sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

II Domingo do Tempo Comum

1ª Leitura (1Sam 3,3b-10.19):
Naqueles dias, Samuel dormia no templo do Senhor, onde se encontrava a arca de Deus. O Senhor chamou Samuel e ele respondeu: «Aqui estou». E, correndo para junto de Heli, disse: «Aqui estou, porque me chamaste». Mas Heli respondeu: «Eu não te chamei; torna a deitar-te». E ele foi deitar-se. O Senhor voltou a chamar Samuel. Samuel levantou-se, foi ter com Heli e disse: «Aqui estou, porque me chamaste». Heli respondeu: «Não te chamei, meu filho; torna a deitar-te». Samuel ainda não conhecia o Senhor, porque, até então, nunca se lhe tinha manifestado a palavra do Senhor. O Senhor chamou Samuel pela terceira vez. Ele levantou-se, foi ter com Heli e disse: «Aqui estou, porque me chamaste». Então Heli compreendeu que era o Senhor que chamava pelo jovem. Disse Heli a Samuel: «Vai deitar-te; e se te chamarem outra vez, responde: ‘Falai, Senhor, que o vosso servo escuta’». Samuel voltou para o seu lugar e deitou-se. O Senhor veio, aproximou-Se e chamou como das outras vezes: «Samuel, Samuel!» E Samuel respondeu: «Falai, Senhor, que o vosso servo escuta». Samuel foi crescendo; o Senhor estava com ele e nenhuma das suas palavras deixou de cumprir-se.
 
Salmo Responsorial: 39
R. Eu venho, Senhor, para fazer a vossa vontade.
 
Esperei no Senhor com toda a confiança e Ele atendeu-me. Pôs em meus lábios um cântico novo, um hino de louvor ao nosso Deus.
 
Não Vos agradaram sacrifícios nem oblações, mas abristes-me os ouvidos; não pedistes holocaustos nem expiações, então clamei: «Aqui estou».
 
«De mim está escrito no livro da Lei que faça a vossa vontade. Assim o quero, ó meu Deus, a vossa lei está no meu coração».
 
«Proclamei a justiça na grande assembleia, não fechei os meus lábios, Senhor, bem o sabeis. Não escondi a justiça no fundo do coração, proclamei a vossa bondade e fidelidade».
 
2ª Leitura (1Cor 6,13c-15a.17-20): Irmãos: O corpo não é para a imoralidade, mas para o Senhor, e o Senhor é para o corpo. Deus, que ressuscitou o Senhor, também nos ressuscitará a nós pelo seu poder. Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? Aquele que se une ao Senhor constitui com Ele um só Espírito. Fugi da imoralidade. Qualquer outro pecado que o homem cometa é exterior ao seu corpo; mas o que pratica a imoralidade peca contra o próprio corpo. Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós e vos foi dado por Deus? Não pertenceis a vós mesmos, porque fostes resgatados por grande preço: glorificai a Deus no vosso corpo.
 
Aleluia. Encontramos o Messias, que é Jesus Cristo. Por Ele nos veio a graça e a verdade. Aleluia.
 
Evangelho (Jo 1,35-42): No dia seguinte, João estava lá, de novo, com dois dos seus discípulos. Vendo Jesus caminhando, disse: «Eis o Cordeiro de Deus»! Os dois discípulos ouviram esta declaração de João e passaram a seguir Jesus. Jesus voltou-se para trás e, vendo que eles o seguiam, perguntou-lhes: «Que procurais?» Eles responderam: «Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?». Ele respondeu: «Vinde e vede»! Foram, viram onde morava e permaneceram com ele aquele dia. Era por volta das quatro horas da tarde. André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido a declaração de João e seguido Jesus. Ele encontrou primeiro o próprio irmão, Simão, e lhe falou: «Encontramos o Cristo!» (que quer dizer Messias). Então, conduziu-o até Jesus, que lhe disse, olhando para ele: «Tu és Simão, filho de João. Tu te chamarás Cefas!» —que quer dizer Pedro».
 
«Rabi "Mestre", onde moras?»
 
Rev. D. Lluís RAVENTÓS i Artés (Tarragona, Espanha)
 
Hoje vemos a Jesus que vinha pela ribeira do Jordão: é Cristo que passa! Deveriam ser quatro horas da tarde quando, apercebendo-se que dois rapazes o seguiam, se virou para lhes perguntar: «Que procurais?» (Jo 1,38). E eles, surpreendidos com a pergunta, responderam: «Rabi, que quer dizer “Maestro”, onde vives?». «”Vinde e vede”» (Jo 1,39).
 
Também eu sigo a Jesus, mas… o que quero? O que procuro? É ele quem o pergunta: «De verdade, o que queres?». Oh! Se eu fosse suficientemente audaz para lhe dizer: «Procuro-te a ti, Jesus», com certeza já o teria encontrado, «pois todo aquele que busca, encontra». Mas, sou demasiado cobarde e respondo-lhe com palavras que não me comprometem demasiado: «Onde vives?». Jesus não se conforma com a minha resposta, sabe muito bem que não é de um monte de palavras que necessito, mas de um amigo, o Amigo: Ele. Por isso diz-me: «Vem e verás», «Vinde e vereis».
 
João e André, os dois moços pescadores, foram com Ele, «viram onde vivia e ficaram com Ele aquele dia» (Jo 1,39). Entusiasmado pelo encontro, João escreverá: «A graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo» (Jo 1,17b). E André? Correrá a procurar o seu irmão para lhe dar a conhecer: «Encontramos o Messias» (Jo 1,41). «Então, conduziu-o até Jesus, que lhe disse, olhando para ele: «Tu és Simão, filho de João. Tu te chamarás Cefas, que quer dizer “Pedra”» (Jo 1,42).
 
Pedro! Simão, uma pedra? Nenhum deles está preparado para compreender estas palavras. Não sabem que Jesus veio para levantar a sua Igreja com pedras vivas. Ele tem já escolhidos os primeiros silhares, João e André, e dispôs que Simão fosse a rocha em que todo o edifício se apoiará.
 
E antes de subir para o Pai, dá-nos a resposta à pergunta: «Rabi, onde vives?». Bendizendo a sua Igreja dirá: «Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim dos tempos» (Mt 28,20).
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«`Mestre, onde moras? (...) Eles ficaram com ele nesse dia´. Um diálogo divino e humano que transformou as vidas de João e André, Pedro, Tiago e tantos outros» (São Josemaría)
 
«Se nas dificuldades da opressão egípcia o sangue do cordeiro pascal tivesse sido decisivo para a libertação de Israel, Ele - o Filho - converteu-se no "cordeiro", tornou-se uma garantia para a libertação de toda a humanidade» (Bento XVI)
 
«O que Cristo confiou aos Apóstolos, estes o transmitiram, pela sua pregação e por escrito, sob a inspiração do Espírito Santo, a todas as gerações, até à vinda gloriosa de Cristo» (Catecismo da Igreja Católica, nº 96)
 
Diz-lhes Jesus: «Vinde e vereis». Foram, pois, e viram onde mora. E permaneceram com Ele naquele dia.
 
Frei Pedro Bravo, ocarm
 
* O presente texto faz parte da secção introdutória do Quarto Evangelho
(1,19-3,36), onde o evangelista nos diz, através de diversas personagens, quem é Jesus. Nesta secção, “João” Baptista desempenha um papel especial, sendo com o seu testemunho que ela abre e fecha (1,19-36; 3,23-36). No texto de hoje, João apresenta Jesus e a sua missão, mostrando-o já presente no meio dos homens (cf. vv. 26.29ss).
 
* A cena decorre no terceiro e no quarto dias do oitavário inaugural da manifestação de Jesus (1,19-2,12). Narra-nos a vocação dos três primeiros discípulos de Jesus: André, um discípulo anónimo (João, o próprio evangelista: 21,24) e Simão Pedro. Os dois primeiros eram discípulos de João Batista; já Simão é conduzido a Jesus por André, seu irmão. É uma narrativa personalizada de vocação em três momentos, que completa o relato bem mais esquemático dos sinópticos (Mc 1,16-20p).
 
* v. 35. Primeiro momento. “No dia seguinte”. É o terceiro dia do oitavário inaugural da manifestação de Jesus (vv. 19.29). Estamos em Bethabara (Al-Maghtas), na margem oriental do Jordão, onde João batizava (v. 28). Com ele estão dois discípulos seus, que tinham aceite o seu apelo à conversão, foram batizados e se comprometeram a viver segundo a justiça, na expectativa da vinda do Messias.
 
* v. 36. João “fixa o olhar em Jesus” (gr. emblépô: v. 42; 1Sm 16,7), vendo-o à luz de Deus, reconhecendo nele a meta e o termo da sua missão, o Messias que vem ao encontro do homem para o salvar do pecado e o reconduzir à vida. “Que caminhava”: esta nota evoca Gn 3,8.10, quando Deus “caminhava” no jardim pela brisa (he. ruah; gr. pneuma) da tarde, procurando restabelecer o diálogo com o homem, que pecara.
 
* A seguir João aponta Jesus, repetindo o ponto central do seu querigma: “Eis o Cordeiro de Deus” (v. 29; cf. 1Cor 1,23; 2,2; Gl 3,1s). Esta expressão evoca três temas do AT: 1) o cordeiro pascal, cujo sangue simboliza a libertação do povo de Deus da escravidão do Egito e da morte (Ex 12,3-14.21-28); 2) os dois cordeiros que diariamente eram imolados no Templo, um de manhã, o outro à tarde (Ex 29,38s; Nm 28,3s); 3) o “Servo de Iavé”, o justo sofredor que, como cordeiro manso e inocente, carrega com o pecado do seu povo e oferece a sua vida como sacrifício de expiação pelos pecados, não apenas do seu povo, mas de “uma multidão”, ou seja, de toda a humanidade (cf. Is 53,1‑12; Jr 11,19). Jesus é a nova Páscoa, cujo sangue, oferecido em propiciação pelo pecado do mundo (v. 29; 1Jo 2,2), salvará o homem, não da escravidão do Egito ou do exílio, mas de Satanás, do pecado e da morte.
 
* v. 37. Os discípulos “escutam” João, acreditam na sua palavra e põem-na em prática, “seguindo Jesus”. A fé nasce do ouvido (Rm 10,17; Gl 3,5) e traduz-se numa adesão pessoal, que não dá lugar a hesitações, demoras, pedidos de explicação ou garantias. “Seguir Jesus” é uma expressão técnica do discipulado que significa: caminhar atrás de Jesus, para com Ele aprender a fazer a vontade de Deus, escutando a sua Palavra, obedecendo-lhe, aprendendo o seu modo de viver, seguindo os seus passos, imitando os seus gestos e perseguindo os seus objetivos, fazendo dele o centro, a fonte e a meta da própria vida.
 
* v. 38. Num segundo momento, narra-se o diálogo inicial de Jesus com os discípulos. À boa maneira dos rabinos, Jesus abre o diálogo com uma pergunta: “Que procurais?” (cf. 18,4.7; 20,15; Ex 33,7; Dt 4,29). É importante que os discípulos tomem consciência do que realmente procuram e esperam de Jesus, pois há quem vá ter com Ele por interesse.
 
* Os discípulos imitam desde logo Jesus e replicam com outra pergunta, em tom de súplica: “Rabbi, onde moras?” Mostram assim que querem “permanecer” com Ele. “Morar” e “permanecer” são o mesmo verbo em grego, ménô (Sb 7,27; Mc 6,10p; Lc 1,56; Lc 19,5; 24,29), uma das palavras-chave deste Evangelho. O verbo tem um sentido de continuidade física e temporal: “permanecer com Jesus” é não só ficar em casa, habitar e viver com Ele (8,35; 14,2.23), mas também ficar unido a Ele para sempre, até ao fim. Ao designá-lo “Rabbi” (lit. “meu grande”), “Mestre” , pedem-lhe que os aceite como seus discípulos.
 
* v. 39. Jesus responde-lhes com um convite unido, a uma promessa: “Vinde e vereis”. Primeiro, convida-os a entrar em comunhão com Ele: “vinde”. A quem o faz, promete-lhe que “verá” onde Ele mora, fazendo-o participar da sua vida. “Ver” significa perceber quem Jesus é, conhecê-lo à luz de Deus (1,51; cf. v. 36; 16,16s.19; 19,37; 20,8.18.20.25.27.29), pois ninguém o faz por uma informação dada ou uma ideia pessoal, mas só à luz da fé, no amor, sob a ação do Espírito Santo (3,3.5; Mt 11,27; 1Cor 12,3), que leva à união com Jesus e à configuração com Ele.
 
* Os discípulos aceitam o convite de Jesus, “vêm”, e a sua promessa cumpre-se: “veem onde mora” Jesus, encontrando nele o Messias. “Mora” está no presente, pois Jesus, o Verbo de Deus que se fez carne e passou a habitar entre nós (1,14), está no seio do Pai (1,18; 10,38; 14,10) e o lugar onde “mora” não é um determinado sítio, mas no meio dos seus discípulos: “Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles” (Mt 18,20), lugar que, mais tarde, após a Páscoa, será neles (1,14; 15,4-7; 6,56).
 
* O encontro com Jesus leva-os a “permanecer” com Ele “naquele dia”, ou seja, daí em diante (o verbo está no aoristo, indicando uma ação que se repete). “A hora décima” são as quatro horas da tarde. Simbolizando “dez” a totalidade, isso quer dizer que o coração dos discípulos ficou repleto de Jesus, que começou desde então a ser tudo na sua vida.
 
* v. 40. Num terceiro momento, os discípulos tornam-se testemunhas. Quem encontra Jesus e vive em comunhão com Ele, não pode deixar de o anunciar aos seus “irmãos” (20,17), procurando levá-los a Ele. Assim, André, “um dos dois que tinham seguido Jesus” (particípio aoristo, isto é, a partir de então, sempre de novo: 13,1), v. 41, logo no dia seguinte, o quarto (que começara na véspera, ao pôr-do-sol), vai ter com Simão, seu irmão, para lhe comunicar a maior descoberta de todas e da sua vida, a única que se pode e deve fazer sempre de novo. Di-lo, repetindo o grito de Arquimedes (eurêka): “Encontrámos (eurêkamen) o Messias” (4,29!). O verbo está no plural, porque: a) só é válido o testemunho de duas ou três pessoas (8,14; Dt 19,15); b) o encontro com Jesus só acontece no seio duma comunidade crente, a Igreja (20,24-29; Mt 18,20).
 
* v. 42. O evangelista segue o seu esquema habitual: a) primeiro alguém é chamado pessoalmente, neste caso, por Jesus; b) depois, o que foi chamado leva outros a Jesus mediante o seu testemunho e confissão de fé em Jesus (vv. 36.45; 4,29; cf. 2,5; 17,20; 20,17s; 20,25; 21,7). Jesus confirma o chamamento de André (cf. vv. 47s) e, “fixando o olhar” em Simão (v. 36), diz o seu nome completo (cf. v. 45), “Simão, filho de João”, mostrando que o “viu” e “conhece” (10,3), por revelação divina, neste caso (o de Jesus), por conhecimento pessoal (cf. v. 48; 2,24; 5,42; 6,64; 10,14; 16,30; 21,17). O chamamento leva à missão. Jesus dá então a Simão o nome novo que indica a missão que lhe será dada: “Cefas” (1Cor 1,12; 3,22; 9,5; 15,5; Gl 1,18; 2,9.11.14), “Pedro”, “pedra”, ser “o rochedo” (Is 51,1) sobre o qual Jesus edificará a sua Igreja (Mt 16,18), que lhe confiará pessoalmente, para que a apascente em seu nome com amor (21,1-22).
 
MEDITAÇÃO
1) Como foi o chamamento de Jesus para comigo? Houve alguma mudança de rumo na minha vida, nos modos de ver, na maneira de ser?
2) Ser cristão é acolher o chamamento de Deus, seguir Jesus Cristo, viver com Ele e testemunhá-lo. Tenho-o feito? Como?

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