sábado, 17 de fevereiro de 2024

Segunda-feira da 1ª semana da Quaresma

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ª Leitura (Lev 19,1-2.11-18): O Senhor dirigiu-Se a Moisés, dizendo: «Fala a toda a comunidade dos filhos de Israel e diz-lhes: ‘Sede santos, porque Eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo. Não furtareis, não direis mentiras, nem cometereis fraudes uns com os outros. Não prestarás juramento falso, invocando o meu nome, pois profanarias o nome do teu Deus. Eu sou o Senhor. Não oprimirás nem expropriarás o teu próximo. Não ficará contigo até ao dia seguinte o salário do jornaleiro. Não insultarás um surdo nem colocarás tropeços diante de um cego, mas temerás o teu Deus. Eu sou o Senhor. Não cometerás injustiças nos teus julgamentos: não favorecerás indevidamente um pobre, nem darás preferência ao poderoso; julgarás o teu próximo segundo a justiça. Não caluniarás os teus parentes, nem conspirarás contra a vida do teu próximo. Eu sou o Senhor. Não odiarás do íntimo do coração os teus irmãos, mas corrigirás o teu próximo, para não incorreres em falta por causa dele. Não te vingarás, nem guardarás rancor contra os filhos do teu povo. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor’».
 
Salmo Responsorial: 18
R. As vossas palavras, Senhor, são espírito e vida.
 
A lei do Senhor é perfeita, ela reconforta a alma; as ordens do Senhor são firmes, dão sabedoria aos simples.
 
Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; Os mandamentos do Senhor são claros e iluminam os olhos.
 
O temor do Senhor é puro e permanece eternamente; os juízos do Senhor são verdadeiros, todos eles são retos.
 
Aceitai as palavras da minha boca e os pensamentos do meu coração estejam na vossa presença: Vós, Senhor, sois o meu amparo e redentor.
 
Agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação.
 
Evangelho (Mt 25,31-46): «Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, ele se assentará em seu trono glorioso. Todas as nações da terra serão reunidas diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos, à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! Pois eu estava com fome, e me destes de comer; estava com sede, e me destes de beber; eu era forasteiro, e me recebestes em casa; estava nu e me vestistes; doente, e cuidastes de mim; na prisão, e fostes visitar-me’. Então os justos lhe perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Com sede, e te demos de beber? Quando foi que te vimos como forasteiro, e te recebemos em casa, sem roupa, e te vestimos? Quando foi que te vimos doente ou preso, e fomos te visitar?’. Então o Rei lhes responderá: ‘Em verdade, vos digo: todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!’. Depois, o Rei dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno, preparado para o diabo e para os seus anjos. Pois eu estava com fome, e não me destes de comer; com sede, e não me destes de beber; eu era forasteiro, e não me recebestes em casa; nu, e não me vestistes; doente e na prisão, e não fostes visitar-me. E estes responderão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome ou com sede, forasteiro ou nu, doente ou preso, e não te servimos?’ Então, o Rei lhes responderá: ‘Em verdade, vos digo, todas as vezes que não fizestes isso a um desses mais pequenos, foi a mim que o deixastes de fazer!’ E estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna».
 
«Todas as vezes que não fizestes isso a um desses mais pequenos, foi a mim que o deixastes de fazer!»
 
Rev. D. Joaquim MONRÓS i Guitart (Tarragona, Espanha)
 
Hoje é-nos recordado o juízo final, «quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos» (Mt 25.31), e é-nos sublinhado que dar de comer, beber, vestir… resultam obras de amor para um cristão, quando ao fazê-las se sabe ver nelas o próprio Cristo.

 
Diz São João da Cruz: «À tarde te examinarão no amor. Aprende a amar a Deus como Deus quer ser amado e deixa a tua própria condição». Não fazer uma coisa que tem que ser feita, em serviço dos outros filhos de Deus e nossos irmãos, supõe deixar Cristo sem estes detalhes de amor devido: pecados de omissão.
 
O Concilio Vaticano II, e a Gaudium et spes, ao explicar as exigências da caridade cristã, que dá sentido à chamada assistência social, diz: «Sobretudo em nossos dias, urge a obrigação de nos tornarmos o próximo de todo e qualquer homem, e de o servir efetivamente quando vem ao nosso encontro, quer seja o ancião, abandonado de todos, ou o operário estrangeiro injustamente desprezado, ou o exilado, ou o filho duma união ilegítima que sofre injustamente por causa dum pecado que não cometeu, ou o indigente que interpela a nossa consciência, recordando a palavra do Senhor: «todas as vezes que o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes» (Mt 25,40)»
 
Recordemos que Cristo vive nos cristãos… e diz-nos: «Eu estou convosco todos os dias até ao fim do mundo» (Mt 28,20).
 
O IV Concilio de Latrão define o juízo final como verdade de fé: «Jesus Cristo há-de vir no fim do mundo, para julgar os vivos e os mortos, e para dar a cada um segundo as suas obras, tanto aos condenados como aos eleitos (…) para receber segundo as suas obras, boas ou más: aqueles com o diabo castigo eterno, e estes com Cristo glória eterna».
 
Peçamos a Maria que nos ajude nas ações de serviço a seu Filho nos irmãos.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Imolamo-nos a Deus, entreguemo-nos a ele todos os dias com todas as nossas ações, subamos resolutamente a sua cruz» (S. Gregório Nazianzeno)
 
«Por meio de obras corporais [de misericórdia] tocamos a carne de Cristo nos irmãos e irmãs que precisam ser alimentados, vestidos, abrigados, visitados. Precisamente tocando aquele que sofre a carne de Jesus crucificado, o pecador poderá receber como um dom a consciência de que ele mesmo é um pobre mendigo» (Francisco).
 
«Jesus, desde a manjedoura até a cruz, partilha a vida dos pobres; ele conhece a fome, a sede e a privação. Mais ainda: identifica-se com os pobres de todas as classes e faz do amor ativo por eles a condição de entrada no seu Reino» (Catecismo da Igreja Católica, n. 544)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* O Evangelho de Mateus apresenta Jesus como o novo Moisés.
Como Moisés, Jesus promulgou a Lei Deus. Como a antiga Lei, assim a nova lei dada por Jesus tem cinco livros ou discursos. O Sermão da Montanha (Mt 5,1 a 7,27), o primeiro discurso, abriu com as oito bem-aventuranças. O Sermão da Vigilância (Mt 24,1 a 25,46), o quinto e último discurso, encerra com a descrição do Juízo Final. As bem-aventuranças descreveram a porta de entrada para o Reino de Deus, enumerando oito categorias de pessoas: os pobres em espírito, os mansos, os aflitos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os de coração limpo, os promotores da paz e os perseguidos por causa da justiça (Mt 5,3-10). A parábola do Juízo Final conta o que devemos fazer para poder tomar posse do Reino: acolher os famintos, os sedentos, os estrangeiros, os sem roupa, os doentes e os prisioneiros (Mt 25,35-36). Tanto no começo como no fim da Nova Lei, estão os excluídos e marginalizados.
 
*  Mateus 25,31-33: Abertura do Juízo final. O Filho do Homem reúne ao seu redor todas as nações do mundo. Separa as pessoas como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. O pastor sabe discernir. Ele não erra: ovelhas à direita, cabritos à esquerda. Jesus não erra. Ele sabe discernir bons e maus. Jesus não julga nem condena (cf. Jo 3,17; 12,47). Ele apenas separa. É a própria pessoa que se julga ou se condena pela maneira como se comportou com relação aos pequenos e excluídos.
 
* Mateus 25,34-36: A sentença para os que estiverem à direita do Juiz.  Os que estão à sua direita são chamados de “Benditos de meu Pai!”, isto é, recebem a bênção que Deus prometeu à Abraão e à sua descendência (Gn 12,3). Eles são convidados a tomar posse do Reino, preparado para eles desde a fundação do mundo. O motivo da sentença é este: "Tive fome e sede, era estrangeiro, nu, doente e preso, e vocês me acolheram e ajudaram!” Esta sentença nos faz saber quem são as ovelhas. São as pessoas que acolheram o próprio Juiz quando este estava faminto, sedento, estrangeiro, nu, doente e preso. E pelo jeito de falar "meu Pai" e "Filho do Homem", ficamos sabendo que o Juiz é o próprio Jesus. Ele se identifica com os pequenos!
 
* Mateus 25,37-40: Um pedido de esclarecimento e a resposta do Juiz:  Os que acolheram os excluídos são chamados “justos”. Isto significa que a justiça do Reino não se alcança observando normas e prescrições, mas sim acolhendo os necessitados. Mas o curioso é que os próprios justos não sabem quando foi que acolheram Jesus necessitado. Jesus responde: "Toda vez que o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes!" Quem são estes "meus irmãos mais pequeninos"? Em outras passagens do Evangelho de Mateus, as expressões "meus irmãos" e "pequeninos" indicam os discípulos (Mt 10,42; 12,48-50; 18,6.10.14; 28,10). Indicam também os membros mais abandonados da comunidade, os desprezados que não recebem lugar e não são bem recebidos (Mt 10,40). Jesus se identifica com eles. Mas não é só isto. No contexto tão amplo desta parábola final, a expressão "meus irmãos mais pequeninos" se alarga e inclui todos aqueles que na sociedade não têm lugar. Indica todos os pobres. E os "justos" e os "benditos de meu Pai" são todas as pessoas de todas as nações que acolhem o outro na total gratuidade, independente do fato de ser cristão ou não.
 
* Mateus 25,41-43: A sentença para os que estiverem à sua esquerda. Os que estão do outro lado do Juiz são chamados de “malditos” e são destinados ao fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. Jesus usa a linguagem simbólica comum daquele tempo para dizer que estas pessoas não vão entrar no Reino. E aqui também o motivo é um só: não acolheram Jesus faminto, sedento, estrangeiro, nu, doente e preso. Não é Jesus que nos impede de entrar no Reino, mas sim a nossa prática de não acolher o outro, a cegueira que nos impede de ver Jesus nos pequeninos.
 
* Mateus 25,44-46: Um pedido de esclarecimento e a resposta do Juiz. O pedido de esclarecimento mostra que se trata de gente bem-comportada, pessoas que têm a consciência em paz. Estão certas de terem praticado sempre o que Deus pedia delas. Por isso estranham quando o Juiz diz que não o acolheram. O Juiz responde: “Todas as vezes que vocês não fizeram isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizeram!” A omissão! Não fizeram coisas más! Apenas deixaram de praticar o bem aos pequeninos e de acolher os excluídos. E segue a sentença final: estes vão para o fogo eterno, e os justos para a vida eterna. Assim termina o quinto livro da Nova Lei!
 
Para um confronto pessoal
1) O que mais chamou a sua atenção nesta parábola do Juízo Final?
2) Pare e pense: se o Juízo final fosse hoje, você estaria do lado das ovelhas ou dos cabritos?

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