S.
Pedro Tomás,
Patriarca de Constantinopla, Bispo de nossa Ordem.
1ª
Leitura (Is 42,1-4.6-7): Diz o Senhor: «Eis o meu servo, a quem Eu
protejo, o meu eleito, enlevo da minha alma. Sobre ele fiz repousar o meu
espírito, para que leve a justiça às nações. Não gritará, nem levantará a voz,
nem se fará ouvir nas praças; não quebrará a cana fendida, nem apagará a
torcida que ainda fumega: proclamará fielmente a justiça. Não desfalecerá nem
desistirá, enquanto não estabelecer a justiça na terra, a doutrina que as ilhas
longínquas esperam. Fui Eu, o Senhor, que te chamei segundo a justiça; tomei-te
pela mão, formei-te e fiz de ti a aliança do povo e a luz das nações, para
abrires os olhos aos cegos, tirares do cárcere os prisioneiros e da prisão os
que habitam nas trevas».
Salmo
Responsorial: 28
R. O Senhor abençoará o seu
povo na paz.
Tributai ao Senhor, filhos de
Deus, tributai ao Senhor glória e poder. Tributai ao Senhor a glória do seu
nome, adorai o Senhor com ornamentos sagrados.
A voz do Senhor ressoa sobre as
nuvens, o Senhor está sobre a vastidão das águas. A voz do Senhor é poderosa, a
voz do Senhor é majestosa.
A majestade de Deus faz ecoar o
seu trovão e no seu templo todos clamam: Glória! Sobre as águas do dilúvio
senta-Se o Senhor, o Senhor senta-Se como Rei eterno.
2ª
Leitura ( At 10,34-38): Naqueles dias, Pedro tomou a palavra e disse:
«Na verdade, eu reconheço que Deus não faz acepção de pessoas, mas, em qualquer
nação, aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável. Ele enviou a sua
palavra aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo, que é o Senhor
de todos. Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia,
depois do baptismo que João pregou: Deus ungiu com a força do Espírito Santo a
Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos
pelo demónio, porque Deus estava com Ele».
Aleluia. Abriram-se os céus e
ouviu-se a voz do Pai: «Este é o meu Filho muito amado: escutai-O». Aleluia.
Evangelho
(Mc 1,7-11): Ele proclamava: «Depois de mim vem aquele que é mais forte
do que eu. Eu nem sou digno de, abaixando-me, desatar a correia de suas
sandálias. Eu vos batizei com água. Ele vos batizará com o Espírito Santo».
Naqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi batizado por João, no rio
Jordão. Logo que saiu da água, viu o céu rasgar-se e o Espírito, como pomba,
descer sobre ele. E do céu veio uma voz: «Tu és o meu Filho amado; em ti está
meu pleno agrado».
«Tu és o meu Filho amado; em
ti está meu pleno agrado»
Mons. Salvador CRISTAU i Coll Bispo
de Terrassa (Barcelona, Espanha)
Hoje, solenidade do Batismo do
Senhor, termina o ciclo de das festas de Natal. Diz o Evangelho que João tinha
se apresentado no deserto e «predicava um batismo de conversão para o perdão
dos pecados» (Mc 1,4). As pessoas iam escutá-lo, confessavam seus pecados e se
batizavam por ele no rio Jordão. E entre aquelas pessoas se apresentou também
Jesus para ser batizado.
Nas festas de Natal vimos como
Jesus se manifestava aos pastores e aos magos que, chegando desde Oriente, o
adoraram e lhe ofereceram seus dons. De fato, a vida de Jesus ao mundo é para
manifestar o amor de Deus que nos salva.
E lá, no Jordão, aconteceu uma
nova manifestação da divindade de Jesus: o céu se abriu e ele Espírito Santo,
em forma de uma pomba descendia em sua direção e se ouviu a voz do Pai: «Tu és
o meu Filho amado; em ti me comprazo.» (Mc 1,11). É o Pai do céu neste caso e o
Espírito Santo quem o manifesta. É Deus mesmo que nos revela quem é Jesus, seu
Filho amado.
Mas não era uma revelação só para
João e os judeus. Era também para nós. O mesmo Jesus, o Filho amado do Pai,
manifestado aos judeus no Jordão, se manifesta continuamente a nós a cada dia.
Na Igreja, na oração, nos irmãos, no Batismo que recebemos e que nos fez filhos
do mesmo Pai.
Preguntamos, pois: —Reconheço sua
presença, seu amor em minha vida? —Vivo uma verdadeira relação de amor filial
com Deus? Disse o Papa Francisco: «O que Deus quer do homem é uma relação
“pai-filho”, acaricie e diga: ‘Eu estou contigo’».
Também a nós o Pai do céu, no
meio de nossas lutas e dificuldades, nos diz: «Tu és o meu Filho amado; em ti
está meu pleno agrado».
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«O Batismo libertou-nos de todos
os males, que são os pecados, mas com a graça de Deus devemos fazer tudo o que
é bom» (S. Cesáreo de Arles)
«Vocês, pais, trazeis a criança,
rapaz ou rapariga para ser batizada. Esta é a cadeia da fé: é vosso dever
transmitir a fé a estas crianças. É a mais bela herança que lhes deixarareis.
Levai, hoje para casa, este pensamento» (Francisco)
«Embora próprio de cada um, o
pecado original não tem, em qualquer descendente de Adão, carácter de falta
pessoal. É a privação da santidade e justiça originais, mas a natureza humana
não se encontra totalmente corrompida (...). O Batismo, ao conferir a vida da
graça de Cristo, apaga o pecado original e reorienta o homem para Deus, mas as
consequências para a natureza, enfraquecida e inclinada para o mal, persistem
no homem e convidam-no ao combate espiritual» (Catecismo da Igreja Católica, nº
405)
«Tu és o meu Filho amado, em
Ti me comprazo».
Fr. Pedro Bravo, ocarm
* Com o episódio do batismo de
Jesus, S. Marcos introduz o início do seu ministério público, apresentando-o a
partir: a) do querigma de João Batista (vv. 7-8); b) e da voz do Pai (vv.
9-11).
*v. 7 (vv. 7-8: Mt 3,11;
Lc 3,16; Jo 1,26s; At 13,25). João “pregava” (gr. kerysso, v. 4: “apregoar”) o
querigma no qual anunciava a vinda/chegada iminente de Cristo, o Messias (he.
“ungido”) que descreve com traços simultaneamente divinos e humanos, a partir
do AT.
* 1)
“Após mim” (gr. opísso mou: v. 17; 8,33s; 9,23). Cristo “vem após” João, não só
porque a sua missão é preparada pela de João, mas também porque vem na
sequência dela, retomando-a (v. 14), embora a ultrapasse (v. 8);
* 2)
“Vem” é uma nota que evoca: a) Deus que “vem” (Ml 3,1; Sl 96,13) com “força”
(Is 40,10) apascentar o seu povo; b) o Messias (11,9), rei pobre e humilde,
justo e salvador (Zc 9,9).
* 3)
“O que é mais forte”, atributo de Deus (Is 40,10; Dn 9,4; cf. Js 4,24; Is 27,1;
Jr 32,18; 50,34) e do Messias (Is 9,5). Jesus é tão forte que vencerá Satanás
(3,27), o pecado e a morte, transformando o coração do homem.
* 4)
“A quem não sou digno de, inclinando-me, lhe desatar a correia das sandálias”
(cf. Ex 3,5), um gesto tão humilhante que não podia ser imposto a um escravo
judeu, nem era permitido a um discípulo fazer ao seu mestre (Ket 96ª; Kid 22b
Bar; Mek Ex 21,2, 82b). João Batista manifesta aqui a fundura da sua humildade,
não se achando digno de ser discípulo do Messias, nem sequer de gozar da sua
companhia, mesmo como o mais humilde dos escravos (os escravos canaanitas,
assim chamados por não pertencerem ao Povo de Deus).
* v. 8. João indica a
seguir o objetivo da missão de Cristo. Os profetas tinham predito uma
purificação com a água nos tempos messiânicos (Zc 13,1; Jr 4,14; Ez 36,25). “O
batismo de João” (11,30) simboliza-a, mas não a realiza. Trata-se apenas de um
batismo “em água”, físico, exterior, irrepetível, e embora predisponha à
conversão e signifique a graça, não as dá. Já o batismo de Jesus é “no Espírito
Santo”, o dom messiânico de Deus por excelência, que agora será concedido por
Cristo: “Ele batizar-vos-á no Espírito Santo” (cf. Nm 11,29; Is 11,2.9; 32,15;
44,3; Ez 11,19; 37,5s.14; Jl 3,1s; Jo 16,7; At 1,4s; 11,16; 1Co 12,13). O
batismo no Espírito Santo não simboliza apenas a graça purificadora e
regeneradora de Deus, mas confere-a, porque o Espírito Santo é a remissão dos
pecados (Ez 36,26ss). Espírito que desce, se infunde no crente e nele irrompe,
sempre de novo, jorrando como rios de água viva (Ez 47,5-12) para a vida eterna
(Jo 4,14; 7,38). João não deixa dúvidas: o Messias que vem (Jesus), vem com o
poder de Deus.
* v. 9 (vv. 9-11: Mt
3,13-17; Lc 3,21s; Jo 1,29-34). O querigma de João é confirmado e completado
pelo próprio Deus. Jesus vem de Nazaré (v. 24; Mt 2,23; Jo 1,45s; At 10,38),
lugar onde fora criado (cf. 6,1; 10,47; 14,16; 16,6), para ser batizado por
João no rio Jordão (em Bethabara, Al-Maghtas: cf. Jo 1,28).
* v. 10. Batizado do outro
lado do Jordão, Jesus atravessa-o e “sobe da água” (Js 4,19; At 8,39), entrando
na terra prometida. Dá-se então uma teofania (gr. “manifestação divina”), cuja
primeira parte, a visão profética (gr. eíden: Ez 1,1; Is 1,1; Am 1,1; Mq 1,1;
Dn 7,1), só é dada (aqui e em Mt 3,16) a Jesus. Nela se manifestam, pela
primeira vez, a Santíssima Trindade. Três elementos, tirados do AT, a
caracterizam.
* 1) A abertura dos céus. Jesus “vê os céus a serem
rasgados” (gr. squizô; por Deus, passivo divino: 15,38). A expressão: a)
qualifica este acontecimento como uma visão divina (Ez 1,1); b) Evoca o Êxodo,
quando as águas do Mar Vermelho “se rasgaram” (Ex 14,21) para o povo de Israel
passar e ser salvo da escravidão do Egito. c) E evoca Is 63,19, onde se pede a
Deus que “abra os céus” (gr. anoigô), desça e venha ter com o seu povo para
refazer com ele a relação que o pecado tinha rompido. Em Jesus inaugura-se o novo
êxodo em que o homem é reconduzido à comunhão com Deus na verdadeira pátria
prometida, que é o Reino de Deus.
* 2)
Jesus vê “o Espírito como uma pomba”, ou seja, na forma de uma pomba (Lc 3,22).
A pomba evoca: 1) o Espírito de Deus que adejava sobre as águas nos primórdios
da criação (Gn 1,2; bHag 15a); 2) a pomba, libertada por Noé, que regressou à
arca anunciando o fim do dilúvio (Gn 8,11); 3) o povo de Deus, simbolizado no
AT e na literatura rabínica por uma pomba (Ct 6,9; Sl 68,14; Os 7,11; Midr Ct
1,15; 2,14; 4,1; Sanh 95ª; Ber 53b; Shab 49ª; 130ª).
* 3)
“A descer sobre Ele”. É uma imagem que anuncia o dom do Espírito Santo
conferido pelo Messias. Assim como Deus “desceu”, falou com Moisés e tirou do
Espírito que estava sobre ele para o pôr sobre os setenta anciãos (Nm
11,17.25.29), e tal como Deus conduziu o Seu povo no Êxodo por meio do Espírito
Santo que pôs no meio dele para o levar ao seu descanso (Is 63,11.14), também o
Espírito Santo desce agora sobre Jesus para depois ser por Ele infundido nos
membros do novo povo de Deus, renascido das águas do batismo, e os conduzir à
sua morada, guiados por Ele. Em Jesus inauguram-se os tempos messiânicos e é
instituído o batismo cristão: Jesus recebe a plenitude do Espírito Santo para o
dar aos membros do seu povo em plenitude.
* v. 11. A par da visão,
“adveio” (gr. egenêthe: Gn 15,1; Mq 1,1) “uma voz dos céus” (9,7p), que se
destina a todos. É a voz de Deus, a bat kol (“a filha da voz”: Dt 4,12), que,
segundo a tradição rabínica, ressoava sempre em momentos extraordinários,
quando se tinha de tomar decisões muito importantes ou declarar algo que só
Deus podia sancionar. Aqui, é Deus que intervém para ungir com o Espírito
Santo, investir e dar a conhecer o Messias.
* De fato, só Deus o podia
fazer, porque: a) desde a morte do último rei de Judá, Joaquim, no exílio da
Babilónia (d. 561 a.C.: 2Rs 25,30), a realeza de David tinha sido suprimida; b)
desde 515 a.C. não havia profetas; c) desde 152 a.C., quando Jónatas Macabeu foi
nomeado Sumo-sacerdote pelo rei sírio Alexandre Balas (1Mc 10,20), tinha
acabado a sucessão legítima de sumos-sacerdotes que vinha de Sadoc, no tempo do
rei David (2Sm 15,24). Ora o Messias seria rei, profeta e sacerdote (Sl 2,7; Dt
18,18; Sl 110,4). Por isso, teria de ser o próprio Deus a suscitar o Messias, a
ungi-lo com o Espírito Santo, a investi-lo como Rei e a dá-lo a conhecer aos
homens. É o que agora acontece: Deus revela-se como Pai e apresenta Jesus como
o Messias, a quem, em três notas, aponta a missão.
* 1)
Primeiro, investe Jesus como Messias-Rei com a fórmula profética do Sl 2,7: “Tu
és o meu Filho”. “Filho” era a designação dada ao Messias, “filho de David”
(10,47s; 12,35s; 2Sm 7,14; 1Cr 17,13; 28,6; Sl 89,27; Sb 2,18). Aqui vem com o
artigo. Esta é a Boa-nova: Jesus não só é o Messias em quem se cumprem as
profecias do AT, mas é também “o Filho” enviado pelo Pai, ou seja, Deus em
pessoa que vem ao encontro do homem para o salvar (3,11; 14,61; cf. 1,1;
15,39).
* 2)
O Pai designa o Filho “o Amado” (gr. ho agapétos), termo que em grego
significa, ao mesmo tempo, “amado” e “único”. Este título evoca: 1) o
Rei-Messias-Esposo (Sl 45,1 LXX); o Filho único traspassado (Zc 12,10); 3)
Isaac no sacrifício de Abraão (Gn 22,2.12.16). Jesus é o Filho único de Deus em
quem se cumpre a promessa por este feita a Abraão de na sua descendência (Gl
3,16: Jesus) abençoar todos os povos. Mas para isso, Jesus, que, ao invés de
Isaac, é realmente o Filho único (de Deus), terá de ser imolado no monte Moriá,
que é Jerusalém (2Cr 3,1), para “três dias depois ressuscitar” (10,33s; Gn
22,4; 1Co 15,4).
* 3)
Esta velada alusão à morte de Cristo é reforçada pela conclusão “em Ti me
comprazo”, expressão tirada do primeiro cântico do Servo de Iavé: “Eis o meu
servo em quem me comprazo; nele pus o meu Espírito para que leve o direito aos
gentios” (Is 42,1). “Servo”, em grego, pais, significa também “filho”. Tal é a
boa-nova, o Evangelho (1,1) do Pai: eis que chegou o Messias, Jesus, o seu
único Filho e imagem verdadeira, em quem Ele se compraz, e a quem confere a
plenitude do Espírito Santo para que depois o derrame, conferindo o Espírito
Santo em plenitude, formando assim o novo povo de Deus e levando a salvação a
toda a humanidade (Is 42,5ss). A missão de Jesus, porém, tal como a do Servo de
Iavé, não se desenrolará no triunfalismo, mas no meio da oposição e rejeição
dos homens; não será levada a cabo com violência, mas com mansidão e humildade;
não se imporá a ninguém, mas será consumada com o dom da própria vida dada em
resgate pela salvação dos homens (10,45; Is 53,1-12).
MEDITAÇÃO
1. Tenho vivido consciente
e coerentemente o meu compromisso batismal, seguindo os passos de Jesus?
2. Estou aberto à ação e
às surpresas do Espírito Santo?
3. Vou ao encontro dos
mais desfavorecidos e marginalizados, para lhes estender a mão e os ajudar a
alcançar a vida plena? Como?
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