua vida, eu sou aquela mulher que esteve aqui orando ao Senhor na tua presença. Eis o menino por quem orei: o Senhor ouviu a minha súplica. Por isso também eu o ofereço para que seja consagrado ao Senhor todos os dias da sua vida». E adoraram o Senhor.
 
Salmo Responsorial: 127
R. Felizes os que esperam no Senhor e seguem os seus caminhos.
 
Feliz de ti, que temes o Senhor e andas nos seus caminhos. Comerás do trabalho das tuas mãos, serás feliz e tudo te correrá bem.
 
Tua esposa será como videira fecunda, no íntimo do teu lar; teus filhos serão como ramos de oliveira, ao redor da tua mesa.
 
Assim será abençoado o homem que teme o Senhor. De Sião te abençoe o Senhor: vejas a prosperidade de Jerusalém, todos os dias da tua vida.
 
2ª Leitura (Col 3,12-21): Irmãos: Como eleitos de Deus, santos e prediletos, revesti-vos de sentimentos de misericórdia, de bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, se algum tiver razão de queixa contra outro. Tal como o Senhor vos perdoou, assim deveis fazer vós também. Acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição. Reine em vossos corações a paz de Cristo, à qual fostes chamados para formar um só corpo. E vivei em ação de graças. Habite em vós com abundância a palavra de Cristo, para vos instruirdes e aconselhardes uns aos outros com toda a sabedoria; e com salmos, hinos e cânticos inspirados, cantai de todo o coração a Deus a vossa gratidão. E tudo o que fizerdes, por palavras ou por obras, seja tudo em nome do Senhor Jesus, dando graças, por Ele, a Deus Pai. Esposas, sede submissas aos vossos maridos, como convém no Senhor. Maridos, amai as vossas esposas e não as trateis com aspereza. Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto agrada ao Senhor. Pais, não exaspereis os vossos filhos, para que não caiam em desânimo.
 
Aleluia. Reine em vossos corações a paz de Cristo, habite em vós a sua palavra. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 2,41-52): Todos os anos, os pais de Jesus iam a Jerusalém para a festa da Páscoa. Quando completou doze anos, eles foram para a festa, como de costume. Terminados os dias da festa, enquanto eles voltavam, Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais percebessem. Pensando que se encontrasse na caravana, caminharam um dia inteiro. Começaram então a procurá-lo entre os parentes e conhecidos. Mas, como não o encontrassem, voltaram a Jerusalém, procurando-o. Depois de três dias, o encontraram no templo, sentado entre os mestres, ouvindo-os e fazendo-lhes perguntas. Todos aqueles que ouviam o menino ficavam maravilhados com sua inteligência e suas respostas. Quando o viram, seus pais ficaram comovidos, e sua mãe lhe disse: «Filho, por que agiste assim conosco? Olha, teu pai e eu estávamos, angustiados, à tua procura!» Ele respondeu: «Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devo estar naquilo que é de meu pai?» Eles, porém, não compreenderam a palavra que ele lhes falou. Jesus desceu, então, com seus pais para Nazaré e era obediente a eles. Sua mãe guardava todas estas coisas no coração. E Jesus ia crescendo em sabedoria, tamanho e graça diante de Deus e dos homens.
 
«O encontraram no templo, sentado entre os mestres. Ficavam maravilhados com sua inteligência»
 
Rev. D. Joan Ant. MATEO i García (Tremp, Lleida, Espanha)

Hoje contemplamos, como continuação do Mistério da Encarnação, a inserção do Filho de Deus na comunidade humana por excelência, a família e, a progressiva educação de Jesus por parte de José e Maria. Como diz o Evangelho, «E Jesus ia crescendo em sabedoria, tamanho e graça diante de Deus e dos homens» (Lc 2,52).
 
O livro do Eclesiástico, lembra-nos que «Deus honra o pai nos filhos e confirma, sobre eles, a autoridade da mãe» (Si 3,2). Jesus tem doze anos e manifesta a boa educação recebida no lar de Nazaré. A sabedoria que mostra evidência, sem dúvidas, a ação do Espírito Santo, mas também o inegável bom saber educador de José e Maria. A inquietação de Maria e José põe de manifesto sua solicitude educadora e sua companhia amorosa para com Jesus.
 
Não é necessário fazer grandes arrazoamentos para ver que hoje, mais do que nunca, é necessário que a família assuma com força a missão educadora que Deus lhe confiou. Educar é introduzir na realidade e, somente o pode fazer aquele que a vive com sentido. Os pais e mães cristãos devem educar desde Cristo, fonte de sentido e de sabedoria.
 
Dificilmente podem pôr remédio aos déficit de educação do lar. Tudo aquilo que não se aprende em casa não se aprende fora, se não é com grande dificuldade. Jesus vivia e aprendia com naturalidade no lar de Nazaré as virtudes que José e Maria exerciam constantemente: espírito de serviço a Deus e aos homens, piedade, amor ao trabalho bem-feito, solicitude de uns pelos outros, delicadeza, respeito, horror ao pecado... As crianças, para crescerem com cristãos, necessitam testemunhos e, se estes são os pais, essas crianças serão afortunadas.
 
É necessário que todos vamos hoje buscar a sabedoria de Cristo para levá-la a nossas famílias. Um antigo escritor, Orígenes, comentado no Evangelho de hoje, dizia que é necessário que aquele que procura Cristo, o procure não de maneira negligente e com desleixo, como o fazem alguns que não o acham nunca. Há que procurá-lo com “inquietude”, com grande afã, como o procuravam José e Maria.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Como gostaríamos que o amor ao silêncio se renovasse e se reforçasse em nós, este hábito admirável e indispensável do espírito. —Silêncio de Nazaré, ensina-nos o recolhimento e a interioridade» (São Paulo VI)
 
«O Senhor entrou humildemente na terra. Ele cresceu como uma criança normal, ele passou pelo teste de trabalho, mesmo também pela prova da cruz. No final, ele ressuscitou. O Senhor nos ensina que na vida nem tudo é mágico, o triunfalismo não é cristão» (Francisco)
 
«Jesus compartilhou, durante a maior parte da sua vida, a condição da grande maioria dos homens: uma vida cotidiana sem importância aparente, uma vida de trabalho manual, uma vida Religioso judeu sujeito à lei de Deus, uma vida em comunidade. De todo esse período nos é dito que Jesus foi "submetido" a seus pais e que 'ele progrediu em sabedoria, estatura e na graça diante de Deus e dos homens ' (Lc 2,51-52)» (Catecismo da Igreja Católica, n. 531)
 
A obediência ao Pai é que faz de nós uma família

Fr. Pedro Bravo, O.Carm
 
v. 41.
O episódio da perda e encontro do Menino Jesus no Templo, exclusivo de Lucas, é a última das “narrativas da infância de Jesus”. Percorrendo as principais etapas da iniciação religiosa judaica, Lucas mostra de forma retrospectiva os sinais da vida futura de Cristo. Este episódio tem como pano de fundo a narrativa da infância de Samuel (“pais”, “todos os anos”: 1Sm 1,3.7.21; 2,19). Ao impor o seu nome a Jesus na sua circuncisão ao oitavo dia (v. 21), Ieshuah bar-Iosef (aram. “Jesus, filho de José”: 4,22; Jo 1,45; 6,42), José assume a paternidade legal de Jesus, sendo considerado para todos os efeitos pai dele. A partir de então, Lucas designa sempre José e Maria como “os pais de Jesus” (vv. 27.43.48), embora anotando que José era apenas pai putativo de Jesus (3,23). A Lei prescrevia que os homens fossem três vezes por ano ao Templo por ocasião das grandes festas: Páscoa, Pentecostes e Tendas (Ex 23,17; 34,23s; Dt 16,16). Era o que toda a Sagrada Família fazia cada ano, pelo menos pela Páscoa.
 
v. 42. Em Israel o rapaz atingia a maioridade por volta dos 12 anos (desde que desse provas de maturidade) ou de preferência aos 13 anos, idade que será legalmente fixada no s. XVI. Celebra então a bar-mitzvá (ar. “filho do mandamento”). Nessa altura o adolescente alcança a independência da autoridade paterna e passa a ser considerado responsável pelos seus atos a) na fidelidade à Aliança, b) no estudo da Lei e c) na observância dos mandamentos. Embora seja considerado desde então adulto do ponto de vista religioso, não quer dizer que já tenha atingido a plena maturidade humana. A data marca apenas o momento a partir do qual ele toma consciência dos problemas que o cercam e que atingem os seus semelhantes, sendo progressivamente inserido na vida da comunidade, como membro ativo e responsável também pelo crescimento desta. É então que a Sagrada Família faz a viagem de 120 km até Jerusalém (4 dias a pé, 30 km/dia) com alguns parentes e conhecidos. Em Lucas, é em Jerusalém que tudo começa (1,5; At 1,4.8.12) e se consuma o destino de Jesus (9,31.51; 19,28; 24,52).
 
v. 43. Passados os oito dias da Páscoa em Jerusalém (desde a manhã de 14 de Nissan, véspera da Páscoa, até à tarde de 21, festa dos Pães Ázimos: Ex 12,15.18), Maria e José regressam a Nazaré.
 
v. 44. Na época peregrinava-se em caravana (gr. sinodía), os homens num grupo e as mulheres noutro, juntando-se ambos ao fim do dia para comer. Até aos 12/13 anos, as crianças viajavam com a mãe, mas a partir de então os moços iam com o pai e as moças com a mãe. Daí a confusão: Maria pensava que Jesus voltava com José, enquanto José cria que Ele ainda vinha com a mãe.
 
v. 45. Embora fossem pais atentos, Maria e José não eram controladores e sabendo que Jesus era responsável e obediente não se preocuparam, só se tendo apercebido da sua ausência quando se juntaram ao fim do dia para comer. Na manhã seguinte regressam a Jerusalém à sua procura, fazendo mais um dia de viagem.
 
v. 46. Jesus não era “beato”. Só dois dias depois (“passados três dias”: Mt 27,63; Mc 8,31; 9,31; 10,34) é que foram ao Templo, onde o “encontram” (24,29.33) sentado, no meio dos Doutores da lei (os eruditos que explicavam a Lei e a ensinavam a cumprir). É no Templo que se abre e fecha o Evangelho de Lucas (1,9; 24,53). Jesus escuta-os para aprender, interroga-os para compreender (1,29.34) e fala com tal sabedoria, v. 47, que todos ficam “estupefatos” (Mt 12,23; Jo 7,15).
 
v. 48. Ao encontrá-lo, seus pais ficam “admirados” (4,32; 9,43). Maria intervém, mas sem dramatizar, nem reclamar a posse dele (não diz “meu filho”, mas apenas “filho”, gr. téknon); não se põe no centro, mas pensa primeiro em Jesus e em José, que chama “pai” de Jesus, mostrando ter assimilado plenamente o desígnio de Deus. Também não acusa, nem incrimina Jesus, mas sabendo que Ele sempre foi responsável e obediente, indaga o motivo do comportamento dele, que ela não compreende, mas corrige.
 
v. 49. Jesus responde, fornecendo a chave do episódio nas primeiras palavras dele registadas nos Evangelhos e que são como que o resumo do seu programa de vida: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que é necessário que Eu esteja nas coisas de meu Pai?” (Jo 2,16). A expressão “meu Pai” aparece aqui e no fim do Evangelho (24,29), formando uma inclusão. Jesus evoca Josué (gr. Jesus), sucessor de Moisés, que nunca se afastava da Tenda da Reunião (Ex 33,11), e Samuel, que desde menino vivia no templo de Silo, onde teria começado a profetizar aos 12 anos (1Sm 3,1-21; Fl. Jos, Ant. 5,10,4).
Jesus manifesta aqui, pela primeira vez, a consciência de que José não é seu pai carnal, mas apenas Deus é seu Pai, cujo nome aparece aqui, no princípio e no termo da sua vida (23,46) e antes de subir ao céu (24,49; At 1,7). A identidade de Jesus, que resulta da sua relação com o Pai (22,29.42; 23,34), de Quem Ele sabe ser o Filho, o desígnio que o Pai lhe confiou e que Ele sabe “ser necessário” cumprir (gr. dei: 9,22; 17,25; 22,37; 24,7. 44), são tão únicos que Ele não pode ser encontrado a partir do que nos é familiar e conhecido, mas apenas a partir de Deus (10,21s), que está muito acima dos laços carnais (cf. 8,21; 14,26), bem como de tudo o que se possa pensar ou imaginar.
 
v. 50. “Mas eles não entenderam” a sua relação com o Pai, nem como esta pudesse estar acima da relação com eles e sofrem. Começa a cumprir-se a profecia de Simeão a Maria (vv. 34s). O episódio alude assim à paixão, morte e ressurreição de Jesus que decorrem em Jerusalém, por ocasião da Páscoa. Em ambos os casos Jesus é deixado por pessoas que “não entenderam” o desígnio do Pai (aqui os “pais”, lá os discípulos: 9,45; 18,34), procurado pelos seus e encontrado só ao “terceiro dia” (24,5.21), explicando-lhes que “é necessário” que se realize o que Pai determinou nas Escrituras (cf. 24,7.25ss.45s).
 
v. 51. O episódio teve consequências. Jesus percebe que a vontade do Pai, embora sobrepondo-se à família, não está desvinculada, nem é indiferente ou se opõe aos deveres para com os outros, mas leva antes a assumir as próprias responsabilidades no seio da família, da sociedade e do mundo (cf. 3,23-38), estando atentos à situação e aos sentimentos dos outros, de modo a aí corresponder à vontade do Pai que passa pelas mediações humanas e pela própria vida concreta.
Maria, por sua vez, de mãe, passa a ser também discípula de Jesus, “conservando todas estas palavras” (he. dabar, “palavra, coisa, acontecimento”) proféticas “em seu coração” (v. 19; Gn 37,11), aguardando que se cumpram, de modo a assim se revelar o seu sentido.
 
v. 52. Jesus, homem verdadeiro, vai crescendo em idade e estatura (v. 40; cf. 1,80), amadurecendo em “sabedoria” (o dom divino que faz o homem conhecer a Deus, o une a Ele e lhe revela os seus mistérios: 2,40; 11,31;21,15) e “em graça” (a manifestação pessoal do amor de Deus ao homem: 1,28.30), “junto de Deus e dos homens” (1Sm 2,21.26), formando-se pouco a pouco para mais tarde poder assumir com plena consciência e responsabilidade a sua missão. No caminho da fé todos podem dar e todos precisam de receber. Também Jesus.
 
MEDITAÇÃO
1. Para Jesus, a prioridade fundamental é sempre a vontade do Pai, o seu plano para cada um. Qual é a minha prioridade fundamental?
2. Aceito a identidade e vocação próprias daqueles com quem vivo na família ou na comunidade? Como potenciar o seu crescimento?
 
Famílias abertas ao projeto de Deus
 
Os relatos do Evangelho não oferecem dúvida alguma. Segundo Jesus, Deus tem um grande projeto: construir no mundo uma grande família humana. Atraído por este projeto, Jesus dedica-se inteiramente para que todos sintam a Deus como Pai e todos aprendam a viver como irmãos. Este é o caminho que conduz à salvação do género humano.
 
Para alguns, a família atual está a arruinar-se porque perdeu o ideal tradicional de "família cristã". Para outros, qualquer novidade é um progresso para uma sociedade nova. Porém, como é uma família aberta ao projeto humanizador de Deus? Que características poderíamos destacar?
 
* Amor entre os esposos. É a primeira característica. O lar está vivo quando os pais sabem querer-se, apoiar-se mutuamente, compartilhar dores e alegrias, perdoar-se, dialogar e confiar um no outro. A família começa a desumanizar quando cresce o egoísmo, as discussões e os mal-entendidos.
 
* Relação entre pais e filhos. Não basta o amor entre os esposos. Quando pais e filhos vivem enfrentando-se e sem nenhuma comunicação, a vida familiar torna-se impossível, a alegria desaparece, todos sofrem. A família necessita de um clima de confiança mútua para pensar no bem de todos.
 
* Atenção aos mais frágeis. Todos devem encontrar no seu lar acolhimento, apoio e compreensão. Porém, a família faz-se mais humana, sobretudo, quando nela se cuida com amor e carinho dos mais pequenos, quando se trata com amor e respeito os maiores, quando há solicitude para os enfermos ou incapacitados, quando não se abandona quem está passando mal.
 
* Abertura aos necessitados. Uma família trabalha por um mundo mais humano, quando não se fecha nos seus problemas e interesses, mas vive aberta às necessidades das outras famílias: lares quebrados que vivem situações conflituosas e dolorosas, e necessitam de apoio e compreensão; famílias sem trabalho nem renda alguma, que necessitam de ajuda material; famílias de imigrantes que pedem acolhimento e amizade.
 
* Crescimento da fé. Na família aprende-se a viver as coisas mais importantes. Por isso, é o melhor lugar para aprender a crer nesse Deus bom, Pai de todos; para conhecer o estilo de vida de Jesus; para descobrir a sua Boa Notícia; para rezar juntos à volta da mesa; para tomar parte na vida da comunidade dos seguidores de Jesus. Estas famílias cristãs são uma bênção para a sociedade.
 

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