São
João Gabriel Perboyre, presbítero e mártir
1ª
Leitura (1Cor 7,25-31): Irmãos: Quanto às pessoas solteiras, não tenho
mandato do Senhor, mas dou o meu conselho, como homem que, pela misericórdia do
Senhor, merece toda a confiança. Estou convencido de que é boa a condição das
pessoas solteiras, por causa das dificuldades do tempo presente. É bom para o
homem permanecer como está. Estás ligado a uma mulher? Não te separes. Estás
livre de mulher? Não a procures. Mas se te casares, não pecas; e se a jovem se
casar, não peca. Essas pessoas, porém, terão de suportar as tribulações da
natureza e eu desejaria poupar-vos a elas. O que tenho a dizer-vos, irmãos, é
que o tempo é breve. Doravante, os que têm esposas procedam como se as não
tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que andam alegres, como se
não andassem; os que compram, como se não possuíssem; os que utilizam este
mundo, como se realmente não o utilizassem. De facto, o cenário deste mundo é
passageiro.
Salmo
Responsorial: 44
R. Escuta e inclina-te diante
do Senhor.
Ouve, filha, vê e presta atenção,
esquece o teu povo e a casa de teu pai. Da tua beleza se enamora o Rei, Ele é o
teu Senhor, presta-Lhe homenagem.
A filha do Rei avança cheia de
esplendor, de brocados de ouro são os seus vestidos. Com um manto multicolor é
apresentada ao Rei, seguem-na as donzelas, suas companheiras.
Cheias de alegria e entusiasmo,
entram no palácio do Rei. Teus filhos substituirão os teus pais,
estabelecê-los-ás príncipes sobre toda a terra.
Aleluia. Alegrai-vos e
exultai, diz o Senhor, porque é grande nos Céus a vossa recompensa. Aleluia.
Evangelho
(Lc 6,20-26): Naquele tempo, Jesus levantou o olhar para os seus
discípulos e disse-lhes: «Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de
Deus! Felizes vós que agora passais fome, porque sereis saciados! Felizes vós
que agora estais chorando, porque haveis de rir! Felizes sereis quando os
homens vos odiarem, expulsarem, insultarem e amaldiçoarem o vosso nome por
causa do Filho do Homem. Alegrai-vos, nesse dia, e exultai, porque será grande
a vossa recompensa no céu, pois era assim que os seus antepassados tratavam os profetas.
Mas, ai de vós, ricos, porque já tendes vossa consolação! Ai de vós que agora
estais fartos, porque passareis fome! Ai de vós que agora estais rindo, porque
ficareis de luto e chorareis! Ai de vós quando todos falarem bem de vós, pois
era assim que seus antepassados tratavam os falsos profetas».
«Felizes vós, os pobres (...).
Ai de vós, ricos!»
Rev. D. Joaquim MESEGUER García (Rubí,
Barcelona, Espanha)
Hoje, Jesus mostra-nos onde está
a verdadeira felicidade. Na versão de São Lucas, as bem-aventuranças são
acompanhadas de dolorosas imprecações por aqueles que não aceitam a mensagem de
salvação, fechando-se numa vida autossuficiente e egoísta. Com as
bem-aventuranças e as imprecações, Jesus faz uma aplicação da doutrina dos dois
caminhos: o caminho da vida e o caminho da morte. Não há uma terceira
possibilidade, neutra: quem não segue o caminho da vida encaminha-se para a
morte; quem não segue a luz, vive nas trevas.
«Felizes vós, os pobres, porque
vosso é o Reino de Deus» (Lc 6,20). Esta bem-aventurança é a base de todas as
outras, pois quem é pobre será capaz de receber o Reino de Deus como um dom.
Quem é pobre sabe de que coisas deve ter fome e sede: não de bens materiais,
mas da Palavra de Deus; não de poder, mas de justiça e de amor. Quem é pobre
sabe chorar perante o sofrimento do mundo. Quem é pobre sabe que Deus é toda a
sua riqueza e que, por isso, sofrerá incompreensões e perseguições.
«Mas, ai de vós, ricos, porque já
tendes vossa consolação» (Lc 6,24). Esta imprecação é também o fundamento de
todas as que se seguem, pois quem é rico e autossuficiente, quem não sabe pôr
as suas riquezas ao serviço dos outros, encerra-se no seu egoísmo e constrói a
sua própria desgraça. Que Deus nos livre do afã de riquezas, de correr atrás
das promessas do mundo e de pôr o nosso coração nos bens materiais; que Deus não
permita que fiquemos satisfeitos com os louvores e adulações humanas, já que
isso significaria ter posto o coração na glória do mundo e não na de Jesus
Cristo. Será de grande proveito lembrar o que diz São Basilio: «Quem ama o
próximo como a si mesmo não acumula coisas desnecessárias que possam ser
indispensáveis para os outros».
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«O que deveis temer não é serdes
amaldiçoados, mas sim que apareçais envolvidos na comum hipocrisia: então sim
que vos teríeis tornado insípidos e serieis espezinhados pelo povo» (São João
Crisóstomo)
«As Bem-aventuranças são
promessas nas quais resplandece a nova imagem do mundo e do homem que Jesus
inaugura, e nas quais "os valores se invertem". Quando o homem
caminha com Jesus, então ele vive com novos critérios» (Bento XVI)
«As bem-aventuranças estão no
coração da pregação de Jesus. O seu anúncio retorna as promessas feitas ao povo
eleito, desde Abraão. A pregação de Jesus completa-as, ordenando-as, não já
somente à felicidade resultante da posse dum tema, mas ao Reino dos céus»
(Catecismo da Igreja Católica, nº 1.716)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* O evangelho de hoje traz as
quatro bem-aventuranças e as quatro maldições do Evangelho de Lucas. Há uma
revelação progressiva na maneira de Lucas apresentar o ensinamento de Jesus.
Até 6,16, ele disse muitas vezes que Jesus ensinava o povo, mas não chegou a
relatar o conteúdo do ensinamento (Lc 4,15.31-32.44; 5,1.3.15.17; 6,6). Agora,
depois de informar que Jesus viu a multidão desejosa de ouvir a palavra de
Deus, Lucas traz o primeiro grande discurso que começa com as exclamações:
"Felizes vocês pobres!" e "Ai de vocês, ricos!", e ocupa
todo o resto do capítulo (Lc 6,12-49). Alguns chamam este discurso de
"Sermão da Planície", pois, segundo Lucas, Jesus desceu da montanha e
parou num lugar plano onde fez o discurso. No evangelho de Mateus, este mesmo
discurso é feito na montanha (Mt 5,1) e é chamado "Sermão da
Montanha". Em Mateus, o sermão traz oito bem-aventuranças, que traçam um
programa de vida para as comunidades cristãs de origem judaica. Em Lucas, o
sermão é mais breve e mais radical. Ele traz quatro bem-aventuranças e quatro
maldições, dirigidas para as comunidades helenistas, constituídas de ricos e
pobres. Este discurso de Jesus vai ser meditado no evangelho diário dos
próximos dias até 13 de setembro.
* Lucas 6,20: Felizes vocês,
pobres! Olhando para os discípulos, Jesus declara: "Felizes vocês
pobres, porque o Reino de Deus é de vocês!" Esta declaração identifica a
categoria social dos discípulos. Eles são pobres! E a eles Jesus promete: “O Reino é de vocês!”
Não é uma promessa para o futuro. O verbo está no presente. O Reino já é deles.
Eles são felizes desde já. No evangelho de Mateus, Jesus explicita o sentido e
diz: "Felizes os pobres em Espírito!" (Mt 5,3). São os pobres que têm
o Espírito de Jesus. Pois há pobres com cabeça ou espírito de rico. Os
discípulos de Jesus são pobres com cabeça de pobre. Como Jesus, não querem
acumular, mas assumem a sua pobreza e, com ele, lutam por uma convivência mais
justa, onde haja fraternidade e partilha de bens, sem discriminação.
* Lucas 6,21-22: Felizes
vocês, que agora têm fome e choram! Na 2ª e 3ª bem-aventurança Jesus diz:
"Felizes vocês que agora estão com fome, porque serão saciados! Felizes
vocês que agora choram, porque vão dar risada!" Uma parte das frases está
no presente e outra no futuro. Aquilo que agora vivemos e sofremos não é o
definitivo. O definitivo é o Reino que estamos construindo hoje na força do
Espírito de Jesus. Construir o Reino traz sofrimento e perseguição, mas uma
coisa é certa: o Reino vai chegar e “vocês serão saciados e vão dar risada!”.
* Lucas 6,23: Felizes serão,
quando os homens os odiarem....! A 4ª bem-aventurança se refere ao futuro:
"Felizes serão vocês, quando os homens os odiarem e rejeitarem por causa
do Filho do Homem! Fiquem alegres naquele dia, porque grande será a sua
recompensa, porque assim também foram tratados os profetas!" Com estas
palavras de Jesus, Lucas anima as comunidades do seu tempo, que estavam sendo
perseguidas. O sofrimento não é estertor de morte, mas sim dor de parto. Fonte
de esperança! A perseguição era um sinal de que o futuro anunciado por Jesus
estava chegando para elas. Elas estavam no caminho certo.
* Lucas 6,24-25: Ai de vocês, ricos! Ai de vocês que agora têm fartura e riem! Após
as quatro bem-aventuranças a favor dos pobres e excluídos, seguem quatro
ameaças ou maldições contra os ricos e os que passam bem e são elogiados por
todos. As quatro ameaças têm a mesma forma literária que as quatro
bem-aventuranças. A 1ª está no presente. A 2ª e a 3ª têm uma parte no presente
e outra no futuro. E a 4ª se refere inteiramente ao futuro. Estas ameaças só se
encontram no evangelho de Lucas e não no de Mateus. Lucas é mais radical na
denúncia da injustiça.
* Diante de Jesus, naquela
planície não havia ricos. Só havia gente pobre e doente, vinda de todos os
lados (Lc 6,17-19). Mesmo assim, Jesus diz: "Ai de vocês, ricos!" É
que Lucas, ao transmitir estas palavras de Jesus, estava pensando mais nas
comunidades do seu tempo. Nelas havia ricos e pobres, e havia discriminação dos
pobres pelos ricos, a mesma que marcava a estrutura do Império Romano (cf. Tg
5,1-6; Ap 3,17-19). Jesus faz uma crítica dura e direta aos ricos: Vocês,
ricos, já têm sua consolação! Vocês têm fartura, mas vão passar fome! Vocês
estão rindo, mas vão ficar aflitos e vão chorar! Sinal de que para Jesus, a
pobreza não é uma fatalidade, nem é fruto de preguiça, mas é fruto de
enriquecimento injusto dos outros.
* Lucas 6,26: Ai de vocês quando todos os elogiarem! “Ai
de vocês quando todos os elogiarem, porque assim seus pais tratavam os falsos
profetas!” Esta quarta ameaça se refere aos filhos dos que no passado elogiavam
os falsos profetas. É que algumas autoridades dos judeus usavam o seu prestígio
e a sua autoridade para criticar Jesus.
Para um confronto pessoal
1. Será que nós olhamos a
vida e as pessoas com o mesmo olhar de Jesus? Dentro do seu coração, o que você
acha: uma pessoa pobre e faminta é realmente feliz? As novelas da Televisão e a
propaganda do comércio, qual o ideal de felicidade que elas nos apresentam?
2. Dizendo “Felizes os
pobres”, será que Jesus estava querendo dizer que os pobres devem continuar na
pobreza?
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