São Nicolau de Tolentino, presbítero
1ª
Leitura (1Cor 6,1-11): Irmãos: Quando algum de vós tem uma questão com
outro, como ousais levá-la para ser julgada pelos pagãos e não pelo povo santo?
Não sabeis que havemos de julgar o mundo? E se é por vós que o mundo será
julgado, seríeis indignos de julgar questões de menor importância? Não sabeis
que havemos de julgar os anjos? Quanto mais os assuntos desta vida! No entanto,
quando tendes estas queixas, escolheis como juízes aqueles que não têm
autoridade na Igreja. Para vossa vergonha o digo. Não há então no meio de vós
um único homem sábio, para poder julgar entre os seus irmãos? Mas como é que um
irmão entra em litígio com o seu irmão e isto diante dos infiéis? De qualquer
modo, já é para vós humilhação bastante que tenhais questões uns com os outros.
Não seria melhor sofrer uma injustiça e permitir ser defraudado? Mas sois vós
que praticais a injustiça e defraudais os outros, e isto com os vossos irmãos!
Não sabeis que os injustos não receberão como herança o reino de Deus? Não
tenhais ilusões: nem os imorais, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os
depravados, nem os pervertidos, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os
ébrios, nem os caluniadores, nem os salteadores receberão como herança o reino
de Deus. E assim eram alguns de vós. Mas fostes purificados, fostes
santificados, fostes justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo
Espírito do nosso Deus.
Salmo
Responsorial: 149
R. O Senhor ama o seu povo.
Cantai ao Senhor um cântico novo,
cantai ao Senhor na assembleia dos santos. Alegre-se Israel em seu Criador,
rejubilem os filhos de Sião em seu Rei.
Louvem o seu nome com danças,
cantem ao som do tímpano e da cítara, porque o Senhor ama o seu povo, coroa os
humildes com a vitória.
Exultem de alegria os fiéis,
cantem jubilosos em suas casas; em sua boca os louvores de Deus. Esta é a
glória de todos os seus fiéis.
Aleluia. Eu vos escolhi do
mundo, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça, diz o Senhor.
Aleluia.
Evangelho
(Lc 6,12-19): Naqueles dias, Jesus foi à montanha para orar. Passou a
noite toda em oração a Deus. Ao amanhecer, chamou os discípulos e escolheu doze
entre eles, aos quais deu o nome de apóstolos: Simão, a quem chamou Pedro, e
seu irmão André; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, filho
de Alfeu, e Simão, chamado zelote; Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes,
que se tornou o traidor. Jesus desceu com eles da montanha e parou num lugar
plano. Ali estavam muitos dos seus discípulos e uma grande multidão de gente de
toda a Judéia e de Jerusalém, e do litoral de Tiro e Sidônia. Vieram para
ouvi-lo e serem curados de suas doenças. Também os atormentados por espíritos
impuros eram curados. A multidão toda tentava tocar nele, porque dele saía uma
força que curava a todos.
«Jesus foi à montanha para
orar e passou a noite toda em oração a Deus»
Frei Lluc TORCAL Monge do
Monastério de Sta. Mª de Poblet (Santa Maria de Poblet, Tarragona, Espanha)
Hoje gostaria de centrar a nossa
reflexão nas primeiras palavras deste Evangelho: «Naqueles dias, Jesus foi à
montanha para orar. Passou a noite toda em oração a Deus» (Lc 6,12).
Introduções como esta podem passar despercebidas na nossa leitura quotidiana do
Evangelho mas, —de fato— são da máxima importância. Concretamente, hoje nos
dizem que a eleição dos doze apóstolos —decisão central para a vida futura da
Igreja— foi precedida por toda uma noite de oração de Jesus, sozinho, perante
Deus, seu Pai.
Como era essa oração do Senhor?
Do que se infere da sua vida, deveria ser uma prece cheia de confiança no Pai,
de total abandono à sua vontade —«não procuro fazer a minha própria vontade,
mas a vontade do que me enviou» (Jo 5,30)—, de manifesta união à sua obra de
salvação. Apenas desde esta profunda, longa e constante oração, sempre
sustentada pela ação do Espírito Santo que, já presente no momento da sua
Encarnação, tinha descido sobre Jesus no seu Batismo; apenas assim, dizíamos, o
Senhor podia obter a força e a luz necessárias para continuar a sua missão de
obediência ao Pai para cumprir a sua obra vicária de salvação dos homens. A
eleição subsequente dos Apóstolos, que como nos recorda São Cirilo de
Alexandria, «O próprio Cristo afirma ter-lhes dado a mesma missão que recebera
do Pai», mostra-nos como a Igreja nascente foi fruto desta oração de Jesus ao
Pai no Espírito e que, portanto, é obra da Santíssima Trindade. «Ao amanhecer,
chamou os discípulos e escolheu doze entre eles, aos quais deu o nome de
apóstolos» (Lc 6,13).
Oxalá toda a nossa vida de
cristãos de — discípulos de Cristo— esteja sempre submersa na oração e
continuada por ela.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Procura ser, tu próprio, o
sacrifício e o sacerdote de Deus. Não desprezes o que o poder de Deus te deu e
te concedeu. Reveste-te com o manto da santidade, faz do teu coração um altar,
e assim, confiante em Deus, apresenta o teu corpo ao Senhor como sacrifício»
(São Pedro Crisólogo)
«É bonito ver como no grupo dos
seus seguidores, todos, apesar das suas diferenças, conviviam juntos, superando
as inimagináveis dificuldades: de facto, o próprio Jesus é a razão dessa
coesão, na qual todos se encontram» (Bento XVI)
«Cristo, ao instituir os Doze,
«deu-lhes a forma dum corpo colegial, quer dizer, dum grupo estável, e colocou à
sua frente Pedro, escolhido de entre eles. Assim como, por instituição do
Senhor, Pedro e os outros apóstolos formam um só colégio apostólico, assim de
igual modo o pontífice romano, sucessor de Pedro, e os bispos, sucessores dos
Apóstolos, estão unidos entre si (Concilio Vaticano II)» (Catecismo da Igreja
Católica, nº 880)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* O evangelho de hoje traz
dois assuntos: a escolha dos doze apóstolos (Lc 6,12-16) e a multidão
enorme de gente querendo encontrar-se com Jesus (Lc 6,17-19). O evangelho
de hoje nos convida a refletir sobre os Doze que foram escolhidos para conviver
com Jesus como apóstolos. Os primeiros cristãos lembraram e registraram os
nomes destes Doze e de alguns outros homens e mulheres que seguiram a Jesus e
que, depois da ressurreição, foram criando as comunidades pelo mundo afora.
Hoje também, todo mundo lembra o nome de alguma catequista ou professora que
foi significativa para a sua formação cristã.
* Lucas 6,12-13: A escolha dos
12 apóstolos. Antes de fazer a escolha definitiva dos doze apóstolos, Jesus
passou uma noite inteira em oração. Rezou para saber a quem escolher e escolheu
os Doze, cujos nomes estão nos evangelhos e que receberam o nome de apóstolo.
Apóstolo significa enviado, missionário. Eles foram chamados para realizar uma
missão, a mesma que Jesus recebeu do Pai (Jo 20,21). Marcos concretiza mais e
diz que Deus os chamou para estar com ele e enviá-los em missão (Mc 3,14).
* Lucas 6,14-16: Os nomes dos
12 apóstolos. Com pequenas diferenças os nomes dos Doze são iguais nos
evangelhos de Mateus (Mt 10,2-4), Marcos (Mc 3,16-19) e Lucas (Lc 6,14-16).
Grande parte destes nomes vem do AT. Por exemplo, Simeão é o nome de um dos
filhos do patriarca Jacó (Gn 29,33). Tiago é o mesmo que o nome de Jacó (Gn
25,26). Judas é o nome de outro filho de Jacó (Gn 35,23). Mateus também tinha o
nome de Levi (Mc 2,14), que foi outro filho de Jacó (Gn 35,23). Dos doze
apóstolos sete tem nome que vem do tempo dos patriarcas: duas vezes Simão, duas
vezes Tiago, duas vezes Judas, e uma vez Levi! Isto revela a sabedoria e a
pedagogia do povo. Através dos nomes dos patriarcas e das matriarcas, dados aos
filhos e filhas, eles mantinham viva a tradição dos antigos e ajudavam seus
filhos a não perderem a identidade. Quais os nomes que nós damos hoje para os
nossos filhos e filhas?
* Lucas 6,17-19: Jesus desce
da montanha e a multidão o procura. Ao descer da montanha com os doze,
Jesus encontrou uma multidão imensa de gente que o procurava para ouvir sua
palavra e tocá-lo, porque dele saía uma força de vida. Nesta multidão havia
judeus e estrangeiros, gente da Judéia e também de Tiro e Sidônia. É o povo
abandonado, desorientado. Jesus acolhe a todos que o procuram. Judeus e pagãos!
Este é um dos temas preferidos de Lucas!
* Estas doze pessoas, chamadas
por Jesus para formar a primeira comunidade, não eram santas. Eram pessoas
comuns, como todos nós. Tinham suas virtudes e seus defeitos. Os evangelhos
informam muito pouco sobre o jeito e o caráter de cada uma delas. Mas o pouco
que informam é motivo de consolo para nós.
Pedro
era uma pessoa generosa e entusiasta (Mc 14,29.31; Mt 14,28-29), mas na hora do
perigo e da decisão, o coração dele encolhia e ele voltava atrás (Mt 14,30; Mc
14,66-72). Chegou a ser satanás para Jesus (Mc 8,33). Jesus deu a ele o apelido
de Pedra (Pedro). Pedro, ele por si mesmo, não era Pedra. Tornou-se pedra
(rocha), porque Jesus rezou por ele (Lc 22,31-32).
Tiago
e João estavam dispostos a sofrer com e por Jesus (Mc 10,39), mas
eram muito violentos (Lc 9,54). Jesus os chamou “filhos do trovão” (Mc 3,17).
João parecia ter um certo ciúme. Queria Jesus só para o grupo dele (Mc 9,38).
Filipe
tinha um jeito acolhedor. Sabia colocar os outros em contato com Jesus (Jo
1,45-46), mas não era muito prático em resolver os problemas (Jo 12,20-22;
6,7). Às vezes, era meio ingênuo. Teve hora em que Jesus perdeu a paciência com
ele: “Mas Filipe, tanto tempo que estou com vocês, e ainda não me conhece?” (Jo
14,8-9)
André,
irmão de Pedro e amigo de Filipe, era mais prático. Filipe recorre a ele para
resolver os problemas (Jo 12,21-22). Foi André que chamou Pedro (Jo 1,40-41), e
foi André que encontrou o menino com cinco pãezinhos e dois peixes (Jo 6,8-9).
Bartolomeu
parece ter sido o mesmo que Natanael. Este era bairrista e não podia admitir
que algo de bom pudesse vir de Nazaré (Jo 1,46).
Tomé
foi capaz de sustentar sua opinião, uma semana inteira, contra o testemunho de
todos os outros (Jo 20,24-25). Mas quando viu que estava equivocado, não teve
medo de reconhecer seu erro (Jo 20,26-28). Era generoso, disposto a morrer com
Jesus (Jo 11,16).
Mateus
ou Levi era publicano, cobrador
de impostos, como Zaqueu (Mt 9,9; Lc 19,2). Eram pessoas comprometidas com o
sistema opressor da época.
Simão,
ao contrário, parece ter sido do movimento que se opunha radicalmente ao
sistema que o império romano impunha ao povo judeu. Por isso tinha o apelido de
Zelote (Lc 6,15). O grupo dos Zelotes chegou a provocar uma revolta armada
contra os romanos.
Judas
Tadeu, durante a última ceia, foi quem perguntou a Jesus:
"Senhor, por que razão hás de manifestante a nós e não ao mundo?" (Jo
14,22). dois os evangelhos nada informam a não
Judas
Iscariotes era o que tomava conta
do dinheiro do grupo (Jo 13,29). Ele chegou a trair Jesus.
Tiago
de Alfeu, deste os evangelhos nada informam a não ser o nome.
Para um confronto pessoal
1) Jesus passou a noite
inteira em oração para saber a quem escolher, e escolheu estes doze! Qual a
lição que você tira daí?
2) Você lembra dos nomes
das pessoas que estão na origem da comunidade a que você pertence? O que mais
lembra delas: o conteúdo que lhe ensinaram ou o testemunho que deram?
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