Beata
Archangela Girlani, virgem de nossa Ordem
S Pedro Nolasco, presbítero e fundador da Ordem das Mercês
1ª
Leitura (2Sam 15,13-14.30; 16,5-13a): Naqueles dias, alguém foi informar
David: «O coração dos homens de Israel está com teu filho Absalão». Então David
ordenou a todos os seus servos que estavam com ele em Jerusalém: «Erguei-vos e
fujamos, porque de outro modo não poderemos livrar-nos de Absalão. Parti sem
demora, para que ele não nos apanhe desprevenidos, cause a nossa ruína e passe
a cidade ao fio da espada». Depois David subiu, chorando, o Monte das
Oliveiras, com a cabeça coberta e os pés descalços. E todo o povo que ia com
ele levava a cabeça coberta e subia chorando. Quando David chegou a Baurim,
apareceu um homem pertencente à família de Saul, chamado Semei, filho de Gera,
que avançou a dizer maldições. Atirava pedras contra David e contra os seus
servos, enquanto todo o povo e todos os valentes guerreiros caminhavam à
direita e à esquerda do rei. Semei amaldiçoava David, dizendo: «Sai daqui, sai daqui
homem iníquo e sanguinário. O Senhor fez cair sobre ti todo o sangue da família
de Saul, cujo trono usurpaste, e fez passar a realeza para as mãos do teu filho
Absalão. Tiveste o castigo que merecias, porque és um homem sanguinário». Abisaí,
filho de Sarvia, disse ao rei: «Porque há-de este cão morto amaldiçoar o rei,
meu senhor? Deixa-me ir cortar-lhe a cabeça». O rei, porém, respondeu: «Que vos
importa isso, filho de Sarvia? Se o Senhor lhe ordenou que amaldiçoasse David,
quem O pode censurar?». Depois David disse a Abisaí e a todos os seus servos:
«Se um filho meu, nascido do meu próprio sangue, procura tirar-me a vida,
quanto mais um homem de Benjamim! Deixai-o amaldiçoar, se foi o Senhor quem lho
ordenou. Talvez o Senhor olhe para a minha aflição e transforme em bênçãos as
maldições deste dia». David e os seus homens continuaram o seu caminho.
Salmo
Responsorial: 3
R. Erguei-Vos, Senhor, e
salvai-me.
Senhor, são tantos os meus
inimigos, tão numerosos os que se levantam contra mim! Muitos são os que dizem
a meu respeito: «Deus não o vai salvar».
Vós, porém, Senhor, sois o meu protetor,
a minha glória e Aquele que me sustenta. Em altos brados clamei ao Senhor, Ele
respondeu-me da sua montanha sagrada.
Deito-me e adormeço, e me
levanto: sempre o Senhor me ampara. Não temo a multidão, que de todos os lados
me cerca.
Aleluia. Apareceu no meio de
nós um grande profeta: Deus visitou o seu povo. Aleluia.
Evangelho
(Mc 5,1-20): Jesus e os discípulos chegaram à outra margem do mar, na
região dos gerasenos. Logo que Jesus desceu do barco, um homem que tinha um
espírito impuro saiu do meio dos túmulos e foi a seu encontro. Ele morava nos
túmulos, e ninguém conseguia amarrá-lo, nem mesmo com correntes. Muitas vezes
tinha sido preso com grilhões e com correntes, mas ele arrebentava as correntes
e quebrava os grilhões, e ninguém conseguia dominá-lo. Dia e noite andava entre
os túmulos e pelos morros, gritando e ferindo-se com pedras. Ao ver Jesus, de
longe, o homem correu, caiu de joelhos diante dele e gritou bem alto: «Que
queres de mim, Jesus, Filho de Deus Altíssimo? Por Deus, não me atormentes!».
Jesus, porém, disse-lhe: «Espírito impuro, sai deste homem!»- E perguntou-lhe:
«Qual é o teu nome?» Ele respondeu: «Legião é meu nome, pois somos muitos». E
suplicava-lhe para que não o expulsasse daquela região Entretanto estava
pastando, no morro, uma grande manada de porcos. Os espíritos impuros
suplicaram então: “Manda-nos entrar nos porcos». Jesus permitiu. Eles saíram do
homem e entraram nos porcos. E os porcos, uns dois mil, se precipitaram pelo
despenhadeiro no mar e foram se afogando. Os que cuidavam deles fugiram e
espalharam a notícia na cidade e no campo. As pessoas saíram para ver o que
tinha acontecido. Chegaram onde estava Jesus e viram o possesso sentado,
vestido e no seu perfeito juízo — aquele que tivera o Legião. E ficaram com
medo. Os que tinham presenciado o fato explicavam-lhes o que havia acontecido
com o possesso e com os porcos. Então, suplicaram Jesus para que fosse embora
do território deles. Enquanto Jesus entrava no barco, o homem que tinha sido
possesso pediu para que o deixasse ir com ele. Jesus, porém, não permitiu, mas
disse-lhe: «Vai para casa, para junto dos teus, e anuncia-lhes tudo o que o
Senhor, em sua misericórdia, fez por ti». O homem foi embora e começou a
anunciar, na Decápole, tudo quanto Jesus tinha feito por ele. E todos ficavam
admirados.
«Espírito impuro, sai deste
homem!»
Rev. D. Ramon Octavi SÁNCHEZ i
Valero (Viladecans, Barcelona, Espanha)
Hoje encontramos um fragmento do
Evangelho que pode provocar o sorriso a mais de um. Imaginar-se uns dos mil
porcos precipitando-se pelo monte abaixo, não deixa de ser uma imagem um pouco
cômica. Mas a verdade é que a eles não lhes fez nenhuma graça, se enfadaram
muito e lhe pediram a Jesus que se fora de seu território.
A atitude deles, mesmo que
humanamente poderia parecer lógica, não deixa de ser francamente recriminável:
prefeririam ter salvado seus porcos antes que a cura do endemoninhado. Isto é,
antes os bens materiais, que nos proporcionam dinheiro e bem-estar, que a vida
em dignidade de um homem que não é dos “nossos”. Porque o que estava possuído
por um espírito maligno só era uma pessoa que «Sempre, dia e noite, andava
pelos sepulcros e nos montes, gritando e ferindo-se com pedras» (Mc 5,5).
Nós temos muitas vezes este
perigo de apegar-nos ao que é nosso, e desesperar-nos quando perdemos aquilo
que só é material. Assim, por exemplo, o camponês se desespera quando perde uma
colheita mesmo tendo-a assegurada, ou o jogador de bolsa faz o mesmo quando
suas ações perdem parte de seu valor. Em compensação, muitos poucos se
desesperam vendo a fome ou a precariedade de tantos seres humanos, alguns dos
quais vivem ao nosso lado.
Jesus sempre pôs em primeiro
lugar as pessoas, mesmo antes que as leis e os poderosos de seu tempo. Mas nós,
muitas vezes, pensamos só em nós mesmos e naquilo que acreditamos que nos traz
felicidade, mesmo o egoísmo nunca traz felicidade. Como diria o bispo
brasileiro Helder Câmara: «O egoísmo é a fonte mais infalível de infelicidade
para si mesmo e para os que o rodeiam».
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«É como se Jesus dissesse: Sai da
minha casa, o que fazes na minha casa? Eu desejo entrar: Sai deste homem, desta
morada preparada para mim» (São Clemente de Roma)
«O cristão é alguém que carrega
consigo um desejo profundo: o de encontrar o seu Senhor com os seus irmãos ...
É isso que nos faz felizes!» (Francisco)
«O pecado mortal, atacando em nós
o princípio vital que é a caridade, torna necessária uma nova iniciativa da
misericórdia de Deus e uma conversão do coração que normalmente se realiza no
quadro do sacramento da Reconciliação» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1856)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm
* No Evangelho de hoje, vamos
meditar um longo texto sobre a expulsão de um demônio que se chamava Legião e
que oprimia e maltratava uma pessoa. Hoje há muita gente que usa os textos
do evangelho sobre a expulsão dos demônios para meter medo nos outros. É pena!
Marcos faz o contrário. Como veremos, ele associa a ação do poder do mal com
quatro coisas: 1) Com o cemitério, o
lugar dos mortos. A morte que mata a vida! 2)
Com o porco, que era considerado um animal impuro. A impureza que separa de
Deus! 3) Com
o mar, que era visto como símbolo do caos de antes da criação. O caos que
destrói a natureza. 4) Com a palavra
Legião, nome dos exércitos do império romano. O império que oprime e explora os
povos. Ora, Jesus vence o poder do mal nestes quatro pontos. A vitória de Jesus
tinha um alcance enorme para as comunidades dos anos setenta, época em que Marcos
escreve o seu evangelho. Elas viviam perseguidas pelas legiões romanas, cuja
ideologia manipulava as crenças populares nos demônios para meter medo no povo
e conseguir submissão!
* O poder do mal oprime,
maltrata e aliena as pessoas. Os versículos iniciais descrevem a situação
do povo antes da chegada de Jesus. Na maneira de descrever o comportamento do
endemoninhado, Marcos associa o poder do mal com cemitério e morte. É um poder
sem rumo, ameaçador, descontrolado e destruidor, que mete medo em todos. Priva
a pessoa da consciência, do autocontrole e da autonomia.
* Diante da simples presença
de Jesus o poder do mal desmorona e desintegra. Na maneira de descrever o
primeiro contato entre Jesus e o homem possesso, Marcos acentua a desproporção
total! O poder, que antes parecia tão forte, se derrete e se desmancha diante
de Jesus. O homem cai de joelhos, pede para não ser expulso da região e entrega
até o seu nome Legião. Através deste nome, Marcos associa o poder do mal com o
poder político e militar do império romano que dominava o mundo através das
suas Legiões.
* O poder do mal é impuro e
não tem autonomia nem consistência. O demônio não tem poder sobre os seus
próprios movimentos. Só consegue ir para dentro dos porcos com a permissão de
Jesus! Uma vez dentro dos porcos, estes se precipitam no mar. Eram 2000 porcos!
Na opinião do povo, o porco era símbolo da impureza que impedia o ser humano de
relacionar-se com Deus e sentir-se acolhido por Ele. O mar era símbolo do caos
que existia antes da criação e que, conforme a crença da época, ameaçava a
vida. Este episódio dos porcos que se precipitam no mar é estranho e difícil de
ser entendido. Mas a mensagem é muito clara: diante de Jesus, o poder do mal
não tem autonomia nem consistência. Quem crê em Jesus já venceu o poder do mal
e já não precisa ter medo!
* A reação do povo do lugar. Alertado
pelos empregados que tomavam conta dos porcos, o povo do lugar veio e viu o
homem liberto do poder do mal “em perfeito juízo”. Mas eles ficaram sem os
porcos! Por isso, pedem a Jesus para ir embora. Para eles, os porcos eram mais
importantes que o ser humano que acabava de ser devolvido a si mesmo. Assim é
hoje: o sistema neoliberal pouco se importa com as pessoas. O que importa é o
lucro!
* Anunciar a Boa Nova é
anunciar “o que o Senhor fez por você!” O homem liberto quer “seguir
Jesus”, mas Jesus diz: “Vá para casa, para junto dos seus, e anuncia a eles o
que o Senhor fez por você!”. Esta frase de Jesus, Marcos a dirige às
comunidades e a todos nós. Para a maioria de nós “seguir Jesus” significa: “Vá
para sua casa e anuncia aos seus o que o Senhor te fez!”
Para um confronto pessoal
1) Qual o ponto deste
texto de que você mais gostou ou que mais chamou a sua atenção? Por quê?
2) O homem curado quer
seguir Jesus. Mas ele deve ficar em casa e contar a todo mundo o que Jesus fez
por ele. O que Jesus fez por você que pode ser contado para os outros?
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