SÃO
MIGUEL, SÃO GABRIEL (Anjo da Guarda da nossa Ordem) e SÃO RAFAEL.
1ª
Leitura (Num 11,25-29): Naqueles dias, o Senhor desceu na nuvem e falou
com Moisés. Tirou uma parte do Espírito que estava nele e fê-lo poisar sobre
setenta anciãos do povo. Logo que o Espírito poisou sobre eles, começaram a
profetizar; mas não continuaram a fazê-lo. Tinham ficado no acampamento dois
homens: um deles chamava-se Eldad e o outro Medad. O Espírito poisou também
sobre eles, pois contavam-se entre os inscritos, embora não tivessem
comparecido na tenda; e começaram a profetizar no acampamento. Um jovem correu
a dizê-lo a Moisés: «Eldad e Medad estão a profetizar no acampamento». Então
Josué, filho de Nun, que estava ao serviço de Moisés desde a juventude, tomou a
palavra e disse: «Moisés, meu senhor, proíbe-os». Moisés, porém, respondeu-lhe:
«Estás com ciúmes por causa de mim? Quem dera que todo o povo do Senhor fosse
profeta e que o Senhor infundisse o seu Espírito sobre eles!».
Salmo
Responsorial: 18
R. Os preceitos do Senhor
alegram o coração.
A lei do Senhor é perfeita, ela
reconforta a alma. As ordens do Senhor são firmes, dão a sabedoria aos simples.
O temor do Senhor é puro e
permanece eternamente; os juízos do Senhor são verdadeiros, todos eles são retos.
Embora o vosso servo se deixe
guiar por eles e os observe com cuidado, quem pode, entretanto, reconhecer os
seus erros? Purificai-me dos que me são ocultos.
Preservai também do orgulho o
vosso servo, para que não tenha poder algum sobre mim: então serei
irrepreensível e imune de culpa grave.
2ª
Leitura (Tg 5,1-6): Agora, vós, ó ricos, chorai e lamentai-vos, por
causa das desgraças que vão cair sobre vós. As vossas riquezas estão
apodrecidas e as vossas vestes estão comidas pela traça. O vosso ouro e a vossa
prata enferrujaram-se, e a sua ferrugem vai dar testemunho contra vós e devorar
a vossa carne como fogo. Acumulastes tesouros no fim dos tempos. Privastes do
salário os trabalhadores que ceifaram as vossas terras. O seu salário clama; e
os brados dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor do Universo. Levastes na
terra uma vida regalada e libertina, cevastes os vossos corações para o dia da
matança. Condenastes e matastes o justo e ele não vos resiste.
Aleluia. A vossa palavra,
Senhor, é a verdade; santificai-nos na verdade. Aleluia.
Evangelho
(Mc 9,38-43.45.47-48): João disse a Jesus: Mestre, vimos alguém expulsar
demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não andava conosco.
Jesus, porém, disse: Não o proibais, pois ninguém que faz milagres em meu nome
poderá logo depois falar mal de mim. Quem não é contra nós, está a nosso favor.
Quem vos der um copo de água para beber porque sois de Cristo, não ficará sem
receber a sua recompensa. E quem provocar a queda um só destes pequenos que creem
em mim, melhor seria que lhe amarrassem uma grande pedra de moinho ao pescoço e
o lançassem no mar. Se tua mão te leva à queda, corta-a! É melhor entrares na
vida tendo só uma das mãos do que, tendo as duas, ires para o inferno, para o
fogo que nunca se apaga. Se teu pé te leva à queda, corta-o! É melhor entrar na
vida tendo só um dos pés do que, tendo os dois, ser lançado ao inferno. Se teu
olho te leva à queda, arranca-o! É melhor entrar no Reino de Deus tendo um olho
só do que, tendo os dois, ir para o inferno, onde o verme deles não morre e o
fogo nunca se apaga.
«Ninguém que faz milagres em
meu nome poderá logo depois falar mal de mim»
Rev. D. Valentí ALONSO i Roig (Barcelona,
Espanha)
Hoje, conforme ao modelo atual de
quem faz televisão, contemplamos a Jesus colocando vermes e fogo ai aonde
devemos evitar ir: o inferno, onde o verme deles não morre e o fogo nunca se
apaga. (Mc 9,48). É uma descrição do estado que pode ficar uma pessoa quando
não dirigiu a sua vida aonde queria. Poderíamos compará-lo ao momento em que,
dirigindo nosso carro, tomamos a estrada errada, pensando que vamos bem e,
vamos a parar em algum lugar desconhecido, sem saber onde estamos e onde não
queríamos estar. Deve-se evitar ir, seja como for, mesmo que tenhamos que nos
desprender de coisas aparentemente irrenunciáveis: sem mãos (cf. Mc 9,43), sem
pés (cf. Mc 9,45), sem olhos (cf. Mc 9,47). É preciso querer entrar na vida ou
no Reino de Deus, mesmo nem que seja sem algo de nos mesmos.
Possivelmente, este Evangelho nos
leva a refletir para descobrir o quê temos, por muito nosso que seja, que não
nos permite ir a Deus, e ainda mais, que nos distancia dele.
Jesus mesmo, nos orienta para
saber qual é o pecado no que nos fazem cair nossas coisas (mãos, pés e olhos).
Jesus fala dos que escandalizam aos pequenos que nele creem (cf. Mc 9,42).
Escandalizar é distanciar alguém do Senhor. Por tanto, valoremos em cada pessoa
a sua proximidade com Jesus, a fé que tem.
Jesus nos ensina que não faz
falta ser dos Doze ou dos discípulos mais íntimos para estarmos com Ele: Quem
não é contra nós, está à nosso favor, (Mc 9,40). Podemos entender que Jesus
salva tudo. É uma lição do Evangelho de hoje: há muitas pessoas que estão mais
perto do Reino de Deus do que pensamos, porque fazem milagres em nome de Jesus.
Como confessou Santa Teresinha do Menino Jesus: O Senhor não me poderá premiar
segundo minhas obras (...). Pois bem, eu confio que me premiará segundo as
suas.
Quem não é contra nós é por
nós.
Do site da Ordem do Carmo em
Portugal
* Jesus vai, com paciência,
tentando formar os discípulos na lógica do Reino. O texto que a liturgia
deste Domingo nos propõe como Evangelho é mais uma instrução que Jesus dirige
aos discípulos no sentido de lhes mostrar os valores que eles devem
interiorizar. Marcos juntou aqui uma série de “ditos” de Jesus, inicialmente
independentes entre si e pronunciados em contextos diversos.
* Nos primeiros versículos
deste texto, João (desta vez o porta-voz do grupo) queixa-se pelo facto de
terem encontrado alguém a “expulsar demónios” em nome de Jesus, embora não
pertencesse ao grupo dos discípulos; considerando um abuso a utilização do nome
de Jesus por parte de alguém que não fazia parte da comunidade messiânica, os
discípulos procuraram impedi-lo de atuar.
* A atitude dos discípulos
mostra, antes de mais, arrogância, sectarismo, intransigência, intolerância,
ciúmes, mesquinhez, pretensão de monopolizar Jesus e a sua proposta, presunção
de serem os donos exclusivos do bem e da verdade. Mas, por detrás da reação
dos discípulos, deve estar também uma grande preocupação com a concretização
dos projetos pessoais de prestígio e grandeza que quase todos eles alimentavam.
Pouco tempo antes, eles tinham estado a discutir uns com os outros acerca de
quem seria o maior e de quem iria herdar os postos mais importantes no Reino
que, com Jesus, ia nascer; agora, eles estão inquietos e preocupados, porque
apareceu alguém de fora do grupo que pretende atuar em nome de Jesus e que
pode, num futuro próximo, disputar-lhes os lugares.
* Jesus procura levar os
discípulos a ultrapassar esta visão sectária e egoísta da missão. Na
perspectiva de Jesus, quem luta pela justiça e faz obras em favor do homem,
está do lado de Jesus e vive na dinâmica do Reino, mesmo que não esteja
formalmente dentro da estrutura eclesial. A comunidade de Jesus não pode ser
uma comunidade fechada, exclusivista, monopolizadora, que amua e sente ciúmes
quando alguém de fora faz o bem; nem pode sentir-se atingida nos seus
privilégios e direitos pelo facto de o Espírito de Deus atuar fora das
fronteiras da Igreja. A comunidade de Jesus deve ser uma comunidade que põe,
acima dos seus interesses, a preocupação com o bem do homem; e deve ser uma
comunidade que sabe acolher, apoiar e estimular todos aqueles que atuam em
favor da libertação dos irmãos.
* Na segunda parte do
nosso texto, temos outros “ditos” onde são usadas imagens fortes, expressivas,
hiperbólicas, bem ao gosto dos pregadores da época, destinadas a impressionar
profundamente os ouvintes. Não são expressões para traduzir à letra; mas são expressões
que pretendem marcar a necessidade de fazer escolhas acertadas, de optar com
radicalidade pelos valores do Reino.
* O primeiro desses “ditos” é
um aviso àqueles que “escandalizam” os “pequeninos”. Os “pequeninos” de que
Jesus fala são os membros da comunidade que estão numa situação de dependência,
de debilidade, de necessidade. Os membros da comunidade do Reino devem,
portanto, abster-se de qualquer atitude que possa afastar alguém (especialmente
os pequenos, os débeis, os pobres) da adesão a Jesus e ao caminho que Ele veio
propor. Fazer algo que afaste uma dessas pessoas de Cristo e da comunidade é
algo verdadeiramente inadmissível e impensável (a quem fizer isso, “melhor
seria que lhe atassem ao pescoço uma dessas mós movidas por um jumento e o
lançassem ao mar”).
* O segundo “dito” de Jesus
refere-se à absoluta necessidade de arrancar da própria vida todos os
sentimentos e atitudes que são incompatíveis com a opção por Cristo e pela sua
proposta. Quando Jesus fala em cortar a mão (a mão é, nesta cultura, o
órgão da ação, através do qual se concretizam os desejos que nascem no coração)
ou de cortar o pé ou de arrancar o olho que é ocasião de pecado (o olho é,
nesta cultura, o órgão que dá entrada aos desejos), está a sublinhar, com toda
a veemência, a necessidade de atuar, lá onde as ações más do homem têm origem e
eliminar na fonte as raízes do mal. Estando em jogo o destino último do homem,
não se pode protelar ou adiar “cortes”.
* Há ainda, neste segundo
“dito”, referências sucessivas a um castigo na “Geena”, “onde o verme não morre
e o fogo não se apaga”, para aqueles que recusarem cortar com as atitudes e os
sentimentos incompatíveis com o seguimento de Jesus. A palavra “Geena”
deriva do aramaico gêhinnam, hebraico gê-hinnom, que é o nome de um vale
situado a sul de Jerusalém, lugar pagão onde se realizava o culto a Moloch,
onde os ímpios Acaz e Manassés tinham sacrificado os seus filhos (2 Crónicas
28,3; 33,6). O piedoso rei Josias, no decurso da sua reforma religiosa, acabou
com estes cultos pagãos, e destinou este lugar para queimar as entranhas dos
animais. É daqui que vem o espetáculo tétrico da putrefacção, vermes, fumo,
fogo, (Jeremias 7,31-34; 19,1-13; 32,35), «vermes que não morrem, fogo que não
se apaga» (Marcos 9,44.46.48), que fornecerão a linguagem adequada para dizer o
inferno. Nesse vale era queimado o lixo produzido pelos habitantes de
Jerusalém. Era considerado, portanto, um lugar maldito, impuro, tenebroso, que
convinha evitar.
* Jesus usa aqui a imagem do
“Gê-hinnon”, para falar de uma vida perdida, frustrada, destruída, maldita, sem
sentido. É como se, em lugar de viver num lugar livre e feliz, estivesse
condenado a viver no “Gê-hinnon”.
* Palavra para o caminho: “Quem
deveras ama a Deus, todo o bem ama, todo o bem quer, todo o bem favorece, todo
o bem louva, com os bons se junta sempre e os favorece e defende; não ama senão
verdades e coisa que seja digna de amar. Pensais que é possível, a quem mui
deveras ama a Deus, amar vaidades, ou riquezas, ou coisas de deleites do mundo,
ou honras, ou tenha contendas ou invejas? Não, que nem pode; e tudo, porque não
pretende outra coisa senão contentar ao Amado” (Santa Teresa de Jesus).
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