S.
João de Brito, presbítero da Companhia de Jesus e mártir
Sta.
Joana de Valois, rainha da França e fundadora a Ordem das Anunciadas
1ª
Leitura (Jó 7,1-4.6-7): Job tomou a palavra, dizendo: «Não vive o homem
sobre a terra como um soldado? Não são os seus dias como os de um mercenário?
Como o escravo que suspira pela sombra e o trabalhador que espera pelo seu
salário, assim eu recebi em herança meses de desilusão e couberam-me em sorte
noites de amargura. Se me deito, digo: ‘Quando é que me levanto?’. Se me
levanto: ‘Quando chegará a noite?’; e agito-me angustiado até ao crepúsculo. Os
meus dias passam mais velozes que uma lançadeira de tear e desvanecem-se sem
esperança. – Recordai-Vos que a minha vida não passa de um sopro e que os meus
olhos nunca mais verão a felicidade».
Salmo
Responsorial: 146
R. Louvai o Senhor, que salva
os corações atribulados.
Louvai o Senhor, porque é bom
cantar, é agradável e justo celebrar o seu louvor. O Senhor edificou Jerusalém,
congregou os dispersos de Israel.
Sarou os corações dilacerados e
ligou as suas feridas. Fixou o número das estrelas e deu a cada uma o seu nome.
Grande é o nosso Deus e
todo-poderoso, é sem limites a sua sabedoria. O Senhor conforta os humildes e
abate os ímpios até ao chão.
2ª
Leitura (1Cor 9,16-19.22-23): Irmãos: Anunciar o Evangelho não é para
mim um título de glória, é uma obrigação que me foi imposta. Ai de mim se não
anunciar o Evangelho! Se o fizesse por minha iniciativa, teria direito a
recompensa. Mas, como não o faço por minha iniciativa, desempenho apenas um
cargo que me está confiado. Em que consiste, então, a minha recompensa? Em
anunciar gratuitamente o Evangelho, sem fazer valer os direitos que o Evangelho
me confere. Livre como sou em relação a todos, de todos me fiz escravo, para
ganhar o maior número possível. Com os fracos tornei-me fraco, a fim de ganhar
os fracos. Fiz-me tudo para todos, a fim de ganhar alguns a todo o custo. E
tudo faço por causa do Evangelho, para me tornar participante dos seus bens.
Aleluia. Cristo suportou as
nossas enfermidades e tomou sobre Si as nossas dores. Aleluia.
Evangelho
(Mc 1,29-39): Logo que saíram da sinagoga, foram com Tiago e João para a
casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama, com febre, e logo
falaram dela a Jesus. Ele aproximou-se e, tomando-a pela mão, levantou-a; a
febre a deixou, e ela se pôs a servi-los. Ao anoitecer, depois do pôr do sol,
levavam a Jesus todos os doentes e os que tinham demônios. A cidade inteira se
ajuntou à porta da casa. Ele curou muitos que sofriam de diversas enfermidades;
expulsou também muitos demônios, e não lhes permitia falar, porque sabiam quem
ele era. De madrugada, quando ainda estava bem escuro, Jesus se levantou e saiu
rumo a um lugar deserto. Lá, ele orava. Simão e os que estavam com ele se
puseram a procurá-lo. E quando o encontraram, disseram-lhe: «Todos te
procuram». Jesus respondeu: «Vamos a outros lugares, nas aldeias da redondeza,
a fim de que, lá também, eu proclame a Boa Nova. Pois foi para isso que eu
saí». E foi proclamando nas sinagogas por toda a Galileia, e expulsava os
demônios.
«Todos te procuram»
Rev. D. Francesc CATARINEU i
Vilageliu (Sabadell, Barcelona, Espanha)
Hoje contemplamos a Jesus em Cafarnaum,
centro do seu ministério, e concretamente em casa de Simão Pedro: «Logo que
saíram da sinagoga, foram (...) para a casa de Simão i André» (Mc 1,29). Lá
encontra a sua família, a de aqueles que escutam a Palavra e a cumprem (cf. Lc
8,21). A sogra de Pedro está doente em cama e Ele, com um gesto que ultrapassa
a anedota, lhe dá a mão, levanta-a da sua prostração e a devolve ao serviço.
Aproxima-se aos pobres-doentes
que lhe levam e os cura apenas alargando a mão; somente com um breve contacto
com Ele, que é fonte de vida, são salvados – liberados.
Todos procuram a Cristo, alguns
de uma maneira expressa e esforçada, outros não são conscientes disso, já que
«nosso coração está inquieto e não encontra descanso até que descansa Nele»
(São Agostinho).
Mas, assim como nós o procuramos
porque necessitamos que nos livre do mal e do Maligno, Ele se nos acerca para
fazer possível aquilo que nunca poderíamos conseguir sozinhos. Ele fez-nos
frágeis para ganhar-nos a nós, «fez-se todo para todos para ganhar ao menos
alguns» (1Cor 9,22).
Há uma mão aberta que nos espera
quando nos sentimos cansados por tantos males; temos bastante com abrir a nossa
e nos encontraremos de pé e renovados para o serviço. Podemos “abrir” a mão
mediante a oração, tomando o exemplo do Senhor: «De madrugada, quando ainda
estava bem escuro, Jesus se levantou e saiu rumo a um lugar deserto. Lá ele
orava» (Mc 1,35).
Além disso, a Eucaristia de cada
domingo é o encontro com o Senhor que vem a levantar-nos do pecado da rotina e
do desânimo para fazer de nós testemunhos vivos de um encontro que nos renova
constantemente e que nos faz livres de verdade com Jesus Cri
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«O nosso coração está inquieto e
não encontrará descanso até que n'Ele repouse» (Santo Agostinho)
«O cristianismo começa com a
encarnação do Verbo. Aqui não é apenas o homem que procura Deus, mas é Deus que
vem, em Pessoa, falar de Si, ao homem. Deus procura o homem movido pelo seu
coração de Pai» (S. João Paulo II)
«De muitos modos, na sua história
e até hoje, os homens exprimiram a sua busca de Deus em crenças e
comportamentos religiosos (orações, sacrifícios, cultos, meditações, etc.).
Apesar das ambiguidades de que podem enfermar, estas formas de expressão são tão
universais que bem podemos chamar ao homem um ser religioso» (Catecismo da
Igreja Católica, nº 28)
A febre deixou-a e ela
servia-os.
Fr. Pedro Bravo, ocarm
* A passagem de hoje vem no
seguimento da perícope anterior, lida no domingo passado. Decorre ainda em
Cafarnaum e embora a chamem uma jornada típica de Jesus, de facto nela Marcos
contrapõe dois dias: o sábado judaico e o domingo cristão. Apresenta-os em três
quadros distintos, mas complementares, como uma sequência típica da ação evangelizadora
de Jesus, apresentada como modelo para a Igreja.
* v. 29. O primeiro quadro (vv.
29-31: Mt 8,14s; Lc 4,38s) decorre no sábado judaico, após a liturgia sinagogal
em que Jesus participara (v. 21). Simão e André (v. 16) não tinham ido, Jesus
estranhou e vai a “casa” deles para saber o que se passara, pois o motivo devia
ser grave. Leva consigo os outros dois discípulos, Tiago e João (v. 19), pois é
no seio da comunidade fraterna que Jesus se torna presente e manifesta (cf. Mt
18,20).
* v. 30. Os primeiros
mostram-lhe a razão da sua ausência: a sogra de Simão está “deitada” (2,4) na
cama com tal febre (At 28,8) que temem o pior (v. 31; cf. Jo 4,47.49). Mas
Jesus intervém, dando três passos.
* v. 31. 1) “Aproximando-se”. O verbo está no
particípio aoristo (repetitivo), indicando que Jesus se aproxima sempre de quem
sofre e lhe é apresentado na oração. 2)
“Tomando-a pela mão” (5,41; 9,27; cf. Gn 19,16), ou seja, tocando a sua
existência, amparando-a e assumindo, como Senhor, a direção da sua vida (Sl
73,24s; Is 42,6). 3) “Ergueu-a” (gr. egueirô): o verbo é o termo técnico da
ressurreição (6,14.16; 9,27; 12,26; 14,28; 16,6), indicando que ela estava às
portas da morte (5,41). Jesus cura-a e ela inicia uma vida nova. Como?
* “Servia-os” (pl.): ela
serve não apenas Jesus, mas também os apóstolos (gr. diakonéô: v. 13;
15,41; Lc 8,3; At 6,2; Hb 6,10). Ao sábado não se cozinhava, servindo-se as
três refeições do dia (a da véspera, a do meio-dia e a da noite), preparadas
antes e mantidas quentes. Esta é “a refeição” sabática por excelência, a refeição
festiva do meio-dia, que se segue ao culto (cf. Ne 8,10). O verbo “servir” está
no imperfeito, indicando uma ação continuada: a vida nova que a sogra de Simão
recebeu de Jesus, dá novo rumo à sua existência, que agora é posta ao serviço
do Senhor e dos irmãos, em especial, dos seus enviados.
* v. 32. O segundo quadro (vv. 32-34: Mt 8,16; Lc 4,40s)
decorre no primeiro dia da semana (o “Dia do Senhor”, o domingo cristão: 16,2;
Ap 1,10; cf. At 20,7; 1Cor 16,2). Este começa uma hora após o pôr-do-sol,
quando se veem brilhar no céu os três primeiros astros (Vénus e duas estrelas).
Nessa ocasião todos se devem trajar bem e mostrar um ar festivo, agradecendo o
sábado, celebrando a criação e aguardando a nova criação. É neste contexto que
Jesus age, mostrando que é Ele que dá o verdadeiro repouso e anunciando com os
“sinais” (16,17) que realiza (as curas e as libertações), a nova criação.
* A fama de Jesus espalhara-se
(v. 28) e as pessoas vão ao seu encontro, trazendo-lhe “todos os que tinham
males e os endemoninhados”. Como o judaísmo proibia ao sábado andar mais de
2.000 côvados (880 m: Er 4,5; cf. Js 3,4; Nm 35,5; At 1,12) e curar doentes (a
não ser os que estavam em perigo de vida: Mt 12,10p; Lc 13,14; Er 4,3; Yom
8,6), esperam que o sábado passe e comece o primeiro dia da semana para irem
ter com Jesus.
* Trazem-lhe “todos os que
tinham males”, ou seja, todo o tipo de doenças corporais, “e os
endemoninhados”, pessoas com doenças psiquiátricas ou do foro psíquico ou
espiritual. Como estes doentes não raro não têm controle sobre si mesmos,
os antigos atribuíam-nas a forças sobrenaturais, invisíveis, os “demónios”, que
se apossavam deles, controlando-os. Os demónios não são o diabo (gr. “o que
divide”; he. Satanás, “o adversário”), que existe, mas seres míticos, que
agiam, como se cria, tal como as doenças, sob o comando de Satanás (At 10,38).
Só Deus tinha poder sobre eles. Os doentes e os possessos eram as pessoas mais
marginalizadas em Israel: tidas por impuras, julgava-se que Deus as rejeitara,
sendo, por isso, postas de lado e sendo não raro obrigadas a viver à mercê da
caridade pública.
* v. 33. Manifesta-se
então a força do domingo cristão. Toda a cidade se reúne “à porta” (da casa
de Pedro: v. 29; 2,1s). Em Marcos, a “casa” (gr. oikós) é cifra da Igreja. O
ficarem as pessoas “à porta” simboliza a evangelização cristã (2,2; cf. Jo
10,9; At 14,27; 28,30; 1Co 16,9; Cl 4,3).
* v. 34. Marcos introduz um
novo sumário da ação de Jesus. O Reino de Deus anunciado por Ele (v. 15),
destina-se a todas as pessoas e abarca o homem todo, todos os aspetos e
dimensões da sua vida (física, psíquica, pessoal, familiar e comunitária). Por
isso, o Evangelho não se reduz a uma doutrina, nem se limita ao culto, mas
manifesta-se em obras de salvação (cf. 3,15; 6,7; 16,20; Mt 11,4s; 1Ts 1,5; Hb
2,4). O judaísmo esperava que no tempo do Messias todas as doenças fossem
curadas (Is 35,5s; Jub 23,28-30; Hen 25,5-7; 96,3: Str-B 1,593-596) e o homem
fosse libertado do poder de Satanás (cf. v. 24; Hen 55,4; Test Levi 18; Test
Sebul 9; At 26,18). É o que Jesus faz: cura “muitos” doentes (3,10) e expulsa
“muitos demónios” (6,13). “Muitos”, mas não “todos” (Mt 8,16; 12,15), porque a
fé deles ainda era pequena (cf. 2,5; 6,5; 11,22s). “Não deixava que os demónios
falassem, porque sabiam quem Ele era”: é um inciso do “segredo messiânico” (v.
24s.44; 3,12p). Jesus não quer que saibam que Ele é o Messias, para não ser
confundido com a figura política do messias temporal e guerreiro que todos
aguardavam.
* v. 35. Num terceiro quadro (vv. 35-39: Lc 4,42s; Mt
4,23), Marcos mostra-nos Jesus retirado num “lugar deserto” (solitário) em
oração (6,46). Esta começa cedo, logo de manhã, antes da aurora (cf. Sl
63,1). A oração é a base do ministério de Jesus (cf. At 6,4), que ritma e
embebe a sua existência. É dela que brotam a sua palavra e ação e é a ela que
conduzem. Na oração, Jesus entrega-se (gr. proseukomai: “orar”, lit.
“oferecer”) ao Pai, a quem chama Abbá (14,36); une-se a Ele, adora-o, louva-o,
dá-lhe graças; escuta a Sua Palavra; discerne e abraça a Sua vontade; suplica e
intercede pelos homens; deixa que nele se renove o dom da graça; haure luz,
força e motivação para a sua caminhada.
v. 36. Ao levantar-se, não o
vendo em casa, Simão assume pela primeira vez a chefia e vai com os
companheiros à procura de Jesus.
* v. 37. É em oração que
encontram Jesus. “Todos Te procuram” (Jo 6,24; Ex 33,7). Em Marcos,
“procurar” (10x: 3,22; 8,11s; 11,18; 12,12; 14,1.11.55; 16,6) significa:
“apoderar-se de” (cf. Jo 6,15). Mas Jesus não o permite.
* v. 38. “Vamos a outros
lugares, para também aí pregar”. A oração é um meio, não um fim, e leva à
ação. “Vamos” está no plural porque: a) a missão de Jesus é também a dos seus
discípulos; b) quem evangeliza nunca vai só, porque o Senhor está e coopera com
ele (16,20). “Para isto saí” (gr. exêlthon: Sir 24,3; Jo 8,42; 13,3; 17,8).
“Sair” é usado em sentido absoluto, sem indicar a origem. Jesus alude
veladamente à sua “vinda” do Pai, enquanto Filho “enviado” (v. 11) pelo Pai a
“pregar” (gr. kerysso) o Evangelho de Deus (v. 14). A evangelização é o que
determina a vida e missão de Jesus, que não se deixa prender, nem sequer pelo
êxito.
* v. 39: Mt 4,23; 9,35; Lc
4,44. Marcos conclui com novo sumário da ação de Jesus, em inclusão com o v.
14. Jesus vai ao encontro de todos, pregando-lhes por palavras o Evangelho e
levando-lhes com gestos de fraternidade e obras de poder e salvação. É por
estas duas dimensões que, como faces da mesma moeda, passa a evangelização.
* Neste episódio, Jesus
mostra o estilo de vida, o roteiro e a missão que vai confiar aos seus
discípulos – e neles, à Igreja –, a qual deverão prosseguir até ao fim dos
tempos, vendo nela a sua tarefa mais urgente e necessária, a sua obra
fundamental: a evangelização (cf. 3,14; 6,12; 13,10; 16,15; 1Cor 9,16).
MEDITAÇÃO
1. Faço da minha vida um
serviço a Deus e aos irmãos?
2. Que lugar ocupam na
minha existência a oração, a leitura da Palavra de Deus, a celebração da fé e a
vida comunitária?
3. A evangelização é a
prioridade da vida e ação de Jesus. Como participo eu nesta obra, que o Pai,
por Ele, me confia?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
DEIXE AQUI SEU SUA SUGESTÃO