Sto.
Tomás de Aquino, Presbítero e Doutor da Igreja
1ª
Leitura (Dt 18,15-20): Moisés falou ao povo, dizendo: «O Senhor teu Deus
fará surgir no meio de ti, de entre os teus irmãos, um profeta como eu; a ele
deveis escutar. Foi isto mesmo que pediste ao Senhor teu Deus no Horeb, no dia
da assembleia: ‘Não ouvirei jamais a voz do Senhor meu Deus, nem verei este
grande fogo, para não morrer’. O Senhor disse-me: ‘Eles têm razão; farei surgir
para eles, do meio dos seus irmãos, um profeta como tu. Porei as minhas
palavras na sua boca e ele lhes dirá tudo o que Eu lhe ordenar. Se alguém não
escutar as minhas palavras que esse profeta disser em meu nome, Eu próprio lhe
pedirei contas. Mas se um profeta tiver a ousadia de dizer em meu nome o que
não lhe mandei, ou de falar em nome de outros deuses, tal profeta morrerá’».
Salmo
Responsorial: 94
R. Se hoje ouvirdes a voz do
Senhor, não fecheis os vossos corações.
Vinde, exultemos de alegria no
Senhor, aclamemos a Deus, nosso Salvador. Vamos à sua presença e dêmos graças,
ao som de cânticos aclamemos o Senhor.
Vinde, prostremo-nos em terra,
adoremos o Senhor que nos criou; pois Ele é o nosso Deus e nós o seu povo, as
ovelhas do seu rebanho.
Quem dera ouvísseis hoje a sua
voz: «Não endureçais os vossos corações, como em Meriba, como no dia de Massa
no deserto, onde vossos pais Me tentaram e provocaram, apesar de terem visto as
minhas obras».
2ª
Leitura (1Cor 7,32-35): Irmãos: Não queria que andásseis preocupados.
Quem não é casado preocupa-se com as coisas do Senhor, com o modo de agradar ao
Senhor. Mas aquele que se casou preocupa-se com as coisas do mundo, com a
maneira de agradar à esposa, e encontra-se dividido. Da mesma forma, a mulher
solteira e a virgem preocupam-se com os interesses do Senhor, para serem santas
de corpo e espírito. Mas a mulher casada preocupa-se com as coisas do mundo,
com a forma de agradar ao marido. Digo isto no vosso próprio interesse e não para
vos armar uma cilada. Tenho em vista o que mais convém e vos pode unir ao
Senhor sem desvios.
Aleluia. O povo que vivia nas
trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam na sombria região da
morte uma luz se levantou. Aleluia.
Evangelho
(Mc 1,21-28): Entraram em Cafarnaum. No sábado, Jesus foi à sinagoga e
pôs-se a ensinar. Todos ficaram admirados com seu ensinamento, pois ele os
ensinava como quem tem autoridade, não como os escribas. Entre eles na sinagoga
estava um homem com um espírito impuro; ele gritava: «Que queres de nós, Jesus
Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: o Santo de Deus!». Jesus
o repreendeu: «Cala-te, sai dele!”. O espírito impuro sacudiu o homem com
violência, deu um forte grito e saiu. Todos ficaram admirados e perguntavam uns
aos outros: «Que é isto? Um ensinamento novo, e com autoridade: ele dá ordens
até aos espíritos impuros, e eles lhe obedecem!». E sua fama se espalhou
rapidamente por toda a região da Galileia.
«Um ensinamento novo, e com
autoridade»
Rev. D. Jordi CASTELLET i Sala (Vic,
Barcelona, Espanha)
Hoje, Cristo dirige-nos o seu
grito enérgico, sem dúvidas e com autoridade: «Cala-te, sai dele!» (Mc 1,25).
Disse-o aos espíritos malignos que vivem em nós e que não nos deixam ser
livres, tal como Deus nos criou e desejou.
Se repararmos, os fundadores das
ordens religiosas, a primeira norma que põem quando estabelecem a vida
comunitária, é a do silêncio: numa casa onde se tenha que rezar, há-de reinar o
silêncio e a contemplação. Como diz o ditado: «O bem não faz ruído; o ruído não
faz bem». Por isto, Cristo ordena àquele espírito maligno que se cale, porque a
sua obrigação é render-se diante de quem é a palavra, que «se fez carne, e
habitou entre nós» (Jo 1,14).
Mas é certo que com a admiração
que sentimos diante do Senhor, se pode misturar também um sentimento de
suficiência, de tal maneira que cheguemos a pensar tal como Santo Agostinho
dizia nas próprias confissões: «Senhor, faz-me casto, mas ainda não». A tentação
é a de deixar para mais tarde a própria conversão, porque agora não encaixa com
os nossos próprios planos pessoais.
O chamamento ao seguimento
radical de Jesus Cristo é para o aqui e agora, para tornar possível o seu
reino, que irrompe com dificuldade entre nós. Ele conhece a nossa tibieza, sabe
que não nos gastamos fortemente na opção do Evangelho, mas que queremos contemporizar,
ir tirando, ir vivendo, sem alarido e sem pressa.
O mal não pode conviver com o
bem. A vida santa não permite o pecado. «Ninguém pode servir a dois senhores;
porque odiará um e amará o outro» (Mt 6,24), disse Jesus Cristo. Refugiemo-nos
na árvore sagrada da Cruz e que a sua sombra se projete sobre a nossa vida, e
deixemos que seja Ele quem nos conforte, nos faça entender o porquê da nossa
existência e nos conceda uma vida digna de Filhos de Deus.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Quanta força tem realmente a
humildade de Deus contra a soberba dos demónios (…). ‘E [o demônio] exclamou
dizendo: O que há entre nós e Tu Jesus Nazareno?’, etc. Nestas palavras vê-se
claramente que havia conhecimento nelas, mas não caridade» (Santo Agostinho)
«Peço-vos sempre um contacto
quotidiano com o Evangelho. Leiam uma passagem do Evangelho a cada dia. É a
força que nos muda, que nos transforma: muda a vida, muda o coração»
(Francisco)
«‘A Palavra de Deus, que é força
de Deus para salvação de quem acredita, apresenta-se e manifesta o seu poder
dum modo eminente nos escritos do Novo Testamento’ (101). Estes escritos
transmitem-nos a verdade definitiva da Revelação divina. O seu objeto central é
Jesus Cristo, bem como os primórdios da sua Igreja sob a ação do Espírito Santo
(102)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 124)
«Que é isto? Um novo ensino
com autoridade. Até dá ordens aos espíritos impuros e eles obedecem-lhe»
Fr. Pedro Bravo, ocarm
* v. 21 (vv. 21-28: Lc
4,31-37). Estamos no início da primeira parte do Evangelho de S. Marcos
(1,14-8,30), onde ele nos apresenta Jesus como o Messias prometido que está
entre os homens, anunciando-lhes, por palavras e obras, a Boa Nova da salvação.
* O episódio de hoje é um
relato de um milagre. Leva-nos a Cafarnaum (2,1; 9,33; he. “aldeia de
Naum”, “consolador”), a “cidade” de Jesus (Mt 9,1), cidade fronteiriça, situada
junto à Via maris, a principal rota comercial que ligava a Mesopotâmia ao
Egito, e para onde Ele se mudara após a prisão de João Batista (vv. 9.14; Mt
4,13).
* “Logo” que chega o
“sábado”, Jesus, como bom judeu, vai à sinagoga com os seus discípulos e
participa no culto. Traça assim aos apóstolos o roteiro que mais tarde eles
deverão seguir ao evangelizar no Império romano (At 13,14; 14,1; 17,1s.17;
18,4.19; 19,8; 28,17).
* A liturgia sinagogal
começa com o Shemá (Dt 6,4‑9; Nm 15, 37‑41),
seguindo-se orações e cânticos, duas leituras (uma da “Lei”, a outra dos “profetas”), um comentário a elas e as bênçãos finais. O cohen (“sacerdote”) convidou Jesus a falar e Ele “pôs-se a ensinar”.
* “Ensinar” (gr. didásko;
Mc: 17x) significa “estender repetidamente a mão”, de modo a ajudar o outro a
receber o “ensino” (gr. didaqué: v. 27) que se lhe quer “transmitir” de forma
orgânica e estruturada (1Cor 11,23; 15,3). O imperfeito indica que Jesus
“começou a ensinar”, a transmitir às pessoas, algo de “novo” e vital (v. 27): o
Evangelho.
* v. 22: Mt 7,28s. Os
presentes ficam admirados, porque Jesus ensina com “autoridade” (gr. exousia:
v. 27), não se limitando a comentar o AT “como os escribas” (os juristas
versados na Lei, que interpretavam a Escritura a partir da tradição rabínica,
citando as opiniões uns dos outros), mas anunciando a Palavra de Deus a partir
da vida real e expondo-a à luz da sua própria experiência pessoal e singular
união com o Pai, transmitindo-a de forma tão simples e acessível, com tal
novidade e poder, confirmada pelos “sinais” que a acompanham (16,20), que todos
ficam “estupefactos” (6,2; 7,37; 10,26; 11,18).
* v. 23. Enquanto Jesus
ensina na “sinagoga deles” – um inciso que indica que Marcos não escreve para
judeus, mas para gentios –, “um homem possesso dum espírito impuro” começa a
gritar. Originalmente, associava-se os “espíritos impuros” à adivinhação e à
necromancia, típicas dos cultos idolátricos (5,2.8; Zc 13,1s), e consideradas
abomináveis pela Lei (Dt 18,10ss). Depois passaram a designar os “demónios” em
geral, identificados com os deuses dos cultos pagãos, onde se praticava a
prostituição sagrada (Lv 17,7). Eram hostis à pureza religiosa e moral que o
serviço de Deus requer. Agiam sob o comando de Satanás (3,22s. 26.30; At 5,16;
8,7; 19,12) que assim procurava afastar os homens de Deus, o único que tem
poder sobre eles e é capaz de libertar o homem do seu domínio (3,27). Este
homem tinha-se contaminado com tais cultos, mas é incapaz de o esconder de
Jesus, que conhece os corações (2,8; 8,17; 9,35 cf. 1Cor 12,10). Ele simboliza
toda a humanidade que jaz sob o domínio de Satanás, não apenas os gentios,
através do culto dos ídolos, mas também os judeus (estamos numa sinagoga).
* v. 24: Mt 8,29. O
“espírito impuro” começa a gritar de medo e desespero (6,49) pela boca desse
homem contra Jesus. O mal aliena o homem. Fala no plural, em nome de todos os
espíritos malignos (5,9), pedindo a Jesus com o semitismo “que há entre nós e
Ti?” (5,7p; Jo 2,4; 1Rs 17,18), que não os atormente. Mostra saber quem é Jesus
(v. 34), donde vem (“de Nazaré”: v. 9), qual é a Sua missão (cf. At 16,17) e
que tem poder divino: “Vieste para nos perder?” (Tg 4,12; cf. 2Ts 2,10).
Segundo os judeus, uma das obras do Messias, enquanto Sumo-sacerdote, seria a
de libertar o homem do poder de Satanás (Hen 55,4; Test Levi 18; Test Sebul 9;
At 26,18). Perante Jesus, o Messias, os espíritos malignos reagem, inquietos,
sabendo que foram descobertos e que o seu império sobre o homem vai acabar (cf.
Hb 2,14; 1Jo 3,8; Ap 20,10). É o que o espírito confessa, dizendo em nome
próprio: “Eu sei quem tu és: o Santo de Deus” (3,11; cf. 5,7p; Lc 4,41; Tg
2,19). Repete assim o ensinamento judaico, que apresentava o Messias como “o
Santo de Deus” (Lc 1,35; 4,34; Jo 6,69; At 2,26s; 3,14; 4,27.30; Ap 3,7; título
raro no AT, só: Nm 16,5; Sl 106,16; Jz 16,17LXX; 2Rs 4,9), ou seja, o
“consagrado de Deus” por excelência. Jesus é-o graças ao Espírito Santo que
sobre Ele desceu no batismo (vv. 8.10).
* v. 25. Jesus “repreende”
(9,25; cf. 8,30.32.33) o espírito impuro e manda-o calar (3,12). Por dois
motivos. O primeiro é o “segredo messiânico” (1,44; 5,43; 7,36; 8,26): Jesus
não quer que a sua identidade real seja conhecida (v. 34; 3,12; 8,30; 9,9), até
à paixão (14,61s), pois a versão guerreira de Messias, que então vigorava em
Israel, prestava-se a equívocos de natureza política, alheios à vontade de Deus
(8,32s). Depois, porque o espírito impuro, parecendo acertar, de facto,
enquanto fala pela boca do homem (ou seja, em nome da humanidade), diz três
mentiras, pois: 1) Jesus tem tudo a ver com o homem, porque é o “Filho do
homem”; 2) Jesus não veio para perder o homem, mas para o salvar; 3) só conhece
realmente Jesus quem acredita nele e a Ele se une pelo Espírito Santo (cf. Jo
16,30; Rm 8,27; 1Cor 2,11s).
* “Sai dele”: Jesus
expulsa o espírito com uma palavra (7,29), algo de inédito entre os judeus e os
gentios, que também faziam exorcismos, mas recorrendo a complicados ritos, a
longas preces e inúmeras conjurações, nem sempre com bom resultado (cf. At
19,16).
* v. 26. O espírito
obedece à palavra de Jesus e sai, “sacudindo” o homem (9,20p) e “gritando com
alta voz” (15,34s), como se estivesse a morrer (9,26!), mas, na realidade,
“saindo” daquele homem que, libertado do poder das trevas (cf. Sl 107,10-15),
agora recomeça a viver.
* v. 27. “Todos se admiraram”
(10,24.32; cf. 2Sm 22,5; Dn 8,17; Mt 9,33; 12,23; 15,31) e se perguntavam: “Que
é isto?”. O ensinamento de Jesus e os sinais que Ele realiza provocam admiração
e faz com que todos se perguntem que é este Jesus de Nazaré. É a questão que
percorre toda a primeira parte do Evangelho de Marcos (v.34; 2,12; 3,12; 4,41;
5,42; 6,2s.14s; 7,37; 8,27.29) e que, primeiro Pedro, e, após a morte de Jesus,
o centurião, vão responder: «Tu és o Cristo» (8,29); «Verdadeiramente este
homem era Filho de Deus» (15,39).
* E surpreendem-se com o
ensino de Jesus, que é “novo” (11,18; 12,38; Jo 7,16s; cf. LvR 13,114b;
Beth ha-Midr 6,63,13; Midr Qoh 11,8,52a; Targ Is 12,3), e feito “com
autoridade” (v. 22), uma autoridade que é própria (pois a dá aos apóstolos:
3,15; 6,7) e que parece ser (e é!) divina (11,28s.33), pois a Ele tudo (aqui,
os espíritos impuros, mais adiante, a natureza) “obedece” (4,41).
* v. 28. E a fama de Jesus
difunde-se por toda a parte (cf. v. 45; 6,14), a começar pela Galileia (Mt
9,26).
* Com esta libertação,
Jesus inaugura de forma programática a sua ação terapêutica e salvadora,
mostrando que o Reino de Deus está próximo (1,14) e que para o receber é
necessário converter-se e ser libertado do poder que escraviza o homem e o
aliena, fechando-o a Deus: o domínio de Satanás. Ela é um “sinal” que designa
Jesus como o Messias que age em nome de Deus, instaurando de forma irrevogável,
através da sua Palavra, com poder, o Reino de Deus, libertando o homem do
domínio de Satanás, ou seja, da escravidão do pecado e da morte, da mentira e
da violência, que impera sobre toda a humanidade que ainda não aderiu a Cristo,
para a restituir à verdadeira vida, em comunhão com Deus.
MEDITAÇÃO
Muitos vivem alienados,
deixando-se levar pela ideologia reinante, pelos meios de comunicação social,
escravos do medo, do individualismo, de drogas, do sexo ou do prazer, do
consumismo, do ateísmo prático ou do poder. Essas pessoas não são donas de si mesmas,
nem vivem realmente, mas são vividas. Qual é a minha situação? Como pôr a
descoberto e “expulsar” tais “espíritos impuros”?
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