S.
Catarina Labouret, virgem
1ª
Leitura (Si 3,3-7.14-17a): Deus quis honrar os pais nos filhos e firmou
sobre eles a autoridade da mãe. Quem honra seu pai obtém o perdão dos pecados e
acumula um tesouro quem honra sua mãe. Quem honra o pai encontrará alegria nos
seus filhos e será atendido na sua oração. Quem honra seu pai terá longa vida,
e quem lhe obedece será o conforto de sua mãe. Filho, ampara a velhice do teu
pai e não o desgostes durante a sua vida. Se a sua mente enfraquece, sê
indulgente para com ele e não o desprezes, tu que estás no vigor da vida, porque
a tua caridade para com teu pai nunca será esquecida e converter-se-á em
desconto dos teus pecados.
Salmo
Responsorial: 127
R. Felizes os que esperam no
Senhor e seguem os seus caminhos.
Feliz de ti, que temes o Senhor e
andas nos seus caminhos. Comerás do trabalho das tuas mãos, serás feliz e tudo
te correrá bem.
Tua esposa será como videira
fecunda, no íntimo do teu lar; teus filhos serão como ramos de oliveira, ao
redor da tua mesa.
Assim será abençoado o homem que
teme o Senhor. De Sião te abençoe o Senhor: vejas a prosperidade de Jerusalém,
todos os dias da tua vida.
2ª
Leitura (Col 3,12-21): Irmãos: Como eleitos de Deus, santos e prediletos,
revesti-vos de sentimentos de misericórdia, de bondade, humildade, mansidão e
paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, se algum tiver
razão de queixa contra outro. Tal como o Senhor vos perdoou, assim deveis fazer
vós também. Acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da
perfeição. Reine em vossos corações a paz de Cristo, à qual fostes chamados
para formar um só corpo. E vivei em ação de graças. Habite em vós com
abundância a palavra de Cristo, para vos instruirdes e aconselhardes uns aos
outros com toda a sabedoria; e com salmos, hinos e cânticos inspirados, cantai
de todo o coração a Deus a vossa gratidão. E tudo o que fizerdes, por palavras
ou por obras, seja tudo em nome do Senhor Jesus, dando graças, por Ele, a Deus
Pai. Esposas, sede submissas aos vossos maridos, como convém no Senhor.
Maridos, amai as vossas esposas e não as trateis com aspereza. Filhos, obedecei
em tudo a vossos pais, porque isto agrada ao Senhor. Pais, não exaspereis os
vossos filhos, para que não caiam em desânimo.
Aleluia. Reine em vossos
corações a paz de Cristo, habite em vós a sua palavra. Aleluia.
Evangelho
(Lc 2,22-40): E quando se completaram os dias da purificação, segundo a
lei de Moisés, levaram o menino a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor,
conforme está escrito na Lei do Senhor: “Todo primogênito do sexo masculino
será consagrado ao Senhor». Para tanto, deviam oferecer em sacrifício um par de
rolas ou dois pombinhos, como está escrito na Lei do Senhor. Ora, em Jerusalém
vivia um homem piedoso e justo, chamado Simeão, que esperava a consolação de
Israel. O Espírito do Senhor estava com ele. Pelo próprio Espírito Santo, ele
teve uma revelação divina de que não morreria sem ver o Ungido do Senhor.
Movido pelo Espírito, foi ao templo. Quando os pais levaram o menino Jesus ao
templo para cumprirem as disposições da Lei, Simeão tomou-o nos braços e louvou
a Deus, dizendo: «Agora, Senhor, segundo a tua promessa, deixas teu servo ir em
paz, porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os
povos: luz para iluminar as nações e glória de Israel, teu povo». O pai e a mãe
ficavam admirados com aquilo que diziam do menino. Simeão os abençoou e disse a
Maria, a mãe: «Este menino será causa de queda e de reerguimento para muitos em
Israel. Ele será um sinal de contradição —e a ti, uma espada traspassará tua
alma!— e assim serão revelados os pensamentos de muitos corações». Havia também
uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Ela era de idade
avançada. Quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido.
Depois ficara viúva e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do
templo; dia e noite servia a Deus com jejuns e orações. Naquela hora, Ana
chegou e se pôs a louvar Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a
libertação de Jerusalém. Depois de cumprirem tudo conforme a Lei do Senhor,
eles voltaram para Nazaré, sua cidade, na Galileia. O menino foi crescendo,
ficando forte e cheio de sabedoria. A graça de Deus estava com ele.
«Levaram o menino a Jerusalém
para apresentá-lo ao Senhor»
Rev. D. Joan Ant. MATEO i García (Tremp,
Lleida, Espanha)
Hoje, celebramos a festa da
Sagrada Família. O nosso olhar vira-se para o centro de Belém —Jesus— para
contemplar perto Dele a Maria e a José. O filho eterno do Pai passa da família
eterna, que é a Santíssima Trindade, à família terrena formada por Maria e
José. Como deve ser importante a família aos olhos de Deus quando a primeira
coisa que procura para o seu Filho é uma família!
João Paulo II, na sua Carta
apostólica O Rosário da Virgem Maria, voltou a destacar a importância capital
que tem a família como fundamento da Igreja e da sociedade humana e pediu-nos
que rezássemos pela família e que rezássemos em família o Santo Rosário para
revitalizarmos essa instituição. Se a família estiver bem, a sociedade e a
Igreja estarão bem.
O Evangelho de hoje diz-nos que o
Menino crescia e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria. Jesus encontrou o
calor de uma família que se ia construindo através das suas reciprocas relações
de amor. Que bonito e proveitoso seria se nos esforçássemos mais e mais por
construir a nossa família: com espírito de serviço e de oração, com amor mútuo,
com uma grande capacidade de compreender e de perdoar. Gostaríamos —como na
casa de Nazareth— o céu e a terra! Construir a família é hoje uma das tarefas
mais urgentes. Os pais, como recordava o Concilio Vaticano II, tem aí um papel
insubstituível: «É dever dos pais criarem um ambiente de família animado pelo
amor e pela piedade para com Deus e para com os homens, e que favoreça uma
educação integra a nível pessoal e social dos seus filhos». Na família
aprende-se o mais importante: a ser pessoas.
Por fim, falar de família para os
cristãos é falar da Igreja. O Evangelista S. Lucas diz-nos que os pais de Jesus
o levaram a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor. Aquela oferenda era a figura
da oferenda sacrificial de Jesus ao Pai, fruto da qual nascemos cristãos.
Considerar esta gozosa realidade nos abrirá a uma maior fraternidade e nos
levará a amar mais a Igreja.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Nazaré é a escola onde começa o
conhecimento do Evangelho. Como gostaríamos de recomeçar, junto a Maria, a
nossa iniciação na verdadeira ciência da vida!» (São Paulo VI)
«A família de Jesus, sendo uma
família como qualquer outra, é um modelo de amor conjugal, de colaboração, de
sacrifício, de confiança na Divina Providência..., de todos os valores que a
família preserva e promove, ajudando a formar o tecido de cada sociedade"»
(Benedito XVI)
«A vida oculta de Nazaré permite
a todos os homens entrar em comunhão com Jesus, pelos diversos caminhos da vida
quotidiana» (Catecismo da Igreja Católica, nº 533)
“Os meus olhos viram a tua
salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para se revelar às
nações e glória do teu povo, Israel”
Fr. Pedro Bravo, ocarm
* O texto de hoje,
exclusivo de Lucas, é o penúltimo episódio das “narrativas da infância de
Jesus”, onde o evangelista apresenta Jesus a percorrer as diversas etapas da
sua infância à luz da Lei judaica.
v. 22. “Ao cumprirem-se os
dias”. “A lei de Moisés” (Lv 12,1-8) prescrevia que uma mãe (não o filho) se
devia “apresentar” (ou seja, subir ao Templo, à presença de Deus: cf. 1,19; Nm
16,9; Dt 21,5 Jdt 11,13), no 40º dia do nascimento do seu filho, para se “purificar”
do contacto com o sangue no parto, oferecendo um sacrifício (v. 24). É o que
agora acontece. Entretanto, Lucas vê neste gesto o cumprimento das 70 semanas
(70x7=490 dias) da profecia de Daniel (9,24-27): seis meses (6x30=180 dias) da
gravidez de Isabel (1,36); nove meses (9x30=270 dias) da gravidez de Maria
(2,6) e 40 dias da purificação dela (180+270+40) dão 490 dias.
* “Jerusalém”: o evangelista usa a forma grega
Hierosolyma (13,22; 19,28; 23,7; At, 25x), provavelmente para ligar a
etimologia de “Hierosalem” (hieros, “santa ”+ Salem “paz”: vv. 25.38.41.43.45;
Hb 7,2), a hieros, “santa”, (kat)alyma, “sala de hóspedes” (2,7; o cenáculo:
22,11).
v. 23: Além da purificação
da mãe, a Lei prescrevia que todo o primogénito do sexo masculino “que rasga o
ventre materno” (nascendo de parto natural) devia ser consagrado ao Senhor
(lit. “será chamado santo para o Senhor”: 1,35; Ex 13,2.12.15). Segundo a Lei, as
primícias de tudo quanto se tem são do Senhor. Isto aplica-se em especial aos
primogénitos do sexo masculino, tanto dos homens, como dos animais. Estes
pertencem a Deus e devem ser “resgatados”, ou seja, libertados por meio de um
pagamento, em agradecimento por Deus ter poupado os primogénitos de Israel, no
Êxodo, na noite de Páscoa, quando feriu de morte os primogénitos dos egípcios,
tanto dos homens, como dos animais (Ex 13,15s; 22,28; 34,19).
* Desta obrigação está
isenta a tribo de Levi (Nm 3,12-13.40ss.45), porque, segundo a tradição
judaica, todos os primogénitos de Israel tinham sido escolhidos pelo Criador
para o sacerdócio por terem sido poupados na última das dez pragas do Egito. No
entanto, quando os israelitas pecaram junto ao Sinai, oferecendo sacrifícios ao
bezerro de ouro, só os filhos de Levi se juntaram a Moisés para executar a
sentença divina (Ex 32,26-29), passando a ser apenas eles a assumir o
sacerdócio. Desde então foi instituído “o resgate do primogénito” (he. pidyon
ha-ben: Nm 18,16; gr. lytrôsis, “redenção”: v. 38; 1,68), como forma de
resgatar o primogénito da obrigação do sacerdócio. Isto deve-se fazer a partir
do 30º dia do nascimento dele (um mês), antes de se completar o segundo mês (Nm
18,16), o mais tardar até aos cinco anos de idade (Lv 27,6). O filho deve ser
resgatado pelo seu pai, que se pode dirigir a qualquer sacerdote em qualquer
lugar da nação, lhe entrega o filho, diz “Este meu primogénito é o primogénito
da sua mãe e o Santificado, bendito seja Ele, ordenou-nos que o resgatássemos”,
e lhe paga 5 siclos de prata pura (“segundo o ciclo do Santuário”, 5 x 11,4 g:
Nm 3,47; 18,16; Mek Ex 13,2, 22b; Mek Ex 22,29, 103a; SNu 18,15 §118, 38a).
* Lucas, avesso ao
dinheiro, que gosta de sublinhar a pobreza (6,20; 9,3; 14,13.21; 18,22; At 3,6;
8,20; 20,33), não menciona o pagamento, mas refere aqui o rito e dá-o como
realizado (v. 39). Fá-lo, porém, coincidir com a purificação de Maria (cf. v.
22: “a purificação deles”), por razões de ordem prática. Destaca assim a
piedade de Maria e de José, que apresentam Jesus a Deus numa cena que evoca 1Sm
1,24-26 (a apresentação de Samuel a Deus, por Ana, no templo de Silo).
v. 24. “A Lei do Senhor”
prescrevia, no caso de a família ser pobre, que a mulher oferecia em sacrifício
pela sua purificação apenas “um par de rolas ou duas pombinhas” (Lv 12,6.8). É
o caso da família de Jesus, que faz parte dos “pobres de Israel”, o resto fiel
a Deus que obedece de coração, com amor, à sua “Lei” (5x, aqui). Ao mesmo
tempo, Lucas mostra que Jesus, desde o princípio, é “o Santo” de Deus (v. 23:
“consagrado”; 4,34), como o Anjo anunciara a Maria (1,35), decorrendo toda a
sua vida segundo a Palavra de Deus, que nele se realiza.
v. 25. Duas personagens
acolhem Jesus no Templo: ambas são idosas, representando o antigo povo de Deus
que esperava ansiosamente a restauração do reino de Deus e a libertação
(“redenção”) do seu Povo. Bem ao estilo de Lucas, são um par: um homem e uma
mulher (4,25-28.31-39; 7,1-17.36-50; 23,55-24,35). Ambos “profetizam”, ou seja,
agem e falam em nome de Deus, sob moção do Espírito Santo. Lucas expressa deste
modo três temas fundamentais da sua obra: a) ambos, homem e mulher, estão
juntos na presença de Deus, sendo iguais em honra e graça, tendo os mesmos dons
e responsabilidades (Gn 1,27; Gl 3,28); b) em Jesus inauguram-se os tempos
messiânicos, marcados pela efusão do Espírito Santo e a irrupção do dom de
profecia (Nm 11,27; Jl 2,28), extinto há mais de 400 anos; 3) só é possível
encontrar Jesus e (re)conhecê-lo por ação do Espírito Santo.
* A primeira a entrar em
cena é Simeão (he. “Deus ouviu”). “Era um homem justo” (1,6.17; 23,50; At
10,22), que fazia de coração a vontade de Deus (Is 51,7); “e piedoso”, que
humilde e reverentemente cumpria os preceitos de Deus (At 2,5; 8,2; 22,12);
“que esperava” (há longo tempo: Rt 1,13) a “consolação de Israel” (v. 38; Is
40,1; 49,13; 51,12; 52,9; 61,2; 66,13; Jr 31,9; Zc 1,17), vivendo animado pela
esperança no cumprimento das promessas de salvação. “E o Espírito Santo estava
com ele” (lit. “sobre ele”: 3,22; Nm 11,25.29).
v. 26. “Fora-lhe avisado”
(cf. Jr 36,2.4; At 10,20) “pelo Espírito Santo”. “Espírito Santo” aparece aqui
pela primeira vez em Lucas com o artigo (10,21; 12,10. 12), o que só ocorre
três vezes no AT (Sl 51,13; Is 63,10s). “Que não veria a morte”, ou seja, que não
morreria (Sl 89,49; Hb 11,5; Jo 8,51), “sem antes ter visto (9,27) “o Cristo do
Senhor” (só em 2,11; 1Sm 24,11).
v. 27. E vai ao Templo “no
Espírito”, ou seja, impelido por Ele (1,17; 4,1; 10,21; Mq 3,8; Zc 4,6; 7,12), quando
“os pais trouxeram o Menino Jesus para fazerem com Ele segundo o costume da Lei
no que lhe dizia respeito”. Cumprem assim não só o que a Lei prescrevia, mas
também Ml 3,1: «De repente, virá ao seu Templo o Senhor, a quem buscais, o Anjo
da Aliança, a quem desejais». Lucas chama aqui pela primeira vez “pais” a José
e Maria porque foi só na circuncisão que José assumiu a paternidade legal sobre
Jesus (vv. 21.33; 3,23).
v. 28. Impelido pelo
Espírito (cf. At 8,29; 10,19; 11,12; 13,2), Simeão reconhece Jesus e intervém
com atos e palavras expressivos. Num gesto de amor, ternura e gratidão,
“recebe” o Menino nos braços (cf. Mc 9,36; 10,16) como um dom (gr. dékomai:
9,48; 18,17; 22,17; Gn 33,10; Dt 32,11) e bendiz a Deus (1,42.64; 24,53; Sl
16,7; 34,2; 63,5; 96,2; 103,2; 134,2).
v. 29. E diz: “Agora” (gr.
nûn). É o “agora” do tempo da graça, do dia da salvação (22,18.69; 2Cor 6,2).
“Senhor” (gr. despótes, “mestre”, “soberano”: At 4,24; Gn 15,2.8; Js 5,14; Dn
9,15-19): é Deus quem dirige tudo. “Podes deixar partir em paz”, ou seja, deixar
morrer (Gn 15,15; 46,30; Tb 11,9), livre do medo da morte (Hb 2,14s). “O teu
servo” (gr. doulós, “escravo/servo”: 1,38.48; Rm 1,1; 2Co 4,5; Gl 1,10; Fl 1,1;
2,7; Tt 1,1; Tg 1,1; 2Pd 1,1; Jd 1,1; Ap 1,1), ou seja, a mim, sobre quem podes
dispor, com direito de vida e de morte. “Segundo a tua Palavra” que me
prometeste pelo Espírito Santo (v. 26), e de acordo com o meu desejo (cf. Gn
47,30; Nm 14,20; 1Rs 3,12). O encontro com Jesus ilumina projeta uma nova luz
sobre a existência do homem e a sua morte, fazendo dela uma passagem para a
eternidade.
v. 30. Depois, declara no Templo
de Jerusalém declara que os seus olhos “viram a salvação” (3,6; Sl 98,3; cf. Jb
42,5; Sl 67,3). O nome “Jesus” em aramaico é Ieshuah (“Deus salva”), a palavra
hebraica para “salvação”.
v. 31.”Que preparaste
diante de todos os povos” (gr. laós: Is 52,10), ou seja, destinada a toda a
humanidade (Is 40,5 LXX).
v. 32. A seguir, Simeão
anuncia o objetivo da obra de Jesus: levar a todos os homens a “luz” (Is 9,2;
At 26,18) do Evangelho que se deve “revelar às nações”, isto é, aos gentios (Is
42,6; 49,9.6; 51,4; At 13,47) e ser a “glória de Israel”, o povo de Deus (Is 4,2;
46,13; 45,25; 60,1s.19). “Glória” alude à glória divina da ressurreição de
Jesus (9,26.31s; 21,27; 24,26), da qual participará o novo Povo de Deus, o novo
Israel (Rm 9,6ss; Gl 6,6; Fl 3,3). Jesus é o Servo de Iavé e a salvação que
será levada pelos seus discípulos a todos os povos da terra, que nele serão
irmanados, sem qualquer distinção, no único povo de Deus, que participará da
Sua glória. Emerge aqui de forma explícita, pela primeira vez, o tema da
universalidade da salvação (2,14; 24,47; At 1,8), tão caro a Lucas.
v. 33. “Seu pai e sua Mãe”
(v. 27) ficam “admirados” com o que “se diz” (particípio presente) de Jesus
(1,63; 2,18.48). De facto, antes só tinha sido anunciada a missão de Jesus em
relação a Israel; agora é-lhes dito que Ele será glorificado e ela se estenderá
a todos os povos.
v. 34. “Simeão
abençoou-os”: a Jesus, Maria e José (cf. Dt 18,5 LXX; Nm 6,23-26). Depois
anuncia profeticamente a Maria a divisão que Jesus irá provocar em Israel e no
mundo (cf. 4,16-30; 12,51), desvelando-lhe o seu destino: o anúncio e a obra da
salvação da humanidade passarão pelo sofrimento (“a cruz”: 24,7.44.46), de modo
que Jesus será “um sinal de contradição” para todos (7,23; At 28,22; Is 8,14;
28,16): para os que não acreditarem nele e o rejeitarem, será causa de queda e
de ruína (como acontecerá a Jerusalém no ano 70 d.C.: Dn 11,41 LXX; Mt 21,42;
Rm 9,32; 1Pd 2,7); para os que nele crerem, será fonte de “ressurreição” (gr.
anástasis), de vida nova, luz e salvação (At 26,23; Rm 6,5; 1Cor 1,23). É uma
alusão aos pontos fundamentais do querigma: a morte e ressurreição de Cristo e
o seu anúncio a todos os povos (9,20.22; 24,26.46s; At 2,36; 4,10ss; 10,36-42;
17,3).
v. 35. Tal como o
discípulo é associado à cruz (9,23; 14,27), também Maria será intimamente
associada à obra do seu Filho de modo singular, único, para a vida e para
morte, obra esta que “traspassará” como espada a sua alma (v. 48; Jo 19,25s.37;
Hb 4,12; Sl 124,5) de dor (cf. Am 5,17) “para que se revelem os pensamentos de
muitos corações” (cf. 5,22; 9,47; 16,15; 24,38; Sb 7,20; Jr 17,9s; Dn 2,22.30;
1Cor 3,13).
v. 36. A segunda figura,
Ana, é toda ela simbólica. O seu nome, “Ana”, significa “graça”; e o apelido,
“Fanuel”, “rosto de Deus” (Gn 32,31). em Jesus Deus mostra o seu rosto e dá a
sua graça. Ela é “profetiza” (Ex 15,20; Jz 4,4; 2Rs 22,14; 2Cr 34,22; Is 8,3), ou
seja, alguém que se abriu ao dom do Espírito (preanunciado para os tempos
messiânicos: Jl 3,1; At 2,17s), que escuta e recebe a Palavra de Deus e a dá a
conhecer aos homens. Ana é do norte Galileia, da tribo de Aser (“feliz”), a menor
e insignificante tribo de Israel (Dt 33,24).
v. 37. A idade de Ana
também é simbólica: 7x12=84 anos, indicando 7 a perfeição e 12 o Povo de Deus.
Ela é “viúva”, figura daquele Israel pobre e sofredor que se manteve sempre
fiel a Iavé. Manteve-se viúva após a morte do marido (cf. Is 60,20; 61,3),
ansiando, suplicando e esperando o cumprimento das promessas de Deus, “Sem se
afastar do Templo” (cf. Sl 26,8; 27,4; 84,11), não porque nele pernoitasse (uma
vez que as portas deste se fechavam durante a noite: cf. 21,37; Sl 134,1), mas
porque vivia perto dele. “Prestando culto” a Deus (cf. Ex 3,12; 20,5; 23,25; Dt
6,13; 10,20; Js 24,14); ininterruptamente, “noite e dia” (Jt 11,37; At 20,31;
26,7; 1Ts 2,9; 3,10; 2Ts 3,8; 1Tm 5,5; 2Tm 1,3); “com jejuns e orações” (cf.
5,33; At 13,3; 14,23; Ne 1,4; Dn 9,3), uma prática regular dos judeus piedosos
(Jt 8,6!), para implorar a vinda do Messias (cf. 5,33; Dn 10,3).
v. 38. Ao ver Jesus, Ana
não só reconhece nele o Messias, mas põe-se a louvar a Deus (Sl 79,13; Dn 4,37)
e a falar profeticamente dele “a todos os que esperavam a redenção de
Jerusalém” (cf. v. 25; Sl 111,19; 130,7; Is 43,1; 59,20; 63,4). A palavra
“redenção” (gr. lytrosis, “resgate”: cf. v. 23) é a mesma que é usada para
falar da libertação de Israel da escravidão do Egito (cf. Ex 6,6; 15,13; Dt
7,8; 2Sm 7,23) e para designar o novo êxodo, da salvação futura do povo de Deus
(1,68; 24,21; Is 41,14; 43,1; 44,6.22ss; 52,3; 62,12; 63,9; Jr 31,11; Os 13,14;
Zc 10,8), levado a cabo pelo Messias (Jesus: 9,31). Ana é figura do Israel fiel
e pobre que, tendo posto a sua esperança em Deus, se deixa guiar pelo seu
Espírito e reconhece em Jesus o Messias prometido, que depois anuncia.
v. 39. O texto conclui com
um sumário da infância de Jesus. Cumpridos todos as prescrições da Lei a
respeito do Menino, “voltaram à sua cidade, Nazaré” (1,26; 2,4; Mt 2,23), donde
tinham partido.
v. 40: v. 52; cf. At 7,10.
“Entretanto, o Menino crescia” (1Sm 2,21.26) “e fortalecia-se” (cf. 1,80; Sl
80,18; Ef 3,16; 6,10). “Enchendo-se de sabedoria” (cf. 11,31; Is 11,2; 1Cor
1,24.30; Cl 1,9; 2,3; Tg 3,17), “e a graça de Deus estava com Ele” (cf. 4,22;
Sl 45,2; Sb 3,9; Jo 1,14.17), dons que vêm de Deus (cf. Tg 1,17; 3,15) e Ele
possui como próprios, atestando a sua divindade.
Para uma reflexão pessoal:
1. Deus ocupa o primeiro
lugar, é o centro da minha vida? Como o conheci?
2. Deixo-me guiar pelo
Espírito de Deus e iluminar pela Sua Palavra? Procuro crescer na sua graça?
3. Reconheço Jesus nos
pobres e nos humildes? Anuncio-o a todos, cumprindo a missão que me foi
confiada no meu batismo?
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