Ven João de São Sansão, religioso de nossa Ordem
1ª
Leitura (Num 21,4b-9): Naqueles dias, o povo de Israel impacientou-se e
falou contra Deus e contra Moisés: «Porque nos fizeste sair do Egipto, para
morrermos neste deserto? Aqui não há pão nem água e já nos causa fastio este
alimento miserável». Então o Senhor mandou contra o povo serpentes venenosas
que mordiam nas pessoas e morreu muita gente de Israel. O povo dirigiu-se a
Moisés, dizendo: «Pecámos, ao falar contra o Senhor e contra ti. Intercede
junto do Senhor, para que afaste de nós as serpentes». E Moisés intercedeu pelo
povo. Então o Senhor disse a Moisés: «Faz uma serpente de bronze e coloca-a
sobre um poste. Todo aquele que for mordido e olhar para ela ficará curado».
Moisés fez uma serpente de bronze e fixou-a num poste. Quando alguém, era
mordido por uma serpente, olhava para a serpente de bronze e ficava curado.
Salmo
Responsorial: 77
R. Não esqueçais as obras do
Senhor.
Escuta, meu povo, a minha
instrução, presta ouvidos às palavras da minha boca. Vou falar em forma de
provérbio, vou revelar os mistérios dos tempos antigos.
Quando Deus castigava os antigos,
eles O procuravam, tornavam a voltar-se para Ele e recordavam-se de que Deus
era o seu protetor, o Altíssimo o seu redentor.
Eles, porém, enganavam-no com a
boca e mentiam-Lhe com a língua; o seu coração não era sincero, nem eram fiéis
à sua aliança.
Mas Deus, compadecido, perdoava o
pecado e não os exterminava. Muitas vezes reprimia a sua cólera e não executava
toda a sua ira.
2ª
Leitura (Fl 2,6-11): Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos
Filipenses Cristo Jesus, que era de condição divina, não Se valeu da sua
igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de
servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se
ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz. Por isso Deus O exaltou e
Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus
todos se ajoelhem no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua proclame que
Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.
Aleluia. Nós Vos adoramos e
bendizemos, Senhor Jesus Cristo, que pela vossa santa cruz remistes o mundo.
Aleluia.
Evangelho
(Jo 3,13-17): Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Ninguém subiu ao
céu senão aquele que desceu do céu: o Filho do Homem. Como Moisés levantou a
serpente no deserto, assim também será levantado o Filho do Homem, a fim de que
todo o que nele crer tenha vida eterna. De fato, Deus amou tanto o mundo, que
deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a
vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo,
mas para que o mundo seja salvo por ele».
«A fim de que todo o que nele
crer tenha vida eterna»
Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant
Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)
Hoje, o Evangelho é uma profecia,
isto é, uma olhada no espelho da realidade que nos introduz em sua verdade,
mais além do que nos dizem nossos sentidos: a Cruz, a Santa Cruz de Jesus
Cristo, é o Trono do Salvador. Por isso, Jesus afirma que «deve que ser
levantado o Filho do homem» (Jo 3,14).
Bem sabemos que a cruz era o
suplício mais atroz e vergonhoso de seu tempo. Exaltar a Santa Cruz não
deixaria de ser um cinismo se não fosse porque ai está o Crucificado. A cruz,
sem o Redentor, é simples cinismo; com o Filho do Homem é a nova árvore da sabedoria.
Jesus Cristo, «oferecendo-se livremente à paixão» da Cruz abriu o sentido e o
destino de nosso viver: subir com Ele à Santa Cruz para abrir os braços e o
coração ao Dom de Deus, num intercâmbio admirável. Também aqui nos convém
escutar a voz do Pai desde o céu: «Este é meu Filho (...), em quem me comprazo»
(Mc 1,11). Encontrarmos crucificados com Jesus e ressuscitar com Ele: Eis aqui
o porquê de tudo! Há esperança, há sentido, há eternidade, há vida! Nós os
cristãos não estamos loucos quando na Vigília Pascal, de maneira solene, quer
dizer, no Pregão Pascal, cantamos, louvando o pecado original: «Oh!, Culpa tão
feliz, que tem merecido a graça de tão grande Redentor», que com sua dor tem
impresso sentido à mesma dor.
«Olhai a árvore da cruz, foi
sacrificado o Salvador do mundo: vem e adoremos» (Liturgia da sexta-feira
Santa). Se conseguirmos superar o escândalo e a loucura de Cristo crucificado,
não há nada mais que adorá-lo e agradecer-lhe seu Dom. E procurar decididamente
a Santa Cruz em nossa vida, para termos a certeza de que, «por Ele, com Ele e
Nele», nossa doação será transformada, nas mãos do Pai, pelo Espírito Santo, em
vida eterna: «Derramada por vós e por muitos para o perdão dos pecados».
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Onde quer que um cristão gaste a
sua vida honradamente, aí deve colocar, com o seu amor, a Cruz de Cristo, que
atrai a Si todas as coisas» (S. Josemaria)
«O cristianismo não existe sem a
Cruz e não existe Cruz sem Jesus Cristo. Assim um cristão que não se sabe
glorificar em Cristo crucificado não percebeu o que significa ser cristão»
(Francisco)
«A oração da Igreja venera e
honra o Coração de Jesus, tal como invoca o seu santíssimo Nome. Adora o Verbo
encarnado e o seu Coração que, por amor dos homens, Se deixou trespassar pelos
nossos pecados. A oração cristã gosta de percorrer o caminho da cruz
(Via-Sacra) no seguimento do Salvador. As estações, do Pretório ao Gólgota e ao
túmulo, assinalam o caminho de Jesus que, pela sua santa cruz, remiu o mundo.»
(Catecismo da Igreja Católica, nº 2.669)
Toda a nossa glória está na
Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. N’Ele está a nossa salvação, vida e
ressurreição. Por Ele fomos salvos e livres. (da liturgia da Festa)
* É uma das mais
antigas solenidades litúrgicas da Igreja; celebrava-se já em Jerusalém no
tempo do Imperador Constantino Magno (337), logo a seguir à dedicação da
Basílica do Santo Sepulcro, ou da Ressurreição, mandada edificar por esse
imperador
* A Cruz que se
exaltava neste dia não era exatamente a de Jesus a sofrer no Calvário mas antes
a de Cristo glorioso subindo para o Pai, depois de vencer a morte e salvar o
mundo. Quanto ao sentido da festa, Santo André de Creta diz: “Celebramos a
festa da Cruz; por ela as trevas são repelidas e volta a luz. Celebramos a
festa da Cruz e junto com o Crucificado somos levados para o alto para que,
abandonando a terra com o pecado, obtenhamos os céus. A posse da Cruz é tão
grande e de tão imenso valor que o seu possuidor possui um tesouro.”
* O que se recorda na
festa de hoje é portanto o triunfo de Cristo e a mudança por ele causada na
condição humana; isto tinha-o Jesus anunciado repetidamente. Por exemplo,
quando dizia: «Quando elevardes o Filho do Homem, então sabereis quem sou» (Jo
8, 28); e ainda: «Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, assim
também tem de ser levantado o Filho do Homem, a fim de que todo aquele que n
‘Ele crer tenha a vida eterna» (Jo 3, 14); e por fim: «Eu, quando for levantado
da terra, atrairei todos a Mim» (Jo 12,32).
* É marcado por este
espírito que o Apóstolo Paulo assinala: “Quanto a mim, que de nada mais eu me
glorie a não ser na Cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está
crucificado para mim e eu para o mundo” (Gl 6, 14). Torna-se muito
importante resgatar uma sadia teologia e espiritualidade da Cruz. De um lado
temos que superar uma pregação errada que identificava a Cruz com qualquer
sofrimento, como se o sofrimento em si fosse um valor positivo. Quantas pessoas
sofreram injustiças a vida toda, aguentando situações quase insuportáveis, por
causa de tal pregação que levava à passividade diante das injustiças e
opressões. No fundo, faziam de Deus um sádico! Do outro lado, na sociedade de
hoje, a Cruz não está muito popular, pois o sacrifício, a autodoação em favor
de outros, está na contramão da sociedade hedonista e consumista. Até dentro da
Igreja muitas vezes há uma busca da Ressurreição e vitória, sem que se mencione
que o triunfo de Jesus veio através de uma vida de doação que o levou à cruz -
e como consequência dessa coerência, à Ressurreição.
* A festa de hoje
celebra a Cruz, não o sofrimento. Jesus não nos salvou porque sofreu três horas
na cruz - ele nos salvou porque a sua vida foi totalmente fiel à vontade do
Pai. Por causa dessa fidelidade, as suas opções concretas o colocaram em
conflito com as estruturas de dominação sociopolítico-religiosas, o que causou
o seu assassinato judicial. A morte de Jesus foi muito mais do que uma
tentativa de eliminar alguém que incomodasse! Era tentativa de aniquilar o seu
movimento, a sua pregação, a visão de Deus e do projeto de Deus que Ele ensinava.
A Cruz então se tornava o símbolo de doação total através de uma vida de
fidelidade absoluta ao projeto do Pai. Era o último passo de coerência,
consequência lógica da fidelidade à vontade de Deus.
* Assim, Jesus deixa
bem claro nas páginas dos Evangelhos que a Cruz é a característica do
discípulo/a. “Se alguém quer me seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua
cruz, e me siga.” (Mc 8, 24). Jesus não nos convida a buscar o sofrimento,
mas a carregar a cruz - consequência de uma religião que é vivencial, que
acarreta ações e atitudes coerentes com o Deus em que acreditamos, e que traz
em seu bojo as sementes de conflito com todo poder opressor, pois “os meus
projetos não são os projetos de vocês, e os caminhos de vocês não são os meus
caminhos” (Is 55, 8).
* São Paulo descobriu que
pregar Cristo sem a Cruz era esvaziar a evangelização. Assim declara à
comunidade de Corinto: “Entre vocês eu não quis saber outra coisa a não ser
Jesus Cristo e Jesus Cristo crucificado.”(1Cor 2, 2). A Cruz de Cristo é
inseparável da sua vida, pois é a consequência dela. Mas, a Cruz também não se
separa da Ressurreição, pois ela é o resultado de tal coerência e fidelidade. A
festa de hoje nos desafia para que respondamos ao convite de Jesus para
carregar a nossa cruz numa vida de discipulado e missionariedade, continuando a
sua missão ao mundo. Pois, como diz o nosso texto hoje, “Deus enviou o seu
Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por
meio dele” (Jo 3, 17)
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