domingo, 21 de julho de 2024

Terça-feira da 16ª semana do Tempo Comum

Santa Brígida, viúva e religiosa
 
1ª Leitura (Miq 7,14-15.18-20):
Apascentai o vosso povo com a vossa vara, o rebanho da vossa herança, que vive isolado na selva, no meio de uma terra frutífera, para que volte a apascentar-se em Basã e Galaad, como nos dias de outrora. Mostrai-nos prodígios, como nos dias em que saístes da terra do Egipto. Qual é o deus semelhante a Vós que perdoa o pecado e absolve a culpa deste resto da vossa herança? Não guarda para sempre a sua ira, porque prefere a misericórdia. Ele voltará a ter piedade de nós, pisará aos pés as nossas faltas, lançará para o fundo do mar todos os nossos pecados. Mostrai a Jacob a vossa fidelidade e a Abraão a vossa misericórdia, como jurastes aos nossos pais, desde os tempos antigos.
 
Salmo Responsorial: 84
R. Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia.
 
Abençoastes, Senhor, a vossa terra, restaurastes os destinos de Jacob. Perdoastes a culpa do vosso povo, esquecestes todos os seus pecados. Aplacastes toda a vossa cólera, refreastes o furor da vossa ira.
 
Restaurai-nos, ó Deus, nosso Salvador e afastai de nós a vossa indignação. Estareis para sempre irritado contra nós, prolongareis a vossa ira de geração em geração?
 
Não voltareis a dar-nos a vida, para que em Vós se alegre o vosso povo? Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia e dai-nos a vossa salvação.
 
Aleluia. Se alguém Me ama, guardará a minha palavra, diz o Senhor; meu Pai o amará e faremos nele a nossa morada. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 12,46-50): Enquanto Jesus estava falando às multidões, sua mãe e seus irmãos ficaram do lado de fora, procurando falar com Ele. Alguém lhe disse: «Olha! Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem falar contigo». Ele respondeu àquele que lhe falou: «Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?». E, estendendo a mão para os discípulos, acrescentou: «Eis minha mãe e meus irmãos. Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe».
 
«O que cumpre a vontade de meu Pai celestial, esse é (...) minha mãe»
 
P. Pere SUÑER i Puig SJ (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho apresenta-se-nos, de início, algo surpreendente: «Quem é minha mãe» (Mt 12,48), pergunta-se Jesus. Parece que o Senhor tem uma atitude depreciativa para com Maria. Não é isso. O que Jesus quer deixar claro aqui é que aos seus olhos - os olhos de Deus! - o valor decisivo da pessoa não reside no aspecto da carne ou do sangue, mas na disposição espiritual de aceitação da vontade de Deus: «E, estendendo a mão para os discípulos», acrescentou: «Eis minha mãe e meus irmãos. Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe» (Mt 12,49-50). Naquele momento, a vontade de Deus era que Ele evangelizasse aqueles que O ouviam e que eles O escutassem. Isso estava acima de qualquer outro valor, por mais entranhável que fosse. Para fazer a vontade do Pai, Jesus Cristo tinha deixado Maria e agora estava a pregar longe de casa.
 
Mas, quem se empenhou mais em cumprir a vontade de Deus do que Maria? «Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1,38). Por isso Santo Agostinho diz que Maria primeiro acolheu a palavra de Deus no seu espírito pela obediência e somente depois a concebeu em seu seio pela Encarnação.
 
Por outras palavras: Deus ama-nos na medida da nossa santidade, Maria é santíssima, e por isso, amadíssima. Assim, ser santos não é a razão pela qual Deus nos ama. Pelo contrário, porque Ele nos ama, Ele faz-nos santos. O primeiro a amar é sempre o Senhor (cf. 1Jo 4,10). Maria ensina-nos isto ao dizer: «Pôs os olhos na humildade da sua serva» (Lc 1,48). Aos olhos de Deus somos pequenos; mas Ele quer-nos engrandecer e santificar.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Tudo o que me der a mão do meu Senhor o aceitarei com alegria, submissão e amor. Sua santa vontade é minha quietude. Contém toda a minha santidade e toda a minha salvação eterna, pois cumprir a vontade de Deus é a maior glória» (Santa Faustina Kowalska)
 
«Devemos aprender a confiar mais na Providência divina e pedir a Deus a força para sair de nós mesmos e adaptar a nossa vontade à sua» (Bento XVI)
 
«Tornar-se discípulo de Jesus é aceitar o convite para pertencer à família de Deus, para viver em conformidade com a sua maneira de viver: ‘Todo aquele que fizer a vontade do meu Pai que está nos céus, é que é meu irmão e minha irmã e minha mãe’ (Mt 12, 50) (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.233)
 
Reflexão
 
A família de Jesus. Os parentes chegam à casa onde Jesus está. Provavelmente chegavam de Nazaré. De lá para Cafarnaum são uns 40 km. Sua mãe estava com eles. Não entram, mas enviam um recado: "Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar-te”. A reação Jesus é firme: “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?" E, apontando com a mão para os seus discípulos, acrescentou: Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.” Para entender bem o significado desta resposta deve-se olhar para a situação da família no tempo de Jesus.
 
No antigo Israel, o clã, ou seja, a grande família (a comunidade) era a base da convivência social. Era a proteção das famílias e das pessoas, a garantia da posse da terra, o fluxo principal da tradição, a defesa da identidade. Era a maneira concreta de que as pessoas da época tinham a encarnar o amor de Deus no amor ao próximo. Defender o clã era o mesmo que defender a Aliança.
 
Na Galileia no tempo de Jesus, por causa do sistema implantado durante o longo governo de Herodes, o Grande (37 aC a 4 aC) e seu filho Herodes Antipas (4 aC a 39 dC), o clã (a comunidade) estava se enfraquecendo. Devia-se pagar impostos tanto para o governo como para o Templo, a dívida pública crescia, dominava a mentalidade individualista da ideologia helenista, havia frequentes ameaças de repressão violenta da parte dos romanos, a obrigação de acolher os soldados e dar-lhes hospitalidade, os problemas cada vez maiores da sobrevivência, tudo isto levava as famílias fecharem-se em suas próprias necessidades. Este fechamento era reforçado pela religião da época. Por exemplo, quem dava a sua herança para o Templo, eles poderiam deixar seus pais sem ajuda. Isso enfraqueceu o quarto mandamento, que era a dobradiça do clã (Mc 7,8-13). Além disso, a observância das normas de pureza era fator de marginalização de muitas pessoas: mulheres, crianças, samaritanos, estrangeiros, leprosos, endemoniados, publicanos, doentes, aleijados, paralíticos.
 
E assim, a preocupação com os problemas da própria família impedia que as pessoas se unissem em comunidade. Então, para que o Reino de Deus pudesse manifestar-se na vida comunitária do povo, as pessoas tinham de ir além dos limites estreitos da pequena família e abrir-se novamente para a grande família, para a Comunidade. Jesus nos dá o exemplo. Quando sua família tentou agarrá-lo, reagiu e alargou o sentido da família: "Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?" E, estendendo a mão para os seus discípulos, disse: "Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Pois quem faz a vontade de meu Pai que está nos céus é meu irmão, minha irmã e minha mãe ". Criou comunidade.
 
Jesus pedia o mesmo para todos os que queiram segui-lo. As famílias não poderiam fechar-se em si mesmas. Os excluídos e marginalizados deviam ser recebidos dentro da convivência e, assim, se sentir acolhidos por Deus (cf. Lc 14,12-14). Este era o caminho para alcançar o objetivo da Lei que dizia: "Não deve haver pobres entre vós" (Dt 15,4). Como os grandes profetas do passado, Jesus procurava fortalecer a vida comunitária nas aldeias da Galileia. Ele retoma o sentido mais profundo do clã, família, da comunidade, como expressão da encarnação do amor de Deus no amor ao próximo.
 
Para um confronto pessoal
• Viver a fé em comunidade. Qual é o lugar e a influência das comunidades em minha maneira de viver a fé?
• Hoje, em grandes cidades, a massificação promove o individualismo que é contrário da vida em comunidade. O que estou fazendo para combater este mal?

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