sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo

1ª Leitura (Ez 34,11-12.15-17):
Eis o que diz o Senhor Deus: «Eu próprio irei em busca das minhas ovelhas e hei de encontrá-las. Como o pastor vigia o seu rebanho, quando estiver no meio das ovelhas que andavam tresmalhadas, assim Eu guardarei as minhas ovelhas, para as tirar de todos os sítios em que se desgarraram num dia de nevoeiro e de trevas. Eu apascentarei as minhas ovelhas, Eu as levarei a repousar, diz o Senhor Deus. Hei de procurar a que anda perdida e reconduzir a que anda tresmalhada. Tratarei a que estiver ferida, darei vigor à que andar enfraquecida e velarei pela gorda e vigorosa. Hei de apascentá-las com justiça. Quanto a vós, meu rebanho, assim fala o Senhor Deus: Hei de fazer justiça entre ovelhas e ovelhas, entre carneiros e cabritos».
 
Salmo Responsorial: 22
R. O Senhor é meu pastor: nada me faltará.
 
O Senhor é meu pastor: nada me falta. Leva-me a descansar em verdes prados, conduz-me às águas refrescantes e reconforta a minha alma.
 
Ele me guia por sendas direitas, por amor do seu nome. Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos não temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo.
 
Para mim preparais a mesa à vista dos meus adversários; com óleo me perfumais a cabeça e o meu cálice transborda.
 
A bondade e a graça hão de acompanhar-me, todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor para todo o sempre.
 
2ª Leitura (1Cor 15,20-26.28): Irmãos: Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram. Uma vez que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos; porque, do mesmo modo que em Adão todos morreram, assim também em Cristo serão todos restituídos à vida. Cada qual, porém, na sua ordem: primeiro, Cristo, como primícias; a seguir, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda. Depois será o fim, quando Cristo entregar o reino a Deus seu Pai, depois de ter aniquilado toda a soberania, autoridade e poder. É necessário que Ele reine, até que tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus pés. E o último inimigo a ser aniquilado é a morte. Quando todas as coisas Lhe forem submetidas, então também o próprio Filho Se há-de submeter Àquele que Lhe submeteu todas as coisas, para que Deus seja tudo em todos.
 
Aleluia. Bendito O que vem em nome do Senhor! Bendito o reino do nosso pai David! Aleluia.
 
Evangelho (Mt 25,31-46): Naquele tempo, Jesus disse aos discípulos: «Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, ele se sentará em seu trono glorioso. Todas as nações da terra serão reunidas diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos, à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! Pois eu estava com fome, e me destes de comer; estava com sede, e me destes de beber; eu era forasteiro, e me recebestes em casa; estava nu e me vestistes; doente, e cuidastes de mim; na prisão, e fostes visitar-me. Então os justos lhe perguntarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Com sede, e te demos de beber? Quando foi que te vimos como forasteiro, e te recebemos em casa, sem roupa, e te vestimos? Quando foi que te vimos doente ou preso, e fomos te visitar? Então o Rei lhes responderá: Em verdade, vos digo: todas as vezes que fizestes isso a um destes mais humildes, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes! Depois, o Rei dirá aos que estiverem à sua esquerda: Afastai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno, preparado para o diabo e para os seus anjos. Pois eu estava com fome, e não me destes de comer; com sede, e não me destes de beber; eu era forasteiro, e não me recebestes em casa; nu, e não me vestistes; doente e na prisão, e não fostes visitar-me. E estes responderão: Senhor, quando foi que te vimos com fome ou com sede, forasteiro ou nu, doente ou preso, e não te servimos? Então, o Rei lhes responderá: Em verdade, vos digo, todas as vezes que não fizestes isso a um desses mais humildes, foi a mim que o deixastes de fazer! E estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna».
 
«Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes»
 
P. Antoni POU OSB Monje de Montserrat (Montserrat, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, Jesus nos fala do juízo final. E com essa ilustração metafórica de ovelhas e cabras, nos mostra que se tratará de um juízo de amor. «Seremos examinados sobre o amor», nos diz São João da Cruz.
 
Como diz outro místico, Santo Inácio de Loyola na sua meditação Contemplação para alcançar amor, devemos pôr o amor mais nas obras que nas palavras. E o Evangelho de hoje é muito ilustrativo. Cada obra de caridade que fazemos, a fazemos ao próprio Cristo: «(...)Então o Rei dirá aos que estão à direita: - Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; estava nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim» (Mt 25,34-36). Mais ainda: «Responderá o Rei: - Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes» (Mt 25,40).
 
Esta passagem evangélica, que nos faz tocar o chão com os pés, põe a festa do juízo de Cristo Rei em seu lugar. A realeza de Cristo é uma coisa bem diferente da prepotência, é simplesmente a realidade fundamental da existência: o amor terá a última palavra.
 
Jesus nos mostra que o sentido da realeza -a potestade- é o serviço aos outros. Ele afirmou de si mesmo que era Mestre e Senhor (cf. Jo 13,13), e também que era Rei (cf. Jo 18,37), mas exerceu seu mestrado lavando os pés aos discípulos (cf. Jo 13,4 ss.) e, reinou dando sua vida. Jesus Cristo reina, primeiro, desde um humilde berço (um presépio!) e, depois, desde um trono muito incômodo, isto é, a Cruz.
 
Acima da cruz estava a inscrição que rezava «Jesus Nazareno, Rei dos Judeus» (Jo 19,19): o que a aparência negava era confirmado pela realidade profunda do mistério de Deus, já que Jesus reina na Cruz y nos julga no seu amor. «Seremos examinados sobre o amor»
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Mostra a Deus a tua gratidão por seres daqueles que podem fazer o bem, e não daqueles que precisam de ajuda... Não sejas rico apenas em bens, mas em piedade; não apenas em ouro, mas também em virtude» (Gregório de Nazianzo)
 
«Se pusermos em prática o amor ao próximo, de acordo com a mensagem do Evangelho, então abrimos espaço ao reino de Deus, e ele tem lugar no meio de nós. Por outro lado, se cada um pensar apenas nos seus próprios interesses, então o mundo caminha para a ruína» (Bento XVI)
 
«Cristo Senhor reina já pela Igreja, mas ainda não Lhe estão submetidas todas as coisas deste mundo. O triunfo do Reino de Cristo só será um facto, depois dum último assalto das forças do mal» (Catecismo da Igreja Católica, nº 680)

Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo!" 
 
Do site Ordem do Carmo em Portugal.
 
O “Sermão da Vigilância”, o quinto e último livro da Nova Lei, encerra com a parábola que descreve o Juízo Final. As bem-aventuranças descreveram o portão de entrada para o Reino, enumerando oito categorias de pessoas: os pobres de espírito, os mansos, os aflitos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os de coração limpo, os promotores da paz e os perseguidos pela justiça. A “Parábola do Juízo Final” conta o que devemos fazer para poder tomar posse do Reino, a saber, acolher os famintos, os sedentos, os estrangeiros, os sem-roupas, os doentes e os prisioneiros. No começo e no fim da Nova Lei, estão os excluídos e marginalizados, estão os que procuram acabar com a exclusão.
 
No fim do século I as comunidades cristãs eram uma minoria. Vistas do lado de fora, pareciam grupos dissidentes do mundo judeu. Ainda não tinham lideranças próprias organizadas. Os seus superiores jurídicos ainda eram os escribas e os fariseus. O que havia eram missionários e missionárias ambulantes que passavam pelas comunidades para animá-las a continuar firmes na nova maneira de viver a Lei de Deus. Estes missionários eram pessoas simples, leigas, sem muita instrução. Por isso, eram desprezadas e perseguidas pelas lideranças dos judeus. Passavam fome e sede e, muitas vezes, eram lançadas na prisão. Esta situação é o pano de fundo da “Parábola do Juízo Final”.
 
Mateus 25,31-33: Abertura do julgamento final. Chegou a hora do julgamento. O Filho do Homem aparece e reúne ao seu redor todas as nações do mundo. Separa as pessoas como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. O pastor sabe discernir. Ele não erra: ovelhas à direita, cabritos à esquerda. Jesus não erra. Ele sabe discernir bons e maus. Jesus não julga nem condena. Ele apenas separa. É a pessoa que se julga e se condena pelo seu relacionamento com os pequenos.
 
Mateus 25,34-36: Sentença para os que estiverem à sua direita. Os que estão à sua direita são chamados “Benditos de meu Pai!”, isto é, recebem a bênção que Deus prometeu a Abraão e à sua descendência (Gn 12,3). Eles são convidados a tomar posse do Reino, preparado para eles desde a fundação do mundo. O motivo da sentença é este: “Tive fome e sede, era estrangeiro, nu, doente e preso, e vós me ajudastes!” A parábola tem um suspense. Até agora não se disse quem são as ovelhas que ficam à direita do Juiz. Sabemos apenas que elas acolheram o Juiz quando este estava faminto, sedento, estrangeiro, nu, doente e preso. E, pela maneira de falar “meu Pai” e “Filho do Homem”, sabemos também que o Juiz é Jesus.
 
Mateus 25,37-40: O esclarecimento do Juiz: o vigário de Cristo é o pobre. Os que acolheram os excluídos são chamados “justos”. Isso significa que a justiça do Reino não se alcança observando normas e prescrições, mas acolhendo as pessoas necessitadas. Mas os próprios justos não sabem quando foi que acolheram Jesus necessitado. Jesus responde: “Toda as vezes que o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes!” Quem são estes “meus irmãos mais pequeninos”? Noutras passagens do Evangelho de Mateus, as expressões “meus irmãos” e “pequeninos” indicam os discípulos (Mt 10,42; 12,48-50; 18,6.10.14; 28,10). São os membros mais abandonados da comunidade, os desprezados que não recebem lugar e não são bem recebidos (Mt 10,40). Jesus identifica-se com eles. Mas não é só isso. Aqui no contexto tão amplo desta parábola final, a expressão “meus irmãos mais pequeninos” alarga-se e inclui todos aqueles que na sociedade não têm lugar. Indica todos os pobres. E os “justos” e os “benditos de meu Pai” são todas as pessoas que acolhem o outro na total gratuidade, independentemente do facto de serem cristãos ou não.
 
Mateus 25,41-43: Sentença para os que estiverem à sua esquerda. Os que estão do outro lado do Juiz são chamados de “malditos” e são destinados ao fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. Jesus usa a linguagem simbólica comum daquele tempo para dizer que essas pessoas não entram no Reino. E aqui também o motivo é um só: não acolheram Jesus faminto, sedento, estrangeiro, nu, doente e preso. Não é Jesus que nos impede de entrar no Reino, mas é antes a nossa prática de não acolher o outro, a cegueira que nos impede de ver Jesus nos pequeninos.
 
Mateus 25,44-46: Pedido de esclarecimento e resposta do Juiz. O pedido de esclarecimento mostra que se trata de gente bem-comportada, pessoas que têm a consciência em paz. Estão certas de terem praticado sempre o que Deus pedia delas. Por isso estranham quando o Juiz diz que não o acolheram. O Juiz responde: “Todas as vezes que não fizestes isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizestes!” A omissão. Não fizeram coisas más. Apenas deixaram de praticar o bem aos pequeninos e de acolher os excluídos. E segue a sentença final: estes vão para o fogo eterno, e os justos para a vida eterna. Assim termina o quinto livro da Nova Lei.
 
A presença de Jesus no meio de nós e a leitura dos Evangelhos. Os quatro Evangelhos são o álbum de fotografias do novo povo de Deus. Neles os primeiros cristãos conservaram para nós as fotos mais bonitas de Jesus. Eles conservavam as palavras de Jesus não como palavras de alguém do passado. Para eles, Jesus não era uma pessoa falecida de saudosa memória, mas alguém bem vivo no meio deles. Quando liam ou ouviam as palavras do Evangelho, não as escutavam como se fossem palavras de 20 ou 30 anos atrás, gravadas numa fita, porém, como palavras que este Jesus, vivo e presente, se dirigia eles naquele momento. Assim, no texto de hoje, este mesmo Jesus aponta os pobres e os excluídos e nos diz: “Sou eu!”

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