Bto.
Alano da Bretanha, 5º Prior Geral de nossa Ordem
1ª
Leitura (Tg 1,1-11): Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo,
saúda as doze tribos que vivem na dispersão. Meus irmãos, considerai como
motivo de grande alegria as diversas provações por que tendes passado. Vós
sabeis que a vossa fé, assim provada, produz a constância. A constância, por
sua vez, deve ser exercida plenamente, para serdes perfeitos e irrepreensíveis,
sem nenhuma deficiência. Se algum de vós tem falta de sabedoria, deve pedi-la a
Deus, que a dá a todos sem reserva nem recriminações, e ela lhe será concedida.
Mas deve pedi-la com fé, sem qualquer hesitação, pois aquele que hesita é
semelhante às ondas do mar, agitadas pelo vento e lançadas de um para outro
lado. Quem é assim não pense que receberá do Senhor coisa alguma, porque é
homem de espírito indeciso, inconstante em tudo o que faz. O irmão de condição
humilde deve ter muita honra em se ver elevado por Deus e o rico em tomar uma
posição modesta, porque passará como a flor do campo. Nasce o sol com os seus
ardores e seca a erva; cai a flor e desaparece a sua formosura. Assim murchará
o rico nos seus empreendimentos.
Salmo
Responsorial: 118
R. Desça sobre mim a vossa
misericórdia, Senhor, e viverei.
Errei antes de ser atribulado,
mas agora cumpro a vossa palavra. Vós sois bom e generoso: ensinai-me os vossos
decretos.
Foi bom para mim ter sido
atribulado, para aprender os vossos preceitos. Para mim vale mais a lei da
vossa boca do que milhões em ouro e prata.
Senhor, eu sei que os vossos
juízos são justos e que a vossa fidelidade me põe à prova. Console-me a vossa
bondade, segundo a promessa que fizestes ao vosso servo.
Aleluia. Eu sou o caminho, a
verdade e a vida, diz o Senhor. Ninguém vai ao Pai senão por Mim. Aleluia.
Evangelho
(Mc 8,11-13): Os fariseus vieram e começaram a discutir com ele. Para
pô-lo à prova, pediam-lhe um sinal do céu. Jesus deu um suspiro profundo e
disse: «Por que esta geração pede um sinal? Em verdade vos digo: nenhum sinal
será dado a esta geração!». E, deixando-os, entrou de novo no barco e foi para
a outra margem.
«Em verdade vos digo: nenhum
sinal será dado a esta geração!»
Rev. D. Jordi POU i Sabater (Sant
Jordi Desvalls, Girona, Espanha)
Hoje, o Evangelho parece que não
nos diz muito, nem sobre Jesus nem sobre nós próprios. «Por que esta geração
pede um sinal?» (Mc 8,12). João Paulo II, comentando este episódio da vida de
Jesus Cristo diz-nos: «Jesus convida ao discernimento relativamente às palavras
e às obras que testemunham (são “sinal de”) a chegada do reino do Pai». Parece
que aos Judeus que interrogam Jesus lhes falta a capacidade ou a vontade de
pensar no sinal que — de fato— são toda a atuação, obras e palavras do Senhor.
Também hoje em dia se pedem
sinais a Jesus: que nos mostre a sua presença no mundo ou que nos diga como
devemos atuar. O Papa faz-nos ver que a negação de Jesus Cristo em dar um sinal
aos judeus —e, portanto, a nós também— se deve a que quer mudar a lógica do
mundo, orientada na procura de signos que confirmem o desejo de autoafirmação e
de poder do homem». Os judeus não queriam um signo qualquer, mas aquele que
indicasse que Jesus era o messias que eles esperavam. Não esperavam o que viria
para os salvar, mas aquele que viria dar segurança às suas visões de como se
deveriam fazer as coisas.
Definitivamente, quando os judeus
do tempo de Jesus, como também os cristãos de hoje pedimos —de uma forma ou de
outra— um sinal, o que fazemos é pedir a Deus que atue à nossa maneira, da
forma que julgamos mais correta e, que por isso apoia o nosso modo de pensar. E
Deus, que sabe e pode mais (e por isso pedimos no Pai-Nosso que se faça a “sua”
vontade), tem os seus caminhos, mesmo que não nos seja fácil compreendê-los.
Mas Ele, que se deixa encontrar por todos os que O procuram, também se lhe
pedirmos discernimento, nos fará compreender qual é a sua forma de atuar e,
como podemos distinguir hoje os seus signos.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Nestas três coisas se conhecerá
que a tua boca está cheia em abundância de sabedoria ou de prudência: se
confessares de palavra a tua própria iniquidade, se de tu boca sair a ação de
graças e o louvor a Deus, e se de ela saem também palavras de edificação» (São
Bernardo)
«‘Se és Filho de Deus…’ - Deus é
“provado” do mesmo modo que se prova uma mercadoria. A arrogância que quer
converter Deus em um objeto e impor-Lhe as nossas condições experimentais de
laboratório não pode encontrar Deus» (Bento XVI)
«Os sinais realizados por Jesus
testemunham que o Pai O enviou (290). Convidam a crer n'Ele (291) (…). Apesar
de os seus milagres serem tão evidentes, Jesus é rejeitado por alguns (295);
chega mesmo a ser acusado de agir pelo poder dos demónios (296)» (Catecismo da
Igreja Católica, nº 548)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* Marcos 8,11-13: Os fariseus
pedem um sinal do céu. O Evangelho
de hoje traz uma discussão dos fariseus com Jesus. Como Moisés no Antigo
Testamento, Jesus tinha alimentado o povo faminto no deserto, realizando a
multiplicação dos pães (Mc 8,1-10). Sinal de que ele se apresentava ao povo
como um novo Moisés. Mas os fariseus não foram capazes de perceber o
significado da multiplicação dos pães. Eles começam a discutir com Jesus e
pedem um sinal, “vindo do céu”. Não tinham entendido nada de tudo que Jesus
tinha feito. “Jesus suspira profundamente”, provavelmente de desgosto e de
tristeza diante de tão grande cegueira. E ele conclui: “Nenhum sinal será dado
a esta geração!” Deixou-os de lado e foi para o outro banda do lago. Não
adianta mostrar uma pintura bonita a quem não quer abrir os olhos. Quem fecha
os olhos não pode ver!
* O perigo da ideologia
dominante. Aqui se percebe
claramente como o “fermento de Herodes e dos fariseus” (Mc 8,15), a ideologia
dominante da época, fazia as pessoas perder a capacidade de analisar com
objetividade os acontecimentos. Esse fermento já vinha de longe e tinha raízes
profundas na vida do povo. Chegou a contaminar a mentalidade dos próprios
discípulos e neles se manifestava de muitas maneiras. A formação que Jesus lhes
dava procurava combater e erradicar esse “fermento”. Eis alguns exemplos desta
ajuda fraterna de Jesus aos discípulos.
* 1. Mentalidade de grupo
fechado. Certo dia, alguém que não era da comunidade, usava o nome de Jesus
para expulsar os demônios. João viu e proibiu: “Impedimos, porque ele não anda
conosco” (Mc 9,38). João pensava ser o monopólio sobre Jesus e queria proibir
que outros usassem o nome dele para realizar o bem. Queria uma comunidade
fechada sobre si mesma. Era o fermento de "Povo eleito, Povo
separado!". Jesus responde: "Não impeçam!... Quem não é contra é a
favor!" (Mc 9,39-40).
* 2. Mentalidade de grupo que
se considera superior aos outros. Certa vez, os samaritanos não queriam dar
hospedagem a Jesus. A reação de alguns discípulos foi imediata: “Que um fogo do
céu acabe com esse povo!” (Lc 9,54). Achavam que, pelo fato de estarem com
Jesus, todos deveriam acolhê-los. Pensavam ter Deus do seu lado para
defendê-los. Era o fermento de “Povo eleito, Povo privilegiado!”. Jesus os
repreende: "Vocês não sabem de que espírito estão sendo animados" (Lc
9,55).
* 3. Mentalidade de competição
e de prestígio. Os discípulos brigavam entre si pelo primeiro lugar (Mc
9,33-34). Era o fermento de classe e de competição, que caracterizava a
religião oficial e a sociedade do Império Romano. Ela já se infiltrava na
pequena comunidade ao redor de Jesus. Jesus reage e manda ter a mentalidade
contrária : "O primeiro seja o último" (Mc 9, 35).
* 4. Mentalidade de quem
marginaliza o pequeno. Os discípulos afastavam as crianças. Era o fermento
da mentalidade da época, segundo a qual criança não contava e devia ser
disciplinada pelos adultos. Jesus os repreende: ”Deixem vir a mim as crianças!”
(Mc 10,14). Ele coloca criança como professora de adulto: “Quem não receber o
Reino como uma criança, não pode entrar nele” (Lc 18,17).
* Como no tempo de
Jesus, também hoje, a mentalidade neoliberal da ideologia dominante renasce e
reaparece até na vida das comunidades e das famílias. A leitura orante do
Evangelho, feita em comunidade, pode ajudar-nos a mudar em nós a visão das
coisas e a aprofundar em nós a conversão e a fidelidade que Jesus pede de nós.
Para um confronto pessoal
1) Diante da alternativa:
ter fé em Jesus ou pedir um sinal do céu, os fariseus queriam um sinal do céu.
Não foram capazes de crer em Jesus. Será que já aconteceu algo assim comigo?
Que escolha eu fiz?
2) O fermento dos fariseus
impedia os discípulos e as discípulas de perceber a presença do Reino em Jesus.
Será que existe algum resto do fermento dos fariseus em mim?
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