1ª
Leitura (2Tes 3,6-10.16-18): Nós vos ordenamos, irmãos, em nome de Nosso
Senhor Jesus Cristo, que vos afasteis de todos os irmãos que vivem na
ociosidade e não conforme os ensinamentos que de nós recebestes. Sabeis como
deveis imitar-nos, pois não vivemos no meio de vós na ociosidade, nem comemos
de graça o pão de ninguém. Trabalhámos dia e noite, com esforço e fadiga, para
não sermos pesados a nenhum de vós. Não é que não tivéssemos esse direito, mas
quisemos ser para vós um exemplo a imitar. Quando estávamos convosco, já vos
dávamos esta ordem: quem não quer trabalhar, também não deve comer. O Senhor da
paz vos conceda a paz em todo o tempo e por todas as formas. O Senhor esteja
com todos vós. A saudação é do meu punho e letra: Paulo. Assino deste modo em
todas as minhas cartas. A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos
vós.
Salmo
Responsorial: 127
R. Felizes os que esperam no Senhor.
Feliz de ti, que temes o Senhor e
andas nos seus caminhos. Comerás do trabalho das tuas mãos, serás feliz e tudo
te correrá bem.
Assim será abençoado o homem que
teme o Senhor. De Sião te abençoe o Senhor; e vejas a prosperidade de Jerusalém
todos os dias da tua vida.
Evangelho (Mc 6,17-29): Naquele tempo, Herodes
tinha mandado prender João e acorrentá-lo na prisão, por causa de Herodíades,
mulher de seu irmão Filipe, com a qual ele se tinha casado. Pois João vivia
dizendo a Herodes: «Não te é permitido ter a mulher do teu irmão». Por isso, Herodíades
lhe tinha ódio e queria matá-lo, mas não conseguia, pois Herodes temia João,
sabendo que era um homem justo e santo, e até lhe dava proteção. Ele gostava
muito de ouvi-lo, mas ficava desconcertado. Finalmente, chegou o dia oportuno.
Por ocasião de seu aniversário, Herodes ofereceu uma festa para os proeminentes
da corte, os chefes militares e os grandes da Galileia. A filha de Herodíades
entrou e dançou, agradando a Herodes e a seus convidados. O rei, então, disse à
moça: «Pede-me o que quiseres, e eu te darei». E fez até um juramento: «Eu te
darei qualquer coisa que me pedires, ainda que seja a metade do meu reino». Ela
saiu e perguntou à mãe: «Que devo pedir?». A mãe respondeu: «A cabeça de João
Batista». Voltando depressa para junto do rei, a moça pediu: «Quero que me dês
agora, num prato, a cabeça de João Batista». O rei ficou muito triste, mas, por
causa do juramento e dos convidados, não quis faltar com a palavra.
Imediatamente, mandou um carrasco cortar e trazer a cabeça de João. O carrasco
foi e, lá na prisão, cortou-lhe a cabeça, trouxe-a num prato e deu à moça. E
ela a entregou à sua mãe. Quando os discípulos de João ficaram sabendo, vieram
e pegaram o corpo dele e o puseram numa sepultura.
Hoje lembramos o martírio de São
João Batista, o Precursor do Messias. A vida toda do Batista gira em torno à
Pessoa de Jesus, de forma tal que sem Ele, a existência e a tarefa do Precursor
do Messias não teriam sentido.
E, desde as entranhas da sua mãe,
sente a proximidade do Salvador. O abraço de Maria e de Isabel, duas futuras
mães, abriu o diálogo dos dois meninos: o Salvador santificava a João e, este
pulava de entusiasmo dentro do ventre da sua mãe.
Na sua missão de Precursor
manteve esse entusiasmo ?que etimologicamente significa estar cheio de Deus?,
preparou-lhe os caminhos, nivelou-lhe as rotas, rebaixou-lhe as cimas, o
anunciou já presente e, o assinalou com o dedo como o Messias: «Eis aqui o
Cordeiro de Deus» (Jo 1,36).
No ocaso de sua existência, João,
ao predicar a liberdade messiânica a aqueles que estavam cativos dos seus
vícios, é encarcerado: «João dizia a Herodes: ?Não te é permitido ter a mulher
do teu irmão?» (Mc 6,18). A morte do Batista é a testemunha martirizante
centrada na pessoa de Jesus. Foi seu Precursor na vida e, também lhe precede
agora na morte cruenta.
São Beda nos diz que «está
encerrado, na escuridão de um cárcere, aquele que tinha vindo dar testemunho da
Luz e, havia merecido da boca do mesmo Cristo (...) ser denominado lâmpada
ardente e luminosa. Foi batizado com seu próprio sangue, aquele a quem antes
lhe foi concedido batizar ao Redentor do mundo».
Queira Deus que a festa do
Martírio de São João Batista entusiasme-nos, no sentido etimológico do término
e, assim cheios de Deus, também demos testemunho de nossa fé em Jesus com
coragem. Que nossa vida cristã também gire em torno à Pessoa de Jesus, o que
lhe dará seu pleno sentido.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Na perseguição Deus coroa os seus soldados; em paz coroa uma boa consciência» (S. Cipriano)
«São João Batista foi fiel ao
Senhor até o fim. Ele atraiu multidões de pecadores para Deus. O que mais o
atraiu foi seu exemplo de fidelidade e sua total dedicação a Deus, a ponto de
derramar seu sangue em vez de trair sua consciência» (Francisco)
«São João Batista é o precursor
imediato do Senhor (…). Antecedendo Jesus "com o espírito e a força de
Elias" (Lc 1,17), ele dá testemunho d'Ele através da sua pregação, do seu
baptismo de conversão e, finalmente, do seu martírio» (Catecismo da Igreja
Católica, n. 523)
* Hoje comemoramos o martírio
de São João Batista. O evangelho traz a descrição de como João Batista foi
morto sem processo, durante um banquete, vítima da corrupção e da prepotência
de Herodes e sua corte.
* Marcos 6,17-20. A causa da
prisão e do assassinato de João. Herodes era um empregado do império
romano. Quem mandava mesmo na Palestina, desde 63 antes de Cristo, era César, o
imperador de Roma. Herodes, para não ser deposto, procurava agradar a Roma em
tudo. Insistia sobretudo numa administração eficiente que desse lucro ao
Império e a ele mesmo. A preocupação de Herodes era a sua própria promoção e
segurança. Por isso, reprimia qualquer tipo de subversão. Ele gostava de ser
chamado de benfeitor do povo, mas na realidade era um tirano (cf. Lc 22,25).
Flávio José, um escritor daquela época, informa que o motivo da prisão de João
Batista era o medo que Herodes tinha de um levante popular. A denúncia de João
Batista contra a moral depravada de Herodes (Mc 6,18), foi a gota que fez
transbordar o copo, e João foi preso.
* Marcos 6,21-29: A trama do assassinato. Aniversário
e banquete de festa, com danças e orgias! Era o ambiente em que os poderosos do
reino se reuniam e no qual se costuravam as alianças. A festa contava com a
presença “dos grandes da corte, dos oficiais e das pessoas importantes da Galileia”.
É nesse ambiente que se trama o assassinato de João Batista. João, o profeta,
era uma denúncia viva desse sistema corrupto. Por isso, ele foi eliminado sob
pretexto de um problema de vingança pessoal. Tudo isto revela a fraqueza moral
de Herodes. Tanto poder acumulado na mão de um homem sem controle de si! No
entusiasmo da festa e do vinho, Herodes fez um juramento leviano a uma jovem
dançarina. Supersticioso como era, pensava que devia manter esse juramento.
Para Herodes, a vida dos súditos não valia nada. Dispunha deles como dispunha
da posição das cadeiras na sala. Marcos conta o fato tal qual e deixa às
comunidades e a nós a tarefa de tirarmos as conclusões.
* Nas entrelinhas, o evangelho de hoje traz
muitas informações sobre o tempo em que Jesus vivia e sobre a maneira como era
exercido o poder pelos poderosos da época. Galileia, terra de Jesus, era
governada por Herodes Antipas, filho do rei Herodes, o Grande, desde 4 antes de
Cristo até 39 depois de Cristo. Ao todo, 43 anos! Durante todo o tempo que
Jesus viveu, não houve mudança de governo na Galileia! Herodes era dono
absoluto de tudo, não prestava conta a ninguém, fazia o que bem entendia.
Prepotência, falta de ética, poder absoluto, sem controle por parte do povo!
* Herodes construiu uma nova capital, chamada
Tiberíades. Sefforis, a antiga capital, tinha sido destruída pelos romanos
em represália contra um levante popular. Isto aconteceu quando Jesus tinha em
torno de sete anos de idade. Tiberíades, a nova capital, foi inaugurada treze
anos mais tarde, quando Jesus tinha seus 20 anos. Era chamada assim para
agradar a Tibério, o imperador de Roma. Tiberíades era um quisto estranho na Galileia.
Era lá que viviam o rei, “os magnatas, os generais e os grandes da Galileia”
(Mc 6,21). Era lá que moravam os donos das terras, os soldados, a polícia, os juízes
muitas vezes insensíveis (Lc 18,1-4). Para lá eram levados os impostos e o
produto do povo. Era lá que Herodes fazia suas orgias de morte (Mc 6,21-29).
Não consta nos evangelhos que Jesus tenha entrado nessa cidade.
* Ao longo daqueles 43
anos do governo de Herodes, criou-se toda uma classe de funcionários fiéis ao
projeto do rei: escribas, comerciantes, donos de terras, fiscais do mercado,
publicanos ou coletores de impostos, militares, policiais, juízes, promotores,
chefes locais. A maior parte deste pessoal morava na capital, gozando dos
privilégios que Herodes oferecia, por exemplo, isenção de impostos. Outra parte
vivia nas aldeias. Em cada aldeia ou cidade havia um grupo de pessoas que
apoiavam o governo. Vários escribas e fariseus estavam ligados ao sistema e à
política do governo. Nos evangelhos, os fariseus aparecem junto com os
herodianos (Mc 3,6; 8,15; 12,13), o que reflete a aliança que existia entre o
poder religioso e poder civil. A vida do povo nas aldeias da Galileia era muito
controlada, tanto pelo governo como pela religião. Era necessário ter muita
coragem para começar algo novo, como fizeram João e Jesus! Era o mesmo que
atrair sobre si a raiva dos privilegiados, tanto do poder religioso como do
poder civil, tanto em nível local como estadual.
Para um confronto pessoal
1. Conhece casos de pessoas que morreram vítimas da corrupção e da dominação dos poderosos? E aqui entre nós, na nossa comunidade e na igreja, há vítimas de desmando e de autoritarismo? Dê um exemplo.
2. Superstição, covardia e corrupção marcavam o exercício do poder de Herodes. Compare com o exercício do poder religioso e civil hoje nos vários níveis tanto da sociedade como da Igreja.
R. Felizes os que esperam no Senhor.
Aleluia. Quem observa a
palavra de Cristo, nesse o amor de Deus é perfeito. Aleluia.
«João vivia dizendo a Herodes: Não te é permitido ter a mulher do teu irmão»
Fray Josep Mª MASSANA i Mola OFM (Barcelona,
Espanha)
«Na perseguição Deus coroa os seus soldados; em paz coroa uma boa consciência» (S. Cipriano)
Reflexão de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
1. Conhece casos de pessoas que morreram vítimas da corrupção e da dominação dos poderosos? E aqui entre nós, na nossa comunidade e na igreja, há vítimas de desmando e de autoritarismo? Dê um exemplo.
2. Superstição, covardia e corrupção marcavam o exercício do poder de Herodes. Compare com o exercício do poder religioso e civil hoje nos vários níveis tanto da sociedade como da Igreja.
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