Santos
Luís Martin e Zélia Guerín, leigos
1ª
Leitura (Os 14,2-10): Assim fala o Senhor: «Israel, converte-te ao
Senhor, teu Deus, porque foram os teus pecados que te fizeram cair. Vinde com
palavras de súplica, voltai para o Senhor e dizei-Lhe: “Perdoai todas as nossas
faltas e aceitai o dom que Vos oferecemos, a homenagem dos nossos lábios. Não é
a Assíria que nos pode salvar; não montaremos mais a cavalo, nem chamaremos
‘Nosso Deus’ à obra das nossas mãos, porque só em Vós o órfão encontra
piedade”. Curarei a sua infidelidade, amá-los-ei generosamente, pois a minha ira
afastou-se deles. Serei como orvalho para Israel, que florirá como o lírio e
lançará raízes como o cedro do Líbano. Os seus ramos estender-se-ão ao longe, a
sua opulência será como a da oliveira e a sua fragrância como a do Líbano.
Voltarão a sentar-se à minha sombra, farão reviver o trigo; florescerão como a
vinha, criarão fama como o vinho do Líbano. Que terá ainda Efraim de comum com
os ídolos? Sou Eu que o atendo e olho por ele. Sou como o cipreste verdejante:
graças a Mim darás muito fruto». Quem for sábio entenderá estas palavras, quem
for inteligente poderá compreendê-las. Porque são retos os caminhos do Senhor:
por eles caminham os justos e neles tropeçam os pecadores.
Salmo
Responsorial: 50
R. A minha boca proclamará o
vosso louvor.
Compadecei-Vos de mim, ó Deus,
pela vossa bondade, pela vossa grande misericórdia, apagai os meus pecados.
Lavai-me de toda a iniquidade e purificai-me de todas as faltas.
Amais a sinceridade de coração e
fazeis-me conhecer a sabedoria no íntimo da alma. Aspergi-me com o hissope e
ficarei puro, lavai-me e ficarei mais branco do que a neve.
Criai em mim, ó Deus, um coração
puro e fazei nascer dentro de mim um espírito firme. Não queirais repelir-me da
vossa presença e não retireis de mim o vosso espírito de santidade.
Dai-me de novo a alegria da vossa
salvação e sustentai-me com espírito generoso. Abri, Senhor, os meus lábios e a
minha boca cantará o vosso louvor.
Aleluia. Quando vier o
Espírito da verdade, Ele vos ensinará toda a verdade e vos recordará tudo o que
Eu vos disse. Aleluia.
Evangelho
(Mt 10,16-23): Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: «Vede, eu
vos envio como ovelhas para o meio de lobos. Sede, portanto, prudentes como as
serpentes e simples como as pombas. Cuidado com as pessoas, pois vos entregarão
aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas. Por minha causa, sereis
levados diante de governadores e reis, de modo que dareis testemunho diante
deles e diante dos pagãos. Quando vos entregarem, não vos preocupeis em como ou
o que falar. Naquele momento vos será dado o que falar, pois não sereis vós que
falareis, mas o Espírito do vosso Pai falará em vós. O irmão entregará à morte
o próprio irmão; o pai entregará o filho; os filhos se levantarão contra seus
pais e os matarão. Sereis odiados por todos, por causa do meu nome. Mas quem
perseverar até o fim, esse será salvo. Quando vos perseguirem numa cidade, fugi
para outra. Em verdade vos digo, não acabareis de percorrer as cidades de
Israel, antes que venha o Filho do Homem».
«Sereis odiados por todos, por
causa do meu nome»
P. Josep LAPLANA OSB Monje de
Montserrat (Montserrat, Barcelona, Espanha)
Hoje, o Evangelho remarca as
dificuldades e as contradições que o cristão haverá de sofrer por causa de
Cristo e do seu Evangelho e como deverá resistir e perseverar até o final.
Jesus nos prometeu: «Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos»
(Mt 28,20); mas não prometeu, aos seus, um caminho fácil, antes pelo contrário,
lhes disse: «Sereis odiados por todos, por causa do meu nome» (Mt 10,22).
A Igreja e o mundo são duas
realidades de ”difícil” convivência. O mundo, que a Igreja há de converter a
Jesus Cristo, não é uma realidade neutra, como se fosse uma cera virgem que só
espera o selo que lhe dará forma. Isto só teria sido assim se não tivesse
havido uma história de pecado entre a criação do homem e a sua redenção. O
mundo, como estrutura afastada de Deus, obedece a outro senhor, que o Evangelho
de São João denomina como o senhor deste mundo, o inimigo da alma, o que fez
com que o cristão fizesse um juramento— no dia de seu batismo— de
desobediência, de dizer não ao inimigo, para pertencer somente ao Senhor e à
Mãe Igreja que ela engendrou em Jesus Cristo.
Mas o batizado continua vivendo
neste mundo e não em outro, não renuncia à cidadania deste mundo nem lhe nega
sua honesta contribuição para mantê-lo e melhorá-lo; os deveres de cidadania
cívica são também deveres dos cristãos; pagar os impostos é um dever de justiça
para o cristão. Jesus disse que nós, seus seguidores, estamos no mundo, mas não
somos do mundo (cf. Jo 17,14-15). Não pertencemos ao mundo incondicionalmente,
inteiramente, só pertencemos a Jesus Cristo e à sua Igreja, verdadeira pátria
espiritual, que está aqui na terra e que transpassa a barreira do espaço e do
tempo para desembarcar-nos na pátria definitiva que é o céu.
Esta dupla cidadania
inevitavelmente se choca com as forças do pecado e do domínio que move os
mecanismos mundanos. Repassando a história da Igreja, Newman dizia que «a
perseguição é a marca da Igreja e talvez a mais duradoura de todas».
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«O atleta não ganha quando tira a
roupa, porque deixa a roupa para começar a lutar. Ele só recebe a coroa de
vencedor depois de ter lutado adequadamente» (São Paulino de Nola)
«Jesus nos diz: ‘Eu vos envio
como ovelhas no meio de lobos’. O cristão, antes, deverá ser prudente, às vezes
até astuto: essas são as virtudes aceites pela lógica evangélica. Mas nunca a
violência» (Francisco)
«Podemos, portanto, aguardar a
glória do céu prometida por Deus a àqueles que o amam e fazem a sua vontade. Em
todas as circunstâncias, cada um deve esperar, com a graça de Deus, ‘permanecer
firme até o fim’ (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1821)
Reflexão
• Olhando para sua futura missão,
Jesus dá algumas orientações para a comunidade dos seus discípulos, chamados e
reunidos em torno dele e investidos de sua mesma autoridade como colaboradores.
• Mateus 10,16-19: o perigo e
a confiança em Deus. Jesus introduz esta parte do seu discurso com duas
metáforas: ovelhas entre lobos, ser prudentes como as serpentes e simples como
as pombas. A primeira mostra o contexto difícil e perigoso em que os discípulos
são enviados. Por um lado, demonstra a situação de perigo em que se encontram
os discípulos enviados em missão; por outro lado, a expressão "eu vos
envio" expressa proteção. Também na esperteza das serpentes e a
simplicidade das pombas parece que Jesus relaciona dois comportamentos: a confiança
em Deus e a reflexão atenta e prolongada do modo de se relacionar com os
outros.
Jesus continua depois uma ordem
que, à primeira vista, parece ser marcada por uma acentuada desconfiança:
"Cuidado com os homens ...", mas na realidade é estar alerta para uma
possível perseguição, hostilidade e denúncias. A expressão "os entregarão"
não se refere apenas à acusação no tribunal, mas principalmente tem um valor
teológico: o discípulo que segue Jesus poderá ter a mesma experiência que o
Mestre, “ser entregue nas mãos dos homens” (17,22). Os discípulos devem ser
fortes e resistir "para dar testemunho", sua entrega aos tribunais
será um testemunho para os judeus e para os pagãos, como a possibilidade de
atraí-los para a pessoa e para a causa de Jesus e, portanto, ao conhecimento do
evangelho. É importante este retorno positivo ao testemunho caracterizado pela
fé que se faz crível e atraente.
• Mateus 10,20: ajuda divina.
Para que tudo isso seja realizado na missão-testemunho dos discípulos, é
essencial a ajuda que vem de Deus. Ou seja, não devemos confiar nas próprias
seguranças ou recursos, mas nas situações críticas, perigosas e agressivas de
sua vida, os discípulos encontrarão em Deus ajuda e solidariedade. Aos
discípulos também se prometeu o Espírito do Pai (v. 20) para realizar a sua
missão. Ele vai trabalhar neles para realizar sua missão de evangelização e dar
testemunho, o Espírito falará através deles.
• Mateus 10, 21-22:
ameaça-consolo. O tema da ameaça retorna de novo com o termo
"entregará": irmão contra irmão, pai contra filho, filho contra seus
pais. Trata-se de uma verdadeira e grande desordem das relações sociais, o
esmagamento da família. As pessoas unidas pelos mais íntimos laços familiares -
como pais, filhos, irmãos e irmãs - caem na desgraça de odiar-se e de se
eliminar um ao outro. Em que sentido essa divisão da família tem algo a ver com
o testemunho em favor de Jesus? Tal ruptura nas relações familiares poderia
encontrar sua causa na diversidade de atitudes adotadas no seio da família em
relação a Jesus. A expressão "sereis odiados", sugere o tema da
acolhida hostil de seus enviados por parte dos contemporâneos. A dureza das
palavras de Jesus são comparáveis a outro texto do NT: "Bem-aventurados
sois se são insultados pelo nome de Cristo, porque o Espírito de glória, que é
o Espírito de Deus repousa sobre vós. Que nenhum de vós padeça como homicida,
ladrão, malfeitor ou delator. Mas, se alguém sofre como cristão, não se envergonhe,
mas sim dê glória a Deus por este nome." Ao anúncio da ameaça segue a
promessa de consolação (v. 23). O maior consolo dos discípulos será "ser
salvos", para viver a esperança do salvador, ou seja, participar na sua
vitória.
Para um confronto pessoal
1. Estas disposições de
Jesus nos ensinam hoje como entender a missão do cristão?
2. Você sabe confiar na
ajuda de Deus quando você sofre conflitos, perseguições
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